UM INVERNO NO INFERNO
Há alguns meses fui num almoço armênio, num hotel chicoso, para encontrar a família e agradar minha avó. Lá havia uma linda menininha de uns doze anos, feições indianas, que fazia origamis e me desafiava com quebra-cabeças. Ela tinha uma caixa que se desmontava, o desafio era montá-la novamente, coisa que ela fazia em dois tempos. Eu, que nunca fui muito coordenado, tentei escapar da brincadeira, mas ela tanto insistiu que acabei pegando a caixa...
E só agora caiu a ficha. A caixa. Configuração de lamentos, para quem leu "The Hellbound Heart" ou assistiu "Hellraiser". Claro, é por isso que minha vida anda tão trevosa. Mexi na caixa e chamei os cenobitas, fui para o inferno, subsolo, que a mídia moderninha chama de udigrudi, ou underground...
Haha. Estava conversando sobre isso outro dia, com uma amiga. Nós sentados num bar da Augusta, no meio das putas, Christiane F passando, minha cabeça no formol, questionando o sentido do "underground". Ora, ora, para mim parece apenas o andar térreo, caminho de casa, estação Trianon-Masp, ou o que me resta como consolação. Não que eu seja muito transgressor, afinal, quem não é? Será que existe um andar abaixo? Será que o underground tomou conta de toda classe-média ou eu que mexi na caixa e não consigo mais olhar para cima? De qualquer forma, ainda existe a Vila Olímpia, os bailes countries, coelhinhos correndo na relva. Há outros caminhos...
Ou talvez o underground esteja sob os pés de todo mundo, mas só alguns abaixam a cabeça. "Estamos todos nas estrelas, mas alguns olham para as sarjetas", diriam os neo-wildeanos.
Eu fiz uma longa viagem para chegar até aqui. Não nasci em berço de ouro, para depois ser jogado na privada. Nem fui criado às margens desta poluída cidade. Tive uma infância e adolescência ordinárias, como a maioria da minha espécie, e talvez tenha até demorado um pouco para seguir meu próprio caminho, mas não demais. Afinal, os caminhos abertos a nós sempre foram abertos por outros, não são nossos, real ou exclusivamente. Assim, enquanto minha juventude ainda fluía intensa pelas correntezas, deixei que ela me levasse e eu seguisse o seu chamado. Poderia lamentar ter desaguado num esgoto, mas, como todos os jovens, sempre quis provar o gosto dos subterrâneos.
Esse é o primeiro parágrafo de "Mastigando Humanos", uma grande sátira ao underground. Para começar, todos os personagens tem nomes de estações de metrô... E pronto. Este foi o teaser de hoje.
Voltando ao subsolo – sem Dostoiewski – tive de devolver a lâmpada de radiação UVA/UVB para o Araki. Os dias andam muito nublados e eles precisa dela mais do que eu. Mas agora não sei como vou terminar de ler Fante. Ele é um escritor meigo, não é? E me faz acreditar que a realidade não é tão Hellraiser assim. Aliás, lendo "Pergunte ao Pó", me faz pensar que a realidade hoje em dia é mais Matrix. Quero dizer, você vê o jovem escritor Arturo Bandini sofrendo com a falta de grana, a senhoria cobrando o aluguel, as cartas de pagamento que não chegam, e percebe que hoje em dia é tudo dominado pelas máquinas. Eu não tenho de passar pelo constrangimento de pedir dinheiro emprestado, de não pagar as contas em dias, é tudo feito eletronicamente. O banco Itaú vai me dando crédito, aumentando os juros e eu vou me enforcando sozinho, sem ninguém para me repreender. Eu engano o caixa-eletrônico, pago contas além do meu saldo e fica tudo no campo virtual. Ninguém bate na minha porta com a mão estendida. Ninguém reclama que eu não paguei. Vez ou outra chega um email anunciando um dinheiro que entra... Oh, a pós-modernidade...
Bem que podiam aproveitar tudo isso e fazer o filme "NEO VS PINHEAD", não seria legal? Oh, a carne de Keanu perfurada por ganchos...
Então, estamos falando do underground, estações de metrô, e da sarjeta. Estação Consolação e Uma Estação no Inferno. Estação Inverno. Notas do Subsolo. E do Pó. Ahhhhhh... sinapses assassinas...
* O título do post foi chupado de uma música do Multiplex, que por sua vez chupou do Rimbaud. Aqui embaixo, todo mundo se chupa.
25/05/2006
20/05/2006
DONA CHICA ADMIROU-SE
Nesses dias de frio, é mais fácil ficar em casa sem grandes ansiedades, lendo e traduzindo, sem vontade alguma de colocar os pés nas ruas. Mas quando finalmente olho para fora, o dia já acabou, está escuro e essa ausência de contato com a luz me causa certo desânimo – foto depressão. Talvez seja isso que contribua para os altos índices de suicídio na Escandinávia. Síndrome de Helsinque? Já que a de Estocolmo é usada para outros casos...
E quem sabe um bom antítodo para isso seja a lâmpada de radiação reptílica que atualmente uso no meu quarto para ler - já que o Araki está se beneficiando da radiação direta do sol e eu ainda não consegui trocar a luz do teto. Talvez a radiação da lâmpada engane meu inconsciente (e minha pele) e me faça acreditar que estou passeando por aí. Quero acreditar nisso.
Meu dia começa de fato depois de escurecer. Só então almoço, me encho de cafeína e resolvo fazer algo fora de casa. Vida de vampiro? Não tenho mais sangue pra isso.
Falando em sangue e em sair de noite, ontem fui ver a peça "120 Dias de Sodoma", encenada pelos Satyros. Pesada, claro. Turbulenta, eu diria, mas de uma forma bem diferente do filme (do Pasolini) ou do livro (do Sade). Ou talvez por eu já ter lido o livro e visto o filme, a escatologia não me choque tanto. De qualquer forma, incomoda pelo excesso, a completa inversão de valores, a personificação de desejos que erguem e destroem o ser humano.
