20/10/2014

DEUS E O DIABO NA TERRA DE BOLSONARO

De repente, todo mundo se tornou comentarista político. E, de repente, até que faz sentido. Todo mundo sabe onde o calo aperta, no bolso, na saúde, na riqueza e na pobreza. Na falta de cultura e na escola para os filhos, todo mundo é instruído. A dona de casa que duela diariamente com o preço nos supermercados pode ter uma visão mais real da economia do que o executivo que só acompanha os índices indicativos. O autor alienado que gira o mundo e se exila na Finlândia pode ter reais comparativos de como funciona um país de primeiro mundo, com ideais socialistas aplicados a um sistema capitalista...

Todo mundo entende muito de política. Daí a gente se pergunta como reelegem Bolsonaro, Feliciano, Alckmin, Tiririca.  Eu bem que avisei, eu sempre soube. Hate to say I told you so, já postava e apostava sobre isso quando o gigante despertava, até porque minha especialidade sempre foi o negativismo.

Vivemos a era da segmentação, o aparente domínio da internet. Não há mais domínio, é literalmente cada um por si e Deus por todos. Ou seja, a grande massa ainda é dominada pela religião, o grande irmão, um poder superior intangível, inatingível, imbatível e fantasioso a ser usado por qualquer um com um pouco mais de oportunismo sobre qualquer um com menos instrução.

Acompanhamos pelo nosso mural do Facebook os amigos, colegas, breves conhecidos comentando sobre política e achamos hoje que o mundo é isso, vendo da mera janela de nosso jardim. Mais janelas ainda dão para a fachada da Universal, o programa do Ratinho, a revista Veja e o caldeirão do Huck.

No meu mural, houve um tom de perplexidade com a reeleição automática do Alckmin, com o resultado geral das eleições. A mim não. Talvez nem tanto por eu ser esclarecido ou observador, talvez apenas pelo negativismo. Pode conferir, postei em pleno clima de euforia das manifestações, em 18 de junho de 2013:

Foi lindo mesmo. E você pode ter achado a rua linda, seu mural do Facebook lindo. Você se identificou com o que viu lá fora e o que viu aqui. Mas não se esqueça de que, o que você não viu, talvez seja o verdadeiro povo brasileiro, que não se juntou à classe média nas ruas. Que ainda acha que são "um bando de baderneiros filhinhos de papai", que vota no Russomano, Bolsonaro, Feliciano. Tá, eu sou um escroto mesmo, negativista, desesperançoso que acredita que se há centenas de milhares nas ruas, há dezenas de milhões em casa, assistindo a cobertura do Datena. Mas já é um começo.

Agora chegamos a um segundo turno que parece exigir polarizações, como se as polarizações realmente existissem. O bem contra o mal. Lula contra Collor. Hoje Collor ao lado de Lula apoiando Dilma contra Aécio. Não entendo. Não entendo mais de política do que poderia uma dona de casa, uma patricinha conectada ao Facebook. Dá para ser entusiasta tão convicto de uma candidatura contra a outra? Esse contra aquele e alguém por nós? Não é mesmo cada um por si? Quanto tempo levará para vermos uma aliança de Aécio com Dilma?

No primeiro turno, votei de ponta a ponta PV. Não acho que tinha os candidatos mais preparados, mas merecia votos para preparar candidatos, para uma futura eleição. Agora no segundo turno não estarei no Brasil; votaria Dilma. Não acredito no PT, assim como não acredito no PSDB. E nem acredito que os partidos façam sentido neste país. O PT apenas busca representar ideais mais próximos do que os que eu acredito – transparece mais hipócrita exatamente por isso. Mas como eu poderia votar num partido que assumidamente vai contra muito do que acredito?

Sou um negativista positivo. Acho que os males virão para o bem. Sou um otimista negativista, espero sempre o melhor e nunca me contento com o que recebo. Mas acima de tudo sou um relativista, e ainda me surpreendo com a paixão ingênua com que tantos ainda defendem um ou outro,  Deus ou o Diabo, Dilma ou Aécio. Tudo discussão para convertidos. Por sinal... “paixão ingênua”... não seria um pleonasmo?


NESTE SÁBADO!