Li dezenas de posts sobre o estupro coletivo da menina. Dezenas de pontos de vistas coincidentes. Um ou outro que tinha algo a acrescentar. Alguns que deveriam ter ficado calados.
A violência não é maior do que já foi. Mas a capacidade de discuti-la, condená-la, flagrá-la é. Antes não saberíamos desse caso. Antes não poderíamos debater. Teríamos de aceitar a versão oficial, jornal impresso, Jornal Nacional.
Não estamos mais na bolha em que a violência não existe. Nem na selva onde é cada um por si.
Hoje convivemos, ainda que virtualmente, com moleques que postam vídeos de estupro. Estamos sentados com os evangélicos vendo um vídeo do Porta dos Fundos, do Põe na Roda, da Ana Paula Valadão.
Se temos poucas razões para acreditar na raça humana, tenhamos esperança na sociedade que podemos criar. E, ao meu ver, as redes sociais são uma das ferramentas mais valiosas para isso.
Lembro de um post de um amigo, há algum tempo, que dizia: “triste dessa geração que se informa pelo Facebook.” Eu não acho. Triste era a geração que tinha de esperar todo sábado pela Veja. Hoje temos o link da matéria da Veja na timeline ao mesmo tempo que temos a visão do Pragmatismo Político ou podemos seguir Olavo de Carvalho, Eliane Brum, Leonardo Sakamoto ou deixá-los convivendo em nossa página de abertura. É isso que eu faço. Minha leitura diária dos jornais pela manhã se tornou a leitura da página inicial, links postados, diferentes pontos de vista, muitos deles independentes. E se suas redes não rendem nada, o problema são seus amigos.
Claro que a falta de filtro também tem seus dilemas. Cada um posta o que quer, então se posta muita merda – mas isso também faz parte da descoberta do que se pensa realmente. Compartilha-se muita notícia falsa. E muita gente reproduz o senso comum apenas para entrar na onda: “A cultura do estupro precisa acabar” – que pensamento original! (300 polegares positivos). Se a rede não tem filtro, precisamos criar nossos próprios. Quando não tenho nada a acrescentar, prefiro me manter em silêncio, só lendo, ainda que o silêncio passe muitas vezes por alienação.
E se eu fosse escrever sobre estupro... (como já escrevi sobre estupro), eu preferiria me colocar no lugar do outro tentar entender porque ocorre, como se pode praticá-lo. Porque condená-lo para mim é o mais senso comum, não vejo o que se pode discutir.
De BIOFOBIA |
Mas talvez não seja a melhor tática... Porque as pessoas só querem ler o que elas já sabem. E meus livros mesmo (talvez por isso) sempre tiveram alcance limitado...
Voltando. Usamos exaustivamente as redes sociais e ainda assim só somos capazes de repercutir o lado negativo delas. Eu como “minoria”- homossexual começando a vida no final dos 90 - e como “diferentão”, que sempre teve gostos alternativos para literatura, música, cinema, não posso me esquecer do quanto a rede deu possibilidades de eu encontrar a mim mesmo.