Barman no Ghetto, em Londres. |
BARMAN EM LONDRES
Em 2002 fiz um longo mochilão pela Europa e parei em Londres, onde tinha amigos brasileiros. Com o dinheiro no fim, ou eu arrumava um trabalho ou voltava ao Brasil. No primeiro final de semana lá, passei por um club, pedi emprego e na segunda semana já estava empregado como barman. O Ghetto era um club alternativo, que abria de segunda a segunda, cada dia com um tipo de música/público. As quartas tinham o Nag Nag Nag, noite de elektro que se tornou lendária. Eu fiquei lá desde o começo até quando começou a bombar. Kate Moss, Boy George, Brian Molko foram alguns dos clientes que servi (Bjork foi exatamente numa noite em que eu estava de folga). Trabalhava quase toda noite lá, porque ganhava pouco e tinha de me manter, comer, ajudar no aluguel. Meus chefes e colegas eram todos muito bacanas - fizeram uma festa e me deram um discman quando fui embora - mas eu já era formado no Brasil, já escrevia, e não queria trabalhar de barman para sempre, ainda mais na informalidade.
Com Dusty O, drag-dj da casa. |
Voltando da Europa, no final de 2002, o primeiro emprego que arrumei em São Paulo foi de Barman na Sogo, basicamente um "clube de sexo" nos Jardins. Os primeiros andares tinha bares e pista como uma boate (gay) normal. O terceiro andar era chamado de "Dungeon", com cabines, camas, dark room, vídeos pornô. Foi exatamente aí que me colocaram para trabalhar, como barman novato. Apesar do pitoresco da situação, é mais divertido contar e lembrar do que viver. Tinha um clima muito pesado e deprê. Com um mês trabalhando lá, pedi demissão. O chefe de bar era muito bacana, me transferiu para o bar da entrada e me pediu para continuar. Fiquei só mais um mês, até voltar aos trabalhos como redator.
Na Sogo, Natal de 2002. |
PROFESSOR DE INGLÊS
Esse também arrumei logo que voltei da Europa, mais ou menos na mesma época em que trabalhava de noite como barman. Como jovem inconsequente, achei que só por ser fluente no inglês poderia dar aula, e uma dessas grandes redes teve a inconsequência de me contratar. O método era completamente absurdo, baseado na repetição e tradução. Eu era um péssimo professor, creio, sem a menor didática e embasamento teórico. Ganhava muito mal também. E depois de seis meses desisti de vez.
LEGENDISTA
Outro emprego que pagava mal, mas até que era gostoso e instrutivo. Trabalhei com uma produtora que fazia tradução e legendas de filmes e peças para festivais. (Em filme geralmente acontece quando vem uma película de fora, que vai ser devolvida, então não se pode queimar as legendas. O operador tem de lançar as falas - previamente traduzidas e diagramadas em formato de legenda - conforme vão sendo ditas na tela). Traduzi diversos filmes e legendei ao vivo várias mostras em São Paulo, Brasília, Porto Alegre. Minha mãe também traduziu alguns filmes em francês, e eu legendei (meu francês é bem mais ou menos, não me arriscaria a traduzir). Tenho carinho especial por uma peça de uma companhia inglesa que legendei no Sesi da Paulista, "Cymbeline" (Shakespeare), fiquei em cartaz com eles a temporada inteira. A montagem era foda. Hoje em dia não sei se há muita demanda para esse tipo de trabalho - talvez já existam programas que façam isso automaticamente. Ano passado até me pediram para orçar legendas para um evento da Copa, mas eu estava viajando para lançar o livro e declinei.
Testando as legendas... |
VENDEDOR DE LIVRARIA
Meu primeiro emprego, na Livraria da Vila da Fradique Coutinho. Entrei como temporário, depois o dono (na época o Aldo Bocchini) me chamou para trabalhar no projeto de uma nova livraria, voltada ao público gay. A Livraria do Meio durou pouco, logo foi vendida e se tornou a "Futuro Infinito", mas eu já não estava mais lá, trabalhando em agência de publicidade.
REDATOR PUBLICITÁRIO
Esse foi o emprego que fiquei mais tempo, seguindo minha formação universitária, quatro anos no total. Estagiei na Young & Rubicam e trabalhei na Futura, em São Paulo, e na Escala, de Porto Alegre. Conheci muita gente bacana, tenho grandes amigos até hoje, mas o trabalho mesmo era muito imbecilizante e vazio. Muita punheta para vender sabão em pó. O que mais me divertia era criar jingles - fiz mais de vinte nos dois anos em Porto Alegre, que ainda tenho no iPod. Saí de agência para mochilar na Europa, e o resto você sabe...
