13/03/2006

A VIDA ILUMINADA POR FANTASMAS

Você vê, quando consigo acertar um final de semana carinhoso e cultural, meu apartamento desmorona. Ele precisa de mim, acho que sim, é só eu pisar na rua para as frutas apodrecerem na geladeira...

Bienal foi dos programas mais intensos. Bom para verificar a pré-recepção de meu próximo livro - "Mastigando Humanos" - com alguns editores, ganhar presentinhos e confirmar lançamentos. Dentre eles, uma nova edição de "O Senhor das Moscas" (William Golding), na qual eu faço a introdução. (Para quem não leu, é um clássico de naufrágio, mistura de "Lost" com "A Praia", só que mais perverso) Já está à venda. Nova Fronteira.

Comecei com um amigo um roteiro para um curta baseado no meu conto "Pó de Vidro e Veneno de Cobra". Vamos ver se esse dá certo.

Teve também "Praça Roosevelt", a vida encenada por lá. Bad trip das melhores. Coisa para deprimir filhos do milho como eu, que moram augusta acima, e estão sempre escorrendo para o ralo... Estou falando de uma peça de teatro, querido, elogiando.

E teve festinhas com amigos queridos que andavam afastados. Quero dizer, eu andava...

Então volto pra casa e o telefone não funciona, meu refrigerador não seca minhas meias, minha chaleira não passa as camisas e o ferro torra as torradas. Araki faz a festa no terrário. A luz do meu quarto queima e não posso ler. Para ver alguma coisa por lá, tenho de ligar a televisão, que fica fora do ar, daí meu quarto é iluminado pelos fantasmas. E eu acho que minha vida inteira é iluminada assim .

Ui, drama, drama. Trauma, trauma.

Nah... essa decadência toda deve ser fruto do que eu venho ouvindo. Os cantores decadentes de Cabaret. Só isso. Agora é Marc Almond, mas também tem Antony, Rufus, Scott Walker, McAlmont, Andi Sex Gang, Cauby, Dussek, Nelson Ned... Vai aí uma amostra de letra decadente genial:

Yesterday when I was young
The taste of life was sweet as rain upon my tongue
I teased at life as if it were a foolish game
The way the evening breeze may tease the candle flame
A thousand dreams I dreamed
The splendid things I planned
I always built alas on weak and shifting sand
I lived by night and shunned the naked light of day
And only now I see how the years ran away
Yesterday when I was young
So many drinking songs were waiting to be sung
So many wayward pleasures lay in store for me
And so much pain my dazzled eyes refused to see
I ran so fast that time and youth at last ran out
I never stopped to think what life was all about
And every conversation I can now recall
Concerned itself with me, me, me and nothing else at all
Yesterday the moon was blue
And every crazy day brought something new to do
I used my magic age as if it were a wand
That never saw the waste and emptiness beyond
The game of love I played with arrogance and pride
And every flame I lit too quickly quickly died
The friends I made all seemed somehow drift away
And only I am left on stage to end the play
There are so many songs in me that won’t be sung
I feel the bitter taste of tears upon my tongue
The time has come for me to pay
For yesterday....when I was young, young, young,......young

Mas decadente mesmo é o cd de reggae da Sinéad O'Connor, que estou baixando...

E para quem ainda não viu, esta segunda tem reprise da minha entrevista no Jô.

E, marquem na agenda, dia 8 de abril, sábado, 18h, vou estar numa leitura aberta na casa das Rosas (Paulista). Lendo coisas decadentes, trevosas e inéditas. O lugar não é assombrado?

Até lá, já vai estar nevando.

QUAIS SÂO OS LIMITES DA FICÇÃO?

  Vi esses dias uma discussão interessante, perigosa, num canal sobre livros. Uma autora australiana de literatura “hot” foi presa por aut...