MINHA VIDA COM SATÃ
É... de vez em quando tenho umas recaídas...
Fui ontem ao Madame Satã. Bateu uma nostalgia. Não ia lá há anos. É uma casa noturna gótica (hum, isso me parece redundante) aqui em São Paulo. Existe há mais de 20 anos. Fui pela primeira vez há uns dez (e desde então o lugar já mudou de nome para "The The", "Morcegóvia" e Madame Satã de novo). Parece que, quando começou, era um lugar bem moderninho até. Desde que eu conheço, é um porão tosco cheio de góticos por todos os lados. Mas em 95 era um dos únicos lugares onde eu conseguia encontrar rapazes andróginos, montados e cabeludos... Hoje em dia eles podem ser comprados a granel no Fotolog.
Ontem eu aproveitei pacas. O som - do DJ Spavieri - estava maravilhoso. Uma coisa elektro e dark elektro com pinceladas de Indie e technopop. Anos 80 eu não agüento mais, mas ele teve a proeza de tocar batidaças como "Tainted Love" mixado com outras coisas, fazendo parecer algo novo. Fora o "The Killers", "Seven Nation Army", tudo aquilo que parece ser obrigatório tocar hoje em dia, mas que ele deu um novo fôlego em versões alternativas. Muito bem. Muito bem.
A decoração também estava interessante, com luzes coloridas e velas. Ë uma casa bem grande, antiga, com uma pista trevosa no subsolo (strobes incessantes e só), uma sala enorme com o bar no andar de cima, bebidas toscas (um vinho que sai de um barril tipo "Chaves", pra lá de suspeito). E o público basicamente de universitários vestidos de preto.
Eu abandonei s trevas faz tempo. Hoje eu vejo o quanto eu era gótico, mas na época nem achava, apesar de freqüentar o meio. Existe uma piada entre esse povo, de que o verdadeiro gótico é aquele que nega até o fim. E é verdade. Conheci vários assim. Eu, por exemplo, raspava as sobrancelhas (zero) e as laterais do cabelo, só usava preto, passava protetor solar 50 para sair na rua, fazia fotos de auto-mutilação, tatuava pontos no pulso e comprava aquelas coletâneas terríveis de cds da Cleopatra. Mas achava que estava salvo, porque escutava britpop também. Haha.
Nessa época, eu tocava teclado numa banda de glamrock chamada Viva Violet. Apesar de eu ter estudado piano, nunca toquei porra nenhuma, só entrei na banda mesmo pelo visual. O vocalista (Leandro Cunha, que hoje é do Multiplex) era meu amigo e fez pressão para eu ficar. Mas o resto da banda queria me expulsar porque achava que eu trazia um som muito gótico - só porque eu colocava uns órgãos de igreja em músicas com nomes como "Milk and Champagne", ahaha.
A coisa foi suavizar quando me mudei para Porto Alegre. Eu já tinha uns 22 anos, coincidiu o final da minha "adolescência". Tive de procurar emprego numa cidade estranha, fazer amigos, morar sozinho, então comecei a pegar leve no visual. O tempo foi passando, o sol me queimando, e todo aquele ar "noir" perdeu um pouco o sentido. Mas é claro que ficaram algumas raízes, uma nostalgia, que se reflete até em muitas coisas que eu escrevo.
E acho ótimo quando vejo uma petizada trevosa me procurando no Orkut, comentando meus livros, escrevendo aqui no blog. Quer dizer, dá para suspeitar da goticidade de alguém que assina como "Angel in Coma", por exemplo, não? Haha. Eu também não posso dizer nada, basta ver o "saintdragon" do meu email (é que eu achava "Santiago" latino demais... haha).
Então, para meus amiguinhos sombrios, vai o tracklist de uma coletânea Gótica que gravei dos meus cds e tô escutando aqui agora:
Him – For You
Sisters of Mercy – This Corrosion
London After Midnight – Let me Break You
Cure – Kyoto Song
Damned – Alone Again or
Sex Gang Children – Funny Little Man
Nine Inch Nails – Closer
Einsturzende Neubauten – Was Ist Ist
Specimen – Hex
Virgin Prunes – Caucasian Walk
Rosetta Stone – Nothing
Bauhaus – Mask
Marilyn Manson – Apple of Sodom
Skinny Puppy – Killing Game
Cocteau Twins – Half Gifts
Last Pain feat Santiago Nazarian – Drama Queen
Siouxsie and the Banshees – Carousel
Portishead - Mysterons
E hoje fui ver uma exposição sobre "arte e dor" na Estação Pinacoteca.
30/07/2005
28/07/2005
COMO DESOVAR COGUMELOS
Acabo de acabar um conto extenso, de 13 laudas, para uma antologia que sai em breve. "Como Desovar Cogumelos" é o título (do meu conto), e pode ser visto como uma alegoria das competições e camaradagens que existem na cena literária. Ah?
Esta semana está linda, à base de antibióticos, antiinflamatórios e analgésicos, por causa do siso. Minha mandíbula está parcialmente travada. Eu estou anestesiado. E começo a ter flashbacks de meus períodos junkies da infância (Lyvia, não tente isso em casa. Bom é ser bonito, saudável e bronzeado, com o peito amplo e o hálito puro).
Esta semana também tive experiências que me fizeram perceber o quanto tenho sido egoísta, individualista e injusto com aqueles que gostam de mim. Meu tempo e meu espaço se tornaram uma coisa só e cada vez menos estou disposto a cedê-los, seja para um café, jantar ou telefonema. Saio de casa sempre de fone de ouvido, não falo com ninguém, não sei o nome de nenhum porteiro do meu prédio e de nenhum colega da academia, praticamente as únicas pessoas que vejo quase todos os dias. E eu preciso das pessoas tanto quanto qualquer outro, só que nunca estou disposto, raramente tenho vontade. É isso. Eu preciso dos outros, mas não tenho vontade.
Vou acabar no fundo do poço, mas nem assim ficarei sozinho. Lá embaixo encontrarei a Samara, que não vai me deixar trocar o canal da TV (Ah, as mulheres...).
Sai, sai, capeta!
O individualismo é praticamente uma tradição nas mulheres da minha família (haha). Minha avó passa todos os anos o Natal e o Ano Novo sozinha. Ela prefere ir viajar, e sempre viajou sozinha. Minha mãe também tem dessas, foi morar no meio do mato, sempre viaja sozinha. Mas ao menos ela mais sociável, com os porteiros, no maldito telefone...
Eu também tenho o outro lado, a quantidade imensa de pessoas que eu conheço, que eu já namorei ou simplesmente troquei fluídos. Os vários amigos queridos, que vejo pouco, mas que estão sempre lá quando eu preciso. Enfim, tudo isso não é problema, o problema é só me sentir culpado porque as vezes acho que os outros precisam de mim e eu não consigo...
Mas passou, passou, e vou dormir.
Espera... falando em pessoas queridas, amanhã (quinta) tem a Andrea del Fuego e a Índigo na Livraria Lima Barreto (Inácio Pereira da Rocha, SP), lendo contos e conversando com o pessoal. Eu devo passar lá, se meu siso me permitir.
Acabo de acabar um conto extenso, de 13 laudas, para uma antologia que sai em breve. "Como Desovar Cogumelos" é o título (do meu conto), e pode ser visto como uma alegoria das competições e camaradagens que existem na cena literária. Ah?
Esta semana está linda, à base de antibióticos, antiinflamatórios e analgésicos, por causa do siso. Minha mandíbula está parcialmente travada. Eu estou anestesiado. E começo a ter flashbacks de meus períodos junkies da infância (Lyvia, não tente isso em casa. Bom é ser bonito, saudável e bronzeado, com o peito amplo e o hálito puro).
Esta semana também tive experiências que me fizeram perceber o quanto tenho sido egoísta, individualista e injusto com aqueles que gostam de mim. Meu tempo e meu espaço se tornaram uma coisa só e cada vez menos estou disposto a cedê-los, seja para um café, jantar ou telefonema. Saio de casa sempre de fone de ouvido, não falo com ninguém, não sei o nome de nenhum porteiro do meu prédio e de nenhum colega da academia, praticamente as únicas pessoas que vejo quase todos os dias. E eu preciso das pessoas tanto quanto qualquer outro, só que nunca estou disposto, raramente tenho vontade. É isso. Eu preciso dos outros, mas não tenho vontade.
Vou acabar no fundo do poço, mas nem assim ficarei sozinho. Lá embaixo encontrarei a Samara, que não vai me deixar trocar o canal da TV (Ah, as mulheres...).
Sai, sai, capeta!
O individualismo é praticamente uma tradição nas mulheres da minha família (haha). Minha avó passa todos os anos o Natal e o Ano Novo sozinha. Ela prefere ir viajar, e sempre viajou sozinha. Minha mãe também tem dessas, foi morar no meio do mato, sempre viaja sozinha. Mas ao menos ela mais sociável, com os porteiros, no maldito telefone...
Eu também tenho o outro lado, a quantidade imensa de pessoas que eu conheço, que eu já namorei ou simplesmente troquei fluídos. Os vários amigos queridos, que vejo pouco, mas que estão sempre lá quando eu preciso. Enfim, tudo isso não é problema, o problema é só me sentir culpado porque as vezes acho que os outros precisam de mim e eu não consigo...
Mas passou, passou, e vou dormir.
Espera... falando em pessoas queridas, amanhã (quinta) tem a Andrea del Fuego e a Índigo na Livraria Lima Barreto (Inácio Pereira da Rocha, SP), lendo contos e conversando com o pessoal. Eu devo passar lá, se meu siso me permitir.
25/07/2005
A ARTE E A MORTE DE FRACOS E FORTES
Ah, viu só? É só eu expressar um pouquinho minha alegria para meu siso inflamar e dar pau na minha Internet. Olho gordo é foda...
Falando em olhos, gordos e dentes, fui ver "A Fantástica Fábrica de Chocolate", claro. Eu sempre assistia a versão antiga na sessão da tarde, mas agora faz tempo e nem lembro mais. De qualquer forma, gostei bastante da versão nova, esse tom fabulesco do Tim Burton, todo o tratamento visual que ele deu, a textura das peles e dos doces. Também adoro o Johnny Depp, mas acho que ele exagerou um pouco. Tudo bem que é uma fábula, o personagem é caricato, mas cada vez mais eu sinto que ele se esforça ao máximo para ficar esquisito e vencer a própria beleza. Acho que deviam ter escalado outro ator para o papel.
