17/10/2004

O HOTEL DE JOÃO GILBERTO NOLL

Quando eu morava em Porto Alegre, eu e o Jaspion costumávamos procurar o prédio amarelo da rua Riachuelo que era descrito no romance "Rastros do Verão", de João Gilberto Noll. Não me lembro se a gente chegou a encontrar, mas não faz diferença. Pois apesar do Noll trabalhar muito cidades específicas em seus romances - Rio de Janeiro, Porto Alegre, Florianópolis, Londres - essas cidades sempre aparecem em suas narrativas com uma força mítica particular. Um pouco como minha relação com a cidade de Lorena...

Sempre fui avesso aos regionalismos (e essa foi minha maior dificuldade no "projeto Parati"). O que importa mesmo é o cenário interno. Por todas as paisagens que passei, as imagens que ficaram foram de pessoas. Talvez por isso Lorena tenha se transformado numa mulher (assim como "Lusiânia"). Vira e mexe eu sonho que estou voltando lá, sempre com o mesmo sentimento de platonismo, mas o cenário sempre diferente...

Voltando ao Noll, é isso o que eu mais amo nele, essa capacidade de criar cenários literários, uma Londres que não foi a minha, uma Porto Alegre que eu não conheci. Eu gostaria de me hospedar lá, no mundo mágico de Noll. E nesses dias cheguei perto.

Eu e o Daniel (Luciancencov) fomos hoje tirar umas fotos no Lord Palace Hotel, conhecem? É um hotel construído no centro de São Paulo, no final dos anos 50, que vai ser demolido mês que vem. Por enquanto, ainda está em perfeito estado de conservação. Recebia hospedes até bem pouco tempo e tem uma decoração totalmente 60. Neste mês eles abriram os quartos e os transformaram em instalações de arte. Claro, tem muita coisa tola, mas algumas legais.

O mais interessante é o clima "nolliano" do lugar (não apenas pelo nome/título do hotel/livro), que permanece intacto, com os corredores vazios, os quartos abertos. Nós fomos vagando como num hotel fantasma, vendo o que sobrou, o que foi assombrado. Fizemos uma visita semana passada e marcamos de voltar hoje para as fotos. Levei para lá também dois livros. Um do João Gilberto Noll, outro meu, logicamente. Deixei em dois quartos, para o fantasma que quiser pegar e levar. De repente, você ainda acha os livros lá.

Em um dos quarto também há uma gravura do meu pai – Guilherme de Faria – que ALIÁS fez a ilustração da capa de "A Morte Sem Nome". A gravura não é muito diferente da capa do livro, uma mulher de costas...

O Lord Palace Hotel se encontra na rua das Palmeiras, 71 e fica aberto de quinta a domingo das 11h às 19h, até comecinho de novembro. Quem quiser os livros, também pode encontrar nas boas casas do ramo, haha. As fotos vão ser usadas na divulgação do meu terceiro, "Feriado de Mim Mesmo".

NESTE SÁBADO!