19/02/2020

MINHA VIDA COM ZÉ DO CAIXÃO

(13/03/1936 - 19/02/2020)
Morreu nesta quarta o lendário cineasta José Mojica Marins, o (criador do) Zé do Caixão.

Eu só o conhecia como fã, vi algumas palestras, muitos dos filmes, li a biografia, mas nunca nem cheguei a conversar ou tirar uma foto com ele.

É das figuras mais importantes não só do cinema de terror nacional, mas do cinema nacional como um todo. Como bem lembra o jornalista e pesquisador (e amigo querido) Carlos Primati, apesar de muitos o considerarem "menosprezado", poucos cineastas brasileiros tiveram tanta repercussão (nacional e internacionalmente), receberam tantas homenagens, prêmios, mostras, foram fruto de tantos estudos acadêmicos quanto ele.

Muitos o consideram gênio, outros o relegam ao "trash"; pessoalmente acho que ele tem... tinha um pouco dos dois. Ele tinha o lado intuitivo, inventivo, de criar coisas geniais, inventar sua própria maneira de fazer cinema. Mas também tinha um gosto bem discutível e uma limitação no conteúdo (compensada pela inventividade na forma).

Eu adorava. Não tudo. Mas principalmente os três filmes da trilogia principal: "À Meia Noite Levarei Sua Alma" (1964), "Esta Noite Encarnarei no Seu Cadáver" (1967, meu favorito) e "Encarnação do Demônio" (2008) - esse último (seu último longa) foi uma grande surpresa quando assisti no cinema, um filme pesado, terror de verdade, em sintonia com o melhor do "torture porn" que estava sendo feito na época (um sub-gênero que ele ajudou a criar, e que eu adoro). Vários amigos participaram da produção.

Fico triste de não ter nenhuma história pessoal com ele, mas não se pode dizer que ele se vai cedo, aos 83 anos, há vários debilitado. É triste que não deixa herdeiros diretos, ao menos, não com a repercussão que teve. Como coloquei no meu (malfadado) artigo da Folha sobre literatura fantástica, do ano passado, é sintomático que o cineasta mais bem-sucedido de terror no Brasil tenha se tornado célebre com um personagem que a todo tempo nega o sobrenatural, como para reforçar que o fantástico não tem mesmo espaço entre nós.

Para encerrar, compartilho o pouco que cheguei a ele, quando o querido Eduardo Dussek (um ídolo um pouco mais próximo) foi no programa dele no Canal Brasil, e contou que eu o havia apresentado à Marchinha do Zé do Caixão (começa no minuto 3:20). Estamos no carnaval, dá tempo de ressuscitar a marchinha.






NESTE SÁBADO!