Tim Burton é um diretor que eu acompanho desde a infância (com "Beetlejuice") e que nunca posso deixar de assistir (mesmo quando dirige merdas como "Planeta dos Macacos"). Ele é um gótico que venceu em Hollywood. Como alguém consegue fazer um mega estúdio financiar um filme com um roteiro esdrúxulo como "Edward Mãos de Tesoura"? Eu gosto, mas meus favoritos dele ainda são "Peixe Grande" e "Ed Wood" (que foi a menor bilheteria dele).
Parece que, antes de ser diretor, ele era animador dos estúdios Disney. Dizia que sofria em ter de desenhar animações como "O Cão e Raposa". Haha. Atualmente, ele vem abandonando a estética gótica e se tornando cada vez mais psicodélico, apesar de que o próximo filme (de animação) dele se chama "A Noiva Defunta"... Ui!
Tenho também um livrinho dele de "poemas góticos para crianças". Chama-se "The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories". Vale pela edição e pelas ilustrações.
Ai, meu siso...
Mas como Hollywood não paga minhas contas, esta semana estou trabalhando com as legendas de 9 filmes da trupe do Godard, que minha mãe traduziu, além do Kieslowski, que eu também traduzi. Aprendam comigo essa proeza, crianças, assistam Hollywood por diversão e ganhem dinheiro com o cinema de arte!
Falando em cinema, Luis Gastão, que eu ainda não conheci pessoalmente, mas que sempre deu força para minha literatura, publicou uma entrevista comigo no blog dele. http://www.cinemaecia.blogspot.com/ Vai aí uma das perguntas (e respostas):
Cinema e Cia: Você acabou de lançar "Feriado de Mim Mesmo" e já tem outro livro pronto. A literatura é uma compulsão?
SN: Não. "Feriado de Mim Mesmo" foi escrito em julho de 2003. Esse próximo foi escrito entre final de 2004 e começo de 2005. Ou seja, existe mais de um ano de intervalo entre eles. Eu sou um escritor, é isso o que eu faço. Então como eu poderia ficar mais de um ano sem escrever um livro? Não entendo isso. Existe um artista plástico em atividade que dê um ano de intervalo entre a pintura de cada quadro? O problema é que os processos são lentos. Publicar um livro por ano já é considerado excessivo. Eu tenho prazer em escrever, só isso, mas vou satisfazendo esses prazer em textos menores, em contos, até no blog, porque o mercado editorial não consegue absorver minha produção. Isso às vezes me deixa um pouco ansioso. E esse deve ser um "mal da juventude".
Ah, viu só? É só eu expressar um pouquinho minha alegria para meu siso inflamar e dar pau na minha Internet. Olho gordo é foda...
Falando em olhos, gordos e dentes, fui ver "A Fantástica Fábrica de Chocolate", claro. Eu sempre assistia a versão antiga na sessão da tarde, mas agora faz tempo e nem lembro mais. De qualquer forma, gostei bastante da versão nova, esse tom fabulesco do Tim Burton, todo o tratamento visual que ele deu, a textura das peles e dos doces. Também adoro o Johnny Depp, mas acho que ele exagerou um pouco. Tudo bem que é uma fábula, o personagem é caricato, mas cada vez mais eu sinto que ele se esforça ao máximo para ficar esquisito e vencer a própria beleza. Acho que deviam ter escalado outro ator para o papel.
Tim Burton é um diretor que eu acompanho desde a infância (com "Beetlejuice") e que nunca posso deixar de assistir (mesmo quando dirige merdas como "Planeta dos Macacos"). Ele é um gótico que venceu em Hollywood. Como alguém consegue fazer um mega estúdio financiar um filme com um roteiro esdrúxulo como "Edward Mãos de Tesoura"? Eu gosto, mas meus favoritos dele ainda são "Peixe Grande" e "Ed Wood" (que foi a menor bilheteria dele).
Parece que, antes de ser diretor, ele era animador dos estúdios Disney. Dizia que sofria em ter de desenhar animações como "O Cão e Raposa". Haha. Atualmente, ele vem abandonando a estética gótica e se tornando cada vez mais psicodélico, apesar de que o próximo filme (de animação) dele se chama "A Noiva Defunta"... Ui!
Tenho também um livrinho dele de "poemas góticos para crianças". Chama-se "The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories". Vale pela edição e pelas ilustrações.
Ai, meu siso...
Mas como Hollywood não paga minhas contas, esta semana estou trabalhando com as legendas de 9 filmes da trupe do Godard, que minha mãe traduziu, além do Kieslowski, que eu também traduzi. Aprendam comigo essa proeza, crianças, assistam Hollywood por diversão e ganhem dinheiro com o cinema de arte!
Falando em cinema, Luis Gastão, que eu ainda não conheci pessoalmente, mas que sempre deu força para minha literatura, publicou uma entrevista comigo no blog dele. http://www.cinemaecia.blogspot.com/ Vai aí uma das perguntas (e respostas):
Cinema e Cia: Você acabou de lançar "Feriado de Mim Mesmo" e já tem outro livro pronto. A literatura é uma compulsão?
SN: Não. "Feriado de Mim Mesmo" foi escrito em julho de 2003. Esse próximo foi escrito entre final de 2004 e começo de 2005. Ou seja, existe mais de um ano de intervalo entre eles. Eu sou um escritor, é isso o que eu faço. Então como eu poderia ficar mais de um ano sem escrever um livro? Não entendo isso. Existe um artista plástico em atividade que dê um ano de intervalo entre a pintura de cada quadro? O problema é que os processos são lentos. Publicar um livro por ano já é considerado excessivo. Eu tenho prazer em escrever, só isso, mas vou satisfazendo esses prazer em textos menores, em contos, até no blog, porque o mercado editorial não consegue absorver minha produção. Isso às vezes me deixa um pouco ansioso. E esse deve ser um "mal da juventude".
22/07/2005
ANTES QUE O SOL ME QUEIME, FECHE MEUS OLHOS E ME CUBRA.
Bem, bem, pra falar a verdade, Jonathan e Wellington também afundaram no Tietê...
As coisas melhoraram por aqui – mas não posso ficar me gabando muito, porque o olho grande dos opositores é fatal, e inclusive já me causou conjuntivite, conjuntivite e infecçao urinária. Isso foi combinado à minha crise econômica, que me causou uma depressão que me trancou em casa por quase uma semana, sem trocar de roupa nem tomar banho, semanas atrás.
Agora os bonecos de neve voltaram a sorrir.
Estou mergulhado nos trabalhos que mais gosto de fazer. Quem me dera pudesse ser sempre assim. Não que eu esteja faturando horrores, mas ao menos estão aparecendo trabalhos interessantes. A tradução do JT LeRoy tem sido uma delícia, faço com todo o amor do mundo. Também surgiram outras legendas. E uma avalanche de contos que serão publicados no segundo semestre.
Sim, vários contos meus serão publicados em "mídia impressa" no segundo semestre, em antologias e revistas. Alguns deles bem extensos, como o "Ismália" (baseado no poema de Alphonsus Guimaraens) e um outro de 15 páginas em que estou trabalhando agora e tenho de entregar até o final deste mês. Tem também "Aranha no Açúcar", que deve sair numa revista em setembro, e o "Seis Dedos Para Contar", que sai na Itália, ano que vem. E mais. Mais. Pode deixar que aviso quando forem saindo.
Já disse isso várias vezes e repito: não entendo esses escritores que sofrem para escrever. Por mais que o produto final seja magnífico, eles deveriam procurar outra coisa, algo que lhes desse prazer. Eu tenho tanto prazer em escrever que até me sinto culpado. Segunda-feira, por exemplo, fiquei até as 5 da manhã (bem, agora são 3...) para terminar um conto que tinha de entregar. Daí você vê aquele povo se queixando "tenho trabalhado tanto", meio com aquele orgulho do sofrimento, saca? As pessoas acham ótimo dizer que "não têm tempo para nada e que trabalham demais". Bem, bem, eu tenho tempo para tudo, estou aqui às 5 da manhã fazendo o que gosto e quero mais, mais. Talvez seja porque eu não consiga ver isso realmente como um trabalho... mesmo quando me pagam...
Talvez seja essa essa lógica cristã, de ter de associar trabalho com sofrimento...
Falando em contos, tenho visto na comunidade do Orkut o interesse de leitores, como o Saint-Clair, que gostariam que eu publicasse um livro de contos. Para mim, essa não seria um publicação relevante no momento. Todo mundo lança livro de contos, principalmente os autores dessa "nova geração". Eu tenho contos, vários, e eles podem ser facilmente lidos por aí. Por que querem vê-los reunidos num só volume? É como comprar uma coletânea de "Greatest Hits" de uma banda, sendo que você já tem todas as músicas em outros discos.
Meu próximo lançamento será mais um romance, que já está pronto, mas que vou segurar um pouco. Tenho lançado um livro por ano e preciso dar um respiro maior, para não saturar. Então fica para final de 2006, começo de 2007. Só posso adiantar que estou bem satisfeito com o resultado, e que vai para uma direção completamente diferente dos anteriores, mas que confirma minha tendência de namoro com as ciências biológicas (vide "Pó de Vidro e Veneno de Cobra" e "Seis Dedos pra Contar").
Ah, mas daqui a alguns meses eu dou mais detalhes aqui.
Para aqueles que estão atrás dos contos, vai aí o que já foi lançado até agora, no blog, em sites e impresso (se esquecer de algum, me avisem):
A Mulher Barbada: no livro "Parati Para Mim" (Ed Planeta, 2003)
Pó de Vidro e Veneno de Cobra: no livro/revista "Ficções 12" (7 Letras, 2003)
Só Tiro o Dedo da Boca para Furar Seus Olhos: no livro "Os Cem Menores Contos do Século" (Ateliê Editorial, 2004)
Quando Eu Escrevo: no jornal "O Globo" (2003)
É o Câncer que me Faz Sorrir: no jornal Folha de São Paulo (2005)
O Chamado (selvagem): no site "Patife"
O Pequeno Conto que Sorri: no site "Patife"
Quasímodo – no site "Portal Literal"
O Amolador de Facas: no site "Bestiário"
Espinha de Peixe: aqui no blog
Seis Dedos pra Contar: aqui no blog
Depois do Sexo: aqui no blog
Garotos Podres: aqui no blog
Velhos Sapatos de Dança: aqui no blog
Irmão Sol, Irmão Água: aqui no blog
De todos esses, no momento, meu favorito é "Espinha de Peixe".
Bem, bem, pra falar a verdade, Jonathan e Wellington também afundaram no Tietê...