A obra do Sade é baseada nisso. E aí, ao meu ver, está uma lição importante de literatura. Os personagens não são reais, não são verossímeis, são monomotivados, mas ainda assim, verdadeiros enquanto personagens. Aliás, acredito que a construção de um personagem se dê muito por aí. Seres humanos são contraditórios. Personagens não podem ser. Então, quando se constrói um personagem baseado num ser humano, ele tem de ser mais uma personificação de um desejo daquele ser. Até quando um artista se apresenta publicamente como um personagem, ele tem de ocultar suas contradições e reforçar apenas os aspectos daquela faceta que ele deseja que as pessoas conheçam.
Ai, que merda é essa que estou escrevendo? Tá tudo errado.
Bem, voltando a peça. Ótima. A caracterização dos atores é perfeita. Os "amigos", as vítimas... Você sabe que a história é de quatro nobres que resolvem aprisionar uma piazada em seu castelo e torturá-los de todas as formas, né? Só contesto duas coisas: 1) o clímax não estar no final – ao meu ver, a parte mais forte e mais intensa acontece no meio da peça, depois ela suaviza. 2) O coral – detesto coral. Detesto gente cantando em coral. Ainda mais em teatro. E é tão comum...
Além do Sade, consegui ler várias outras coisas nesta semana de "recolhimento". Volto a elas:
MÃOS DE CAVALO – DANIEL GALERA: Romance sobre um homem formado que revê sua infância e adolescência, questionando suas escolhas e rigores. Vou ser mais um que elogia esse livro e esse autor. É um livro extremamente honesto, afetivo e bem escrito. Galera, aos 26 anos, é um autor maduro – com o que isso tem de bom e o que tem de ruim. Ao meu ver, ele está escrevendo o mesmo tipo de coisa que muita gente – só que muito melhor do que quase todos. Tem um certo parentesco com "Longe da Água", do Michel Laub ou "The Boy in the Lake"do Eric Swanson (que acho que não foi traduzido por aqui). Só falta agora ele enlouquecer.
COCAÍNA – Essa antologia de contos e crônicas organizada por Beatriz Resende vale mais como curiosidade acadêmica e história. Como literatura, não achei grande coisa da maioria dos textos, com exceção de um ou outro, como o de Ribeiro Couto ou do João do Rio. Talvez eu estivesse esperando outra coisa...
A MENINA DO FIM DA RUA – LAIRD KOENIG: Ganhei esse da querida Virgína – uma leitora leal – depois que comentei aqui no blog sobre o filme com a Jodie Foster. O livro é ainda melhor (como de costume). É mais complexo e mais bem explicado. Só que por eu ter visto o filme antes, perde um pouco o impacto. De qualquer forma, adorei. E a edição do Círculo do Livro tem uma capa tosquéeeeeeeeeerima, mas ótima, meio "pretty baby".
THE SECRET LIFE OF OSCAR WILDE – NEIL McKeena: Esse eu não terminei. Larguei no meio. Me cansou. Achei ruim. Vale como curiosidade histórica, mas se tornam enfadonhas as descrições detalhadas de cada rapazinho com quem Wilde se relacionava. Talvez eu pegue de volta em breve, só para ler as putarias, mas para ler como um romance, é chato.
Hum, que mais? Outro dia sonhei que eu tinha um gato ("miau") aqui em casa, mas não tinha dinheiro para alimentá-lo. Triste, e praticamente real. E outro dia sonhei que eu era um agente secreto submarino, que vivia mil aventuras embaixo d’água. Até que meu chefe me chamava por vídeo conferência e dizia: "A sua carreira de escritor está prejudicando seu desempenho como agente secreto..."
Ai, até nisso?
Nesses dias de frio, é mais fácil ficar em casa sem grandes ansiedades, lendo e traduzindo, sem vontade alguma de colocar os pés nas ruas. Mas quando finalmente olho para fora, o dia já acabou, está escuro e essa ausência de contato com a luz me causa certo desânimo – foto depressão. Talvez seja isso que contribua para os altos índices de suicídio na Escandinávia. Síndrome de Helsinque? Já que a de Estocolmo é usada para outros casos...
E quem sabe um bom antítodo para isso seja a lâmpada de radiação reptílica que atualmente uso no meu quarto para ler - já que o Araki está se beneficiando da radiação direta do sol e eu ainda não consegui trocar a luz do teto. Talvez a radiação da lâmpada engane meu inconsciente (e minha pele) e me faça acreditar que estou passeando por aí. Quero acreditar nisso.
Meu dia começa de fato depois de escurecer. Só então almoço, me encho de cafeína e resolvo fazer algo fora de casa. Vida de vampiro? Não tenho mais sangue pra isso.
Falando em sangue e em sair de noite, ontem fui ver a peça "120 Dias de Sodoma", encenada pelos Satyros. Pesada, claro. Turbulenta, eu diria, mas de uma forma bem diferente do filme (do Pasolini) ou do livro (do Sade). Ou talvez por eu já ter lido o livro e visto o filme, a escatologia não me choque tanto. De qualquer forma, incomoda pelo excesso, a completa inversão de valores, a personificação de desejos que erguem e destroem o ser humano.
A obra do Sade é baseada nisso. E aí, ao meu ver, está uma lição importante de literatura. Os personagens não são reais, não são verossímeis, são monomotivados, mas ainda assim, verdadeiros enquanto personagens. Aliás, acredito que a construção de um personagem se dê muito por aí. Seres humanos são contraditórios. Personagens não podem ser. Então, quando se constrói um personagem baseado num ser humano, ele tem de ser mais uma personificação de um desejo daquele ser. Até quando um artista se apresenta publicamente como um personagem, ele tem de ocultar suas contradições e reforçar apenas os aspectos daquela faceta que ele deseja que as pessoas conheçam.
Ai, que merda é essa que estou escrevendo? Tá tudo errado.
