"Found"
Estou mergulhado no roteiro de BIOFOBIA, comecei
um novo curso de História do Cinema de Horror Brasileiro no MIS e, como sempre,
vejo um punhado de filmes de terror toda a semana, que o Murilo consegue
arrumar. É sempre o que mais me inspira – e acho a produção independente atual
riquíssima. Sou fã especialmente do torture
porn, que acho que é onde reside o horror de verdade, físico, sem
sobrenaturalismo, provocado pela loucura do ser humano.
Pensando nisso, comecei a lembrar de tantos filmes
alternativos, obscuros, que vi nos
últimos anos. A maioria tem direção precária ou atuações sofríveis, são invariavelmente filmes baratos, minimalistas, com um conceito poderoso por trás. E tristemente sempre constato que isso –
esses filmes mais obscuros, menos prestigiados – é o tipo de coisa que eu
gostaria de escrever.
Monto então uma listinha, sem ordem específica, de
doze dos meus favoritos. Filmes de terror obscuros, recentes, que vi
recentemente. Nenhum brasileiro, infelizmente; as melhores produções atuais que chegam perto ficam mais no thriller e suspense. Aqui estou falando de terror extremo.
Certeza de que estou esquecendo de vários, pela quantidade de coisas
que assistimos. Mas esses são o que continuam ressoando agora:
FOUND (2012, EUA) de Scott Chirmer:
Assisti nesse final de semana. É um filme quase
amador, com escolhas e atuações bem questionáveis, mas um roteiro
estranhíssimo. Um pré-adolescente descobre que seu irmão mais velho é um serial
killer e, entre assustado e fascinado, mantém segredo e espia regularmente os souvenires que ele traz. Tem um dos
finais mais insanos dos últimos tempos. É baseado numa novela, que imagino que
seja melhor do que o filme, e que não vou deixar de ler.
ARMISTICE (2013, EUA) de Luke Massey
Um thriller de um único personagem preso numa casa
(não tinha como eu não me identificar). É um soldado que acorda todo dia para
viver o mesmo dia, matar o mesmo zumbi, e tentar escapar de lá. Também tem seus
problemas, mas uma ideia poderosa por trás. É quase teatro, e mais acessível aos impressionáveis da violência gráfica.
SEPTIC MAN (2013, EUA) de Jesse Thomas Cook
Um funcionário da limpeza é trancado numa galeria
dos esgotos. Pouco a pouco vai apodrecendo enquanto se alimenta de dejetos e
restos humanos. Minimalista, trash, menos engraçado do que parece, tem seu
valor no absurdo com contornos surrealistas.
EXCISION (2012, EUA) de Richard Bates Jr.
Com um tom meio lésbico, o filme retrata uma
adolescente freak que sonha estudar
medicina e tem desejos doentios com sangue e morte. O filme inclui um elenco de
astros do gênero que vão de Malcolm McDowell e John Waters a Traci Lords, como
a mãe controladora.
BIG BAD WOLVES (2013, Israel) de Aharon Keshales e
Navot Papushado
Suspeito de pedofilia e assassinato, um professor
é sequestrado e torturado pelo pai de uma das vítimas, numa mistura de torture porn e humor negro. Filme bem
inteligente e divertido, em que você sempre fica na dúvida sobre quem é o
culpado. Mais cinema que os demais. Obrigatório.
EDEN LAKE (2008, UK) de James Watkins
Esse não é tão obscuro. Tem até Michael Fassbender
no elenco e uma história um tanto quanto genérica: um casal vai acampar no mato
e entra em conflito com adolescentes locais. Violento, chocante, daquelas
histórias que poderiam de fato acontecer, com um final dos mais deprês dos
últimos tempos.
THE WOMAN (2011, EUA) de Lucky Mckee
Pode tanto ser considerado misógino quanto
feminista. Uma mulher “selvagem” é encontrada por um pai de família e mantida
presa no porão, para ser “civilizada”. De viés altamente alegórico, o filme
explora a dominação masculina sobre as mulheres, chegando aos extremos mais
bizarros. Apesar disso, vejo com frequência nas madrugadas do Space.
CHAINED (2012, EUA) de Jennifer Lynch
Mais um filme-fetiche de Jennifer Lynch (de “Encaixotando
Helena” e filha de David Lynch) esse é um torture porn com síndrome de Estocolmo.
Um menino que é mantido acorrentado por um psicopata e vai se tornando seu
pupilo. Vincent D’Onofrio é o psycho e o menino é um pitéu.
AFTERSHOCK (2012, Chile) de Nicolás Lopez
Esse poderia facilmente ter sido um filme maior. Não
sei por que nunca ouvi falar por aí. É uma mistura de filme catástrofe e
torture porn, escrita e estrelada por Eli Roth (“O Albergue”) e ambientada no
Chile. Um grupo de americanos vai passar férias por lá – curtindo a vida
adoidado – quando há um violento terremoto, que acaba destruindo uma
penitenciária e todos os presos saem para cometer atrocidades. Bem divertido.
BENEATH (2013, EUA) de Larry Fessenden
Esse é mais tolo do que todos os demais. Mas adoro
esses filmes de animais assassinos (e assisti até “Zombeavers” recentemente).
Aqui o monstro é uma espécie de bagre gigante, meio mal feito, que ataca jovens
num barco. É surpreendentemente divertido e o herói é um Johnny Depp genérico. É minimalista, pequeno, do jeito que
eu gosto. (Obs: Tem um outro "Beneath" recente também, de caverna, mas não é tão legal).
DEADGIRL (2008, EUA) de Marcel Sarmiento, Gadi
Harel
Outro dos misóginos. Dois adolescentes encontram
uma espécie de menina zumbi num hospital abandonado, e a exploram de todas as
maneiras, com participação dos coleguinhas. Também tem seu Johnny Depp genérico.
HATCHET (2006-2013, EUA) de Adam Green
Uma homenagem aos slashers clássicos, não entendo como essa série não é mais popular.
São três filmes, feitos entre 2006 e 2013, bem na pegada de “Sexta-Feira 13”; e
cada filme começa exatamente de onde o anterior terminou. A história... não tem
muita história, é um assassino matando gente num pântano. E é cheio de estrelas
do gênero, como Kane Hodder (que interpretou o Jason em vários filmes) como o
assassino, Danielle Harris (de “Halloween”) como a heroína, e Robert Englund
(o Freddy Krueger) numa ponta. Talvez funcionasse melhor como série de TV – a continuidade
é bem de série de TV, em três episódios.
À L´INTÉRIEUR (2007, França) de Alexandre
Bustillo, Julien Maury
Esse já vi há um tempinho, mas decidi colocar aqui
como o melhor representante francês dessa nova safra, que tem coisas bem
extremas como “Mártires”, “Alta Tensão” e “Frontiers”. Esse eu gosto mais, por
ser (novamente) um filme mais minimalista, passado todo numa casa, e ter um
drama mais real. Uma mulher grávida é ameaçada por uma invasora, que comete as
violências mais absurdas. Indispensável.