30/03/2006

QUANDO ACORDOU, O DINOSSAURO AINDA ESTAVA LÁ*

A fome é maior do que a perpetuação, sim, porque a satisfação individual é maior do que a da espécie. Quem tem fome demais não pode procriar, quem está saciado também não. Mas a perpetuação ainda é maior do que o medo, porque quem se arrisca por esporte também se arrisca por amor. Afinal, talvez o medo seja menor do que tudo. Então a pornografia é maior do que o terror. (de Nazarian, "Mastigando Humanos")

Estou com uma pilha de coisas malditas aqui para ler. Lautréamont, Genet, Dennis Cooper, Will Self. Fora os livro que recebo e não dou conta. Se eu não me policio, acabo só lendo os colegas/contemporâneos. E tem tantos autores clássicos que ainda não comecei. Tantos outros que preciso me aprofundar mais... E todo dia surge alguém assim, bem discreto: "gostaria muito que você desse uma opinião sincera sobre meus contos..."

Deus, preciso ler "Grande Sertão: Veredas" antes dos 30 anos! Mas as franjas, e a França, e as franjas me chamam...

Então (como bom paulista), não que eu leve a sério essa goticidade toda, mas a luz do meu quarto queimou há algumas semanas. E não tem nenhum homem aqui para trocar... De madrugada é meio chato ficar lendo na sala, só de cuequinha, com a brisa fria de outono sobre minhas tatuagens (ok, estou tentando te seduzir, haha). Então decidi acender umas velas no meu quarto para ler os "Cantos de Maldoror".

Na prática, essas idéias funestas nunca funcionam. Mesmo com três velas presas numa lata de sonho de valsa, eu ainda não conseguia enxergar direito. Como sou adolescente, não tenho nenhum abajur. A única coisa que consegui arrumar foi a luminária do meu iguana, com uma lâmpada fluorescente UVA/UVB.

"Então, já que teu sangue e tuas lágrimas não te enojam, alimenta-te, alimenta-te confiante de lágrimas e de sangue do adolescente." (dos Cantos, do Lautréamont)

E o que deveria ser um momento de terror se tornou algo assim, sci-fi. Eu lendo os malditos sobre lâmpadas de radiação reptílica. Será que acordarei como um dinossauro?

Bem, bem... são 4:49... meu iguana ainda dorme. E eu estou aqui.


*o título do post é um micro-conto de Augusto Monterroso, da Guatemala. Não que eu seja de micro-contos...

28/03/2006

BIBAS DEPRIMIDAS.

Estou aqui, em mais uma madrugada, depois de tentar em vão dormir num horário decente (por decente, entenda-se quatro da manhã). Acabei levantando, lendo as cartas e os contos deprimentes do Caio (descobri um sobre a praça Roosevelt, veja só) e baixando o cd novo do Placebo, que é uma porra... porra de ruim.

Ao menos serviu para isso. O cd novo do Placebo serviu para conectar os anteriores com toda essa vibe e me fazer reconhecer a importância que eles tiveram. Ao menos aqui na terra nazariana. (Brian Molko foi meu cliente - ops! - em Londres. Bem tosco. Inclusive cantou um dos barmen e deixou o telefone.) Sempre considerei o som deles um subproduto de Suede, mas ok. Os shows deles no Brasil também foram picaretagem, sem a menor energia e espontaneidade. Mas agora tenho ouvido direto "Centerfolds". E sofrido com a letra camp de fossa:

Come on Balthazar, I refuse to let you die.
Cause that’s wrong,
I’ve been waiting far to long
For you to be... be mine.


"Centerfolds" é do álbum anterior, "Sleeping with Ghosts" (meu favorito). E "Sleeping with Ghosts" tem sido um conceito recorrente aqui em casa, desde "A Vida Iluminada por Fantasmas" até "Aquele que se Escondeu Dentro do Armário". Tem a ver com as fotografias fantasmas, com o filme "Espíritos", com o fantasma de Mário de Andrade no quarto de rapazolas, Caio Fernando Abreu sendo ressuscitado, minha porta rachada, minhas madrugadas sonambulescas e "I Fell in Love with a Dead Boy", do Antony and the Johnsons.

