14/09/2016

5ª – SÃO PETERSBURGO...



Em 2011 esse filtro não era tão manjado, me deixa. 

Se Barcelona! tinha de vir com exclamação, São Petersburgo chega com reticências...

A Rússia é um país absurdo, em todos os sentidos, e eu não me considero apto a analisar e compreender, mas gosto. Sempre quis conhecer, e tive a oportunidade de ir duas vezes a São Petersburgo num curto espaço de tempo, em 2011.


Passei uma longa temporada de inverno na Finlândia, entre 2011 e 2012, e aproveitei a viagem. De Helsinque para São Petersburgo são apenas três horas de trem, e brasileiros não precisam mais de visto, então me pareceu perfeito. Fui pela primeira vez em outubro de 2011, por uma semana. A viagem de trem foi tranquila – a inspeção de passaportes (e de malas, pois abriram as minhas) é feita dentro do vagão, durante o trajeto. Fui acompanhando os lindos bosques da Finlândia aos poucos cederem lugar a vilas bombardeadas, estações dilapidadas, e estive certo de que cruzei a fronteira.


Em São Petersburgo ninguém fala inglês. E ninguém quer falar. Ninguém quer ajudar. Mesmo no guichê de atendimento ao turista na estação de trem, ninguém fala inglês. (Pode parecer absurdo, mas se formos verificar se alguém fala inglês nos terminais rodoviários do Brasil....). Há toda uma fama de taxistas mafiosos, todo um sistema de extorsão do turista, e já cheguei com medo, como se não viesse do Brasil... Mas deu tudo certo.


Arrisco-me aqui a cair na xenofobia, mas vamos lá. Andar na Rússia para mim foi uma emoção única. Após meses na Finlândia, com um povo tão fofinho, limpinho, comportadinho, onde ninguém cruza olhares, você chega à Rússia, onde todo mundo te encara atravessado, todo mundo tem cara de matador, onde todo mundo é lindoooooooooooo...

Sério, nunca vi tantos meninos lindos como lá – para quem curte esse tipo loiro-psicótico, claro.  É muita gente angulosa.  


Num grande shopping da cidade. 
Lembro bem da segunda vez em que cheguei à cidade, na estação de trem, em que desisti de ir de táxi e resolvi ir a pé para o hotel, porque já conhecia um pouco a cidade. Atravessei a primeira ponte e dei com um batalhão de soldadinhos rasos, nos seus 18, 19 anos, marchando, todos com olhos duros em mim, todos lindoooooooooooooos... Quase pedi que me fuzilassem lá mesmo.

E minha estadia toda em São Petersburgo foi assim, muita gente linda, com muita cara de danger.


A cidade em si é aquela mistura – ainda áreas bem dilapidadas da União Soviética, com os pontos turísticos revitalizados e capitalizados. Encontrei uma cidade cortada por rios com belas pontes, o fantástico museu Hermitage (que achei um pouco grande e “eclético” demais) e ótima comida, inclusive. Comi muita comida japonesa de qualidade lá, por algum motivo, também comida mais sofisticada a preços possíveis, que não chegaram a ser baratos. Não é uma cidade barata.

Um belo prato de pato. 

A mim me pareceu uma viagem pelo mundo e pelo tempo. Parecia que eu estava nos anos 80, um lugar onde todos fumavam nos bares, nos restaurantes, onde todos bebiam intensamente...  (Lembro agora que fui num museu turístico meio freakshow, que tinha uns fetos de sereias, umas vacas de duas cabeças....)

Em dezembro ainda as temperaturas estavam razoavelmente positivas...

Foi também uma impressão bem turística e superficial. A segunda vez que fui, em dezembro de 2011, foi para ver o show do Suede, e só passei um final de semana (fui na quinta, voltei na segunda) daquelas coisas que se faz uma vez na vida. (Por sinal, o show foi incrível, num clube razoavelmente pequeno, vi colado no palco, e eles tocaram sete músicas inéditas, muitas das quais nunca foram lançadas oficialmente.)


Brett Anderson com letras inéditas em mãos. 
Voltando aos meninos...


Nas madrugadas mais solitárias em Helsinque, ligado no Grindr, chegava até São Petersburgo (que afinal é a cidade grande mais próxima). Na Rússia, meu Grindr apitava com meninos do mundo todo turistando por lá, e com russos bem suspeitos. Em 2011 ainda não havia sido decretada a lei contra a “propaganda gay”, que na prática oficializou a homofobia no país, mas eu já sabia que era um país perigoso nesse quesito. Depois de muito conversar, resolvi marcar encontro com um gordinho simpático que só queria me mostrar a cidade.



Jantamos num restaurante típico. Pedimos vodca e o garçom trouxe uma jarra inteira de vodca gelada, que bebemos em shots. O menino era bacana, trabalhava na ópera, conversamos bastante, mas depois de bêbado ele começou a investir pesadamente, me seguiu pelas ruas e lembro que tive problemas para escapar.

Central Station, clássica boate gay.
Também me aventurei pela noite gay, é claro. Não sei hoje, mas na época São Petersburgo tinha duas grandes boates gays, um pouco escondidas, mas que um turista mais empenhado como eu encontrava sem problemas. Ambas me surpreenderam pela variedade de opções que ofereciam. Não era só pista e bar, era show de drag, show de gogoboys, karaokê. Eu lá sozinho fiquei horas vendo os shows, vendo o povo cantar no karaokê (e impressionantemente, eles pareciam cantar só músicas russas típicas... Bem, talvez seria igual se cantassem sertanejo por aqui.)


Os shows de drags (que não vinham com legendas)
As duas curtas passagens por São Petersburgo foram bem impactantes, me deixaram a maior estranheza e fascínio que eu poderia ter num país ainda ocidental. Uma pena que seja um país com uma política tão conservadora, restringindo duramente direitos LGBT. Não acho que eu voltaria tão cedo.


Enfim,em 2011, deu para ser feliz também. Mas sempre com medo de roubarem meu rim. 


MESA

Neste sábado, 15h, na Martins Fontes da Consolação, tenho uma mesa com o querido Ricardo Lisias . Debateremos (e relançaremos) os livros la...