As coisas melhoraram por aqui – mas não posso ficar me gabando muito, porque o olho grande dos opositores é fatal, e inclusive já me causou conjuntivite, conjuntivite e infecçao urinária. Isso foi combinado à minha crise econômica, que me causou uma depressão que me trancou em casa por quase uma semana, sem trocar de roupa nem tomar banho, semanas atrás.
Agora os bonecos de neve voltaram a sorrir.
Estou mergulhado nos trabalhos que mais gosto de fazer. Quem me dera pudesse ser sempre assim. Não que eu esteja faturando horrores, mas ao menos estão aparecendo trabalhos interessantes. A tradução do JT LeRoy tem sido uma delícia, faço com todo o amor do mundo. Também surgiram outras legendas. E uma avalanche de contos que serão publicados no segundo semestre.
Sim, vários contos meus serão publicados em "mídia impressa" no segundo semestre, em antologias e revistas. Alguns deles bem extensos, como o "Ismália" (baseado no poema de Alphonsus Guimaraens) e um outro de 15 páginas em que estou trabalhando agora e tenho de entregar até o final deste mês. Tem também "Aranha no Açúcar", que deve sair numa revista em setembro, e o "Seis Dedos Para Contar", que sai na Itália, ano que vem. E mais. Mais. Pode deixar que aviso quando forem saindo.
Já disse isso várias vezes e repito: não entendo esses escritores que sofrem para escrever. Por mais que o produto final seja magnífico, eles deveriam procurar outra coisa, algo que lhes desse prazer. Eu tenho tanto prazer em escrever que até me sinto culpado. Segunda-feira, por exemplo, fiquei até as 5 da manhã (bem, agora são 3...) para terminar um conto que tinha de entregar. Daí você vê aquele povo se queixando "tenho trabalhado tanto", meio com aquele orgulho do sofrimento, saca? As pessoas acham ótimo dizer que "não têm tempo para nada e que trabalham demais". Bem, bem, eu tenho tempo para tudo, estou aqui às 5 da manhã fazendo o que gosto e quero mais, mais. Talvez seja porque eu não consiga ver isso realmente como um trabalho... mesmo quando me pagam...
Talvez seja essa essa lógica cristã, de ter de associar trabalho com sofrimento...
Falando em contos, tenho visto na comunidade do Orkut o interesse de leitores, como o Saint-Clair, que gostariam que eu publicasse um livro de contos. Para mim, essa não seria um publicação relevante no momento. Todo mundo lança livro de contos, principalmente os autores dessa "nova geração". Eu tenho contos, vários, e eles podem ser facilmente lidos por aí. Por que querem vê-los reunidos num só volume? É como comprar uma coletânea de "Greatest Hits" de uma banda, sendo que você já tem todas as músicas em outros discos.
Meu próximo lançamento será mais um romance, que já está pronto, mas que vou segurar um pouco. Tenho lançado um livro por ano e preciso dar um respiro maior, para não saturar. Então fica para final de 2006, começo de 2007. Só posso adiantar que estou bem satisfeito com o resultado, e que vai para uma direção completamente diferente dos anteriores, mas que confirma minha tendência de namoro com as ciências biológicas (vide "Pó de Vidro e Veneno de Cobra" e "Seis Dedos pra Contar").
Ah, mas daqui a alguns meses eu dou mais detalhes aqui.
Para aqueles que estão atrás dos contos, vai aí o que já foi lançado até agora, no blog, em sites e impresso (se esquecer de algum, me avisem):
A Mulher Barbada: no livro "Parati Para Mim" (Ed Planeta, 2003)
Pó de Vidro e Veneno de Cobra: no livro/revista "Ficções 12" (7 Letras, 2003)
Só Tiro o Dedo da Boca para Furar Seus Olhos: no livro "Os Cem Menores Contos do Século" (Ateliê Editorial, 2004)
Quando Eu Escrevo: no jornal "O Globo" (2003)
É o Câncer que me Faz Sorrir: no jornal Folha de São Paulo (2005)
O Chamado (selvagem): no site "Patife"
O Pequeno Conto que Sorri: no site "Patife"
Quasímodo – no site "Portal Literal"
O Amolador de Facas: no site "Bestiário"
Espinha de Peixe: aqui no blog
Seis Dedos pra Contar: aqui no blog
Depois do Sexo: aqui no blog
Garotos Podres: aqui no blog
Velhos Sapatos de Dança: aqui no blog
Irmão Sol, Irmão Água: aqui no blog
De todos esses, no momento, meu favorito é "Espinha de Peixe".
20/07/2005
O EFEITO PEPEU GOMES
Hum, é férias, sei lá, o que quer que eu diga?
Tenho escrito pouco porque o Jonathan e o Wellington não estão indo este mês para a escola. Então tenho de levá-los ao shopping, à pista de motocross e ao tiozinho que vende cola.
É muito difícil ser pai e mãe ao mesmo tempo, mas, modéstia à parte, acho que tenho me virado bem desde que a mãe deles despencou no Tietê. Até apliquei silicone em um dos seios, você sabe, para ressaltar minha metade feminina. Isso me fez refletir um bocado sobre a falsa simetria do ser humano, em como somos aparentemente equilibrados, mas estamos sempre pendendo para um lado.
Jonathan diz que, quando crescer mais um pouco, vai colocar silicone nos DOIS peitos. Eu disse a ele o quanto isso é falso e previsível. Ele se defende dizendo que a porcentagem feminina dele é superior a 25%, por isso precisaria ter dois seios, para contrabalançar com os testículos. Eu sugeri que ele retirasse um testículo e colocasse silicone em apenas um dos seios, para então ficar 50%, mas não sei se é boa idéia, porque metades exatas também não são verdadeiras. De qualquer forma, será que um testículo corresponde exatamente a um seio? Ah, acho que se a mãe dele estivesse viva seria mais fácil lidar com toda essa questão...
De noite não saímos, por causa dos lobos.
Hum, é férias, sei lá, o que quer que eu diga?
Tenho escrito pouco porque o Jonathan e o Wellington não estão indo este mês para a escola. Então tenho de levá-los ao shopping, à pista de motocross e ao tiozinho que vende cola.
É muito difícil ser pai e mãe ao mesmo tempo, mas, modéstia à parte, acho que tenho me virado bem desde que a mãe deles despencou no Tietê. Até apliquei silicone em um dos seios, você sabe, para ressaltar minha metade feminina. Isso me fez refletir um bocado sobre a falsa simetria do ser humano, em como somos aparentemente equilibrados, mas estamos sempre pendendo para um lado.
Jonathan diz que, quando crescer mais um pouco, vai colocar silicone nos DOIS peitos. Eu disse a ele o quanto isso é falso e previsível. Ele se defende dizendo que a porcentagem feminina dele é superior a 25%, por isso precisaria ter dois seios, para contrabalançar com os testículos. Eu sugeri que ele retirasse um testículo e colocasse silicone em apenas um dos seios, para então ficar 50%, mas não sei se é boa idéia, porque metades exatas também não são verdadeiras. De qualquer forma, será que um testículo corresponde exatamente a um seio? Ah, acho que se a mãe dele estivesse viva seria mais fácil lidar com toda essa questão...
De noite não saímos, por causa dos lobos.
19/07/2005
Nesta terça-feira tem noite de autógrafos do livro "Contos Negreiros", do Marcelino Freire, na Livraria da Vila - SP, 19h.
Não é minha intenção ficar dando aqui a agenda de lançamentos literários, mas como o Marcelino sempre faz isso por mim e por vários outros escritores, é um dos poucos colegas - se não o único - que eu posso dizer que se tornou meu amigo e, ainda por cima, escreve pra caralho, vale a pena dar o toque.
Eu e minhas madeixas estaremos lá.
Não é minha intenção ficar dando aqui a agenda de lançamentos literários, mas como o Marcelino sempre faz isso por mim e por vários outros escritores, é um dos poucos colegas - se não o único - que eu posso dizer que se tornou meu amigo e, ainda por cima, escreve pra caralho, vale a pena dar o toque.
Eu e minhas madeixas estaremos lá.
17/07/2005
FOSSA NOVA
Ontem fui ver as "motion pictures" do Warhol no Mam. Coisa bem interessante. Não são filmes, são fotos, mas com um movimento. Quero dizer, enquadramentos estáticos de imagens vivas. Rostos que piscam, corpos que respiram, o tempo que passa. Há na mostra, por exemplo, o famoso "filme" "Sleep", no qual ele registrou um homem dormindo por cinco horas; e "Empire" no qual ele focaliza o Empire State Building de longe, por um dia inteiro.
A montagem da exposição está excelente, uma sala escura com as paredes cobertas por televisores telas-planas, cada um com um desses filmes. Ou seja, como uma mostra fotográfica. Não faria o menor sentido irmos a um cinema para ficar horas assistindo um homem dormir.
Fora toda a concepção da obra - os questionamentos do limite entre cinema e fotografia, tempo e instante - existe a beleza plástica. As fotos são lindas. E deixa claro que o trabalho de Warhol não era apenas conceitual, existe uma técnica, um trabalho e um desenvolvimento, coisa cada vez mais rara em quem trabalha com "pop arte" hoje em dia e quer ser "moderno".
Como aquela discussão do funk...
Aliás, ontem também fui numa dessas festinhas. Essas festinhas que querem ser "modernas" e se tornam cada vez mais imbecis. Para começar, acontece num puteiro; tudo bem, isso já não é mais novidade nenhuma, todo mundo já fez, não é nenhuma piada, mas podem dizer que escolheram fazer lá pelo espaço, pelo visual, sem problema. Depois, tocam funkzinho, trash 80’s, até trash 90’s, sem perceber que essa piada já passou, todo mundo já riu, "que legal dançar Bonde do Tigrão" – há-há-há – e aí vamos pra outra? Daí tem todo esse povo carão que se acha bacana por trabalhar em algum galeria, ou ser "hostess" de alguma festinha, ou ter um fotolog razoavelmente bem acessado. Ai, cansaço. Às vezes eu penso que eu é que tô velho pra essas coisas, mas você vê que o povo dessas festas são todos uns trintões lesados cuja única filosofia é a química.
Química por química, eu prefiro a dos hormônios...
Você anda pela rua Augusta, nas noites de hoje, e vê que toda aquela zona (literalmente) perto do centro está tomada pelo hype. A gurizada alcoolizada, os mauricinhos anfetaminados. Eles não vão mais ao puteiro para trepar, vão para sair na coluna da Erika Palomino! Tem até boates moderninhas por lá, para o povo que quer ser muito "underground".
Eu quero ver borboletinhas, bochechas rosadas, florzinhas germinando no mundo dos Teletubbies. Haha.