Enfim, não espero que entendam. Ao menos leiam o post anterior, das fotografias fantasmas, que vai diverti-los...
Volto a tentar dormir agora ouvindo "Bibas Deprimidas", um cdzinho que gravei fazendo seleção das coisas mais gays e mais dramáticas da minha discoteca. Um sofrimento gostosinho. Fica o playlist:

KLAUS NOMI – DEATH
RUFUS WAINWRIGHT – L’ABSENCE
ELTON JOHN – SACRIFICE
LEMONHEADS – BIG GAY HEART
SECOS E MOLHADOS – AS ANDORINHAS
LOU REED – WALK ON THE WILD SIDE
ANTONY AND THE JOHNSONS – I FELL IN LOVE WITH A DEAD BOY
MARC ALMOND – YESTERDAY WHEN I WAS YOUNG
DAVID MCALMONT – IT’S ENOUGH
BOY GEORGE – DO YOU REALLY WANT TO HURT ME
CAUBY PEIXOTO – WHAT’S NEW
MICHAEL JACKSON – SPEECHLESS
ERASURE – SO THE STORY GOES
MORRISSEY – WE’LL LET YOU KNOW
HIM – BEAUTIFUL
BILLY MACKENZIE – PAIN IN ANY LANGUAGE
KÉ – I AM NOTHING
PLACEBO - CENTERFOLDS

(Achava o que? Que eu era um desses que escutava blues? Me poupe.)

25/03/2006

AQUELE QUE SE ESCONDEU DENTRO DO ARMÁRIO.

Uma vez em Bremerhaven, uma pequenina cidade no norte da Alemanha, eu estava conhecendo um cemitério e vi uma crípita aberta. Resolvi entrar para dar uma explorada, desci as escadas, cada vez mais escuro. Lá embaixo não consegui ver mais nada. Um breu só. Como estava com minha câmera, resolvi bater uma foto e iluminar com um flash o local...

Nada. Nenhum caixão, nenhuma alma penada. Apenas uma sala vazia. Devia estar aberta por isso, tinham esvaziado. Mas eu tinha certeza de que quando revelasse o filme, haveria algo lá...

Nada. Nenhuma velhinha. Nenhuma névoa. Nem mesmo uma sombra estranha. E essa foi minha última tentativa de registar um fantasma. Que oportunidade melhor eu teria?

E hoje fui assistir com Cristiane Lisboa o filme "Espiritos", dirigido por uma dupla de tailandeses. O filme é em cima dessas fotos que mostram espíritos. Interessante. Mas repete todas as fórmulas de filmes de terror orientais recentes ("O Chamado", "Dark Water", "The Eye"). Nada novo. Pelo menos o protagonista é gatinho...

Então vai aí. Acho que já coloquei este link aqui, faz tempo, mas mando de novo. Um site brasileiro que analisa supostas fotos de fantasmas. Bem divertido:

http://www.ceticismoaberto.com/fotos/fotofantasma00.htm

E também tem um vídeo, que recebi ontem do Coelho:

http://youtube.com/watch?v=yjH6hwWRD68

Para quem acredita nessas coisas... Outro dia eu estava conversando com um pitéu... e ele me disse que costumava ver uma aparição no apartamento dele: "De um escritor, sabe, aquele de óculos, que tem um rosto comprido, como é mesmo o nome dele?"

"Mário de Andrade?"

"Isso, esse aí. Outro dia eu estava dormindo, só de cueca, de repente vi um homem sentado ao lado da cama. me cobri e fechei os olhso. Quando olhei de novo, ele não estava."

Ele parecia falar sério... então tive de avisá-lo...

"Mocinho... você sabia que Mário de Andrade era gay?"

24/03/2006

SINAPSE NONSENSE

Deu curto circuito na minha casa das máquinas. Tenho sentido gosto de mousse de limão ao tomar coca-light. Meu frango tem resquícios de detergente e água sanitária. Se me virem esquelético por aí, é porque ainda não descobri qual peixe tem gosto de chocolate.

