12/05/2017

REVEILLON DE MIM MESMO

40, hoje. 


Não é o fim do mundo, mas é o começo. Hoje faço 40, e não me sinto nada jovem.




Acho meio risível. Esse povo de 40, de 50, de 60 que fala que “se sente mais jovem do que nunca”. É o que eu sempre digo: juventude está na mente; você pode ter 60 com cabeça de 20, se for um retardado mental. Apegar-se tanto à juventude me parece meio triste; você pode se achar jovem, mas os jovens ainda vão te ver como tiozinho. Eu era aquele moleque de 20 que achava ridículo os tiozões de 40 na boate. Hoje tenho 40, ainda acho ridículo, por isso não vou. 

Dandizin aos 6. 

Embora ainda me apresentem como “jovem escritor”, sou o primeiro a dizer: não, não sou mais jovem em nada, nem para ser Presidente da República. Não que eu não valorize a juventude, pelo contrário; “juventude é a única coisa que vale a pena ter”, diria Oscar Wilde; mas aproveitei a minha até o talo, então não me apego mais a isso, tenho plena consciência de que ela se foi, e não quero nem consigo mais me aproveitar dela. O corpo e a cabeça não permitem. Hoje estou em outra fase.

Premiado aos 25. 
Os mais velhos podem achar que estou exagerando – talvez com 60 eu veja como ainda era jovem aos 40. Mas sei bem que não me achava velho aos 30, então esse é o começo de sentir o peso da idade. Quando eu sentir saudade da "juventude aos 40" é que as coisas estarão terríveis realmente...

Coxinha aos 13...

Nesse aniversário emblemático, é inevitável fazer um balanço da vida. Aí que meu saldo se torna mais positivo. Se há algo que me dá conforto é pensar no que vivi, como vivi, tantas experiências que tive e tantos sonhos que realizei. Viajei muito, morei nas minhas cidades favoritas, Florianópolis, Londres, Helsinque; namorei meninos lindos; publiquei oito livros; experimentei de tudo um pouco. A vida só começa aos 40 para quem não passou por tudo isso; não tenho mais saúde e energia para tanto, não.


Gótico, trevoso aos 19...


Com tantos sonhos realizados, os sonhos deixam de ser. Ficaram para trás. Aos 40 não dá mais para pensar “no que vou ser quando crescer”, agora é só consolidar o que já foi lançado. Tenho o privilégio de fazer o que eu gosto, mas a posição que conquistei ainda está longe de ser confortável.

Comecei bem...

2017 começou terrível, terrível para mim. Dos piores anos da vida, e não por causa da “idade”. Foi sim a crise que assolou a todos, que talvez tenha um peso maior num marco como esse. Passei praticamente 4 meses sem dinheiro algum entrar, e isso mexe não só com as contas, mas também com o psicológico: “o mundo me esqueceu”, “chego aos 40 chegando ao fim”, “tudo o que fiz não serviu de nada”. Não ajudou o fato de meu namorado ter se mudado a trabalho para Maresias, e a gente mal se ver, mal se falar.

Auge?

Felizmente as coisas melhoraram bem nas últimas semanas. Chego de fato aos 40 em meio a uma turnê de debates pelo Rio, com mais uma dezena de outros eventos marcados, prestes a lançar livro novo, o primeiro pela Companhia das Letras. Se comecei o ano mendigando por frilas, agora abro a caixa de emails e aparecem pedidos espontâneos de textos. Está longe de ser a melhor fase da minha vida, mas ao menos não me sinto tão esquecido, um pouco mais valorizado, tenho mais motivos para continuar respirando.


Revirando as pastas das conquistas do passado encontro tantas e tantas matérias, páginas inteiras, tanto que conquistei, tanto que deu errado...

Alex James, do Blur, tem uma citação célebre, diz que comemorou os 20 com bebidas, os 30 com drogas e os 40 com comida. Acho que vou pela mesma linha, embora mesmo a comida hoje entre em categorias proibidas. Manter a forma hoje é um sacrifício – aos 20 eu nada fazia, tudo comia, e não engordava. Aos 30 eu tudo fazia, tudo comia, e não engordava. Aos 40 eu tudo faço, nada como e engordo só em suspiros.  “O açúcar é mais viciante e mais perigoso do que a cocaína”, vi recentemente essa afirmação por aí. Pelamor de Deus, então não nos resta nada? Fumante nunca fui; saí ileso de quase todas as drogas; exagero bem no álcool, é verdade, mas pelo menos tenho mantido um detox nos últimos dois meses; o sexo se tornou monogâmico; resta o peso da boa mesa,  que tilinta como um grilhão a que Bela Gil me impõe.


Já remoendo essa crise em BIOFOBIA

Em plena forma aos 33. 

Assim parecem estar todos os meus amigos, sambando para manter o equilíbrio. Muitos bebem todos os dias, outros na tarja preta, no sexo sem compromisso, muitos com tudo ao mesmo tempo. Aos 40, nada mais pode ser aproveitado em excesso, e para quem tanto exagerou, como eu, a parcimônia permitida está longe de satisfazer. Assim, os 40 são os novos 60, os velhos 60, nada de uma vida que começa, mas a vida que nos resta.


No topo do mundo aos 34. 


Comemoro hoje aqui em Maresias, com coelha e Murilo. Semana que vem volto para a estrada com Ana Paula no Rio. E que o ano siga com mais trabalho que me carregue do que tédio que me derrube.

Ainda na pista...

NESTE SÁBADO!