03/03/2019

LEMBRANÇAS DE CARNAVAIS PASSADOS


Com Renatinha Simões e Cris Lisboa, Jurerê 2011. 

Estou pulando o carnaval. Tenho de agradecer que este ano começou com muito trabalho, as contas em dia, então sigo como todos os dias, trancado em casa, alimentando a coelha, trabalhando numa tradução, me esforçando para manter a cabeça no lugar.  

Aproveitei também para fazer uma faxina, assisti a "Beautiful Boy" (bacaninha) e li "A Vegetariana" da Han Kang (começa bem, depois fica um pouco... "vulgar"... tsssss). Fiz uma tatuagem nova também, a vigésima: o escudo do brasão armênio com o Monte Ararat (sem a arca), uma marca de minhas raízes e de toda a pesquisa que tenho feito, começando com minha viagem para lá em 2015. 




Voltando ao carnaval, nunca gostei. Nunca soube sambar. Samba para mim, só de fossa, samba-canção, ou então aquelas marchinhas antigas. Afinal, sou mau sujeito, ruim da cabeça e doente do pé. Mas não me faltaram carnavais alternativos...

Dia desses, voltando do banco, encontrei o Thy, um querido amigo de "folias passadas", que mora há muito tempo na Europa e veio trabalhar como DJ no carnaval. Eu costumava virar noites com ele - e ele continua, porque trabalha com isso. Eu não teria sobrevivido...


Me trouxe lembranças de carnavais passados - impossível ser brasileiro e não ter histórias para contar. Pensei que poderia dar um bom post (este); pensei que já tinha escrito algo assim. E revirando os arquivos (por isso é bom ter um blog tão antigo), encontrei lembranças de carnavais passados, em 2013. Bom que reaviva minha memória e me dá menos trabalho. Requento essas lembranças com minha visão de hoje: 
 
Em 2013 (com Paulinho), a fantasia era de gripe suína. 


- Aos sete, oito anos, eu passava o carnaval com a família em Campos do Jordão, criancinha gótica, vestida de preto, fantasiada de vampiro. Naquela época já me incomodava a música "Cabeleira do Zezé", porque eu tinha um cabelo compridinho, achava que a música me denunciava, que todos olhariam para mim...

- Minha primeira paixão de carnaval aconteceu aos treze anos, num cruzeiro de navio para a Argentina. Conheci à bordo uma gaúchinha de Passo Fundo e ficamos juntos num namorico infantil em alto mar, muito antes do Titanic (do filme, né?). Mal sabia eu que NUNCA mais teria uma história de amor à altura...

Carnaval em Floripa lá por 2001...

- Quando eu morava em Porto Alegre, com uns 23 anos, decidi em pleno sábado de carnaval pegar um ônibus para Florianópolis. Achei um hotelzinho muquifo no centro, segui pra Praia Mole, e lá conheci um menino que me hospedou nos próximos dias. Os pais dele tinham uma cadeia de lojas de móveis, e a gente ficou numa das lojas. (Sim, nós usamos algumas camas de mostruário.)


- A maioria dos carnavais da década passada eu passei em São Paulo mesmo, me drogando loucamente, pulando de clube em clube, de menino em menino... Tenho flashes, mais do que lembranças...

No Glória, em 2003. 

- O único carnaval que passei no Rio foi em 2003, como se deve. Meu ex chefe de Londres (onde trabalhei como barman em 2002), resolveu conhecer o carnaval carioca e fez questão de que eu fosse com ele, como guia e intérprete, com tudo pago. Fomos nas festas, bloquinhos e ficamos hospedado no Hotel Glória (que já estava decadente, mas um decadente bacana, meio kitsch). 



- Falando em hotel decadente, também passei um carnaval no C'adoro, do baixo augusta, pouco antes de fechar, em 2009. Meu namorado da época trabalhava com a Cris Lisbôa na revista Simples, e eles armaram um ensaio fotográfico no hotel, que já estava fechado. Foi um carnaval meio surreal, tomando champagne na piscina de um hotel fantasma, aqui do lado de casa.


- Passei outro carnaval com a Cris em 2011 (de onde vem a foto que abre este post), em Florianópolis. Eu estava de rolo com um surfistinha ordinário que desapareceu durante o feriado, mas não deixei por menos. Eu morava numa casa ao lado da praia, com uma varanda ótima com vista para a folia da rua; então recebi a Cris, recebi o Paulinho; foi uma maratona de festas, drinques, champagne e ecstasy. Peguei de lá muito do clima para meu conto "Água Viva", que saiu na antologia "Um Ótimo Dia para Morrer", que fiz com Raphael Montes, Ilana Casoy e os alunos de nosso workshop sobre literatura de horror (de 2017). 




(Sim, não parece, mas é um conto de terror... ou "pós-terror", de umas trinta páginas. Dá para comprar a antologia em ebook aqui: https://www.amazon.com.br/%C3%93timo-Dia-para-Morrer-hist%C3%B3rias-ebook/dp/B07L9CYBBX)


Carnaval frígido na Lapônia. 


- Teve o carnaval de 2012, que estava morando na Finlãndia, e aproveitei para rodar pela Lapônia, para poder postar fotos gélidas e fazer inveja aos foliões daqui, que sofriam com o calor. 




Carnaletras com Rodrigo Lacerda, Joca Terron, Ivam Marques, Mutarelli, Ivana, Tati Bernardi, Bressane, Marcelino, Noemi, del Fuego, Xico Sá e mais uma porrada. 

- Num dos últimos anos, a Ivana Arruda Leite recebeu uma porrada de escritores em sua casa, para um carnaval literário. Eu postei essa foto, com uma  legenda de brincadeira, algo como "toda a cena literária contemporânea",e vieram os escritores desaplaudidos protestar...


- Desde então, tenho me comportado direitinho. Ano passado, eu estava em Maresias com o Murilo, e ele até saiu para as "baladas" - Deus me livre. Eu fiquei em casa, como boa esposa, esperando ele voltar, até o sol raiar ... 


Este ano, o mais perto que passei de um bloquinho foi com o Marcelino. Nos encontramos depois de aaaaanos para colocar o papo em dia; e saindo do restaurante fomos alcançados por um desses blocos do baixo-augusta, cheio dessa gente paulistana pálida, torso nu, uns pelos purpurinados, uma magreza desencaixada. Deu certa nostalgia, certa repulsa, certa vontade. Mas não tenho mais idade para ser feliz. 

Semana passada, folia só no copo. 

NESTE SÁBADO!