18/03/2006

ELEKTRO BRASILIS

Ontem fui a mais um show da Karine Alexandrino, no Studio SP, festinha organizada pela Fabbie, minha ex oficial. Além de ver a Karine, tive o prazer de ganhar o novo single do Multiplex, em duas partes. Coisa contagiante, principalmente a faixa "Particularidades", com um refrãozinho cheesy anos 80 e uma deliciosa guitarra funky.

O Multiplex é banda que mistura elektro, disco e glam, com os vocais retrô de Leandro Cunha - que parece um filho de Marc Almond, Cauby Peixoto e Scott Walker. E eles têm muitas influências desses artistas, desse som de fossa, mas atualizando com batidas eletrônicas. Fossa Nova, baby.

A Karine Alexandrino também tem algo de elektro e também muito de kitsch, mas com influências mais de jovem guarda e cantoras francesas dos anos 60. As letras são hilárias, com títulos como "Como me Tornei uma Adúltera" e "Tenho Fome, Mas Vou Buscar Nosso Dinheiro".

Karine está em SP para shows, mas é do Ceará, assim como o Montage, outra banda de elektro, essa com muito de punk e elektrogoth. Daniel Peixoto, vocalista, tem uma performance impressionante no palco, se esfregando só de cuequinhas nos alto-falantes e cantando coisas como "I Wanna Fuck You So Hard". Eles também fizeram um funk pronto para tocar no Globo Esporte, "Ginastas Cariocas", em homenagem/sátira a Daiane dos Santos e Danielle Hipólito.

E tem vários outros amiguinhos fazendo música eletrônica. Um dos que eu mais gostava era o Real Madrid, do Ronaldo Estevam. Era um som assim... meio abertura de programa de socialite, tipo Amaury Junior ou Ataíde Patreze. Lounge kitsch finérrimo. Eu até deixei tocando no lançamento do "Feriado", ano passado. Mas não sei por onde anda atualmente.

Tem também o Jumbo Elektro, que apesar do nome não é tão elektro assim. É uma banda inteira, com bateria, baixo , guitarra, apesar dos samples. O som é uma mistura de Karnak, Devo e B52's. Lançaram um álbum bem legal. E os shows são um espetáculo. Mas também não sei o que andam fazendo.

Totalmente eektro é o No Porn, projeto da queridíssima Liana Padilha e do Luca Lauri. Eles estão bem inseridos no mundo da moda, um som muitas vezes perfeito para desfiles, com letras que fazem referência ao underground paulistano, como "Baile de Peruas" ("peruas, peruas, peruas").

E uma das duplas que trabalha a eletrônica a mais tempo é o Tetine. Há alguns anos estão com base em Londres, e ultimamente flertam com o funk carioca. Mas eu gostava mais quando eram trevosos e suas músicas eram histórias sinistras baseadas em Brecht, como no excelente cd "Música de Amor", de 98 (meu favorito).

Quem mais? Cansei de Ser Sexy, claro, a mais bem produzida dessa bandas. Têm tudo para estourar. É algo como uma "Kelly Key from hell". Se eu fosse eles, faria urgentemente um clipe da música "Superafim", para grudar na cabeça do povo o refrão "superafim, superafim, superafim de mim".

E eu mesmo já tive meu projetinho elektro, antes mesmo de saber o que era isso. Em 98. Chamava-se Silhouetics, e era uma porra. Haha. Mas divertido. Eu estudei piano, então fazia tudo, teclado, programações e vocal em Spoken Word. Vai aí uma das letras toscas, inspirada naquele carro que vende pamonha:

CORN CREAM COMES

I've Done My Best to Look androgynous
I've tried so hard to look Britsh
But I can't pretend to be what I'm not
when the car with the corn cream comes
right through the streets I'm working in

Eu sou um menino, latino, cassino, albino, suino...
I've tried so hard
But I haven't tried the castration

16/03/2006

EPITÁFIO

Outro dia estávamos conversando sobre epitáfios. Eu não conseguia pensar em nada para o meu. Daí esta semana me perguntaram isso numa entrevista e tive de pensar em algo interessante. Então veio:

Aqui, jazz. Lá fora, funk. Quem se fodeu?

