Assim se faz a nova literatura brasileira (Adriana Lisboa, João Paulo Cuenca, Veronica Stigger e eu, representando o Brasil em Bogotá, 2007) |
Vira e mexe vejo algum "jovem autor" razoavelmente bem sucedido apontar o dedo para o meio literário (que geralmente o despreza) e dizer que "escritor no Brasil não vende porque não se comunica com os leitores, só quer escrever difícil, blablablá". Realmente, não estou falando de um autor específico, esse é o argumento em diversas entrevistas, colunas e antologias de literatura comercial.
É a lógica de se nivelar a um discurso mais raso, mais fácil, em vez de tentar encontrar e formar leitores mais sofisticados, pensantes. Guardadas as devidas proporções, é a lógica da TV que só exibe bunda e lepo-lepo porque é isso que o brasileiro quer.
Não tenho nada cont... Ok, tenho algumas coisas contra a literatura comercial, mas procuro afastar o preconceito. (É só dar uma olhada mais atenta nas pilhas de bestsellers internacionais e se encontra quase meia dúzia que eu mesmo traduzi.) Acima de tudo, acho que o mercado brasileiro precisa de diversidade. E os bestsellers nacionais permitem que as editoras continuem apostando em novos autores, talvez mais difíceis, talvez melhores...
Para o"jovem autor bem sucedido", as vendas são a medida do sucesso, e realmente é uma boa medida. Não é a única. Há um recalque constante do autor (que vende) em ficar fora das listas, dos prêmios, não ser resenhado e nem participar das mesas literárias. Acho mesmo que poderia haver uma mistura maior. Mas é compreensível que, na hora de "representar o Brasil", (Paris, Frankfurt) escolha-se o que o país tem de mais sofisticado.
"Todo autor quer vender" alguns argumentam. Pode ser, mas não a qualquer preço. Tenho formação de publicitário - e larguei a carreira para poder fazer o que acredito. Se for para dar à massa só o que ela quer, eu ficaria em agência. Não estou aqui para dar o que o público quer, mas o que EU quero que o público saiba. Minha intenção é provocar, contestar, e isso nunca vai ser recebido tão facilmente quanto a onda da vez.
Falando especificamente do meu caso, fui enquadrado no restrito espaço dos alternativos: pop para os literatos, difícil para o grande público. De certa forma concordo, não vou tornar meu discurso mais raso nem adotar um tom intelectualoide, então continuo brigando para conquistar o maior espaço que posso, dentro da minha proposta - até porque tenho uma coelha para sustentar. Quero mais espaço para os alternativos, quero mais existencialistas bizarros. (Acho que teria uma forte crise existencial se me tornasse bestseller). Não quero me resignar, mas também não tenho tanto a me queixar, talvez hoje eu seja o "alternativo oficial", que tem seu público, seu espaço, e é escolhido para representar um lado B do Brasil (na Colômbia, Argentina, Peru, México, Venezuela, Alemanha, Espanha.)
Em primeiro plano, Lisias, Del Fuego e eu, em Guadalajara (2013) |
Sem modéstia, é preciso reconhecer a importância que a minha geração como um todo teve em abrir espaço para o boom de "jovens autores". Claro, não foi só mérito de nós autores, como muito o momento da época (com a Internet, o barateamento das formas de publicação). Nos anos 90, não era comum se ver tantos moleques de vinte e pouco publicando, como se tornou nos 2000 com Simone Campos, Daniel Galera, Clara Averbuck, João Paulo Cuenca, Andrea del Fuego, Ana Paula Maia. Nossa geração teve enorme visibilidade (de mídia) e mudou muito a visão que se tinha do autor nacional. (E em casos pontuais se refletiu em vendas expressivas de algumas dezenas de milhares como o caso do "Barba Ensopada de Sangue", do Galera, o juvenil da Del Fuego e o meu "Mastigando Humanos".)
Com Mauro Ventura, Galera e Cuenca, em Bogotá (2012) |
A matéria que publiquei na capa da Ilustrada em dezembro, sobre a fonte de renda dos autores, ao meu ver, mostra um cenário muito positivo. Que é possível o autor sobreviver hoje no Brasil sem se curvar ao mercado. Afinal, se pode dizer que Raphael Draccon faz mais sucesso do que Daniel Galera? Que Thalita Rebouças é mais bem sucedida do que Veronica Stigger? Rascunhando meu livro de auto-ajuda eu diria: sucesso é fazer o que se acredita.