22/10/2005

NA HORA DE SEGUIR OS PASSOS, ESCOLHO MUITO BEM OS SAPATOS

Acabei de voltar do Rio. Vivo.

Só isso já teria feito esta viagem ser melhor do que a última que fiz para lá (Bienal), da qual voltei em trapos. Mas dessa vez teve várias, várias coisas legais e importantes.

Eu era o menos experiente (e mais novo) dos oitos escritores participantes do seminário, e isso foi ótimo. É como aquele velho clichê, que o melhor para um músico é tocar com quem sabe mais do que ele, só assim se aprende. Com certeza pude aprender horrores com Alberto Fuguet, Joca Terron e Efraim Medina (os três com quem tive mais proximidade).

Alberto Fuguet é uma figura interessantíssima. Escritor (chileno), diretor de filmes e popstar das idéias, já chegou até a ser capa da revista Time. Ainda assim, mostrou-se um cara totalmente acessível e interessado, que já posso considerar como amigo (bem, depois que tive de acordar hoje às 10h da manhã, com uma baita ressaca, para ir à praia com ele...). Também é fã da Finlândia, do cineasta Tsai Ming-Liang e se interessa muito por cutting. Participamos da mesma mesa no CCBB, que foi ok, mas um pouco estranha. Não havia exatamente perguntas, apenas discursos teóricos sobre a produção literária latino-americana e eu nunca sabia se estava exatamente falando sobre o tema (já que não havia perguntas...). De qualquer forma, sempre acho esses debates estranhos, então o problema deve ser comigo...

Efraim Medina Reyes é outro escritor latino-americano que ascendeu para a condição de popstar internacional, figuraça, parece estar aproveitando intensamente tudo isso. Tá muito certo. Uma hora estávamos conversando e reparei nos sapatinhos "dândi" dele. Comentei algo como "nice shoes" e ele respondeu simplesmente: "Valentino". Haha.

Conversei muito também com Joca Terron, um cara severo, sério, impiedoso, com certeza um dos escritores brasileiros mais respeitados da safra que surgiu dos anos 90 para cá. Eu só me policio para não ser contaminado pelo pessimismo (ou realismo?) dele com a literatura brasileira, senão nem vou conseguir continuar... Ah, sim, quero calçar sapatinhos Valentino...

Mas o Rio não foi só isso, claro. Também tive o prazer de encontrar pessoas com quem já tinha falado bastante virtualmente, como o querido Saint-Clair e a Victoria Saramago, beber com gente finíssima como a Beá, Bressane e a Chris, além de sair para baladas furiosas com Ana Paula Maia, Felipe Scholl e Daniel Barros. Delícia. E, obviamente, tive meus momentos Aschenbach, vendo todos os tadzios turbinados de Ipanema. Sofrimento.

Agora é voltar para o cinza da minha vida.

Minha última palavra sobre o referendo:

Até agora eu não vi NENHUM argumento realmente inteligente a favor do "Sim"... Nem a favor do "Não". Mas eu próprio, pensando sobre o assunto, achei melhores argumentos para o "Não", embora sejam apenas teses e eu não tenha certeza de que são verdadeiras. Por exemplo, argumento do SIM de que 95% das mortes causadas por armas de fogo no Brasil acontecem com armas que foram compradas legalmente nas lojas é um TREMENDO SOFISMA. As estatísticas podem até ser reais, mas não tem NADA A VER com o referendo. Ora, 95% das mortes são causadas por armas compradas legalmente porque elas PODEM ser compradas legalmente. Se forem proibidas, 100% das mortes causadas por armas de fogo acontecerão através de compras ilegais. Então, o que é melhor, ser assassinado por uma arma que paga impostos ou por uma arma vinda do tráfico?

Agora, o PIOR argumento é de pessoas que dizem: "Ah, se o Fleury faz campanha para o Não eu vou votar no Sim." E muita gente diz isso. Fleury pode ter razões indignas para defender o Não, mas você pode ter bons motivos. O mesmo ocorre com o pessoal do Sim. Veja só o final da escravidão no Brasil, por exemplo, você acha que aconteceu por bons motivos humanitários?

Ao meu ver, são questões como essas que deveriam ser debatidas. Ou melhor, questões como essas NÃO DEVERIAM SER DEBATIDAS pelo cidadão, porque o cidadão não tem capacidade real de fazer uma escolha dessas.

Eu não tenho capacidade de fazer uma escolha dessas. Acredito que a proibição vá aumentar o tráfico, mas não tenho certeza, não sou especialista no assunto, não tem como eu saber. As campanhas não esclarecem nada e, como já disse, nenhum argumento que me passaram, de ambos os lados, eu achei realmente convincente.

Com tudo isso, provavelmente, vou anular meu voto. E reforçar meu protesto contra o referendo. É imbecil fazer uma pergunta dessas à população. Nós (teoricamente) elegemos políticos (teoricamente) capacitados para resolver questões complexas como essa. Por que a população nunca foi consultada sobre assuntos menos capciosos, como reeleição presidencial, por exemplo?

O que importa é que amanhã, dia 23 de outubro, os Strokes tocarão em São Paulo...

NESTE SÁBADO!