Haha. Vocês podem ver a entrevista completa aqui:

http://www.teatrofantasma.blogspot.com/

15/03/2006

QUEM QUER BRINCAR COMIGO PÕE O DEDO AQUI!

Ontem provei do arroz de carreteiro mexicano de Cristiane Lisboa. Nos reunimos todos, escritores emergentes, na casa dela, com a presença célebre de minha agente, Ray-Güde, que está no Brasil para a Bienal, para assistir a reprise do Jô. Só mesmo muita vodca para não me constranger. Mas meus dotes de barman foram questionados, haha. A Ray não conseguiu beber minha caipirinha de carambola com Kiwi, e olha que os alemães são bons para essas coisas...

Hoje tenho mais uma caralhada de emails e scraps de gente que viu o programa. Tudo bem, desta vez eu já estava preparado, e acho que foi mais suave do que da primeira vez. Mas ainda acho muito esquisito. Todo mundo querendo "ser meu amiguinho" . Vale pelo carinho, tem algumas mensagens bonitinhas, mas e os livros? Fui no programa para divulgar isso. Daí recebo aquelas coisas esquisitas escritas em minxinguês: "Mi add, axei vc d+, kero ler seu livro". (Esse povo sabe ler?)

O orkut é lerdo, sempre dá pau, eu não quero chegar aos 1000 amigos e ficar recebendo spans idiotas. Nem dá para responder os scraps (e muitas vezes eu não tenho o que responder). Então só leio mesmo.

Mas para os razoáveis, que perguntam onde acham os livros, respondo: Existem lojas especializadas nesse comércio, chamadas de livrarias. Haha. E geralmente, quando elas não têm o livro lá, fazem encomenda. Isso é normal. Uma livraria raramente tem um grande estoque. Geralmente elas só têm os lançamentos e bestsellers. Livros de catálogo dependem de encomenda...

Ou podem ser facilmente pedidos pela net: www.submarino.com.br; www.livrariacultura.com.br; www.saraiva.com.br; etc, etc.

Também podem ser encontrados na Bienal, principalmente no estande da Planeta. Eles andam escondendo meus livros, talvez por eu ter assinado contrato com a concorrência. Sábado nem tinha "A Morte Sem Nome" exposto, só "Feriado de Mim Mesmo". Mas quero acreditar que depois do Jô eles corrigiram isso. E você pode e deve ir lá, pedir. Afinal, eles não querem ficar com meus livros encalhados, querem?

Eu mesmo só tenho "Olívio", meu primeiro, para vender aqui. Esse é mais difícil de encomendar nas livrarias, porque saiu por uma editora pequena. Então mando autografado por 21 reais, para todo Brasil. É só fazer depósito na minha conta e confirmar mandando o endereço. Para pegar os dados da conta, escreva para santiagonazarian@gmail.com

Aqueles que querem saber mais sobre os livros, podem ler nos links aí no canto superior direito da tela. "Mastigando Humanos" é o próximo lançamento, previsto para agosto, que ainda não estava pronto quando fui ao Jô, por isso não falei nele. E ainda não posso dar detalhes.

Hum... que mais? Quem quiser amostra grátis, pode ler os contos que estão linkados, também no canto superior direito da tela. Ou podem ir me ver na Casa das Rosas, na Paulista, dia 8 de abril, sábado, 18h. Vou ler um conto meu de terror, algumas outras coisas e responder eventuais perguntas do público. É uma boa oportunidade para quem for de São Paulo me encontrar. Podem levar livros para eu autografar, claro. Não autografo guardanapos. haha.

Meu iguana continua me tratando com indiferença, isso é o que me impede de ficar esnobe.

Valeu pelo carinho. Obrigado pela atenção.

13/03/2006

A VIDA ILUMINADA POR FANTASMAS

Você vê, quando consigo acertar um final de semana carinhoso e cultural, meu apartamento desmorona. Ele precisa de mim, acho que sim, é só eu pisar na rua para as frutas apodrecerem na geladeira...

