FOSSA NOVA
Ontem fui ver as "motion pictures" do Warhol no Mam. Coisa bem interessante. Não são filmes, são fotos, mas com um movimento. Quero dizer, enquadramentos estáticos de imagens vivas. Rostos que piscam, corpos que respiram, o tempo que passa. Há na mostra, por exemplo, o famoso "filme" "Sleep", no qual ele registrou um homem dormindo por cinco horas; e "Empire" no qual ele focaliza o Empire State Building de longe, por um dia inteiro.
A montagem da exposição está excelente, uma sala escura com as paredes cobertas por televisores telas-planas, cada um com um desses filmes. Ou seja, como uma mostra fotográfica. Não faria o menor sentido irmos a um cinema para ficar horas assistindo um homem dormir.
Fora toda a concepção da obra - os questionamentos do limite entre cinema e fotografia, tempo e instante - existe a beleza plástica. As fotos são lindas. E deixa claro que o trabalho de Warhol não era apenas conceitual, existe uma técnica, um trabalho e um desenvolvimento, coisa cada vez mais rara em quem trabalha com "pop arte" hoje em dia e quer ser "moderno".
Como aquela discussão do funk...
Aliás, ontem também fui numa dessas festinhas. Essas festinhas que querem ser "modernas" e se tornam cada vez mais imbecis. Para começar, acontece num puteiro; tudo bem, isso já não é mais novidade nenhuma, todo mundo já fez, não é nenhuma piada, mas podem dizer que escolheram fazer lá pelo espaço, pelo visual, sem problema. Depois, tocam funkzinho, trash 80’s, até trash 90’s, sem perceber que essa piada já passou, todo mundo já riu, "que legal dançar Bonde do Tigrão" – há-há-há – e aí vamos pra outra? Daí tem todo esse povo carão que se acha bacana por trabalhar em algum galeria, ou ser "hostess" de alguma festinha, ou ter um fotolog razoavelmente bem acessado. Ai, cansaço. Às vezes eu penso que eu é que tô velho pra essas coisas, mas você vê que o povo dessas festas são todos uns trintões lesados cuja única filosofia é a química.
Química por química, eu prefiro a dos hormônios...
Você anda pela rua Augusta, nas noites de hoje, e vê que toda aquela zona (literalmente) perto do centro está tomada pelo hype. A gurizada alcoolizada, os mauricinhos anfetaminados. Eles não vão mais ao puteiro para trepar, vão para sair na coluna da Erika Palomino! Tem até boates moderninhas por lá, para o povo que quer ser muito "underground".
Eu quero ver borboletinhas, bochechas rosadas, florzinhas germinando no mundo dos Teletubbies. Haha.
Bem, bem, claro que é certa hipocrisia da minha parte, porque eu também freqüento essa fossa. Eu também tava lá ontem. E talvez eu devesse só aproveitar o non-sense da coisa. Mas acho que fico procurando um sentido e um conteúdo por serem basicamente esses os únicos momentos em que tenho contato real com outros homeotérmicos (haha). E lá eles estão todos cansados da razão, dos sentidos, da semana inteira de justificativas e argumentações. Ahhhhh, isso tá muito "Feriado de Mim Mesmo"...
Falando no "Feriado", ontem também fui à Fnac, ver se finalmente encontrava o livro lá. Antes que eu pudesse chegar à estante, ouvi dois rapazes conversando: "Feriado de Mim Mesmo, a história de um cara que mora sozinho num apartamento..."
Dei meia volta, constrangido. Mas fiquei na estante de trás, escutando. Parece que o rapaz tinha gostado do livro, contou A HISTÓRIA INTEIRA para o amigo, inclusive o final (pelo jeito, ele não ia mesmo comprar o livro. Se ia, deve ter desistido depois de saber como acabava). Enfim, achei legal a coincidência. Fico orgulhoso de ver o livro circulando por aí, mas um pouco envergonhado de encontrar essas pessoas pessoalmente. Claro que fiquei bem escondidinho. Nem sei se o leitor me reconheceria se me visse, mas, sei lá, eu teria vergonha de me apresentar numa situação daquelas. (e aí, você que estava na Fnac ontem, de blusa vermelha, passa aqui pelo blog?)
E a FNAC não tinha o livro. Mas tinha "A Morte Sem Nome" e "Olívio". ALIÁS, ainda tenho muitos "Olívios" aqui em casa para vender, autografado, entregue nas suas casinhas, por 21 reais. Quem quiser, já sabe, é só me mandar um email.