Bem, bem, claro que é certa hipocrisia da minha parte, porque eu também freqüento essa fossa. Eu também tava lá ontem. E talvez eu devesse só aproveitar o non-sense da coisa. Mas acho que fico procurando um sentido e um conteúdo por serem basicamente esses os únicos momentos em que tenho contato real com outros homeotérmicos (haha). E lá eles estão todos cansados da razão, dos sentidos, da semana inteira de justificativas e argumentações. Ahhhhh, isso tá muito "Feriado de Mim Mesmo"...
Falando no "Feriado", ontem também fui à Fnac, ver se finalmente encontrava o livro lá. Antes que eu pudesse chegar à estante, ouvi dois rapazes conversando: "Feriado de Mim Mesmo, a história de um cara que mora sozinho num apartamento..."
Dei meia volta, constrangido. Mas fiquei na estante de trás, escutando. Parece que o rapaz tinha gostado do livro, contou A HISTÓRIA INTEIRA para o amigo, inclusive o final (pelo jeito, ele não ia mesmo comprar o livro. Se ia, deve ter desistido depois de saber como acabava). Enfim, achei legal a coincidência. Fico orgulhoso de ver o livro circulando por aí, mas um pouco envergonhado de encontrar essas pessoas pessoalmente. Claro que fiquei bem escondidinho. Nem sei se o leitor me reconheceria se me visse, mas, sei lá, eu teria vergonha de me apresentar numa situação daquelas. (e aí, você que estava na Fnac ontem, de blusa vermelha, passa aqui pelo blog?)
E a FNAC não tinha o livro. Mas tinha "A Morte Sem Nome" e "Olívio". ALIÁS, ainda tenho muitos "Olívios" aqui em casa para vender, autografado, entregue nas suas casinhas, por 21 reais. Quem quiser, já sabe, é só me mandar um email.
Ontem fui ver as "motion pictures" do Warhol no Mam. Coisa bem interessante. Não são filmes, são fotos, mas com um movimento. Quero dizer, enquadramentos estáticos de imagens vivas. Rostos que piscam, corpos que respiram, o tempo que passa. Há na mostra, por exemplo, o famoso "filme" "Sleep", no qual ele registrou um homem dormindo por cinco horas; e "Empire" no qual ele focaliza o Empire State Building de longe, por um dia inteiro.
A montagem da exposição está excelente, uma sala escura com as paredes cobertas por televisores telas-planas, cada um com um desses filmes. Ou seja, como uma mostra fotográfica. Não faria o menor sentido irmos a um cinema para ficar horas assistindo um homem dormir.
Fora toda a concepção da obra - os questionamentos do limite entre cinema e fotografia, tempo e instante - existe a beleza plástica. As fotos são lindas. E deixa claro que o trabalho de Warhol não era apenas conceitual, existe uma técnica, um trabalho e um desenvolvimento, coisa cada vez mais rara em quem trabalha com "pop arte" hoje em dia e quer ser "moderno".
Como aquela discussão do funk...
Aliás, ontem também fui numa dessas festinhas. Essas festinhas que querem ser "modernas" e se tornam cada vez mais imbecis. Para começar, acontece num puteiro; tudo bem, isso já não é mais novidade nenhuma, todo mundo já fez, não é nenhuma piada, mas podem dizer que escolheram fazer lá pelo espaço, pelo visual, sem problema. Depois, tocam funkzinho, trash 80’s, até trash 90’s, sem perceber que essa piada já passou, todo mundo já riu, "que legal dançar Bonde do Tigrão" – há-há-há – e aí vamos pra outra? Daí tem todo esse povo carão que se acha bacana por trabalhar em algum galeria, ou ser "hostess" de alguma festinha, ou ter um fotolog razoavelmente bem acessado. Ai, cansaço. Às vezes eu penso que eu é que tô velho pra essas coisas, mas você vê que o povo dessas festas são todos uns trintões lesados cuja única filosofia é a química.
Química por química, eu prefiro a dos hormônios...
Você anda pela rua Augusta, nas noites de hoje, e vê que toda aquela zona (literalmente) perto do centro está tomada pelo hype. A gurizada alcoolizada, os mauricinhos anfetaminados. Eles não vão mais ao puteiro para trepar, vão para sair na coluna da Erika Palomino! Tem até boates moderninhas por lá, para o povo que quer ser muito "underground".
Eu quero ver borboletinhas, bochechas rosadas, florzinhas germinando no mundo dos Teletubbies. Haha.
Bem, bem, claro que é certa hipocrisia da minha parte, porque eu também freqüento essa fossa. Eu também tava lá ontem. E talvez eu devesse só aproveitar o non-sense da coisa. Mas acho que fico procurando um sentido e um conteúdo por serem basicamente esses os únicos momentos em que tenho contato real com outros homeotérmicos (haha). E lá eles estão todos cansados da razão, dos sentidos, da semana inteira de justificativas e argumentações. Ahhhhh, isso tá muito "Feriado de Mim Mesmo"...
Falando no "Feriado", ontem também fui à Fnac, ver se finalmente encontrava o livro lá. Antes que eu pudesse chegar à estante, ouvi dois rapazes conversando: "Feriado de Mim Mesmo, a história de um cara que mora sozinho num apartamento..."
Dei meia volta, constrangido. Mas fiquei na estante de trás, escutando. Parece que o rapaz tinha gostado do livro, contou A HISTÓRIA INTEIRA para o amigo, inclusive o final (pelo jeito, ele não ia mesmo comprar o livro. Se ia, deve ter desistido depois de saber como acabava). Enfim, achei legal a coincidência. Fico orgulhoso de ver o livro circulando por aí, mas um pouco envergonhado de encontrar essas pessoas pessoalmente. Claro que fiquei bem escondidinho. Nem sei se o leitor me reconheceria se me visse, mas, sei lá, eu teria vergonha de me apresentar numa situação daquelas. (e aí, você que estava na Fnac ontem, de blusa vermelha, passa aqui pelo blog?)
E a FNAC não tinha o livro. Mas tinha "A Morte Sem Nome" e "Olívio". ALIÁS, ainda tenho muitos "Olívios" aqui em casa para vender, autografado, entregue nas suas casinhas, por 21 reais. Quem quiser, já sabe, é só me mandar um email.
14/07/2005
VOCÊ MERECE UMA MÚSICA
Hoje não tenho nada pra dar, apenas essa bela música de Carlos Sabará:
Como a vida é engraçada...
Você é a criatura que pra sua formatura um dia me convidou
e pediu que eu viesse
de gravata borboleta, paletó branco e calça preta. Quanto me sacrifiquei...
Como a vida é engraçada...
Fui ao baile tão contente e despercebidamente pra dançar eu te chamei
e você me respondeu:
"Você está muito enganado, pra servir os convidados foi que eu te convidei."
Como a vida é engraçada...
Hoje nesta sala escura, você já não é mais pura e se sente envergonhada
não se envergonhe comigo...
para que se apavorar? Não é preciso chorar, porque a vida é engraçada.
Você merece uma música,
você não foi tão ruim
porque no dia da festa
você se lembrou de mim
Não fique triste, tão triste
porque você foi a única
que me fez tanto sofrer, hoje eu só posso dizer
você merece uma música...
Comecei hoje a tradução do segundo livro de JT Leroy, "The Heart is Deceitful Above all Things". Deve ser lançado pela Geração Editorial no final do ano ou começo de 2006.
Agora tô ouvindo Prodigy...
Bebendo chá preto com baunilha...
Teclando com um coelho azul...
Hoje não tenho nada pra dar, apenas essa bela música de Carlos Sabará:
Como a vida é engraçada...
Você é a criatura que pra sua formatura um dia me convidou
e pediu que eu viesse
de gravata borboleta, paletó branco e calça preta. Quanto me sacrifiquei...
Como a vida é engraçada...
Fui ao baile tão contente e despercebidamente pra dançar eu te chamei
e você me respondeu:
"Você está muito enganado, pra servir os convidados foi que eu te convidei."
Como a vida é engraçada...
Hoje nesta sala escura, você já não é mais pura e se sente envergonhada
não se envergonhe comigo...
para que se apavorar? Não é preciso chorar, porque a vida é engraçada.
Você merece uma música,
você não foi tão ruim
porque no dia da festa
você se lembrou de mim
Não fique triste, tão triste
porque você foi a única
que me fez tanto sofrer, hoje eu só posso dizer
você merece uma música...
Comecei hoje a tradução do segundo livro de JT Leroy, "The Heart is Deceitful Above all Things". Deve ser lançado pela Geração Editorial no final do ano ou começo de 2006.
Agora tô ouvindo Prodigy...
Bebendo chá preto com baunilha...
Teclando com um coelho azul...
12/07/2005
TODOS OS PRAZERES SÃO ORAIS. ALIÁS...
Minha vida acaba de mudar completamente. Comecei a tomar café. Tão pensando que é brincadeira? Esses vícios orais modificam não apenas nossa rotina, como nossa fisiologia, psicologia e economia. Veja o caso do chimarrão, por exemplo, que eu tomo há um bom tempo. São 5 reais a mais que gasto quase toda semana. São milhares de litros que eu urino de cinco em cinco minutos, haha. É a pia da cozinha entupida quase toda semana com aquela erva maldita. Mas é também uma sensação de segurança e satisfação...
O chimarrão salvou minha vida!
Vocês sabem como é, aquela coisa freudiana, de fase oral, a perda do seio materno fazendo com que passemos o resto da vida procurando estímulos substitutos (para Freud, era o charuto). Daí se inicia o alcoolismo, o tabagismo, obesidade, a putaria...
Por sorte eu nunca fumei, nem me tornei alcóolatra. Mas tô sempre sentado no computador com alguma coisa na boca... Pode até ser uma vodca ou um conhaque, de leve, mas não dá para exagerar sem se dispersar. O chimarrão é um substituto ótimo, porque não tem calorias, é saudável, limpa o organismo e vem com aquela bomba (o "canudo"). Você fica com aquilo na boca, chupando, chupando, e satisfaz todos seus desejos inconscientes... ou quase.
O problema é só a cafeína contida. Quando tomo chimarrão demais, fico pilhado.
Não satisfeito com minha cuiazinha, hoje resolvi comprar chá e café. Acho que por causa do frio. Daí tomei uma xícara enorme, fiquei bem louco e fui pra academia.
Tô falando sério. Vocês não ficam completamente pilhados com cafeína? Talvez seja a minha falta de hábito, talvez seja resquício das drogas que tomei no passado. Mas hoje eu fui treinar como um renascido do inferno. Agora já voltei, jantei e tô tomando chimarrão...