Bienal foi dos programas mais intensos. Bom para verificar a pré-recepção de meu próximo livro - "Mastigando Humanos" - com alguns editores, ganhar presentinhos e confirmar lançamentos. Dentre eles, uma nova edição de "O Senhor das Moscas" (William Golding), na qual eu faço a introdução. (Para quem não leu, é um clássico de naufrágio, mistura de "Lost" com "A Praia", só que mais perverso) Já está à venda. Nova Fronteira.

Comecei com um amigo um roteiro para um curta baseado no meu conto "Pó de Vidro e Veneno de Cobra". Vamos ver se esse dá certo.

Teve também "Praça Roosevelt", a vida encenada por lá. Bad trip das melhores. Coisa para deprimir filhos do milho como eu, que moram augusta acima, e estão sempre escorrendo para o ralo... Estou falando de uma peça de teatro, querido, elogiando.

E teve festinhas com amigos queridos que andavam afastados. Quero dizer, eu andava...

Então volto pra casa e o telefone não funciona, meu refrigerador não seca minhas meias, minha chaleira não passa as camisas e o ferro torra as torradas. Araki faz a festa no terrário. A luz do meu quarto queima e não posso ler. Para ver alguma coisa por lá, tenho de ligar a televisão, que fica fora do ar, daí meu quarto é iluminado pelos fantasmas. E eu acho que minha vida inteira é iluminada assim .

Ui, drama, drama. Trauma, trauma.

Nah... essa decadência toda deve ser fruto do que eu venho ouvindo. Os cantores decadentes de Cabaret. Só isso. Agora é Marc Almond, mas também tem Antony, Rufus, Scott Walker, McAlmont, Andi Sex Gang, Cauby, Dussek, Nelson Ned... Vai aí uma amostra de letra decadente genial:

Yesterday when I was young
The taste of life was sweet as rain upon my tongue
I teased at life as if it were a foolish game
The way the evening breeze may tease the candle flame
A thousand dreams I dreamed
The splendid things I planned
I always built alas on weak and shifting sand
I lived by night and shunned the naked light of day
And only now I see how the years ran away
Yesterday when I was young
So many drinking songs were waiting to be sung
So many wayward pleasures lay in store for me
And so much pain my dazzled eyes refused to see
I ran so fast that time and youth at last ran out
I never stopped to think what life was all about
And every conversation I can now recall
Concerned itself with me, me, me and nothing else at all
Yesterday the moon was blue
And every crazy day brought something new to do
I used my magic age as if it were a wand
That never saw the waste and emptiness beyond
The game of love I played with arrogance and pride
And every flame I lit too quickly quickly died
The friends I made all seemed somehow drift away
And only I am left on stage to end the play
There are so many songs in me that won’t be sung
I feel the bitter taste of tears upon my tongue
The time has come for me to pay
For yesterday....when I was young, young, young,......young

Mas decadente mesmo é o cd de reggae da Sinéad O'Connor, que estou baixando...

E para quem ainda não viu, esta segunda tem reprise da minha entrevista no Jô.

E, marquem na agenda, dia 8 de abril, sábado, 18h, vou estar numa leitura aberta na casa das Rosas (Paulista). Lendo coisas decadentes, trevosas e inéditas. O lugar não é assombrado?

Até lá, já vai estar nevando.

10/03/2006

ANTES DA CHUVA

Começou a Bienal... blablablá, blablablá.

Acho que vou dar uma passada lá amanhã, embora não possa comprar mais nada. Nem me dá tantas ganas assim, é coisa demais, livros demais, não dá para ver nada direito e eu acabo preferindo não ver nada. Vale pelos debates e bate-papos. Mas eu não estarei participando.

Esta semana a Geração Editorial me mandou a edição do livro do LeRoy ("Maldito Coração"). A capa ficou lindíssima, dá de dez na edição inglesa, a partir da qual eu fiz a tradução. E me mandaram uma revista bem legal que eles fizeram para a Bienal. A revista tem "o LeRoy" na capa, uma matéria que fiz sobre ele e outra da Suzana Kakowicz. Tem também entrevista com Rinaldo de Fernandes sobre a antologia "Contos Cruéis", uma que eu traduzi com o escritor judeu-russo-americano Gary Shteyngart (autor de "O Pícaro Russo") e outros petiscos. Acho que se encontra gratuitamente na Bienal.