Bem, voltando a peça. Ótima. A caracterização dos atores é perfeita. Os "amigos", as vítimas... Você sabe que a história é de quatro nobres que resolvem aprisionar uma piazada em seu castelo e torturá-los de todas as formas, né? Só contesto duas coisas: 1) o clímax não estar no final – ao meu ver, a parte mais forte e mais intensa acontece no meio da peça, depois ela suaviza. 2) O coral – detesto coral. Detesto gente cantando em coral. Ainda mais em teatro. E é tão comum...
Além do Sade, consegui ler várias outras coisas nesta semana de "recolhimento". Volto a elas:
MÃOS DE CAVALO – DANIEL GALERA: Romance sobre um homem formado que revê sua infância e adolescência, questionando suas escolhas e rigores. Vou ser mais um que elogia esse livro e esse autor. É um livro extremamente honesto, afetivo e bem escrito. Galera, aos 26 anos, é um autor maduro – com o que isso tem de bom e o que tem de ruim. Ao meu ver, ele está escrevendo o mesmo tipo de coisa que muita gente – só que muito melhor do que quase todos. Tem um certo parentesco com "Longe da Água", do Michel Laub ou "The Boy in the Lake"do Eric Swanson (que acho que não foi traduzido por aqui). Só falta agora ele enlouquecer.
COCAÍNA – Essa antologia de contos e crônicas organizada por Beatriz Resende vale mais como curiosidade acadêmica e história. Como literatura, não achei grande coisa da maioria dos textos, com exceção de um ou outro, como o de Ribeiro Couto ou do João do Rio. Talvez eu estivesse esperando outra coisa...
A MENINA DO FIM DA RUA – LAIRD KOENIG: Ganhei esse da querida Virgína – uma leitora leal – depois que comentei aqui no blog sobre o filme com a Jodie Foster. O livro é ainda melhor (como de costume). É mais complexo e mais bem explicado. Só que por eu ter visto o filme antes, perde um pouco o impacto. De qualquer forma, adorei. E a edição do Círculo do Livro tem uma capa tosquéeeeeeeeeerima, mas ótima, meio "pretty baby".
THE SECRET LIFE OF OSCAR WILDE – NEIL McKeena: Esse eu não terminei. Larguei no meio. Me cansou. Achei ruim. Vale como curiosidade histórica, mas se tornam enfadonhas as descrições detalhadas de cada rapazinho com quem Wilde se relacionava. Talvez eu pegue de volta em breve, só para ler as putarias, mas para ler como um romance, é chato.
Hum, que mais? Outro dia sonhei que eu tinha um gato ("miau") aqui em casa, mas não tinha dinheiro para alimentá-lo. Triste, e praticamente real. E outro dia sonhei que eu era um agente secreto submarino, que vivia mil aventuras embaixo d’água. Até que meu chefe me chamava por vídeo conferência e dizia: "A sua carreira de escritor está prejudicando seu desempenho como agente secreto..."
Ai, até nisso?
16/05/2006
GODZILA SALVOU MINHA VIDA
Ahhhhhh... a guerra acabou. Ontem de noite tava tão gostosinho, tão aconchegante. Eu trancado em casa, todo mundo trancado na sua, as ruas vazias, só o barulho dos helicópteros. O friozinho. A sensação de cada um na sua, mas com alguma coisa em comum. Só faltava chover.
Imagine como será quando as ruas forem dominadas por zumbis? Ou quando o trânsito estiver caótico por uma invasão alienígena. Dias como ontem dão essa sensação, de estar vivendo algo histórico, como no dia do apagão, como na queda das torres gêmeas...
No dia 11 de setembro de 2001 eu morava em Porto Alegre. Entrei numa reunião com a Telefônica Celular de manhãzinha e saí com a Terceira Guerra Mundial começando. Todas as TVs ligadas em NY. Voltava para casa e via pelo caminho todo mundo sintonizado na mesma coisa. O Xou da Xuxa (ou sei lá o que era) estava suspenso. A sensação de que algo acontecia...
Ontem foi parecido. Eu aqui em casa de tarde, bebendo café, tomando coca-cola e traduzindo um filme, quando minha mãe liga e fala para eu não sair de casa, que a cidade estava o caos, todo mundo morrendo e decretando toque de recolher. Fui direto pra academia. Preciso estar em forma para enfrentar os mal-feitores, não é mesmo? Além do mais, passara o dia todo aqui em casa, estava pilhado e precisava descarregar. Melhor morrer de tiro do que de tédio.
Encontrei as ruas paradas pelo trânsito, pedestres aos montes, gente estocando água. Exagero. A academia estava aberta. Mas quando terminei e voltei para casa, já não havia ninguém na rua...
Pelo menos teremos Copa do Mundo em Breve, e eu poderei passear pelas ruas silenciosas novamente, ouvindo gritos e explosões dos torcedores trancafiados...
Só para piorar as coisas, um dinossauro gigante despertou e passou a destruir a cidade. Ninguém mais se preocupa com literatura e filosofia, só querem salvar suas vidas. Os jornais, a televisão, só falam nisso. Eu posso escrever sobre fome, posso ruminar existencialismos, mas todo mundo achará que são tolices e se preocuparão com as manchetes do dia. Assim, qual prédio foi destruído, quem foi devorado. E minhas enxaquecas e meu apetite? E minhas questões filosóficas? Todas pequenas. Todas inúteis se aquele enorme lacertílio destrói todo o resto. Ao menos é uma boa desculpa para meu desemprego. Todas minhas preocupações se tornam menores sob o peso de uma pata pré-histórica. O meu medo é que minhas prerrogativas também se tornarão. Eu, afinal, sou ínfimo diante daquele réptil que faz a cidade tremer. Por mais que sua força se concentre unicamente no físico, todos se curvam perante a ela. Enquanto que eu serei mais um frustrado. Literato.
Isso aí também é de "Mastigando Humanos", blablablá... É que estou naquela fase em que parece que tudo tem a ver com meu próximo livro. Blablablá.
Ahhhhhh... a guerra acabou. Ontem de noite tava tão gostosinho, tão aconchegante. Eu trancado em casa, todo mundo trancado na sua, as ruas vazias, só o barulho dos helicópteros. O friozinho. A sensação de cada um na sua, mas com alguma coisa em comum. Só faltava chover.
