De repente, todo mundo se tornou comentarista
político. E, de repente, até que faz sentido. Todo mundo sabe onde o calo
aperta, no bolso, na saúde, na riqueza e na pobreza. Na falta de cultura e na
escola para os filhos, todo mundo é instruído. A dona de casa que duela diariamente com o preço nos
supermercados pode ter uma visão mais real da economia do que o executivo que
só acompanha os índices indicativos. O autor alienado que gira o mundo e se
exila na Finlândia pode ter reais comparativos de como funciona um país de
primeiro mundo, com ideais socialistas aplicados a um sistema capitalista...
Todo mundo entende muito de política. Daí a gente
se pergunta como reelegem Bolsonaro, Feliciano, Alckmin, Tiririca. Eu bem que avisei, eu sempre soube. Hate to say I told you so, já postava e apostava sobre isso quando o gigante despertava, até porque minha especialidade sempre
foi o negativismo.
Vivemos a era da segmentação, o aparente domínio
da internet. Não há mais domínio, é literalmente cada um por si e Deus por
todos. Ou seja, a grande massa ainda é dominada pela religião, o grande irmão,
um poder superior intangível, inatingível, imbatível e fantasioso a ser usado
por qualquer um com um pouco mais de oportunismo sobre qualquer um com menos
instrução.
Acompanhamos pelo nosso mural do Facebook os
amigos, colegas, breves conhecidos comentando sobre política e achamos hoje que
o mundo é isso, vendo da mera janela de nosso jardim. Mais janelas ainda dão
para a fachada da Universal, o programa do Ratinho, a revista Veja e o caldeirão
do Huck.
No meu mural, houve um tom de perplexidade com a
reeleição automática do Alckmin, com o resultado geral das eleições. A mim não.
Talvez nem tanto por eu ser esclarecido ou observador, talvez apenas pelo
negativismo. Pode conferir, postei em pleno clima de euforia das manifestações,
em 18 de junho de 2013:
Foi lindo
mesmo. E você pode ter achado a rua linda, seu mural do Facebook lindo. Você se
identificou com o que viu lá fora e o que viu aqui. Mas não se esqueça de que,
o que você não viu, talvez seja o verdadeiro povo brasileiro, que não se juntou
à classe média nas ruas. Que ainda acha que são "um bando de baderneiros
filhinhos de papai", que vota no Russomano, Bolsonaro, Feliciano. Tá, eu
sou um escroto mesmo, negativista, desesperançoso que acredita que se há
centenas de milhares nas ruas, há dezenas de milhões em casa, assistindo a
cobertura do Datena. Mas já é um começo.
Agora chegamos a um segundo turno que parece
exigir polarizações, como se as polarizações realmente existissem. O bem contra
o mal. Lula contra Collor. Hoje Collor ao lado de Lula apoiando Dilma contra
Aécio. Não entendo. Não entendo mais de política do que poderia uma dona de
casa, uma patricinha conectada ao Facebook. Dá para ser entusiasta tão
convicto de uma candidatura contra a outra? Esse contra aquele e alguém por
nós? Não é mesmo cada um por si? Quanto tempo levará para vermos uma aliança de
Aécio com Dilma?
No primeiro turno, votei de ponta a ponta PV. Não acho
que tinha os candidatos mais preparados, mas merecia votos para preparar
candidatos, para uma futura eleição. Agora no segundo turno não estarei no
Brasil; votaria Dilma. Não acredito no PT, assim como não acredito no PSDB.
E nem acredito que os partidos façam sentido neste país. O PT apenas busca
representar ideais mais próximos do que os que eu acredito – transparece mais
hipócrita exatamente por isso. Mas como eu poderia votar num partido que
assumidamente vai contra muito do que acredito?
Sou um negativista positivo. Acho que os males
virão para o bem. Sou um otimista negativista, espero sempre o melhor e nunca
me contento com o que recebo. Mas acima de tudo sou um relativista, e ainda me
surpreendo com a paixão ingênua com que tantos ainda defendem um ou outro, Deus ou o Diabo, Dilma ou Aécio. Tudo discussão para convertidos. Por sinal... “paixão ingênua”... não seria um pleonasmo?