E, para quem não viu, segunda tem reprise da minha entrevista no Jô. Só não sei em que bloco.

09/03/2006

CATORZE ANOS DE FOME

Hoje fui ver "Capote". Gostei. Bem... gostei. Só isso. Achei interessante, por já ter lido o livro (A Sangue Frio) e talvez por já ter lido o livro não tenha me acrescentado tanto, sei lá. Também achei o ator bom. É... bom, mas não me impressionou. Sabe como é, ele é bem afetado, caricato, deve ser fácil interpretar algo assim, ou o ator exagerou. Achei mais interessante a Catherine Keener como Harper Lee. Aliás, amo ela, desde "Being John Malkovich".

O interessante, que eu não me lembrava, era que Truman Capote foi mais um escritor alcóolatra. Mas que coisa, hein? Eu até concordo que o álcool pode se associar a literatura. É interessante escrever embrigado. Mas é impossível ler bêbado, sem condições. Eu mesmo estava tentando ler uma entrevista com a Márcia Denser agora.... haha.

Estou feliz por achar uma saída para um continho que vai sair por aí. Eu já tinha terminado outro, mas não estava satisfeito. É para uma antologia, digamos de terror (ainda não sei se posso dar os detalhes) e eu tinha feito uma coisa cybergótica que não ia para lugar algum (bem, talvez eu aproveite alguma coisa, ou coloque aqui no blog). Daí hoje fiquei ouvindo as crianças do andar de baixo brincando...Skinny Puppy no meu apartamento... e me despertou idéias das mais cruéis....

Enfim, acho que consegui um conto verdadeiramente assustador. O título provisório é "Catorze Anos de Fome". Roubei esse título de mim mesmo. Esse era o nome de um romance que comecei (lá por 98) mais nunca terminei. Originalmente era para ser a história de uma garota "Capricho" adolescente, que tem uma dessas crises de anorexia, quer ser modelo, coisa e tal, mas passa a comer carne humana. Hahah. Enfim, não prestou. E acho que nunca irá prestar. Mas sobrou o título e eu levei para um lado completamente diferente...Aguardem, aguardem. Eu estou satisfeito.

Falando em "aguardem", carne humana, coisa e tal, AGUARDEM "Mastigando Humanos", só falta fechar as ilustrações e mandar pra gráfica. Sai mesmo no começo do segundo semestre, assim quer a Nova Fronteira.

Eu continuo trevoso. Continuo nublado. Mas ao menos estou conseguindo direcionar isso para coisas minimamente produtivas... como literatura.

06/03/2006

TEENAGE ANGST

Saudações, crianças da noite, estou de volta à terra da garoa.

Minha temporada de alala-ô terminou como sempre, melancólica. Enquanto Floripa foi leve e iluminada, Porto Alegre foi triste e abafada. A cidade estava vazia, o calor de lá é insuportável, e os gaúchos não costumam receber muito bem os forasteiros - que não conhecem - (especialmente aqueles com um certo ar noir).

Valeu para reencontrar alguns amiguinhos queridíssimos e curtir a carinhosa "hospedagem fantasma" da Letícia (que também não estava na cidade, mas deixou a chave do apartamento para mim). Se eu sempre achei a cidade meio Faroeste, agora o clima era de Ghost Town (bem, podia ser pior, podia ser Brokeback Mountain, haha).

Esse clima que vem me invadindo desde o ano passado é difícil de localizar. Há diversos motivos para uma pessoa se sentir angustiada, e mesmo com todos eles ela ainda pode se sentir otimista. Eu tive meu grande "período de trevas" no final da adolescência, começo da vida adulta, quando sentia uma angústia e inquietação que mais tarde diagnostiquei como "males da idade". Só que agora, que sou um senhor de bengala, volto a sentir aquele mal estar constante, melancolia permanente, e acho que não tenho mais idade para isso. Será a química? Os hormônios? Aqueles 7 anos de azar que me abandonaram aos 21 e voltaram aos 28?

