05/04/2007

"A PORTA SE ABRE"

(Foto de Cris Ameln/Joyce Pascowitch.)


"Eu me considero um sobrevivente, praticamente um herói por ter completado os estudos, porque o sistema de ensino sempre foi tão radicalmente contra tudo o que eu acredito e sou. Eu simplesmente não entendo essa relação mestre-aluno, não faz sentido para mim; e essa relação, que já é absurdamente retrógrada, ainda é piorada com as condições de ensino no Brasil, onde os professores em si ganham tão pouco que muitas vezes têm menos acesso a possibilidades culturais do que seus alunos, e não se exige realmente que eles tenham uma grande bagagem. Isso, é claro, faz com muitas pessoas se tornem professores simplesmente para ter alguma posição de status – por menos status que os professores tenham atualmente- ou exercerem algum grau de comando. Muitos são frustrados intelectualmente e precisam do título de “professor” para se reafirmar, porque não teriam prestígio intelectual de outra forma. Querem mostrar sua força e só podem fazer isso diante de crianças e adolescentes. É claro que há exceções, assim como há grandes pensadores e artistas que paralelamente são professores, mas nós sabemos que isso é uma minoria quase fora de estatística. Até porque, a posição de “Professor” que se prega pressupõe uma genialidade que simplesmente não pode existir em quantidade numérica suficiente para atender ao número de alunos existentes" (Trecho de uma entrevista que dei recentemente.)


Estranhamente, essa questão do ensino, da posição do professor, esteve tão presente nesta minha semana - desde discussões que tive sobre a polêmica "Antônio Cícero (que conheci esta semana, e que posso considerar como um professor de poesia) X Luis Felipe Pondé (que foi meu melhor professor na faculdade)" até conversas que tive por MSN, textos que traduzi e coisas que escrevi em meu novo romance (sim, haverá novamente uma crítica ao sistema de ensino).


Deve ser por causa desse romance. Mergulhado nele, o mundo todo ao meu redor parece convergir para sua problemática; foi assim com todos os outros, acho que deve ser assim com toda obra que se cria de forma honesta, densa e intensa. E tem também o livro que estou traduzindo, que me suga de forma semelhante, embora não espontaneamente, para seus dilemas.


Ironicamente, segunda-feira próxima me encontrarei numa... SALA DE AULA, participando do curso de Pedro Paulo de Sena Madureira sobre relação escritores X editores, na Casa do Saber. Sou o convidado da penúltima aula - cujo título é "A Porta Se Abre" - representando um "jovem escritor". O último convidado é o Scliar, dia 16.


Eu mesmo nunca me senti capaz de dar cursos, aulas, oficinas. Me sentiria uma fraude. Acho que me sentia assim quando eu dava aula de inglês (em duas escolinhas vagabundas, que vocês conhecem bem, de nome). Eu era um PÉSSIMO professor. Imagine então eu ousar ensinar alguém a escrever? Sim, já me convidaram para ministrar oficinas literárias, e quando eu estava mais fodido de grana - mas por, decência, recusei.


(Oh, eu deveria dar aulas de culinária. Acabei de fazer uma pescada branca com wassabi e uísque que ficou absurda. É, atualmente só tenho comido peixe.)

Bem, estou indo agora gravar aquele programa hilário da PlayTv onde os convidados ficam jogando videogame. Estou pensando em levar meu Nes 8bits, para ver se tenho alguma chance, ehehe. Ainda não sei quando vai ao ar, mas aviso.

Feliz Páscoa, beijinhos.

Ps - Estou lendo "O Desconhecido", novela do Lúcio Cardoso, conhecem? Agora ressinto toda essa exaltação - também feita por mim - em torno de "Crônica da Casa Assassinada". "O Desconhecido" é uma narrativa muito mais restrita, em todos os sentidos. Mas nos bons sentidos é que ela me deslumbra. E de forma cortante... Leiam isso:

"Você sabe bem que nada sou senão uma caricatura do seu demônio."

Oh. Tenho encontrado tantas caricaturas por aí...

NESTE SÁBADO!