Imagine como será quando as ruas forem dominadas por zumbis? Ou quando o trânsito estiver caótico por uma invasão alienígena. Dias como ontem dão essa sensação, de estar vivendo algo histórico, como no dia do apagão, como na queda das torres gêmeas...
No dia 11 de setembro de 2001 eu morava em Porto Alegre. Entrei numa reunião com a Telefônica Celular de manhãzinha e saí com a Terceira Guerra Mundial começando. Todas as TVs ligadas em NY. Voltava para casa e via pelo caminho todo mundo sintonizado na mesma coisa. O Xou da Xuxa (ou sei lá o que era) estava suspenso. A sensação de que algo acontecia...
Ontem foi parecido. Eu aqui em casa de tarde, bebendo café, tomando coca-cola e traduzindo um filme, quando minha mãe liga e fala para eu não sair de casa, que a cidade estava o caos, todo mundo morrendo e decretando toque de recolher. Fui direto pra academia. Preciso estar em forma para enfrentar os mal-feitores, não é mesmo? Além do mais, passara o dia todo aqui em casa, estava pilhado e precisava descarregar. Melhor morrer de tiro do que de tédio.
Encontrei as ruas paradas pelo trânsito, pedestres aos montes, gente estocando água. Exagero. A academia estava aberta. Mas quando terminei e voltei para casa, já não havia ninguém na rua...
Pelo menos teremos Copa do Mundo em Breve, e eu poderei passear pelas ruas silenciosas novamente, ouvindo gritos e explosões dos torcedores trancafiados...
Só para piorar as coisas, um dinossauro gigante despertou e passou a destruir a cidade. Ninguém mais se preocupa com literatura e filosofia, só querem salvar suas vidas. Os jornais, a televisão, só falam nisso. Eu posso escrever sobre fome, posso ruminar existencialismos, mas todo mundo achará que são tolices e se preocuparão com as manchetes do dia. Assim, qual prédio foi destruído, quem foi devorado. E minhas enxaquecas e meu apetite? E minhas questões filosóficas? Todas pequenas. Todas inúteis se aquele enorme lacertílio destrói todo o resto. Ao menos é uma boa desculpa para meu desemprego. Todas minhas preocupações se tornam menores sob o peso de uma pata pré-histórica. O meu medo é que minhas prerrogativas também se tornarão. Eu, afinal, sou ínfimo diante daquele réptil que faz a cidade tremer. Por mais que sua força se concentre unicamente no físico, todos se curvam perante a ela. Enquanto que eu serei mais um frustrado. Literato.
Isso aí também é de "Mastigando Humanos", blablablá... É que estou naquela fase em que parece que tudo tem a ver com meu próximo livro. Blablablá.
14/05/2006
CARREIRAS SUJEITAS A TIROS
Final de semanas de festas, presentes e comemorações. Não, não fui ao Skoll Bits, acho que não tenho mais saúde para isso. Mas até queria ver o Prodigy... de novo. Fui naquele show que eles fizeram de graça, em 97 (ou 98?) e não gostei muito. Achei meia-boca como show, mas de repente como "Live Act" funciona melhor. Acho o som deles poderosíssimo, pesadíssimo, delicioso. Me desperta as idéias mais sórdidas... bem isso não é muito difícil. E esse álbum novo (mas nem tanto) deles acabou se tornando meu favorito. Não tem a novidade do "The Fat of the Land", mas é o eletrônico mais rock and roll que eu já ouvi. Carreira sujeita a tiros. Enfim, deixei para a petizada...
Eui fui curtir um lounge no campo, com amigos queridos, comidinhas de aniversário e chachachá. Ganhei flores, doces, bebidas e livros, muitos livros, muitos daqueles que eu mais queria. Vai a lista:
Pergunte ao Pó - John Fante: Dele eu só tinha lido "Sonhos de Bunker Hill", que ganhei da Soninha Francine quando participamos juntos de um debate. Achei tão queridinho. Sim, queridinho, um personagem/autor meigo, divertido, conquistou minha simpatia e queria ler outras coisas dele. "O Pó" é o mais conhecido. Então vamos lá.
Os 120 dias de Sodoma - Marquês de Sade: Tenho medo. Sim, eu também sou sensível e tenho medo de ler essas coisas... mas leio e releio, hehe. A peça eu ainda não assisti, mas devo ir semana que vem. Vi o filme do Pasolini ("Saló") e me chocou terrivelmente, principalmente porque fui num cinema em Porto Alegre com uma amiga minha e ela passou o filme inteiro conversando com uma amiga no celular, apesar dos meus protestos. Não somos mais amigos... Do Sade eu só li "Justine", num clima legal, numa biblioteca da faculdade. Como eu não era sócio, não podia tirar o livro de lá, então ia diariamente para continuar com a leitura. Anos depois comprei uma edição de "Justine" em francês. Está na minha estante, mas nunca abri.
Mãos de Cavalo - Daniel Galera: Detesto comprar livros de autores contemporâneos/colegas, porque acabo ganhando tanta coisa desse pessoal, que prefiro quebrar meu cofrinho para avançar nos clássicos ou estrangeiros. Mas como a Cia das Letras é mão de vaca e nunca me manda livro algum, foi bom eu ter ganho de presente. Esse era um dos que eu estava bem tentando a comprar...O guri está sendo bem elogiado por esse livro novo. Eu li o primeiro dele, "Até o dia em que o Cão Morreu" e gostei bastante. Prosa séria, honesta e afetiva. Não somos amigos, mas ele já me recebeu com muita simpatia na casa dele (também em Porto Alegre).
Cocaína - Antologia organizada por Beatriz Resende: Quando vi esse livro na Cultura, há alguns meses, minha primeira reação foi de revolta. Como organizam uma antologia de contos sobre cocaína e não me convidam? Logo eu, o único escritor que não é maconheiro... Carreira sujeita a tiros. Hahah. Zoeira. Mas são apenas autores clássicos, com crônicas e contos sobre o tema. João do Rio, Lima Barreto, Coelho Neto, etc. Vai me inspirar. E ganhei de presente da minha mãe.
