SE PROIBIREM AS ARMAS, COMO VOU MATAR O ANTONIONI?*
A gente pondera, pondera se a pena de morte traria alguma solução, se deve ser aprovada a proibição do porte de armas, como fazer para diminuir a violência... Mas quando se tem uma reforma no apartamento vizinho, com pedreiros marretando o dia inteiro, despertam-se em mim os instintos mais primitivos... E eu só gostaria de torturar lentamente esses operários até a morte...
Mudando de assunto para beleza, amor e arte, fui assistir ao filme "Eros". É a junção de três curtas dos diretores Michelangelo Antonioni, Steven Soderbergh e do Wong Kar Wai. Não entendi direito a proposta do filme. Para mim, parecem três obras completamente distintas, sem nenhuma ligação uma com a outra, nem visualmente, nem tematicamente, nem em enfoque, nada. Ah, sim, claro, dizem que o tema comum é "o sexo", mas até aí, freudianamente falando, tudo é sexo.
Eu imagino que estavam Antonioni e Soderbergh sentados num barzinho em Cannes e um comentou para o outro:
- Puxa, acabei de fazer um curta, ficou sensacional, mas é foda, né? ninguém assiste curta, nenhum lugar passa...
- Eu também fiz um. Ficou afudê [licença gaúcha]. Tem uns 30 minutos. Quanto tempo dura o seu? De repente a gente podia juntar e transformar num longa, assim muito mais gente assiste.
- Putz, mas o meu também tem uns 30 minutos, a gente precisa arrumar mais um diretor com curta, daí dá pra transformar em longa. Epa... olha o Wong Kar Wai passando lá. Ei, china! Vem cá que a gente tem uma idéia. Não tem um curta aí para juntar com nóis e fazer um longa?
- Hihihi, não tem nada, né? Mas acabo de rodar filme bonito, né? Posso aploveitar locação/fotoglafia/cenálio pla rodar culta bonito, né?
- Mas, brows, pensam aí. Precisa ter um tema único para os três filmes, algo que justifique serem passados juntos.
- Hum, "existencialismo"? Existencialismo é um bom tema.
- Ou amor... sexo, sei lá?
- Pode ser, pra mim pode ser qualquer um desses, e pra você, china?
- Só se puder sexo com roupa, pulseila, bolsa, anel, né?
Haha. Vai dizer que não foi assim que fizeram o filme? Muito bem. Não importa. O que importa é o resultado. E foi uma ótima estratégia porque seria difícil mesmo ver curtas isolados desses diretores.
A primeira história, do Antonioni, é uma merda. Deu vontade de dar um tiro nele. Preciso do meu direito de ter armas para momentos assim. É um filme tosco, dublado, com umas mulheres a la fantástico (ou pior "Selvagens Inocentes") dançando na praia, um terror. No começo eu até achei que era gozação, que era um filme dentro de um filme sei lá. Mas foi ruim do começo ao fim. Ainda bem que passou rápido.
Já a segunda história, do Soderbergh é genial. Tem um texto ótimo, dele próprio (alguém sabe se o cara escreve literatura? O roteiro dele é bem literário, lembra algo como Sam Shepard), de um publicitário no consultório de um psicanalista que não está realmente interessado no que ele tem a dizer. Enredo banal, mas muito bem escrito.
A última história, do Wong Kar Wai, é linda. Realmente parece que ele aproveitou toda a equipe técnica, cenários e locações do seu longa "Amor à Flor da Pele", que é belíssimo. O texto/enredo é delicado, a história de um alfaiate que faz roupas para uma prostituta de luxo e se apaixona por ela. Mas vale mesmo pelo visual.
Então, temos o terceiro filme imagético, o segundo conteudista e o primeiro porra nenhuma. Haha.
Para terminar, a Lyvia Lemos, de Goiânia, fez uma entrevista comigo e colocou no seu blog. Dá para ler aqui:
www.psicopatamoderno.blogspot.com/2005/10/entrevista-com-o-escritor-santiago.html
*– O título do post de hoje é uma homenagem ao pitelíssimo Dênis "Papa-léguas".