(O foda do café é o peso que deixa na boca. Aquele gosto que persiste, saca?)
Falando em loucura, baixei e tô ouvindo o cd novo do Röyksopp. Que maravilha. Acho que não existe nada que soe mais "Europa" do que eles. Uma Europa no inverno, na Escandinávia, bem aquela em que eu vivi. Coisa eletrônica, futurista-nostálgica, lounge minimalista psicodélico, hehe, uma uva.
O primeiro cd era mais cool, ambient (ai, não vou conseguir parar com os adjetivos), esse já é mais dançante, um pouco kitsch, até mesmo cheesy, mas a Europa também é isso. As melhores faixas são "Only This Moment" (que lembra "Poor Leno", mas bem mais kitsch) "What Else is There" (completamente goth 80’s fofo, tipo Cocteau Twins) e "Circuit Breaker" (aceleradíssima, neurótica e insana). Só acho que as faixas podiam ser mais compridas. Tipo, uns 15 minutos cada, haha, para ficar decorando a casa enquanto eu tomo chimarrão...
Essa coisa idiota da música eletrônica só faz sentido mesmo para quem se pilha. Para mim, só fez sentido mesmo depois que eu me afundei nos tóxicos. Fiquei meses na Europa, com uma mochila nas costas, morando cada hora num lugar, dormindo em cemitério, onde quer que amigos e rapazinhos bonitinhos me recebessem, e me pilhando pilhando... Um dia eu entrei numa loja Seven Eleven, ouvi Kylie Minogue tocando, e tudo fez sentido. Haha (pior que é verdade).
(Voltando ao Royksopp, me lembro que uma vez escutei o primeiro cd chapado, e tive uma iluminação. Cada faixa contava um trecho da história da "Branca de Neve", de forma fragmentada, hahaah, deve ser um lance tipo "Dark Side of the Moon" com "O Mágico de Oz" - vocês sabiam que o album do Pink Floyd pode ser uma trilha alternativa para o filme, né? casa direitinho)
Hoje em dia, fico só no chimarrão. Tenho de cuidar muito bem dos poucos neurônios sobreviventes. Regar direitinho e deixar florescer...
Pra terminar, queria comentar a repercussão do post anterior. Aliás, já comentei, no próprio "comments" de lá. Só quero enfatizar meu "direito de revolta". É claro que tem muitas coisas boas na minha vida, mas se eu me acomodar com elas, se não continuar lutando e protestando contra problemas reais (como falta de oportunidades profissionais e grana) eu posso me aposentar... e morrer. E claro que sei valorizar os acontecimentos positivos, sempre coloco aqui as matérias legais que saem, bons trabalhos que aparecem, lançamentos que faço... coisas que me deixam feliz.
E podem acreditar que gosto de ler os comentários de vocês. Talvez eu "não devesse me importar", mas me importo. Todo mundo quer ser amado ; )
Então vai aí o comentário que minha mãe (Elisa Nazarian) fez, que me mandou por email e que, como ela mesmo disse, se encaixa bem aqui.
Querido,
Que polêmica que deu o seu último blog!!!
Aquele seu correspondente que fala sobre a Vitae e te faz convites escusos, está desatualizado. A Vitae encerrou as bolsas no ano passado, naquela vez em que eu te avisei. Finito!! Mas devem ter outras bolsas, tem que ter, talvez Itaú Cultural, essas coisas. Mas, no seu caso também tenho minhas dúvidas a respeito de bolsa. Porque resolve só o seu problema imediato, quando o que eu estou sentindo é que tem que se achar uma solução mais a longo prazo, de postura de vida mesmo. Como fazer pra ganhar dinheiro e poder continuar escrevendo. Talvez o negócio das legendas cresça. Parece que anda tendo ótimas possibilidades. É um caminho. Achei lindo o que você diz no final do seu blog sobre a "necessidade de ter sempre que se revoltar contra alguma coisa pra se manter vivo". Acredito muito muito muito nisso. Talvez não bem em se revoltar, mas em manter acesa a capacidade da indignação. E a curiosidade. E a crença em algumas coisas, que já não sei quais são.
Como anda o seu olho? O meu sarou...ou quase...
Parece que estou escrevendo pro seu blog.
' Love You!
Minha vida acaba de mudar completamente. Comecei a tomar café. Tão pensando que é brincadeira? Esses vícios orais modificam não apenas nossa rotina, como nossa fisiologia, psicologia e economia. Veja o caso do chimarrão, por exemplo, que eu tomo há um bom tempo. São 5 reais a mais que gasto quase toda semana. São milhares de litros que eu urino de cinco em cinco minutos, haha. É a pia da cozinha entupida quase toda semana com aquela erva maldita. Mas é também uma sensação de segurança e satisfação...
O chimarrão salvou minha vida!
Vocês sabem como é, aquela coisa freudiana, de fase oral, a perda do seio materno fazendo com que passemos o resto da vida procurando estímulos substitutos (para Freud, era o charuto). Daí se inicia o alcoolismo, o tabagismo, obesidade, a putaria...
Por sorte eu nunca fumei, nem me tornei alcóolatra. Mas tô sempre sentado no computador com alguma coisa na boca... Pode até ser uma vodca ou um conhaque, de leve, mas não dá para exagerar sem se dispersar. O chimarrão é um substituto ótimo, porque não tem calorias, é saudável, limpa o organismo e vem com aquela bomba (o "canudo"). Você fica com aquilo na boca, chupando, chupando, e satisfaz todos seus desejos inconscientes... ou quase.
O problema é só a cafeína contida. Quando tomo chimarrão demais, fico pilhado.
Não satisfeito com minha cuiazinha, hoje resolvi comprar chá e café. Acho que por causa do frio. Daí tomei uma xícara enorme, fiquei bem louco e fui pra academia.
Tô falando sério. Vocês não ficam completamente pilhados com cafeína? Talvez seja a minha falta de hábito, talvez seja resquício das drogas que tomei no passado. Mas hoje eu fui treinar como um renascido do inferno. Agora já voltei, jantei e tô tomando chimarrão...
(O foda do café é o peso que deixa na boca. Aquele gosto que persiste, saca?)
Falando em loucura, baixei e tô ouvindo o cd novo do Röyksopp. Que maravilha. Acho que não existe nada que soe mais "Europa" do que eles. Uma Europa no inverno, na Escandinávia, bem aquela em que eu vivi. Coisa eletrônica, futurista-nostálgica, lounge minimalista psicodélico, hehe, uma uva.
O primeiro cd era mais cool, ambient (ai, não vou conseguir parar com os adjetivos), esse já é mais dançante, um pouco kitsch, até mesmo cheesy, mas a Europa também é isso. As melhores faixas são "Only This Moment" (que lembra "Poor Leno", mas bem mais kitsch) "What Else is There" (completamente goth 80’s fofo, tipo Cocteau Twins) e "Circuit Breaker" (aceleradíssima, neurótica e insana). Só acho que as faixas podiam ser mais compridas. Tipo, uns 15 minutos cada, haha, para ficar decorando a casa enquanto eu tomo chimarrão...
Essa coisa idiota da música eletrônica só faz sentido mesmo para quem se pilha. Para mim, só fez sentido mesmo depois que eu me afundei nos tóxicos. Fiquei meses na Europa, com uma mochila nas costas, morando cada hora num lugar, dormindo em cemitério, onde quer que amigos e rapazinhos bonitinhos me recebessem, e me pilhando pilhando... Um dia eu entrei numa loja Seven Eleven, ouvi Kylie Minogue tocando, e tudo fez sentido. Haha (pior que é verdade).
(Voltando ao Royksopp, me lembro que uma vez escutei o primeiro cd chapado, e tive uma iluminação. Cada faixa contava um trecho da história da "Branca de Neve", de forma fragmentada, hahaah, deve ser um lance tipo "Dark Side of the Moon" com "O Mágico de Oz" - vocês sabiam que o album do Pink Floyd pode ser uma trilha alternativa para o filme, né? casa direitinho)
Hoje em dia, fico só no chimarrão. Tenho de cuidar muito bem dos poucos neurônios sobreviventes. Regar direitinho e deixar florescer...
Pra terminar, queria comentar a repercussão do post anterior. Aliás, já comentei, no próprio "comments" de lá. Só quero enfatizar meu "direito de revolta". É claro que tem muitas coisas boas na minha vida, mas se eu me acomodar com elas, se não continuar lutando e protestando contra problemas reais (como falta de oportunidades profissionais e grana) eu posso me aposentar... e morrer. E claro que sei valorizar os acontecimentos positivos, sempre coloco aqui as matérias legais que saem, bons trabalhos que aparecem, lançamentos que faço... coisas que me deixam feliz.
E podem acreditar que gosto de ler os comentários de vocês. Talvez eu "não devesse me importar", mas me importo. Todo mundo quer ser amado ; )
Então vai aí o comentário que minha mãe (Elisa Nazarian) fez, que me mandou por email e que, como ela mesmo disse, se encaixa bem aqui.
Querido,
Que polêmica que deu o seu último blog!!!
Aquele seu correspondente que fala sobre a Vitae e te faz convites escusos, está desatualizado. A Vitae encerrou as bolsas no ano passado, naquela vez em que eu te avisei. Finito!! Mas devem ter outras bolsas, tem que ter, talvez Itaú Cultural, essas coisas. Mas, no seu caso também tenho minhas dúvidas a respeito de bolsa. Porque resolve só o seu problema imediato, quando o que eu estou sentindo é que tem que se achar uma solução mais a longo prazo, de postura de vida mesmo. Como fazer pra ganhar dinheiro e poder continuar escrevendo. Talvez o negócio das legendas cresça. Parece que anda tendo ótimas possibilidades. É um caminho. Achei lindo o que você diz no final do seu blog sobre a "necessidade de ter sempre que se revoltar contra alguma coisa pra se manter vivo". Acredito muito muito muito nisso. Talvez não bem em se revoltar, mas em manter acesa a capacidade da indignação. E a curiosidade. E a crença em algumas coisas, que já não sei quais são.
Como anda o seu olho? O meu sarou...ou quase...
Parece que estou escrevendo pro seu blog.
' Love You!
10/07/2005
QUANDO EU TERMINAR ESTE CONHAQUE, QUERO VOCÊ, TESO, AO MEU LADO!