Selected Poems - Paul Celan: Nunca tinha lido nada dele. Nem costumo ler poesia. Por isso mesmo adoro ganhar. E numa edição bilingue alemão-inglês bonitinha da Penguin. O livro veio com marcador nessa poesia:
More fully,
since snow fell even on this
sun-drifted, sun-drenched sea,
blossoms the ice in those baskets
you carry into town
Sand
you deman in return
for the last
rose back at home
this evening also wants to be fed
out of the trickling hour.
Ainda ganhei de presente livros da Katherine Mansfield, Tennesse Williams e Tchekov. Isso sem contar uma botinha de bico-fino que imita couro de jacaré... super dândi.
E perguntam se estou feliz? Claro que não. Como poderia estar com nossos pobres homens da lei sofrendo lá fora... Carreira sujeita a tiros.
Final de semanas de festas, presentes e comemorações. Não, não fui ao Skoll Bits, acho que não tenho mais saúde para isso. Mas até queria ver o Prodigy... de novo. Fui naquele show que eles fizeram de graça, em 97 (ou 98?) e não gostei muito. Achei meia-boca como show, mas de repente como "Live Act" funciona melhor. Acho o som deles poderosíssimo, pesadíssimo, delicioso. Me desperta as idéias mais sórdidas... bem isso não é muito difícil. E esse álbum novo (mas nem tanto) deles acabou se tornando meu favorito. Não tem a novidade do "The Fat of the Land", mas é o eletrônico mais rock and roll que eu já ouvi. Carreira sujeita a tiros. Enfim, deixei para a petizada...
Eui fui curtir um lounge no campo, com amigos queridos, comidinhas de aniversário e chachachá. Ganhei flores, doces, bebidas e livros, muitos livros, muitos daqueles que eu mais queria. Vai a lista:
Pergunte ao Pó - John Fante: Dele eu só tinha lido "Sonhos de Bunker Hill", que ganhei da Soninha Francine quando participamos juntos de um debate. Achei tão queridinho. Sim, queridinho, um personagem/autor meigo, divertido, conquistou minha simpatia e queria ler outras coisas dele. "O Pó" é o mais conhecido. Então vamos lá.
Os 120 dias de Sodoma - Marquês de Sade: Tenho medo. Sim, eu também sou sensível e tenho medo de ler essas coisas... mas leio e releio, hehe. A peça eu ainda não assisti, mas devo ir semana que vem. Vi o filme do Pasolini ("Saló") e me chocou terrivelmente, principalmente porque fui num cinema em Porto Alegre com uma amiga minha e ela passou o filme inteiro conversando com uma amiga no celular, apesar dos meus protestos. Não somos mais amigos... Do Sade eu só li "Justine", num clima legal, numa biblioteca da faculdade. Como eu não era sócio, não podia tirar o livro de lá, então ia diariamente para continuar com a leitura. Anos depois comprei uma edição de "Justine" em francês. Está na minha estante, mas nunca abri.
Mãos de Cavalo - Daniel Galera: Detesto comprar livros de autores contemporâneos/colegas, porque acabo ganhando tanta coisa desse pessoal, que prefiro quebrar meu cofrinho para avançar nos clássicos ou estrangeiros. Mas como a Cia das Letras é mão de vaca e nunca me manda livro algum, foi bom eu ter ganho de presente. Esse era um dos que eu estava bem tentando a comprar...O guri está sendo bem elogiado por esse livro novo. Eu li o primeiro dele, "Até o dia em que o Cão Morreu" e gostei bastante. Prosa séria, honesta e afetiva. Não somos amigos, mas ele já me recebeu com muita simpatia na casa dele (também em Porto Alegre).
Cocaína - Antologia organizada por Beatriz Resende: Quando vi esse livro na Cultura, há alguns meses, minha primeira reação foi de revolta. Como organizam uma antologia de contos sobre cocaína e não me convidam? Logo eu, o único escritor que não é maconheiro... Carreira sujeita a tiros. Hahah. Zoeira. Mas são apenas autores clássicos, com crônicas e contos sobre o tema. João do Rio, Lima Barreto, Coelho Neto, etc. Vai me inspirar. E ganhei de presente da minha mãe.
Selected Poems - Paul Celan: Nunca tinha lido nada dele. Nem costumo ler poesia. Por isso mesmo adoro ganhar. E numa edição bilingue alemão-inglês bonitinha da Penguin. O livro veio com marcador nessa poesia:
More fully,
since snow fell even on this
sun-drifted, sun-drenched sea,
blossoms the ice in those baskets
you carry into town
Sand
you deman in return
for the last
rose back at home
this evening also wants to be fed
out of the trickling hour.
Ainda ganhei de presente livros da Katherine Mansfield, Tennesse Williams e Tchekov. Isso sem contar uma botinha de bico-fino que imita couro de jacaré... super dândi.
E perguntam se estou feliz? Claro que não. Como poderia estar com nossos pobres homens da lei sofrendo lá fora... Carreira sujeita a tiros.
11/05/2006
BEM-VINDO À UNIVERSIDADE DO HAMBURGUER
Eu não disse? Eu não disse? Já chegou o ano novo. E passo esta virada sozinho em casa, sem fogos de artifícios nem bebidas espumantes. Não me peça para sacudir nem derramar, que já fiz isso todos os anos anteriores. Neste eu vou confeitar. Aproveitar o glacê para enfeitar o bolo. Assar. Dourar. Crescer. Quem sabe assim não sobra um pedaço para você?
Estava escrevendo agora mesmo sobre isso, sobre uma classe de lulas (não uma "luta de classes", classe de LULAS). Mas não daqueles sem dedo, daquelas com tentáculos, braços para interagir. Pena que os professores as vejam apenas como anéis empanados, para continuar falando através... como num bar, sem se dispersar...
Ai, desculpe pelas sinapses assassinas.