Matem um bode por mim. Não... matem um brontossauro.

Para acompanhar meu bloody mary, comprei na Cultura de Porto Alegre o livro "Goth Chic - Um Guia Para a Cultura Dark", do jornalista Gavin Baddeley, editado em português pela Rocco. O livro é bem completo, se aprofunda bastante no surgimento do termo "gótico", nas manifestações literárias, musicais, cinematográficas e na moda, e não é radical, quero dizer, analisa desde o gótico mais underground até apropriações mais pops como "Buffy - A Caça-vampiros". Faz uma ligação do gótico com o camp (ou o kitsch) que faz todo o sentido e não é tão óbvia. Mas achei um pouco chato. Chato de ler. Vale como fonte de informação.

Só não entendi o título, "Goth Chic", parece que o livro só trata de moda.

Para não me tornar um "goth kid choroso" de vez, estou ouvindo aqui com senso de humor: "All the people in your life say you're down/ and the strangers in the night say you're down/ and the pissheads in the bar say you're down/ so you're down." Porque ter depressão, síndrome do pânico e agorafobia está muito carne de vaca. Todo mundo tem. Meu problema é só a franja. Ah, a franja adolescente...

E só hoje vi uma matéria que saiu no JB sobre os "dez anos da morte do Caio [Fernando Abreu] e do Renato Russo". O jornalista Nelson Gobbi traça um paralelo entre a obra dos dois, e me entrevistou sobre o tema. Eu só falei mesmo do Caio, porque detesto Renato Russo e legiões. Mas gostei de ler o seguinte:

"Entre os herdeiros diretos de Caio Fernando Abreu, Nazarian é visto pelo escritor e organizador de seleções literárias Ítalo Moriconi como um nome que faz a ponte entre duas vertentes da geração contemporânea de autores, para ele divididos entre os que produzem uma obra visceral, os que mantêm uma preocupação social e os escritores de temática mais lúdica, que exploram mais o nonsense."

Eu nem sabia que o Moriconi conhecia meu trabalho. E considero uma honra ser "herdeiro direto" do Caio... Só falta eu ficar mais riponga.

Pensei muito no Caio sexta passada, no Ocidente (em Poa), tem muito do clima de vários contos dele (ao menos quando está vazio). Mela, mela, melancolia. Mela, mela, melancia.

01/03/2006

NEM DE CINZAS, NEM DE PÓ.

Há poucos prazeres maiores do que ficar deitado na praia ouvindo uma caipirinha, bebendo Rufus Wainwright e vendo a pitelzada passar... mas eu continuo sendo atraído por prazeres menores, mais baixos e assassinos...

Não se assuste. São só os vírus da internet.

Minha temporada aqui em Floripa está uma delícia, a luz do sol penetra no quarto me acordando sutilmente e a brisa do mar me convida para uma total integração com as delícias da natureza... Haha. Não. Nem tanto. Mas a Ilha da Magia continua linda, continua fervida e continua me impressionando.

Além de sol e mar, o carnaval também teve suas marchinhas. Parece que estão sendo resgatadas. Legal. Melhor do que ouvir axé ou funk... que também não podiam faltar. Para mim, o mais bizarro hit do verão foi o tema do filme "Um Tira da Pesada", que foi remixado não sei por que nem por quem, e toca sem parar por todos os lados.

Coelho, meu anfitrião, já se foi, mas eu continuo na casa dele, até amanhã. Nesta quinta vou para Porto Alegre, fazer não sei muito bem o quê. Acho que tirar um feriado de mim mesmo, ou de Thomas Schimidt, ou do meu broken home where he broke all my bones... De qualquer forma, saudades.

Mela, mela, mela, mela, melancolia. Mela, mela, mela, melância.

Acho que esse texto não está fazendo muito sentido. Estou quase com artrite de tanto fazer "come to bela". Mas eu voltarei. E eles também.

NESTE SÁBADO!