Conti em aula. |
Terminou ontem o curso sobre publicação/edição que fiz com André Conti, na Escrevedeira. Achei interessante ver um pouco a visão do editor, os processos editoriais - até porque, trabalho há mais de 15 anos com editoras, mas sempre de casa, nunca peguei o "dia-a-dia da empresa".
Conti é editor de primeira, ficou mais de dez anos na Companhia (saiu bem quando eu entrava) e hoje é um dos sócios da Todavia, que tem publicado só coisa fina. Muito das visões que ele aplicou nessa nova editora bate com o que eu acredito, de não domesticar as traduções, de fazer o livro já pensando que o leitor tem hoje a internet à disposição, não transformar aspas de diálogo em travessões (argh!). Sensacional também a ideia que tiveram de fazer edições que "mantivessem as páginas abertas" (fisicamente) - toda a parte prática da publicação do livro (que foi a primeira aula) foi a mais interessante (ou inédita) para mim.
Mas sempre é curioso ver grandes editores falando (e eu só sento para ouvir grandes editores), porque eles sempre passam uma visão bastante... idealizada do trabalho; o editor que lê e relê a obra, sugere mudanças, toma "oito cafés com o autor" (como Conti colocou ontem). Fiquei observando os outros alunos, que pareciam ter menos experiência na área; eu tinha vontade de dizer: "Gente, isso é exceção. Não é assim que (não) funciona o meio editorial; os editores mal leem seu livro." Com dez livros publicados, conto nos dedos (de meia mão) quais tiveram leituras-sugestões de editores. Nunca nenhum editor tomou OITO cafés comigo. E isso que comecei a publicar razoavelmente cedo - eu era iniciante e os editores eram mais velhos-experientes do que eu, podiam ter me direcionado. Só fui ter um trabalho maior de edição nos livros mais recentes... (que fizeram menos sucesso - rá!)
Mas também sinto mais falta hoje do que antes. No começo, não queria que ninguém mexesse nos meus livros. O primeiro livro que senti falta de um trabalho de edição foi "O Prédio, o Tédio e o Menino Cego" (e deu no que deu). Hoje, acho fundamental a leitura da editora - até porque, não mostro os originais para quase ninguém. (Não por protecionismo, mas porque acho chato incomodar colegas escritores que têm tanta coisa [melhor] para ler.)
Todavia, é lindo ver que ainda há editores apaixonados, como o Conti, o trabalho dele com Joyce e, principalmente, alguém disposto a trabalhar com literatura, sem pretensão de se tornar escritor.
No mais, o curso serviu também para eu me familiarizar com o formato, ou formatos possíveis. Nunca fui aluno de oficinas de escrita literária. Já ministrei uma ou outra, com resultados sofríveis. (A pior delas foi em 2009, na Venezuela, uma oficina de uma semana em portunhol... Me convidaram e pensei: "bem, o que acontece na Venezuela fica na Venezuela". Serviu realmente para eu entender que eu não sabia fazer a coisa. E ficou por lá. [Bem, os alunos, se ainda estão vivos, nem devem ter mais acesso à internet...])
(Acho curioso os amigos que vivem de oficinas de escrita, mas não conseguem escrever seus próprios-próximos romances. Escrever para mim não é problema; ensinar já não me atrevo.)
Para mim, funciona melhor quando é algo pontual, de um dia (como há quinze dias, em Jacareí), daí eu dou a real do meio literário: "As formas de publicar são essas, você ganha isso, as tiragens são essas, as formas de divulgação são essas, desista de escrever." Na verdade, acho que escrever tem de ser inevitável. Se você não consegue, é difícil, doloroso, vai fazer outra coisa, que você ganha mais. Não quero estimular ninguém a se foder.