Fliaraxá deixará saudades. Foram três dias intensos de conversas, palestras, debates e banquetes em maravilhosas companhias.
Afonso Borges, o idealizador, é um sujeito fenomenal,
organiza há décadas o Sempre um Papo, do qual já participei três vezes, e é
sempre impecável. O Fliaraxá é o Sempre um Papo vezes cem. Uma mega, mega
estrutura 24hs, com monitores, motoristas e toda uma equipe querida e
competente para atender aos autores. É realmente um cuidado e um carinho que
nunca vi igual. Isso se estende à programação. Sinceramente, é o que a FLIP
deveria ser. Mostra a diversidade da
literatura contemporânea, sem preconceitos. Traz desde premiados como Luiz
Vilela (o homenageado do ano), Evandro
Affonso Ferreira, Marcelino Freire e Luiz Ruffato; a best-sellers juvenis como
a Paula Pimenta; autores da nova geração como o Raphael Montes e Laura Conrado;
e ainda Eliane Brum, Jacques Fux, Affonso Romano de Santana e mais.
Os Borges, Alexandre e Mestre Afonso.
Os Borges, Alexandre e Mestre Afonso.
Os debates foram bem organizados. Eu participei de dois com
o Raphael Montes – um na tenda principal, mediado pelo Humberto Werneck, e
outro numa tenda menor, falando especificamente de como funciona o mercado literário.
O primeiro poderia ter rendido mais – o tempo de pouco menos de uma hora ficou
apertado e não deu espaço às perguntas do público. Mas no segundo podemos ter
um papo mais próximo com os leitores.
Raphael Montes tem sido meu colega constante de mesas este ano - não por acaso. Pela afinidade temática, há um bom tempo eu o indico por aí, assim ficamos grandes amigos. É um moleque bem bacana, centrado, talentoso, que merece o que está conquistando. (Foto: Jackson Romaneli)
O festival teve também apresentações teatrais com Eduardo
Moscovis e Alexandre Borges – que abriu o microfone para o público e permitiu que
poetas de ocasião subissem ao palco (e foi mais divertido do que parece). E
ainda a exposição do fotografo catalão Daniel Mordzinski, que se especializou
em fotografar autores pelo mundo (eu inclusive).
A grande delícia desses festivais é que as conversas se
estendem das mesas de debate para as mesas de bar, de café da manhã. Onde eu
poderia conversar de madrugada com Paula Pimenta e tomar café com Luiz Vilela?
Beber com Márcia Tiburi e sair da piscina com Eliane Brum? Estávamos todos
hospedados no mesmo hotel. E não poderia haver melhor cenário...
A fachada.
A fachada.
O grande protagonista do festival foi, com certeza, o hotel.
O Tauá Grande Hotel Araxá é uma coisa absurda, em todos os sentidos. Inaugurado
nos anos 40, é uma construção histórica e imensa, que abriga um resort com
piscina, lago, trilhas e termas com águas medicinais. A ala das termas é um
cenário surreal, com uma trilha etérea permanente e diversos salões com
diferentes banhos (de lama, de “pérolas”, de “água radioativa”). Eu não tive
coragem, achei uma coisa meio de filme de terror, um cheiro de clínica
hospitalar, então só visitei sequinho. Porém tive uma experiência de “termas”
no meu próprio quarto...
Teto.
Na primeira noite, depois de comentar com vários autores
como aquele hotel era uma coisa meio “O Iluminado”, acordei de madrugada com um
barulho de água dentro do quarto. Tentei acender as luzes em vão, tateei,
encontrei meu celular, pisei no chão do quarto; estava inundado.
Chão.
Me vesti rapidamente e saí para entender o que estava
acontecendo. Nenhuma luz, ninguém no corredor. O hotel totalmente às escuras e
silencioso às 4:30 da manhã – fiquei pensando se estava sonhando, se havia
morrido. Segui pelos corredores, pelas escadas, só com a luz do celular,
tentando achar a recepção. Escutei vozes, segui e acabei encontrando os
funcionários reunidos (numa missa Satâni...não, quase.)
Marcelino Freire e Eliane Brum.
EU: Está tendo um vazamento no meu quarto.
EU: Está tendo um vazamento no meu quarto.
RECEPCIONISTA: Desculpe senhor, agora não vamos poder cuidar
disso porque estamos sem energia.
EU: Você não está entendendo. Meu quarto está alagado!
Loucas noites com Márcia Tiburi.
Tive de descer novamente até a recepção as escuras e esperar,
porque sem luz eles não tinham como saber quais quartos estavam ocupados. Meia
hora depois a luz voltou, então fui pedir um quarto melhor.
O querido Evandro Affonso Ferreira que me chama de "Nazarianzinho."
EU: Imagine o que vou escrever sobre esse hotel...
ELE: Que está decadente e não tem nem energia?
EU: Mas que compensa pela presteza do staff em me arrumar um
quarto melhor.
ELE: Bem, temos um quarto do mesmo padrão disponível no seu
andar. E temos um superior no sexto... onde dizem que veem “coisas”.
EU: Ótimo. Me dê o superior assombrado.
Fiquei um bom tempo sem dormir. Mas não vi nada de
emocionante... além da vista da varanda. Os fantasmas se divertem.
Amanhã já sigo para o México .