Fiquei sabendo sexta-feira que meu conto "Seis Dedos para Contar" (que pode ser lido aqui no blog, no link "Formigas...") será publicado numa antologia italiana de "jovens autores de língua portuguesa". Essa foi mais uma proeza da minha super agente Ray-Güede, que me representa internacionalmente desde o final do ano passado. Foi ela que conseguiu também a edição portuguesa de "A Morte Sem Nome" (que ainda não saiu, mas já recebi a grana faz tempo, inclusive já gastei...).
A Ray é uma das maiores agentes internacionais de autores em língua portuguesa. Além de mim, ela representa o Saramago, a Lygia (Fagundes Telles), Érico Veríssimo, e mais uma pá de fodões. Foi ela que me escolheu, por isso fico me achando.
No Brasil, não trabalho com agentes. Cheguei a começar uma parceria com um, que acabou desistindo de mim quando viu que eu não ganhava o suficiente nem para pagar as contas...
Pensam que eu tô brincando?
Ganhar grana com literatura é foda, fodíssimo, quase missão impossível. Sinto desestimular os jovens que visitam o blog e acham que um autor que foi ao Jô Soares deve estar montado na grana, haha. Eu queria passar uma mensagem positiva e dizer "a literatura pode salvá-los", mas não é assim. "Feriado de Mim Mesmo" está vendendo bem, sim, entrou na segunda edição em menos de dois meses. Isso é uma enorme proeza para um autor jovem, mas não chega a render grana. Os acertos de direitos autoral com a editora se dão de três em três meses, e ainda se desconta o dinheiro do adiantamento (que recebi ano passado) tem os impostos... Enfim, se no próximo acerto eu ganhar o suficiente para pagar as contas de UM mês, já vou pular de alegria.
Mesmo a grana de Portugal, pensam que foi muito? Descontando os impostos e comissão da agente deu menos do que as contas do mês...
O que sustenta a maioria dos autores é: coluna em jornal + direitos de adaptações + roteiros + traduções. Eu faço um pouco de tudo. Escrevo de vez em quando pra Folha, mas não tenho coluna fixa. Já fiz roteiro do "Feriado", mas nunca conseguimos captar os recursos para eu receber. Faço traduções quando aparecem; quando não aparecem, eu morro de fome. A coisa é foda!
Então, um bando de escritores, inconformados como eu, organizaram um documento para ser apresentado ao governo, pedindo verbas públicas para o incentivo da criação literária. Vocês estão sabendo, né? Trata-se daquele movimento "Literatura Urgente", sobre o qual eu falei aqui e que, nesta semana, teve uma crítica impiedosa (e maldosa) na Veja, assinada pelo Jerônimo Teixeira.
A matéria coloca que, para a criação literária, é preciso apenas lápis e papel. Não seria necessário então financiamento público, como acontece com artes mais caras (cinema, teatro). Isso é verdade (em termos). Há literatura que precisa de pesquisa, tempo, não apenas compromentimento. Eu até acho que algumas exigências do movimento são abusivas. Mas há muitas medidas reivindicadas que não dependem diretamente de investimento, apenas de isenção (ou melhor direcionamento) de impostos.
Por que motivo, por exemplo, paga-se impostos por direitos autorais? Por que não existem programas de intercâmbio e circulação de escritores brasileiros dentro do país e em países de língua portuguesa (como existem em váaaaaaaaarios países)? Por que não se incentiva, com isenção de impostos, projetos de incentivo a criação literária promovidos por empresas privadas?
Acho que essas questões é que deveriam ser pensadas, e algumas são propostas pelo movimento. Cheguei a ouvir deles que as exigências deveriam ser maiores (utópicas até), para então, no afunilamento, conquistarmos o básico. Enfim, eu não entendo de política e não participo mais das reivindicações. Fico feliz se algo mudar, mas a literatura depende de processos tão individuais, que acho difícil uma intervenção pública trazer resultados concretos.
O que está mudando realmente a literatura (e já disse isso aqui) é a ação individual de vários escritores, que assumem publicamente seus papéis e chegam até as pessoas. Quando Marcelino Freire organiza debates com escritores, quando a Clarah Averbuck conquista a molecada, quando as editoras percebem que os jovens escritores estão dispostos a mostrar a cara na mídia, investe-se mais nos autores, a literatura ganha mais espaço. Eu realmente acho que estamos num momento de efervescência. Claro que muitos dos novos autores que estão aí são uma merda, mas isso cabe ao leitor decidir. Há espaço para os bons, há espaço para os maus. Acho que, atualmente, há espaço para todos que sabem vender seu peixe, tendo qualidade ou não.
Ai, peraí que meu trem está descarrilhando...
Ainda há muito preconceito, claro. Parte da crítica literária ainda é conservadora e ainda vê com maus olhos o escritor que "aparece demais" (como se algum escritor aparecesse um décimo do que aparece uma pretendente do Ronaldinho...). Esse povo é extremamente contraditório, porque se diz conteudista e critica apenas a "imagem" do escritor. Veja o caso daquela perneta que passou por aqui falando (e mancando) "não li e não gostei. Escritor de verdade é Saramago, porque é velho."
Confesso que eu mesmo tenho várias ressalvas e preconceitos. Acho que, por exemplo, é muito difícil um escritor bom da nova geração participar de antologias, conseguir trabalho e até mesmo ser reconhecido se não se senta para beber com os colegas, se não faz social. Existem até (algumas) antologias de contos cujo critério de seleção é a freqüência de um determinado bar (e não estou falando só DAQUELA que vocês estão pensando). Mas não acho isso inteiramente errado. Quero dizer, admiro um BOM escritor que sabe se vender, que tem seu lado marketeiro, integrado. As limitações que EU tenho nesse campo, considero negativas. Eu, por exemplo, não bebo cerveja, não freqüento bares, não consigo ficar muito tempo sentado...
Tô falando sério, baby, não é de se invejar? O cara escreve bem, tem um universo interno, mas ainda consegue
conquistar os integrados, ainda sorri em voz alta, integra os colegas, organiza eventos. Conheço algumas pessoas assim...
Eu não posso reclamar. Honestamente, ninguém que fez críticas positivas dos meus livros eu conhecia pessoalmente (alguns fui conhecer depois). Mesmo meu contato na Folha, que me pede críticas de tempos em tempos, eu nunca vi. Não sei nem a cara. Ele chegou a mim pelos meus livros, ou por indicação de alguém, sei lá... Ainda há uma certa dignidade no ramo...
O que eu acho extremamente nocivo é esse pensamento de que "escritor deve sofrer" ou que "escritor tem de ficar quietinho" ou "deixar a barriga crescer". Porra, não é assim que se levanta a literatura. A gurizada tem de ver beleza, força, nobreza. O que eu acho é que é muito difícil um escritor conseguir conquistar isso. Ave, quem escreve é porque geralmente quer isolamento, quer trabalhar sozinho, tem enormes conflitos, é um problemático! Então esse cara não vai conseguir se integrar e fazer o jogo do marketing. Se o cara consegue - e é um escritor de verdade - do caralho!
Veja o caso do JT Leroy. O cara é um fodido, tomava drogas desde a infância, foi prostituto, só se fodeu. Hoje em dia é um moleque mirrado, que não consegue falar em público, cheio de traumas, mas deu um jeito. Coloca lá a peruquinha, os óculos escuros, veste um personagem e está nos jornais do mundo todo. Tá fazendo roteiros para o Gus Van Sant.
É escritor de verdade? Vai ler o livro dele. Eu acho bom demais.
(aliás, Jerônimo Teixeira também fez uma crítica do livro dele na Veja, semana passada. Não entendi direito. Ele meteu o pau, mas basicamente falando que ele era "bizarro". Bizarrice é uma característica negativa para um escritor? O Jerônimo até coloca um trecho ótimo do livro do JT, dizendo "veja como o cara é estranho...." Não estou entendendo esse tom rancoroso que a Veja vem adotando...)
(Não me venham falar que só defendo o JT porque o conheci pessoalmente e achei ele pitéuzinho... hahah.)
Bem, bem, o que eu queria é que a literatura fosse muito maior, enorme, IMENSA. Quando eu saio por aí, em entrevistas de emprego, em paquerinhas tolas, tenho quase vergonha de dizer que sou escritor. Ninguém sabe o que isso significa, não impressiona ninguém. O pessoal fica olhando meio desconfiado, achando que sou mesmo louco, que não tenho emprego, ou que sou deslumbrado...
Hum... quero escrever bastante... Hoje tô pilhado, volte mais tarde que ainda não acabou.
Ah, meu amorzinho, eu entrei em duas faculdades (inúteis), tenho diploma, três romances publicados, falo cinco línguas, não tenho fotolog. Por que ainda não paguei a conta de telefone que vencia dia primeiro? Não tô querendo ganhar dinheiro com meus livros, só queria que iso não fosse um ponto negativo no meu currículo.
O que eu tô achando é que daqui a um tempinho eu vou largar tudo isso. Quero dizer, não largar a literatura, porque isso eu faço com prazer, mas essa "máquina poética toda". Ficar publicando livrinhos, ganhando um troquinho, esmolando o resto do tempo, esperando algum prêmio com a velocidade de um jabuti...
Viver a literatura é ser "barman de prostíbulo gay"! Haha. É morar com traficantes em Paris, dormir em cemitério, quebrar dentes em Floripa, namorar um adolescente alemão, derramar sangue na praça da República, ouvir Velvet Underground em vinil, andar na estrada a pé, tacar fogo no apartamento... Ahhhhhhhhhhhhh, tô bonzinho demais!
* (repensei algumas questões, depois de ter postado aqui no blog no domingo, e atualizei o texto, dando ênfase em algumas questões, na segunda)
Fiquei sabendo sexta-feira que meu conto "Seis Dedos para Contar" (que pode ser lido aqui no blog, no link "Formigas...") será publicado numa antologia italiana de "jovens autores de língua portuguesa". Essa foi mais uma proeza da minha super agente Ray-Güede, que me representa internacionalmente desde o final do ano passado. Foi ela que conseguiu também a edição portuguesa de "A Morte Sem Nome" (que ainda não saiu, mas já recebi a grana faz tempo, inclusive já gastei...).
A Ray é uma das maiores agentes internacionais de autores em língua portuguesa. Além de mim, ela representa o Saramago, a Lygia (Fagundes Telles), Érico Veríssimo, e mais uma pá de fodões. Foi ela que me escolheu, por isso fico me achando.
No Brasil, não trabalho com agentes. Cheguei a começar uma parceria com um, que acabou desistindo de mim quando viu que eu não ganhava o suficiente nem para pagar as contas...
Pensam que eu tô brincando?