Já recebi uma meia dúzia de trabalhos acadêmicos sobre meus livros. Hoje um sobre "A Morte Sem Nome". Fico lisonjeado das pessoas dedicarem tempo e empenho para analisar minhas obras, mas a participação da universidade mesmo pouco me importa. Aliás, não lembro o nome de nenhuma onde essas teses foram apresentadas.
Também me parece um pouco hipócrita levar a vida em estudos e pesquisas, sendo que minha maior ocupação mesmo continua sendo queimar oxigênio e absorver proteínas animais. Digo, dormir, acordar, comer, me esquecer e me lembrar continuam sendo minhas grandes motivações e ocupações, mas eles direcionam minha vida como se o sentido dela fosse esclarecer uma grande questão, que eu nem mesmo sei qual é. Um jogo, uma brincadeira. Então de duas em duas horas eles desmontam e dizem: "vamos tomar café".
Isso aí é de "Mastigando Humanos", na verdade, um romance sobre a adolescência, com uma grande crítica à vida acadêmica. Tem muito escritor acadêmico, intelectual, que acha super bonitinho seguir as bibliografias. Mas pra mim o que importa mesmo é escrever a minha própria - Viver! E escrever. Claro que as referências existem, mas eu mesmo as escolho. Não preciso que me digam o quanto de vermelho há em Bataille.
Isso tudo deve ser porque estudei comunicação. Só pode ser. Aliás, não é um paradoxo, "estudar comunicação"? Eu achei. Ciências humanas - hahaha! Nao há nada de científico no homem, só erros a apagar. Mais paradoxal foi quanto entrei em Letras na USP. Aquilo sim não poderia dar certo. Por sorte, Deus me deu tatuagens e não roubou minhas madeixas. Assim pude ascender pelo underground.
Ai , ai, adolescência... Mais um ano de rebeldia adolescente.
Onde estava mesmo? Ah, sim, no meu apartamento, na madrugada, num ano novo, como sempre...
Eu não disse? Eu não disse? Já chegou o ano novo. E passo esta virada sozinho em casa, sem fogos de artifícios nem bebidas espumantes. Não me peça para sacudir nem derramar, que já fiz isso todos os anos anteriores. Neste eu vou confeitar. Aproveitar o glacê para enfeitar o bolo. Assar. Dourar. Crescer. Quem sabe assim não sobra um pedaço para você?
Estava escrevendo agora mesmo sobre isso, sobre uma classe de lulas (não uma "luta de classes", classe de LULAS). Mas não daqueles sem dedo, daquelas com tentáculos, braços para interagir. Pena que os professores as vejam apenas como anéis empanados, para continuar falando através... como num bar, sem se dispersar...
Ai, desculpe pelas sinapses assassinas.
Já recebi uma meia dúzia de trabalhos acadêmicos sobre meus livros. Hoje um sobre "A Morte Sem Nome". Fico lisonjeado das pessoas dedicarem tempo e empenho para analisar minhas obras, mas a participação da universidade mesmo pouco me importa. Aliás, não lembro o nome de nenhuma onde essas teses foram apresentadas.
Também me parece um pouco hipócrita levar a vida em estudos e pesquisas, sendo que minha maior ocupação mesmo continua sendo queimar oxigênio e absorver proteínas animais. Digo, dormir, acordar, comer, me esquecer e me lembrar continuam sendo minhas grandes motivações e ocupações, mas eles direcionam minha vida como se o sentido dela fosse esclarecer uma grande questão, que eu nem mesmo sei qual é. Um jogo, uma brincadeira. Então de duas em duas horas eles desmontam e dizem: "vamos tomar café".
Isso aí é de "Mastigando Humanos", na verdade, um romance sobre a adolescência, com uma grande crítica à vida acadêmica. Tem muito escritor acadêmico, intelectual, que acha super bonitinho seguir as bibliografias. Mas pra mim o que importa mesmo é escrever a minha própria - Viver! E escrever. Claro que as referências existem, mas eu mesmo as escolho. Não preciso que me digam o quanto de vermelho há em Bataille.
Isso tudo deve ser porque estudei comunicação. Só pode ser. Aliás, não é um paradoxo, "estudar comunicação"? Eu achei. Ciências humanas - hahaha! Nao há nada de científico no homem, só erros a apagar. Mais paradoxal foi quanto entrei em Letras na USP. Aquilo sim não poderia dar certo. Por sorte, Deus me deu tatuagens e não roubou minhas madeixas. Assim pude ascender pelo underground.
Ai , ai, adolescência... Mais um ano de rebeldia adolescente.
Onde estava mesmo? Ah, sim, no meu apartamento, na madrugada, num ano novo, como sempre...
08/05/2006
JODIE, VENHA MORAR COMIGO. TOMAREMOS CHÁ DE AMÊNDOAS E TOSTAREMOS EM FRENTE À LAREIRA.
A dança acontecia quando fechávamos os olhos. Sonhávamos. Gastávamos energia ao máximo. E bebíamos, para poder voltar a dormir. Eu me esforçava para sonhar. Com ele. Comigo. Eu, de agente secreto mergulhador, vivendo missões impossíveis embaixo d’água. Por isso era bom dormir. Por isso era bom deitar. Por isso era tão duro levantar da cama e encarar o dia tão nublado. Porque quando era ensolarado, nos doía ainda mais dilatar...
Ah, meu amigo, esse feriado não vai acabar nunca não? Parece um abrir e fechar de olhos e estamos novamente numa segunda-feira. Numa segunda tentativa, abro os olhos e estamos novamente no final do mês. Natal. Inverno. Quando fecho os olhos já acabou. Não sobrou nada. Quem sabe um parágrafo?
Qual será o meu sentido quando eu não estiver com você? Quando você não estiver comigo, o que eu poderei fazer pela minha história? Penso melhor. Guardo as últimas palavras para mim mesmo. Num último suspiro, no meu último gemido, faltam sílabas e acentos. E lamento.
Mela-mela-melancolia... mela-mela-melancia...
