Foi só eu publicar aqui o post dos cantores gays que me lembrei que uma das minhas cantoras favoritas, a norueguesa Susanne Sundfør, tinha acabado de lançar disco novo. Procurei para baixar e estou ouvindo sem parar desde quarta. "Ten Love Songs" já é forte candidato a disco do ano.
Susanne é outra das que conheci através da parecia com o Röysopp. Em 2012 ela gravou com eles o single "Running to the Sea", que é das melhores coisas da carreira deles (e dela). Está presente também em outra faixa do álbum deles do ano passado, que não impressiona tanto.
Com o Royksopp.
Com o Royksopp.
No último ano baixei tudo dela. É sempre genial - nem sempre divertido. Ela tem por exemplo um álbum só instrumental de sintetizadores, que não consigo ouvir. Mas deixa claro que está num padrão bem acima das cantorinhas pop por aí. Na Noruega (e apenas lá, apesar de cantar em inglês), ela é cantora de topo das paradas - um bom reflexo do nível daquele país... Em seus primeiros discos investia mais no soul e folk, com grandes malabarismos vocais. Ultimamente adotou um tom mais etéreo e eletrônico. Mas nada se compara ao álbum lançado esta semana.
Em 2011.
"Ten Love Songs" é sem dúvida o álbum mais acessível de Susanne, E ainda consegue ser o mais requintado. Fica transparente na obra que é uma musicista erudita fazendo música pop, nos arranjos, nos teclados (que ela toca), nas ambições.
Abre com "Darlings", lenta, lastimosa, como se já fosse o fim do primeiro amor. Então segue dançante com o baixo pulsante de "Accelerate", que já emenda em "Fade Away" (o primeiro single), deixando claro que é um álbum conceitual, para ser ouvido inteiro em sequência, mais do que uma coletânea de faixas. Nesse quesito ela vai na contramão dos colegas do Röysopp, que dizem que álbuns não fazem mais sentido e lançaram seu (presumidamente) último (aquele em que ela participa de duas faixas e ainda tem contribuição massiva dos Irrepressibles).
Susanne, por sinal, deve ter ressentido que "Running to the Sea", uma das suas melhores faixas, ficou com o Röyksopp, porque no disco novo ela tenta recriá-la com "Kamikaze" e chega perto, muito perto. Ponto alto do disco (e ótima pedida para novo single), "Kamikaze" é um europop escandinavo até o osso, daqueles beirando o kitsch mais delicioso (até o título "Kamikaze" parece algo a la Lady Gaga). Aos 4 minutos a música termina e, como se pedisse desculpas, Susanne entra com um solo de cravo, ressaltando a beleza da melodia e que "o arranjo poderia ser outro se eu quisesse." É ela quem toca.
Por sinal, ela faz isso no disco todo. Interrompe com arranjos de cordas, de cravo, de órgão gótico. Outra das grandes faixas do disco (em todo sentido), "Memorial", começa como uma balada anos 80, bonita e meio cafona, e antes dos 4 minutos vira um instrumental de piano e orquestra que chega até os dez minutos de duração.
E o disco tem muito mais. É INTEIRO bom. Tem seus momentos líricos, momentos dançantes, termina com um eletrônico esquisitão de "Insects", para deixar claro ao que ela veio. Tem tudo para estourar, pelo menos no resto da Europa. Para mim, vai ser difícil alguém superar um disco desses, mesmo com Suede para lançar disco novo este ano.
Enfim, para quem ama e conhece tão bem a Escandinávia, quanto eu, "Ten Love Songs" é um disco perfeito. Lindo ver que ainda consigo encontrar novas musas, em plena ativa, que ainda têm muito o que me embalar.