14/02/2024

EU NÃO PRECISO SER ALEGRE O TEMPO INTEIRO




Jack Sparrow da Shopee. 



O carnaval foi inevitável...

Ano passado, fui atrás. Não estava bebendo, mas ainda tinha esperanças de ser feliz. Este ano estava com muito trabalho, patrão de mim mesmo, não me permiti o luxo de um feriado.

Mas os batuques, os tambores, as batidas tribais pulsavam até mim. Vindos da Augusta e filtrados pelas carcaças de prédios em construção, soavam como Suede, Eurythmics, Steklovata...

Tentei ignorar colocando um Bowiezinho no talo. Fugi para o cinema para me trancar 3 horas vendo a Anatomia de uma Queda, (tinha sido cancelada). Consegui ver Segredos de Um Escândalo, que é um filme muito silencioso. Entre os soluços de Julianne Moore, eu ainda podia ouvir uma marchinha...

Quando vi, estava na Augusta, com foliões mijando no meu pé.

Com o querido Lucas na Avenida. 


Eu até que gosto, na verdade... Dos foliões, da anarquia. Gosto de observar o desfile de corpos, os personagens, os meninos seminus... Mas pouco consigo fazer parte.
Uma coisa que acho que nunca contei, é que tenho essa deficiência, que é minha incapacidade de sorrir. Não é só por minha herança armênia, a incapacidade do nosso povo de ser feliz, é mesmo uma condição clínica.

No início da adolescência, eu disse o nome de Jesus em vão, fiz uma careta e abri a porta do congelador, tudo ao mesmo tempo. O pote de sorvete era feijão. E o sopro frio contraiu os músculos dos meus lábios, me conferindo um bico perpétuo. Vez ou outra eu até sorrio, um sorriso involuntário, quando não consigo conter. Mas daí me provoca contrações terríveis nos músculos da face, repuxam meu olho, arrebitam (ainda mais) meu nariz. Sorrir para mim é uma tristeza. (Escrevi sobre isso no meu Veado Assassino, por sinal.)

E isso também dificulta muito minha interação, no dia a dia, no meio literário, no carnaval. Acham que sou antipático. Sempre passo por carão. E incapaz de suavizar essa imagem eu só posso fazer por merecer...

Então nunca, NUNCA ninguém chega em mim, nem no carnaval, nem na vida. Ontem ainda teve um destemido que disse que eu parecia o Jack Sparrow, tomei como um elogio. “Me dá um beijo, então, por favor”, implorei. Ele disse que era mais fã de Harry Potter.

Felizmente o carnaval acabou. Acabou a necessidade de ser feliz. A chuva trouxe o silêncio e meus olhos pintados voltam a causar mais estranhamento do que sorrisos involuntários em corpos que me desdenham.

Mas o ano está só começando. No Halloween quem sabe eu consigo.

Com os queridos Kizzy e Igor, que tentaram imitar meu carão, em vão. 

MESA

Neste sábado, 15h, na Martins Fontes da Consolação, tenho uma mesa com o querido Ricardo Lisias . Debateremos (e relançaremos) os livros la...