05/03/2015

O HORROR BRASILEIRO



Terminou nesta quarta mais um curso que fiz com o jornalista Carlos Primati no MIS, desta vez sobre A História do Cinema de Horror no Brasil.

Achei ainda melhor do que o passado (sobre História do Cinema de Horror em geral), porque, talvez pela aridez do tema, deu para se aprofundar mais, gerou mais discussões, e pude assistir a pérolas que não se encontram com tanta facilidade, como o novo Fabulas Negras, antologia de curtas de Rodrigo Aragão, Peter Baiestorf, Joel Caetano e Jose Mojica Marins.


Um dândi brasileiro. 

Claro, “Cinema de Horror no Brasil” gera de antemão a dúvida: mas há o que discutir? Quão muito além de Mojica/Zé do Caixão se pode ir, ainda mais em cinco aulas de três horas? Nas duas primeiras permaneceu essa dúvida; antes do cinema do Mojica se pode basicamente localizar filmes com referências de terror, um suspiro sobrenatural, mas não exatamente do gênero. Porém as produções da Boca do Lixo e, principalmente, ao meu ver, as produções mais atuais provam que existe uma produção de terror no Brasil, ainda que bastante marginalizada.

"O Pasteleiro"

Só de toda a discussão e reflexão que o curso gerou, já valeu bem. Primati é especialista no gênero e sempre é muito bem embasado no que fala. Um cara com quem tenho de estender as discussões por Facebook e além, porque é sempre tão raro alguém com consistência focado nesse universo. Acho que valia bem ele lançar um livro sobre o tema, principalmente pelo momento...

"Amor Só de Mãe" obra prima de Dennison Ramalho... com um título infame característico do cinema nacional. 

Foi especialmente divertido conhecer mais das obras do Dennison Ramalho e do Rodrigo Aragão, dois militantes do gênero com uma produção bem intensa e pegadas diferentes. E a gente repara como nesse meio todo mundo se conhece, começa a trabalhar junto. Fiquei pensando em como eu mesmo (como fã, autor e roteirista) me encaixo, daí foi só lembrar que sou vizinho e amigo do Marco Dutra (de “Quando Eu Era Vivo”), que os direitos do meu “Feriado de Mim Mesmo” estão com o Rafael Primot (de Gata Velha Ainda Mia) e que estou sempre trabalhando com quem trabalha com o Dennison, só para citar alguns discutidos no curso. Dá para sentir que tenho um papel nessa nova geração, principalmente com o início dos trabalhos no filme de BIOFOBIA.


"Quando Eu Era Vivo", do Marco Dutra. 


O que sempre me incomodou foi a ditadura do realismo. O Brasil não tem a menor tradição no fantástico, seja na literatura, no cinema ou o que seja. Nunca. Então não acredito que seja por aí que o cinema de horror possa se desenvolver. Talvez o mais viável seja um terror calcado no psicológico, na loucura, na violência do ser humano, mais do que no sobrenatural. E isso me interessa. (Você vê, até Zé do Caixão, o maior símbolo do horror nacional, é um personagem que rejeita o fantástico, o sobrenatural.)

O chupacabra do Aragão. 


De toda forma, Primati apontou bem o filme Isolados, do Tomas Portella, com Bruno Gagliasso
 e Regiane Alves, isolados numa casa de campo... Que poderia ter inaugurado um novo momento para o thriller brasileiro, e por algum motivo não aconteceu. Na verdade, ninguém que vem tentando ultimamente tem tido grande êxito (comercial), nem mesmo o Mojica com seu último Zé do Caixão (de 2008, que foi um fracasso de bilheteria). Ensinar ao grande público que o Brasil não precisa ser sempre risível parece ser agora nosso grande desafio. 


Aí, o único still que você vai ver do único curta que eu dirigi-escrevi-atuei, na faculdade. Um torture-porn videoclípico que ainda está no Imdb, "Ame o Garoto Que Segura a Faca" (1998). (Do título eu ainda gosto.). 


OBS: Quem tiver interesse no tema, confira no Facebook: Filmoteca do Horror Brasileiro. Lá o Primati está postando preciosidades da produção nacional. 

NESTE SÁBADO!