06/03/2006

TEENAGE ANGST

Saudações, crianças da noite, estou de volta à terra da garoa.

Minha temporada de alala-ô terminou como sempre, melancólica. Enquanto Floripa foi leve e iluminada, Porto Alegre foi triste e abafada. A cidade estava vazia, o calor de lá é insuportável, e os gaúchos não costumam receber muito bem os forasteiros - que não conhecem - (especialmente aqueles com um certo ar noir).

Valeu para reencontrar alguns amiguinhos queridíssimos e curtir a carinhosa "hospedagem fantasma" da Letícia (que também não estava na cidade, mas deixou a chave do apartamento para mim). Se eu sempre achei a cidade meio Faroeste, agora o clima era de Ghost Town (bem, podia ser pior, podia ser Brokeback Mountain, haha).

Esse clima que vem me invadindo desde o ano passado é difícil de localizar. Há diversos motivos para uma pessoa se sentir angustiada, e mesmo com todos eles ela ainda pode se sentir otimista. Eu tive meu grande "período de trevas" no final da adolescência, começo da vida adulta, quando sentia uma angústia e inquietação que mais tarde diagnostiquei como "males da idade". Só que agora, que sou um senhor de bengala, volto a sentir aquele mal estar constante, melancolia permanente, e acho que não tenho mais idade para isso. Será a química? Os hormônios? Aqueles 7 anos de azar que me abandonaram aos 21 e voltaram aos 28?

Matem um bode por mim. Não... matem um brontossauro.

Para acompanhar meu bloody mary, comprei na Cultura de Porto Alegre o livro "Goth Chic - Um Guia Para a Cultura Dark", do jornalista Gavin Baddeley, editado em português pela Rocco. O livro é bem completo, se aprofunda bastante no surgimento do termo "gótico", nas manifestações literárias, musicais, cinematográficas e na moda, e não é radical, quero dizer, analisa desde o gótico mais underground até apropriações mais pops como "Buffy - A Caça-vampiros". Faz uma ligação do gótico com o camp (ou o kitsch) que faz todo o sentido e não é tão óbvia. Mas achei um pouco chato. Chato de ler. Vale como fonte de informação.

Só não entendi o título, "Goth Chic", parece que o livro só trata de moda.

Para não me tornar um "goth kid choroso" de vez, estou ouvindo aqui com senso de humor: "All the people in your life say you're down/ and the strangers in the night say you're down/ and the pissheads in the bar say you're down/ so you're down." Porque ter depressão, síndrome do pânico e agorafobia está muito carne de vaca. Todo mundo tem. Meu problema é só a franja. Ah, a franja adolescente...

E só hoje vi uma matéria que saiu no JB sobre os "dez anos da morte do Caio [Fernando Abreu] e do Renato Russo". O jornalista Nelson Gobbi traça um paralelo entre a obra dos dois, e me entrevistou sobre o tema. Eu só falei mesmo do Caio, porque detesto Renato Russo e legiões. Mas gostei de ler o seguinte:

"Entre os herdeiros diretos de Caio Fernando Abreu, Nazarian é visto pelo escritor e organizador de seleções literárias Ítalo Moriconi como um nome que faz a ponte entre duas vertentes da geração contemporânea de autores, para ele divididos entre os que produzem uma obra visceral, os que mantêm uma preocupação social e os escritores de temática mais lúdica, que exploram mais o nonsense."

Eu nem sabia que o Moriconi conhecia meu trabalho. E considero uma honra ser "herdeiro direto" do Caio... Só falta eu ficar mais riponga.

Pensei muito no Caio sexta passada, no Ocidente (em Poa), tem muito do clima de vários contos dele (ao menos quando está vazio). Mela, mela, melancolia. Mela, mela, melancia.

NESTE SÁBADO!