Na Escala, em Porto Alegre (lá por 2001) com a Letícia, que até hoje é amiga das mais queridas. |
REDATOR DE DISK SEXO
Esse foi outro trabalho pitoresco que arrumei pouco depois de voltar de Londres, que me fez largar o trabalho de barman e professor de inglês. "Precisa-se de redator para textos eróticos e exotéricos", dizia o classificado de um jornal. Publicaram o email de contato errado, eu consegui adivinhar o certo e fui o único que mandou currículo. Dia seguinte fiz entrevista e fui contratado. Basicamente eu criava histórias eróticas que eram gravadas e ficavam disponíveis como conteúdo de voz para celular (que na época, em 2003, ainda não tinha toda tecnologia de vídeo/imagem). Eu também criava os horóscopos. Inventava TUDO. Eu trabalhava em casa e pagava razoavelmente... quando pagava. Meu chefe era o estereótipo do que se pode imaginar nesse tipo de trabalho - um velho safado às vias de se tornar cafetão virtual. Foi nesse período que ganhei o concurso que publicou meu primeiro livro, daí comecei os trabalhos de tradução, os textos para revistas e jornais e pude largar a putaria. De todo modo, essa foi a história que fez grande sucesso nas vezes em que fui ao Programa do Jô.
REDATOR DE MARKETING DIRETO
Esse foi um emprego sem a menor graça. Já era autor publicado, e trabalhei alguns meses na Abril, cobrindo férias e licença maternidade de redatores do marketing. Quem me conseguiu a vaga foi o finado poeta Donizete Galvão; pagava razoavelmente bem e o trabalho era tranquilo... demaaaaais... Eu tinha de criar aquelas cartas para assinantes: "Oportunidade incrível para você assinante de Veja", e coisas assim. Na prática, eu passava às vezes DIAS sem fazer NADA. Era uma agonia tremenda, porque trabalhava lá, tinha hora para entrar, hora para sair... Acho que grande parte do Mastigando Humanos foi escrita lá.
TECLADISTA DE BANDA DE GLAM ROCK
Ok, esse não foi exatamente um "trabalho", mas no final dos anos 90 eu tocava teclado numa banda "indie" daqui de São Paulo, o "Viva Violet". Tocava mal - estudei três anos de piano na adolescência - a banda era terrível, mas era divertido. Nunca chegamos a gravar nada, tocamos poucos shows em lugares como o extinto Retrô, e eu logo larguei para me dedicar à faculdade e ao trabalho em agência. Compus também algumas coisas solo, experimentais, só com teclado, que tenho gravado até hoje em K7 bizarríssimos. Tenho saudades de brincar disso; qualquer hora que tiver um dinheiro sobrando quero comprar um teclado novo só por lazer.
PERFORMER DE BODY ART
Outro que não foi exatamente um "trabalho", mas teve uma certa repercussão. Como adolescente gótico, aos dezenove anos fiz uma performance de auto-mutilação na faculdade, para um trabalho de História da Arte. As fotos acabaram atraindo um diretor, que fez um curta metragem sobre mim como se esse fosse de fato meu trabalho. O curta ganhou alguns festivais, passou na TV Cultura, e no ano seguinte eu mesmo resolvi dirigir um curta irônico sobre body art (uma espécie de "torture porn"), que foi o "Ame o Garoto que Segura a Faca", do qual já falei aqui. Passou em alguns festivais, não ganhou prêmio algum, e assim se encerrou minha carreira de artista performático. (Embora eu ainda tenha feito pequenas mutilações para as fotos de divulgação dos meus três primeiros livros).
Clássica foto que fiz para a divulgação de Olívio, meu primeiro romance. A foto é do Ambooleg, o sangue é meu mesmo. |
COLUNISTA DE MODA
Não entendo nada de moda... e acho que por isso que me chamaram. Em 2007, a Erika Palomino tinha um jornal diário no São Paulo Fashion Week e me chamou para ter uma coluna, uma página diária no evento. "O Caminho de Santiago" trazia o que eu quisesse, minha visão do evento. Assisti a muitos desfiles, aloprei bem, conheci algumas pessoas bacanas e muita gente escrota. Foi uma experiência ter de escrever diariamente sobre... nada, ou sobre qualquer coisa. Fiz quatro temporadas, Erika pagava direitinho, sempre foi muito querida e me deu carta branca para eu fazer o que quisesse. A mais divertida foi a que cobri a "última fila", o povo que se sentava no fundão dos desfiles - ou gente que nem conseguia entrar. Era uma coluna social dos excluídos, onde pude contestar um pouco a futilidade desse universo.
Com a querida Jana rosa, no SPFW. |
MAROTO (PAQUITO DA MARA)
Nah, nah... esse é lenda urbana... Ou não?