Assisti a um ótimo filme com a petite fille Jodie Foster. "A Menina do Outro Lado da Rua", dirigido pelo húngaro Nicolas Gessner, em76. Jodie, com treze anos, é uma garota que mora aparentemente sozinha numa mansão. A casa foi alugada por seu pai, mas ninguém nunca o vê, nem os vizinhos, nem os policiais, e todos começam a se tornar cada vez mais invasivos, querendo descobrir se de fato ela mora com alguém. Tem um certo clima de suspense, de filme europeu, apesar de ter sido filmado nos Estados Unidos. Jodie está ótima como a garota independente, meio estranha, meio "Demian" (do Hesse). Pelo jeito de andar e falar parece uma lésbica de 40 anos. E fica o filme inteiro tentando escapar das investidas de um pedófilo vivido pelo Martin Sheen.
Acho que não tem em DVD no Brasil. Mas ainda dá para encontrar em VHS em algumas locadoras por aí. Cult total.
Estou lendo "The Secret Life of Oscar Wilde", escrito pelo jornalista britânico Neil McKeena. O livro é uma biografia "sexual" de Wilde, se detendo nas putarias que ele vivia com os jovenzinhos vitorianos e nas suas obsessões sexuais. Apesar de revelar questões muito íntimas, o autor coloca sempre suas fontes, o que torna o texto bem confiável. Mas acho que a biografia podia ser um pouco mais abrangente, dando pelo menos um panorama um pouco mais claro de outros aspectos da vida dele, como a parte profissional.
Visitei o túmulo de Wilde no Père-Lachaise, em 2002. Não sou sensitivo, espiritualizado, nada disso, mas senti um arrepio na hora. Parece que ouvia uma missão vinda direta de Wilde:
"Você tem de abraçar meu legado. E conquistar tudo o que não pude conquistar."
Eu respondia mentalmente:
"Puxa, Sr. Wilde, que honra. Se eu puder fazer um décimo do que o senhor fez pela literatura..."
E ouvia um sussurro ao vento:
"Que literatura? Estou falando sobre os rapazinhos..."
Haha. Sai desse corpo.
Hoje estou super feliz. Eufórico até. Mas essa boca que racha sempre que eu rio...
A dança acontecia quando fechávamos os olhos. Sonhávamos. Gastávamos energia ao máximo. E bebíamos, para poder voltar a dormir. Eu me esforçava para sonhar. Com ele. Comigo. Eu, de agente secreto mergulhador, vivendo missões impossíveis embaixo d’água. Por isso era bom dormir. Por isso era bom deitar. Por isso era tão duro levantar da cama e encarar o dia tão nublado. Porque quando era ensolarado, nos doía ainda mais dilatar...
Ah, meu amigo, esse feriado não vai acabar nunca não? Parece um abrir e fechar de olhos e estamos novamente numa segunda-feira. Numa segunda tentativa, abro os olhos e estamos novamente no final do mês. Natal. Inverno. Quando fecho os olhos já acabou. Não sobrou nada. Quem sabe um parágrafo?
Qual será o meu sentido quando eu não estiver com você? Quando você não estiver comigo, o que eu poderei fazer pela minha história? Penso melhor. Guardo as últimas palavras para mim mesmo. Num último suspiro, no meu último gemido, faltam sílabas e acentos. E lamento.
Mela-mela-melancolia... mela-mela-melancia...
Assisti a um ótimo filme com a petite fille Jodie Foster. "A Menina do Outro Lado da Rua", dirigido pelo húngaro Nicolas Gessner, em76. Jodie, com treze anos, é uma garota que mora aparentemente sozinha numa mansão. A casa foi alugada por seu pai, mas ninguém nunca o vê, nem os vizinhos, nem os policiais, e todos começam a se tornar cada vez mais invasivos, querendo descobrir se de fato ela mora com alguém. Tem um certo clima de suspense, de filme europeu, apesar de ter sido filmado nos Estados Unidos. Jodie está ótima como a garota independente, meio estranha, meio "Demian" (do Hesse). Pelo jeito de andar e falar parece uma lésbica de 40 anos. E fica o filme inteiro tentando escapar das investidas de um pedófilo vivido pelo Martin Sheen.
Acho que não tem em DVD no Brasil. Mas ainda dá para encontrar em VHS em algumas locadoras por aí. Cult total.
Estou lendo "The Secret Life of Oscar Wilde", escrito pelo jornalista britânico Neil McKeena. O livro é uma biografia "sexual" de Wilde, se detendo nas putarias que ele vivia com os jovenzinhos vitorianos e nas suas obsessões sexuais. Apesar de revelar questões muito íntimas, o autor coloca sempre suas fontes, o que torna o texto bem confiável. Mas acho que a biografia podia ser um pouco mais abrangente, dando pelo menos um panorama um pouco mais claro de outros aspectos da vida dele, como a parte profissional.
Visitei o túmulo de Wilde no Père-Lachaise, em 2002. Não sou sensitivo, espiritualizado, nada disso, mas senti um arrepio na hora. Parece que ouvia uma missão vinda direta de Wilde:
"Você tem de abraçar meu legado. E conquistar tudo o que não pude conquistar."
Eu respondia mentalmente:
"Puxa, Sr. Wilde, que honra. Se eu puder fazer um décimo do que o senhor fez pela literatura..."
E ouvia um sussurro ao vento:
"Que literatura? Estou falando sobre os rapazinhos..."
Haha. Sai desse corpo.
Hoje estou super feliz. Eufórico até. Mas essa boca que racha sempre que eu rio...
04/05/2006
SALUT, SLUT!
Os apartamentos ao meu redor chacoalham por vitórias e por derrotas. Torcedores... miseráveis. É por isso que dizem que mamíferos sem espaço para correr devem ser castrados. Do contrário, bebem cerveja, criam barriga, sentam-se em frente à televisão e gritam toda quarta-feira de noite. Eu prefiro aqueles que dormem no parapeito e se estatelam caindo do décimo primeiro andar.
