Domingo teve Grammy e muita gente está comentando a
apresentação da Annie Lennox com o Hozier, descobrindo a velha escocesa pela
primeira vez.
Annie Lennox sempre foi minha Madonna. Minha
rainha desde a adolescência quando, convenhamos, ela era muito mais
interessante e inovadora. Tenho TODOS os álbuns, os singles, li duas
biografias. Então vamos a uma rápida apresentação dela, que posso fazer de
cabeça.
Tá bom pra você?
Annie Lennox tem 60 anos, é de Aberdeen, na
Escócia, e começou a carreira nos anos 70 com uma banda meia boca chamada The
Tourists. O maior hit deles foi um cover da Dusty Springfield, aqui:
A banda durou pouco e ela saiu com o guitarrista
Dave Stewart (que era seu namorado) para formar uma dupla, os Eurythmics. O
primeiro disco deles In the Garden (1981) tinha um som mais etéreo e experimental que eu adoro, mas não fez muito
sucesso. Aqui eles no começo de carreira:
No segundo disco eles investiram no technopop, que
estava em alta na Inglaterra e acertaram bonito. O maior hit da dupla (e talvez
da carreira de Lennox) é dessa época: Sweet Dreams, que com certeza você já
ouviu:
Foi inclusive com essa música que ela se
apresentou no Grammy pela primeira vez, vestida de homem. Na época, ela
flertava com a androginia e tinha uma proposta realmente ousada de imagem e
som, embora não exatamente inovadora. Annie Lennox era basicamente uma mistura
de David Bowie com Grace Jones. Coolíssima, musicalmente riquíssima, provocadora e divertida.
Os Eurythmics seguiram fazendo álbuns bem
diferentes uns dos outros, flertando com o R&B, rock, country e eletrônica.
Tiveram vários outros hits, como o pop deliciosamente kitsch “There Must Be An
Angel” (1985).
Em 1987 voltaram ao experimentalismo com “Savage”,
um dos melhores discos da dupla.
Eles se separaram no início dos 90 - se apresentaram pela primeira (e única) vez no Brasil pouco antes disso. Dave Stewart
seguiu com uma carreira de sucesso como produtor, ocasionalmente lançando
discos solo. Annie Lennox lançou seu primeiro solo em 1992, “Diva”, já com um
som mais “adulto”, que foi um mega sucesso. É mega mainstream, mas é ótimo.
E, para mim, depois disso, ela nunca mais fez
grande coisa. Lançou outros discos solo, discos de covers, até discos de
músicas de Natal. No final dos anos 90, ressuscitou o Eurythmics com Stewart e
lançaram um álbum medíocre. Também ganhou um (desmerecido) Oscar em 2004 com “Into the
West”, trilha sonora de “O Senhor dos Anéis” (alguém se lembra dessa música?).
O último álbum de inéditas dela é de 2007, “Songs
of Mass Destruction”, que é bem mais ou menos. Ela também se dedicou a
campanhas humanitárias, ao combate da AIDS na África, a salvar os golfinhos,
mas a música...
Sempre foi uma grande cantora, uma grande voz. Uma
“loira com alma negra”, para usar um termo bem politicamente incorreto,
apaixonada pelo som negro americano. Mas, ao meu ver, há tempos que ela
desvaloriza seu grave poderoso com piruetas vocais, adotando os piores
maneirismos do R&B americano. No Grammy não foi diferente.
Atualmente, prefiro bem mais a carreira solo do
Dave Stewart , que tem lançado discos country poderosos. Dá uma olhada:
Li uma declaração recente dela falando algo como “as
mulheres de 60 não devem ser desprezadas, têm muito mais o que dizer”, mas
então por que ela não escreve, não lança um disco de inéditas há OITO anos? Disco
de música de Natal? Ano passado ela lançou “Nostalgia” (que concorreu ao
Grammy), que é previsivelmente um disco de standards americanos, disco para
tocar em restaurante, em elevador, em consultório de dentista. É gostosinho
até, mas nada de novo. Mesmo a versão dela para “I Put a Spell on You”, que ela
reproduziu no Grammy, é bacana, afinada, mas é uma versão padrão, não tem
reinvenção nenhuma, nada de novo.
Continuo fã da Annie dos 80, dos 90. Mas se é para
falar de quem envelheceu bem, com criatividade e relevância musical, vamos de
Debbie Harry (outra diva pessoal), que chega aos 70 e talvez seja mais
cultuada, mas não tem a mesma potência vocal e a máquina por trás.