Ganhar grana com literatura é foda, fodíssimo, quase missão impossível. Sinto desestimular os jovens que visitam o blog e acham que um autor que foi ao Jô Soares deve estar montado na grana, haha. Eu queria passar uma mensagem positiva e dizer "a literatura pode salvá-los", mas não é assim. "Feriado de Mim Mesmo" está vendendo bem, sim, entrou na segunda edição em menos de dois meses. Isso é uma enorme proeza para um autor jovem, mas não chega a render grana. Os acertos de direitos autoral com a editora se dão de três em três meses, e ainda se desconta o dinheiro do adiantamento (que recebi ano passado) tem os impostos... Enfim, se no próximo acerto eu ganhar o suficiente para pagar as contas de UM mês, já vou pular de alegria.
Mesmo a grana de Portugal, pensam que foi muito? Descontando os impostos e comissão da agente deu menos do que as contas do mês...
O que sustenta a maioria dos autores é: coluna em jornal + direitos de adaptações + roteiros + traduções. Eu faço um pouco de tudo. Escrevo de vez em quando pra Folha, mas não tenho coluna fixa. Já fiz roteiro do "Feriado", mas nunca conseguimos captar os recursos para eu receber. Faço traduções quando aparecem; quando não aparecem, eu morro de fome. A coisa é foda!
Então, um bando de escritores, inconformados como eu, organizaram um documento para ser apresentado ao governo, pedindo verbas públicas para o incentivo da criação literária. Vocês estão sabendo, né? Trata-se daquele movimento "Literatura Urgente", sobre o qual eu falei aqui e que, nesta semana, teve uma crítica impiedosa (e maldosa) na Veja, assinada pelo Jerônimo Teixeira.
A matéria coloca que, para a criação literária, é preciso apenas lápis e papel. Não seria necessário então financiamento público, como acontece com artes mais caras (cinema, teatro). Isso é verdade (em termos). Há literatura que precisa de pesquisa, tempo, não apenas compromentimento. Eu até acho que algumas exigências do movimento são abusivas. Mas há muitas medidas reivindicadas que não dependem diretamente de investimento, apenas de isenção (ou melhor direcionamento) de impostos.
Por que motivo, por exemplo, paga-se impostos por direitos autorais? Por que não existem programas de intercâmbio e circulação de escritores brasileiros dentro do país e em países de língua portuguesa (como existem em váaaaaaaaarios países)? Por que não se incentiva, com isenção de impostos, projetos de incentivo a criação literária promovidos por empresas privadas?
Acho que essas questões é que deveriam ser pensadas, e algumas são propostas pelo movimento. Cheguei a ouvir deles que as exigências deveriam ser maiores (utópicas até), para então, no afunilamento, conquistarmos o básico. Enfim, eu não entendo de política e não participo mais das reivindicações. Fico feliz se algo mudar, mas a literatura depende de processos tão individuais, que acho difícil uma intervenção pública trazer resultados concretos.
O que está mudando realmente a literatura (e já disse isso aqui) é a ação individual de vários escritores, que assumem publicamente seus papéis e chegam até as pessoas. Quando Marcelino Freire organiza debates com escritores, quando a Clarah Averbuck conquista a molecada, quando as editoras percebem que os jovens escritores estão dispostos a mostrar a cara na mídia, investe-se mais nos autores, a literatura ganha mais espaço. Eu realmente acho que estamos num momento de efervescência. Claro que muitos dos novos autores que estão aí são uma merda, mas isso cabe ao leitor decidir. Há espaço para os bons, há espaço para os maus. Acho que, atualmente, há espaço para todos que sabem vender seu peixe, tendo qualidade ou não.
Ai, peraí que meu trem está descarrilhando...
Ainda há muito preconceito, claro. Parte da crítica literária ainda é conservadora e ainda vê com maus olhos o escritor que "aparece demais" (como se algum escritor aparecesse um décimo do que aparece uma pretendente do Ronaldinho...). Esse povo é extremamente contraditório, porque se diz conteudista e critica apenas a "imagem" do escritor. Veja o caso daquela perneta que passou por aqui falando (e mancando) "não li e não gostei. Escritor de verdade é Saramago, porque é velho."
Confesso que eu mesmo tenho várias ressalvas e preconceitos. Acho que, por exemplo, é muito difícil um escritor bom da nova geração participar de antologias, conseguir trabalho e até mesmo ser reconhecido se não se senta para beber com os colegas, se não faz social. Existem até (algumas) antologias de contos cujo critério de seleção é a freqüência de um determinado bar (e não estou falando só DAQUELA que vocês estão pensando). Mas não acho isso inteiramente errado. Quero dizer, admiro um BOM escritor que sabe se vender, que tem seu lado marketeiro, integrado. As limitações que EU tenho nesse campo, considero negativas. Eu, por exemplo, não bebo cerveja, não freqüento bares, não consigo ficar muito tempo sentado...
Tô falando sério, baby, não é de se invejar? O cara escreve bem, tem um universo interno, mas ainda consegue
conquistar os integrados, ainda sorri em voz alta, integra os colegas, organiza eventos. Conheço algumas pessoas assim...
Eu não posso reclamar. Honestamente, ninguém que fez críticas positivas dos meus livros eu conhecia pessoalmente (alguns fui conhecer depois). Mesmo meu contato na Folha, que me pede críticas de tempos em tempos, eu nunca vi. Não sei nem a cara. Ele chegou a mim pelos meus livros, ou por indicação de alguém, sei lá... Ainda há uma certa dignidade no ramo...
O que eu acho extremamente nocivo é esse pensamento de que "escritor deve sofrer" ou que "escritor tem de ficar quietinho" ou "deixar a barriga crescer". Porra, não é assim que se levanta a literatura. A gurizada tem de ver beleza, força, nobreza. O que eu acho é que é muito difícil um escritor conseguir conquistar isso. Ave, quem escreve é porque geralmente quer isolamento, quer trabalhar sozinho, tem enormes conflitos, é um problemático! Então esse cara não vai conseguir se integrar e fazer o jogo do marketing. Se o cara consegue - e é um escritor de verdade - do caralho!
Veja o caso do JT Leroy. O cara é um fodido, tomava drogas desde a infância, foi prostituto, só se fodeu. Hoje em dia é um moleque mirrado, que não consegue falar em público, cheio de traumas, mas deu um jeito. Coloca lá a peruquinha, os óculos escuros, veste um personagem e está nos jornais do mundo todo. Tá fazendo roteiros para o Gus Van Sant.
É escritor de verdade? Vai ler o livro dele. Eu acho bom demais.
(aliás, Jerônimo Teixeira também fez uma crítica do livro dele na Veja, semana passada. Não entendi direito. Ele meteu o pau, mas basicamente falando que ele era "bizarro". Bizarrice é uma característica negativa para um escritor? O Jerônimo até coloca um trecho ótimo do livro do JT, dizendo "veja como o cara é estranho...." Não estou entendendo esse tom rancoroso que a Veja vem adotando...)
(Não me venham falar que só defendo o JT porque o conheci pessoalmente e achei ele pitéuzinho... hahah.)
Bem, bem, o que eu queria é que a literatura fosse muito maior, enorme, IMENSA. Quando eu saio por aí, em entrevistas de emprego, em paquerinhas tolas, tenho quase vergonha de dizer que sou escritor. Ninguém sabe o que isso significa, não impressiona ninguém. O pessoal fica olhando meio desconfiado, achando que sou mesmo louco, que não tenho emprego, ou que sou deslumbrado...
Hum... quero escrever bastante... Hoje tô pilhado, volte mais tarde que ainda não acabou.
Ah, meu amorzinho, eu entrei em duas faculdades (inúteis), tenho diploma, três romances publicados, falo cinco línguas, não tenho fotolog. Por que ainda não paguei a conta de telefone que vencia dia primeiro? Não tô querendo ganhar dinheiro com meus livros, só queria que iso não fosse um ponto negativo no meu currículo.
O que eu tô achando é que daqui a um tempinho eu vou largar tudo isso. Quero dizer, não largar a literatura, porque isso eu faço com prazer, mas essa "máquina poética toda". Ficar publicando livrinhos, ganhando um troquinho, esmolando o resto do tempo, esperando algum prêmio com a velocidade de um jabuti...
Viver a literatura é ser "barman de prostíbulo gay"! Haha. É morar com traficantes em Paris, dormir em cemitério, quebrar dentes em Floripa, namorar um adolescente alemão, derramar sangue na praça da República, ouvir Velvet Underground em vinil, andar na estrada a pé, tacar fogo no apartamento... Ahhhhhhhhhhhhh, tô bonzinho demais!
* (repensei algumas questões, depois de ter postado aqui no blog no domingo, e atualizei o texto, dando ênfase em algumas questões, na segunda)
07/07/2005
MACACOS ME MORDAM
Uma abelha picou meu olho direito. Está inchado, mas até que interessante. Estou parecendo uma das fotos da Sally Mann...
Um mosquito me chupou no pescoço. Está bem vermelho, mas nem dói. Me sinto numa propaganda da Calvin Klein.
Meu porteiro quebrou meu nariz. Fico um pouco torto. Mas, olhando de perfil, até que daria uma obra de Picasso.
Um elefante pisou no meu pé, mas ainda consigo me arrastar. Se minha vida fosse em PB, poderia estar num livro do Peter Witkin.
Não há ninguém com quem eu fale diariamente, nem semanalmente. Bem, com minha mãe falo uma vez por semana, mas nem sempre. Não presto contas a ninguém, não cumpro horários, não tenho obrigações, só contas a pagar. Se piranhas voadoras me atacarem numa esquina qualquer, quanto tempo demoraria para alguém perceber meu sumiço? Provavelmente o primeiro seria um de vocês, estranhando que deixei de atualizar o blog...
Ai, tristeza...
Uma abelha picou meu olho direito. Está inchado, mas até que interessante. Estou parecendo uma das fotos da Sally Mann...
Um mosquito me chupou no pescoço. Está bem vermelho, mas nem dói. Me sinto numa propaganda da Calvin Klein.
Meu porteiro quebrou meu nariz. Fico um pouco torto. Mas, olhando de perfil, até que daria uma obra de Picasso.
Um elefante pisou no meu pé, mas ainda consigo me arrastar. Se minha vida fosse em PB, poderia estar num livro do Peter Witkin.
Não há ninguém com quem eu fale diariamente, nem semanalmente. Bem, com minha mãe falo uma vez por semana, mas nem sempre. Não presto contas a ninguém, não cumpro horários, não tenho obrigações, só contas a pagar. Se piranhas voadoras me atacarem numa esquina qualquer, quanto tempo demoraria para alguém perceber meu sumiço? Provavelmente o primeiro seria um de vocês, estranhando que deixei de atualizar o blog...
