Quando fiz meu longo mochilão pela Europa, aos
vinte e quatro, me apaixonei pela melancolia, a nobreza e o isolamento da
Finlândia. É o verdadeiro primeiro mundo, limpo, organizado, igualitário...
Queria tanto passar um tempo lá que em seguida estudei finlandês em São Paulo
durante dois anos – não aprendi quase nada.
Pelas estradas de Rovaniemi, com Ariel, um argentino que conheci por lá (2010). |
Uma década depois pude realizar o sonho de passar
quase seis meses de inverno na Finlândia, entre 2011 e 2012, e quase me matei.
O problema não é o frio, é a solidão, a escuridão,
o temperamento distante dos finlandeses. Não foi fácil, mas foi bom. É preciso
realizar um sonho para ele deixar de ser. E sobrevivi para contar. (Inclusive
intensamente aqui no blog, na época).
Passeis os meses num apartamento alugado na
capital, Helsinque, mas, entre as diversas viagens que fiz pelo pais, fui três
vezes ao norte para Rovaniemi, capital da Lapônia, em 2010, 2011 e 2012. Enquanto
Helsinque me deixou sensações conflitantes, ficaram só lembranças bucólicas
(ainda que melancólicas) de Rovaniemi.
Da janela do trem... |
Dá para ir de avião de Helsinque, mas todas as
vezes fui de trem; são doze horas de viagem da capital, vendo a paisagem
branca, os bosques, tudo lindinho, ainda mais atravessando a noite num vagão
leito. (As linhas de trem e os aeroportos terminam lá, para ir mais ao norte só
de ônibus ou veículos particulares – e me aventurei uma vez, oito horas acima,
até a fronteira da Finlândia com a Noruega, em Karigasniemi).
Rovaniemi tem apenas 60mil habitantes e é o
principal ponto de turismo da Lapônia, conhecida por ser a “terra do Papai Noel”
(sim, é lá que gravam aquelas matérias do Fantástico, Jornal Hoje). Construíram
uma vila natalina aberta o ano todo, onde passa o círculo polar ártico, a
cerca de 8km da cidade, que dá para chegar à pé, de bicicleta e de ônibus - já
experimentei os três. O lugar não é nada
demais, uma grande loja de souvenires temáticos; há também um parque, mas que
só é aberto próximo do Natal, e eu não cheguei a conhecer.
Escorregando na linha do Círculo Polar Ártico |
A entrada do parque fechado. |
A cidade ainda tem o Museu do Ártico, sobre a
fauna e a cultura da região (terra dos “sami”, ou lapões, os esquimós
finlandeses). Fora isso, o gostoso mesmo é o clima, aquela desolação cercada de
pinheiros por todos os lados. Andei muito de bicicleta pelas estradas,
os bosques. Comi em restaurantes bem gostosos e aconchegantes (carne de rena é
obrigatória, e deliciosa; também me lembro de uma deliciosa centolla).
O Museu do Ártico. |
Entendo que provavelmente a maior preocupação do viajante seja com o
frio. É frio, mas suportável... para quem gosta de frio insuportável. Nas duas
vezes em que fui no outono (outubro de 2010 e 2011) estava alguns graus acima de zero; em
fevereiro de 2012 peguei -10C, mas nada demais para quem já tinha passado -23C
em Helsinque.
Com Ronaldo, no centro de Rovaniemi (2012), em plena madrugada de inverno. |
Há todo tipo de hospedagem, de hotéis butique a
grandes redes (como a Scandic) e albergues. Experimentei de tudo também. Na ultima vez ainda conheci um pernambucano que
estava morando por lá e saímos numa noitada em plena terça-feira, rodando pelos
três bares abertos na cidade – lembro que num deles tocou na mesma noite
Prodigy, Suede e Michel Teló; é para se sentir mesmo casa.
A viagem está quase acabando... |