Eu e Araki, que temos sangue frio, ficamos aqui comendo frutas tropicais, bronzeando com lâmpadas fosforescentes, ouvindo Röyksopp. O que farei quando a Copa do Mundo chegar? Me sinto tão solitário nesses momentos (chuif!), prefiro assistir aqueles orientais malemolentes da ginástica olímpica. Não tinha uma garotinha chinesa chamada Pam Pam Pam? Quem pode trocar uma dessas por um "Ronaldo"? Traga Pam Pam Pam para a minha seleção!
Mês de maio chega com pobreza novamente. Pouco trabalho, ainda menos pagamento. São tantas propostas, convites, gente pedindo colaboração, mas quase nenhum desses convites envolve dinheiro. Ainda acham que literatura é uma brincadeira. Sério mesmo é publicidade, não é? Seríssimo. Ao menos as somas.
Ao menos "Feriado" continua rendendo. Fico feliz que um ano depois do lançamento dê uma graninha (inha). Chegou a prestação de contas hoje aqui. Já passou há muito do adiantamento, agora recebo devidamente. Até "A Morte Sem Nome" anda revertendo, vejam só. Eu sou um escritor rentável, invistam em mim, invistam em mim! Haha.
Aliás, me disseram que sou "o escritor com menos de 30 anos que mais vende no Brasil", depois da Bruna Surfistinha, claro. Bem, bem, com certeza ela está algumas centenas de milhares de exemplares à frente. Fiquei pensando se não há mais ninguém. Karina Bacchi, talvez? Karina Bacchi lançou um livro. Ela não tem menos de 30? Porque Bruna Surfistinha não escreveu realmente um livro. Não, não estou sendo venenoso - o veneno de escorpião é dela - está lá, que o depoimento dela foi escrito pelo jornalista Jorge Tarquini, quem realmente cuidou do texto. Eu ainda quero ler. Deve ser divertido. Mas se for para escrever memórias sexuais, deixa só eu contar minhas putarias em Arhus, na Dinamarca! (ops, cala a boca, armênio!)
Sim, sim, ainda vou escrever minhas memórias sexuais... vou mesmo. Seria interessante exercitar algo autobiográfico... Seria um pornô-surrealista... haha. E não vai ter nada em blog, vão ter de pagar para ler! Pagar! PAGAAAR!
Enquanto isso, meu amigo mutante-psicodélico Bruno Maia organiza uma luta no gel entre eu e a Surfistinha. Eu topo. Se pagarem, eu topo...
Bem, não tenho nada de interessante para contar. Só estou atualizando para não acharem que morri. Eu não durmo no parapeito, porque moro no segundo andar e me estatelaria no primeiro, com uma velhinha ligando para a portaria:
"Estão jogando porcarias aqui na minha varanda."
Os apartamentos ao meu redor chacoalham por vitórias e por derrotas. Torcedores... miseráveis. É por isso que dizem que mamíferos sem espaço para correr devem ser castrados. Do contrário, bebem cerveja, criam barriga, sentam-se em frente à televisão e gritam toda quarta-feira de noite. Eu prefiro aqueles que dormem no parapeito e se estatelam caindo do décimo primeiro andar.
Eu e Araki, que temos sangue frio, ficamos aqui comendo frutas tropicais, bronzeando com lâmpadas fosforescentes, ouvindo Röyksopp. O que farei quando a Copa do Mundo chegar? Me sinto tão solitário nesses momentos (chuif!), prefiro assistir aqueles orientais malemolentes da ginástica olímpica. Não tinha uma garotinha chinesa chamada Pam Pam Pam? Quem pode trocar uma dessas por um "Ronaldo"? Traga Pam Pam Pam para a minha seleção!
Mês de maio chega com pobreza novamente. Pouco trabalho, ainda menos pagamento. São tantas propostas, convites, gente pedindo colaboração, mas quase nenhum desses convites envolve dinheiro. Ainda acham que literatura é uma brincadeira. Sério mesmo é publicidade, não é? Seríssimo. Ao menos as somas.
Ao menos "Feriado" continua rendendo. Fico feliz que um ano depois do lançamento dê uma graninha (inha). Chegou a prestação de contas hoje aqui. Já passou há muito do adiantamento, agora recebo devidamente. Até "A Morte Sem Nome" anda revertendo, vejam só. Eu sou um escritor rentável, invistam em mim, invistam em mim! Haha.
Aliás, me disseram que sou "o escritor com menos de 30 anos que mais vende no Brasil", depois da Bruna Surfistinha, claro. Bem, bem, com certeza ela está algumas centenas de milhares de exemplares à frente. Fiquei pensando se não há mais ninguém. Karina Bacchi, talvez? Karina Bacchi lançou um livro. Ela não tem menos de 30? Porque Bruna Surfistinha não escreveu realmente um livro. Não, não estou sendo venenoso - o veneno de escorpião é dela - está lá, que o depoimento dela foi escrito pelo jornalista Jorge Tarquini, quem realmente cuidou do texto. Eu ainda quero ler. Deve ser divertido. Mas se for para escrever memórias sexuais, deixa só eu contar minhas putarias em Arhus, na Dinamarca! (ops, cala a boca, armênio!)
Sim, sim, ainda vou escrever minhas memórias sexuais... vou mesmo. Seria interessante exercitar algo autobiográfico... Seria um pornô-surrealista... haha. E não vai ter nada em blog, vão ter de pagar para ler! Pagar! PAGAAAR!
Enquanto isso, meu amigo mutante-psicodélico Bruno Maia organiza uma luta no gel entre eu e a Surfistinha. Eu topo. Se pagarem, eu topo...
Bem, não tenho nada de interessante para contar. Só estou atualizando para não acharem que morri. Eu não durmo no parapeito, porque moro no segundo andar e me estatelaria no primeiro, com uma velhinha ligando para a portaria:
"Estão jogando porcarias aqui na minha varanda."
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ENTÂO VOCÊ SE CONSIDERA ESCRITOR?
Então você se considera escritor? (Trago questões, não trago respostas...) Eu sempre vejo com certo cinismo, quando alguém coloca: fulan...