Ai, tristeza...
06/07/2005
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02/07/2005
PÁRA TUDO
Você sabe o que é ser mulher? Eu sei, você tem a sua. Mas eu tenho milhares, todos os meses, todos os dias. Derramada no vaso, na cama, na rua. Pulsando, palpitando, reagindo, rejeitando tudo o que poderia chamar de masculino. É assim, o que não cresce sobre mim. O que eu não deixo embrutecer me faz mais mulher.
O que então eu poderia escrever a respeito? Como então eu poderia contar minha história? O que eu poderia roubar deles, de vocês, escritores, de volta às minhas mãos? Talvez eu precise de distanciamento. Talvez eu precise me afastar para me entender. Talvez eu precise me afastar de você. Me afastar, mergulhar, mergulhei, mas nunca me senti segura.
Eu não sou escritora, Paulo Roberto, sou apenas mulher. Sou o bastante e estou viva, finalmente, posso contar minha história. Posso vivê-la intensamente, em páginas amassadas, em papel de pão. Posso deixar a barba crescer sobre o meu rosto e o peso do corpo envergar minhas costas. Minha cama. E enquanto eu tiver esses dedos, enquanto eu tiver vontades, você vai ter de me ouvir.
Trecho do meu conto "A Mulher Barbada", publicado no livro "Parati Para Mim", em 2003. Naquele ano, eu, João Paulo Cuenca e Chico Mattoso ficamos 20 dias na cidade (de Parati), com tudo pago pela Planeta, para cada um escrever uma narrativa de 40 mil toques inspirada na cidade. Esse livro foi posteriormente lançado na 1a Festa Literária Internacional de Parati, onde nós três também palestramos.
Quem quiser ganhar o livro autografado (por mim, porque não vou conseguir encontrar o Chico e o Cuenca para completar) é só postar aí nos "comments" dizendo "Eu quero!". Logicamente, só vale para o primeiro.
Semana que vem tem a terceira Flip, mas eu não vou. Aliás, só fui na primeira. É tudo muito caro. E depois de ir como convidado, não tem tanta graça ir de turista...
Bom, é isso, aproveito a falta de assunto para colocar uma crítica que fiz do livro "Terroristas do Milênio", para a Folha de São Paulo. Já foi publicada faz algumas semanas, mas como adorei o livro, vai aí:
O novo romance de J. G. Ballard é uma obra perigosa. Seu teor subversivo é uma ameaça à ordem estabelecida. Publicado aqui no Brasil, pode fazer a classe-média começar a ter "idéias". Devemos a todo custo impedir que este livro chegue às mãos dos cidadãos pensantes.
Esse é um parecer que poderia ter sido dado pelos órgãos de censura da ditadura militar se "Terroristas do Milênio" tivesse sido publicado nos anos setenta. Mas apesar de beber muito da fonte de manifestações políticas mundiais daquela época, essa é uma obra que só poderia ser concebida nesse novo milênio, como o próprio título explicita.
"O Apocalipse Acolchoado", título de um dos capítulos, seria uma alternativa mais apetitosa do que "Terroristas do Milênio", e talvez mais representativa. Afinal, o livro focaliza uma classe-média entediada, que decide se revoltar contra seu cotidiano queimando locadoras de vídeo, explodindo museus e fugindo às regras de bom convívio social. Nessa revolução pós-marxista, não há utopia. Os cidadãos procuram destruir aquilo que lhes garante comodidade, ou comodismo. Procuram destruir aquilo que eles têm medo de perder. É uma revolução contraditória, pois visa resgatar exatamente os motivos para haver uma revolução. Como diz uma personagem do romance: "Felicidade? Gosto da idéia, mas não me parece que o esforço valha a pena. Além do mais, não é intelectualmente respeitável."
Nesse confronto está David Markham, protagonista do livro, um psicólogo que é atraído pela possibilidade de transgressão e violência, como um sujeito em crise de meia-idade que quer resgatar sua adolescência. A determinação dos rebeldes ao mesmo tempo o fascina e assusta, e ele não sabe ao certo qual papel representa nesse levante. Coloca-se em cheque com seu próprio comodismo, sua passividade, suas ambições pequeno-burguesas. Questiona os métodos da rebelião, mas também é seduzido por seus ideais. E, como em obras anteriores de Ballard, a contestação política também se dá pela perversão sexual.
Mas o leitor não deve se intimidar. Apesar do tema político, o tom de "Terroristas do Milênio" não é idealista nem panfletário, muito pelo contrário. Ballard parece querer dizer exatamente que as revoluções não são mais possíveis, que não há pelo que lutar, e faz isso de maneira irônica, satírica, algumas vezes absurda, muitas vezes politicamente incorreta.
E de revolução o autor entende. Nasceu na China, em 1930, filho de pais ingleses. Passou parte da infância num campo de concentração japonês, depois do ataque em Pearl Harbor . O filme "Império do Sol", dirigido por Spielberg, foi baseado em seu livro homônimo, que tem grande componente autobiográfico.
Todo esse panorama faz de "Terroristas do Milênio" um livro interessantíssimo, vivo, vibrante. Definitivamente uma obra do século vinte e um. Ao menos para aqueles países e pessoas que já chegaram lá, e têm distanciamento suficiente das utopias para rir delas, de seus heróis e de seus carrascos. (4 estrelas).
Você sabe o que é ser mulher? Eu sei, você tem a sua. Mas eu tenho milhares, todos os meses, todos os dias. Derramada no vaso, na cama, na rua. Pulsando, palpitando, reagindo, rejeitando tudo o que poderia chamar de masculino. É assim, o que não cresce sobre mim. O que eu não deixo embrutecer me faz mais mulher.
O que então eu poderia escrever a respeito? Como então eu poderia contar minha história? O que eu poderia roubar deles, de vocês, escritores, de volta às minhas mãos? Talvez eu precise de distanciamento. Talvez eu precise me afastar para me entender. Talvez eu precise me afastar de você. Me afastar, mergulhar, mergulhei, mas nunca me senti segura.
Eu não sou escritora, Paulo Roberto, sou apenas mulher. Sou o bastante e estou viva, finalmente, posso contar minha história. Posso vivê-la intensamente, em páginas amassadas, em papel de pão. Posso deixar a barba crescer sobre o meu rosto e o peso do corpo envergar minhas costas. Minha cama. E enquanto eu tiver esses dedos, enquanto eu tiver vontades, você vai ter de me ouvir.
Trecho do meu conto "A Mulher Barbada", publicado no livro "Parati Para Mim", em 2003. Naquele ano, eu, João Paulo Cuenca e Chico Mattoso ficamos 20 dias na cidade (de Parati), com tudo pago pela Planeta, para cada um escrever uma narrativa de 40 mil toques inspirada na cidade. Esse livro foi posteriormente lançado na 1a Festa Literária Internacional de Parati, onde nós três também palestramos.
Quem quiser ganhar o livro autografado (por mim, porque não vou conseguir encontrar o Chico e o Cuenca para completar) é só postar aí nos "comments" dizendo "Eu quero!". Logicamente, só vale para o primeiro.
Semana que vem tem a terceira Flip, mas eu não vou. Aliás, só fui na primeira. É tudo muito caro. E depois de ir como convidado, não tem tanta graça ir de turista...
Bom, é isso, aproveito a falta de assunto para colocar uma crítica que fiz do livro "Terroristas do Milênio", para a Folha de São Paulo. Já foi publicada faz algumas semanas, mas como adorei o livro, vai aí:
O novo romance de J. G. Ballard é uma obra perigosa. Seu teor subversivo é uma ameaça à ordem estabelecida. Publicado aqui no Brasil, pode fazer a classe-média começar a ter "idéias". Devemos a todo custo impedir que este livro chegue às mãos dos cidadãos pensantes.
Esse é um parecer que poderia ter sido dado pelos órgãos de censura da ditadura militar se "Terroristas do Milênio" tivesse sido publicado nos anos setenta. Mas apesar de beber muito da fonte de manifestações políticas mundiais daquela época, essa é uma obra que só poderia ser concebida nesse novo milênio, como o próprio título explicita.
"O Apocalipse Acolchoado", título de um dos capítulos, seria uma alternativa mais apetitosa do que "Terroristas do Milênio", e talvez mais representativa. Afinal, o livro focaliza uma classe-média entediada, que decide se revoltar contra seu cotidiano queimando locadoras de vídeo, explodindo museus e fugindo às regras de bom convívio social. Nessa revolução pós-marxista, não há utopia. Os cidadãos procuram destruir aquilo que lhes garante comodidade, ou comodismo. Procuram destruir aquilo que eles têm medo de perder. É uma revolução contraditória, pois visa resgatar exatamente os motivos para haver uma revolução. Como diz uma personagem do romance: "Felicidade? Gosto da idéia, mas não me parece que o esforço valha a pena. Além do mais, não é intelectualmente respeitável."
Nesse confronto está David Markham, protagonista do livro, um psicólogo que é atraído pela possibilidade de transgressão e violência, como um sujeito em crise de meia-idade que quer resgatar sua adolescência. A determinação dos rebeldes ao mesmo tempo o fascina e assusta, e ele não sabe ao certo qual papel representa nesse levante. Coloca-se em cheque com seu próprio comodismo, sua passividade, suas ambições pequeno-burguesas. Questiona os métodos da rebelião, mas também é seduzido por seus ideais. E, como em obras anteriores de Ballard, a contestação política também se dá pela perversão sexual.
Mas o leitor não deve se intimidar. Apesar do tema político, o tom de "Terroristas do Milênio" não é idealista nem panfletário, muito pelo contrário. Ballard parece querer dizer exatamente que as revoluções não são mais possíveis, que não há pelo que lutar, e faz isso de maneira irônica, satírica, algumas vezes absurda, muitas vezes politicamente incorreta.
E de revolução o autor entende. Nasceu na China, em 1930, filho de pais ingleses. Passou parte da infância num campo de concentração japonês, depois do ataque em Pearl Harbor . O filme "Império do Sol", dirigido por Spielberg, foi baseado em seu livro homônimo, que tem grande componente autobiográfico.
Todo esse panorama faz de "Terroristas do Milênio" um livro interessantíssimo, vivo, vibrante. Definitivamente uma obra do século vinte e um. Ao menos para aqueles países e pessoas que já chegaram lá, e têm distanciamento suficiente das utopias para rir delas, de seus heróis e de seus carrascos. (4 estrelas).
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