QUANDO ACORDOU, O DINOSSAURO AINDA ESTAVA LÁ*
A fome é maior do que a perpetuação, sim, porque a satisfação individual é maior do que a da espécie. Quem tem fome demais não pode procriar, quem está saciado também não. Mas a perpetuação ainda é maior do que o medo, porque quem se arrisca por esporte também se arrisca por amor. Afinal, talvez o medo seja menor do que tudo. Então a pornografia é maior do que o terror. (de Nazarian, "Mastigando Humanos")
Estou com uma pilha de coisas malditas aqui para ler. Lautréamont, Genet, Dennis Cooper, Will Self. Fora os livro que recebo e não dou conta. Se eu não me policio, acabo só lendo os colegas/contemporâneos. E tem tantos autores clássicos que ainda não comecei. Tantos outros que preciso me aprofundar mais... E todo dia surge alguém assim, bem discreto: "gostaria muito que você desse uma opinião sincera sobre meus contos..."
Deus, preciso ler "Grande Sertão: Veredas" antes dos 30 anos! Mas as franjas, e a França, e as franjas me chamam...
Então (como bom paulista), não que eu leve a sério essa goticidade toda, mas a luz do meu quarto queimou há algumas semanas. E não tem nenhum homem aqui para trocar... De madrugada é meio chato ficar lendo na sala, só de cuequinha, com a brisa fria de outono sobre minhas tatuagens (ok, estou tentando te seduzir, haha). Então decidi acender umas velas no meu quarto para ler os "Cantos de Maldoror".
Na prática, essas idéias funestas nunca funcionam. Mesmo com três velas presas numa lata de sonho de valsa, eu ainda não conseguia enxergar direito. Como sou adolescente, não tenho nenhum abajur. A única coisa que consegui arrumar foi a luminária do meu iguana, com uma lâmpada fluorescente UVA/UVB.
"Então, já que teu sangue e tuas lágrimas não te enojam, alimenta-te, alimenta-te confiante de lágrimas e de sangue do adolescente." (dos Cantos, do Lautréamont)
E o que deveria ser um momento de terror se tornou algo assim, sci-fi. Eu lendo os malditos sobre lâmpadas de radiação reptílica. Será que acordarei como um dinossauro?
Bem, bem... são 4:49... meu iguana ainda dorme. E eu estou aqui.
*o título do post é um micro-conto de Augusto Monterroso, da Guatemala. Não que eu seja de micro-contos...