01/12/2015

A ENTREGA

Íntegra da resenha que assinei na Folha, semana passada. 


“A Entrega” é um filme dirigido por Michäel R. Roskam, com roteiro de

Dennis Lehane, baseado num conto seu. Com o lançamento do filme em 2014,

Lehane decidiu romancear o roteiro e o resultado é uma novela noir recheada de

clichês.


Bob é um “bartender solitário” que trabalha servindo bebuns e mafiosos,

tentando deixar para trás um passado obscuro. Uma noite, encontra numa lata de

lixo um filhote de cachorro vítima de maus tratos e resolve adotá-lo. O cachorro

redirecionará seu rumo na vida, ao mesmo tempo que o aproxima de Nadia, uma

mulher problemática também vítima de agressões.


Se o enredo está longe de ser brilhante e original, funciona como

representante de um gênero cinematográfico. Infelizmente, se como romancista

Lehane se tornou um bom roteirista, como roteirista não conseguiu dar vida ao

romance. “A Entrega” é um dos raros casos em que o filme é melhor do que o

livro, ainda que o filme nem seja lá grande coisa.


Além de clichê, o texto é raso e mal estruturado. Bob aparentemente é o

protagonista da história, mas o foco narrativo oscila constantemente, de forma

desequilibrada, migrando para personagens secundários que ganham uma

importância parcial sem nunca justificar o discurso indireto livre. A ideia de

“homem durão amolecido por cachorrinho” já é de gosto discutível, mas nem na

pieguice o livro consegue se apoiar. A relação de Bob com o cachorro não se

materializa e não justifica as ações do bartender no terço final do livro. O autor

não consegue dar uma personalidade ao cão, tornando-o o personagem mais

apagado da história.  As metáforas são pobres, colocadas como comparações:

“começou a sacudir[...] como se fosse a cordinha de um motor de popa [...] Era

um som horrível como se ele estivesse inalando cacos de vidro [...] o rosto

esticado como uma espécie de  máscara mortuária” – isso tudo apenas como

exemplos tirado de um único parágrafo.


No final, A Entrega se mostra um romance pulp dos mais baratos,

moderadamente divertido. Faz mais feio pelo nome do autor – que escreveu

“Entre Meninos e Lobos”, entre outros - e da editora que o publica aqui.

Avaliação: Ruim.

NESTE SÁBADO!