NÃO TENTE FAZER ISSO EM CASA
Hum, com esse freela novo as coisas melhoraram um pouquinho. Até comprei um pote de sorvete de doce de abóbora. Viu? Não é preciso muito para me fazer feliz.
Mas no final do ano passado, quando eu tava chupando sacolé, uma amiga me deu a idéia para eu ficar rico: "Por que você não monta uma oficina?"
Ai, mas eu nem sei onde fica o carburador...
Gracinhas à parte, não entendo mesmo dessas "oficinas literárias". Quem já fez, me explique: é para aprender, consertar ou só exercitar? Quando eu penso nisso me dá uma artrite nos seis dedos... Só de pensar num monte de gente sentada discutindo seus próprios textos, uns avaliando os outros... ai, ai... Eles acendem incenso também?
Pior seria eu coordenando esse processo. Imagine, eu dando uma oficina literária? Haha. Não acredito nisso não. Cada um que descubra seu próprio processo, suas próprias doenças e maneiras de lidar com elas. Não quero ser responsável pelo suicídio de ninguém, já chega todos os meus.
Lembrei disso porque vi hoje um site mongoloidíssimo, que tem pretensas fórmulas para se "publicar o primeiro livro". Não são só dicas de mercado, não. Tem umas coisas imbecis como "o que prende realmente a atenção num livro são os diálogos", "na hora de descrever os lugares, não se esqueça das condições climáticas". Eu me pergunto, que livro escreveu o autor (ou atores) daquela joça?
Não, eu não vou dar o endereço do site aqui. Como eu já disse, não quero ser responsável pelo suicídio de ninguém.
Na verdade, eu não acredito muito no processo de ensino em geral não. Sei que isso é uma coisa bem adolescente de se dizer, mas fazer o quê? Principalmente nas áreas de humanas, o conhecimento acaba sendo apenas a opinião alheia, pois a verdade mesmo não existe. Ë bom saber o que os outros pensam, mas daí a aceitar como regra ou instrução...
E os professores sempre são tão vaidosos, não é? Tão certos do que estão passando. Ou do que ‘Focault" disse.
(ai, será que alguém vai me matar antes de se suicidar?)
O que importa é o pipoqueiro, que eu vi descendo a rua, no final da tarde de ontem.
Claro que tive uma relação de amor e ódio com todos meus professores. E (com apenas a exceção de uma professora de história que eu tive) nunca nenhum deles acreditou que eu seria escritor. Nem achavam que eu "escrevia bem". Achavam apenas que eu era "criativo", me davam nota 8. E dez para a menininha de caligrafia bonita, que hoje está estudando sociologia.
Mas o que importa é o pipoqueiro que eu vi descendo a rua no final da tarde de ontem.
Lembro uma vez que eu cabulei a aula de português do professor Carlos Emílio Faraco e deixei uma placa na minha mesa: "Em manutenção." Quando eu voltei pra classe, umas duas horas depois, tinha um bilhete dele: "Não tem mais conserto. Tá na garantia?"
Sério, entendo porque alguns grandes escritores dão oficinas literárias, todo mundo precisa de sorvete de doce de abóbora. Mas por que alguém FREQÜENTA uma oficina literária? Isso é uma pergunta, não uma
condenação. O processo de escrita é algo muito particular, como se divide isso com os outros?
Talvez um dia até eu descubra minha fórmula para dar uma oficina, mas, enquanto eu estiver com tudo em cima, acharei mais digno posar pra G Magazine.
Bem, bem, se é para eu dar minhas dicas, elas seriam as seguintes:
1) Escreva, mané, escreva. Não fique pensando no livro maravilhoso que você gostaria de fazer. Em pensamento, todos os livros são maravilhosos. Escreva, mané, escreva. Não é isso que você gosta de fazer?
2) Não se obrigue a ler ninguém. Nenhum. Nem Machado nem Clarice nem ninguém. Leia só o que você quiser, quem você quiser e quando você quiser. E, se você não quiser, por que escrever?
3) Não faça nada que você não queira. Não se sinta obrigado a nada. No seu livro, eu quero dizer. Se você não quer dar nome pro personagem, não dê. Se você não quer descrever a casa dele, não descreva. Não escreva nada que você não queira escrever, do contrário ninguém vai querer ler. É como aqueles filmes pornográficos que ficam perdendo tempo com história. Por que não coloca só um monte de cenas de sexo de uma vez? Liberdade! Liberdade!
4) Hum, ai, sei lá. Viu como não dá certo minha oficina?