28/06/2007

(TÔ SEM FOTO, MAS SOU BONITO)


Sábado agora você pode me encontrar na Praça Rosevelt, na Flap - a prima underground da Flip - num debate com Marcelo Siqueira Ridenti, Maria Luíza Mendes Furia, Andrea Del Fuego e Juliano Pessanha.

É as 14:30, lá nos Satyros. Acho que de graça.

Vocês podem ver a programação completa no:
E não me perguntem da Flip porque eu não vou, nunca mais fui, depois daquela primeira. Mas te dou a maior força.

No mais, saiu a relação dos primeiros finalistas do Portugal Telecom. "Mastigando Humanos" está entre eles. Bom saber que me encaixaram lá, ainda que eu tenha poucas chances. São finalistas de todos os paises de língua portuguesa. O primeiro prêmio ganha 100 mil reais, o segundo 35 mil e o terceiro 15.
(não tenho a lista completa e não sei onde pode ser vista. Só soube da minha indicação porque um leitor postou na minha comunidade, e eu confirmei na Folha, onde só citaram alguns autores)


No Jabuti, me desprezaram. Mas nós já sabíamos que isso iria acontecer...


"Esta boca que racha sempre que eu rio..."

Esta semana assisti “Cão sem Dono”, do Beto Brant. Um dos melhores filmes nacionais que já vi. Os diálogos e a interpretação “naturalista” de todos os atores é ótima, especialmente da Tainá Müller. E eu já gostava do livro em que foi baseado.

Agora preciso dar um jeito de atropelar o Galera.

24/06/2007

DE VOLTA AO SANGUE DERRAMADO



Foto de Marcelo Bolzan e Monika Jung, baseada no meu “Feriado”.


Madrugada de sábado. Estou bem bonzinho aqui em casa. Ganhei um sofá novo e acho que tenho medo dele estranhar o apartamento e chorar, latir, miar, acordar os vizinhos. Estou tomando conta, tentando ler, tentando escrever.

Meio sem foco para leitura. Aquela coisa, não basta procurar os grandes autores. Você pode ler os clássicos, os obrigatórios, mas são raros aqueles que entram para seu time particular. Para mim, nunca foi Machado, nunca foi Clarice, posso reconhecer a importância de um Guimarães Rosa, mas não levo para dormir comigo.

Para quem ainda quer saber - aquela pergunta respondida exaustivamente por qualquer um que escreve - os que identifico como família e influência: Wilde, Mann, Kafka, Saki, Noll, Caio, Lygia, Moravia, Mishima, Dennis Cooper e talvez poucos mais... talvez mais nenhum. Quero dizer, tem vários outros livros dos quais gostei, mas não de autores com quem eu realmente me identifique, que toquem profundamente. Talvez seja assim mesmo, talvez eu escreva para completar o que falta. Mas quero tanto encontrar tantos outros para minha família...

Tenho lido bastante a família da minha mãe, livros indicados/presenteados por ela. Em geral são contistas norte-americanos dos pequenos detalhes, como Raymond Carver, Flannery O´Connor, Sam Shepard. É bom ter uma mãe que não lê auto-ajuda.

Estou revirando também os “40 Livros” comemorativos dos 40 anos da Nova Fronteira (recebi todos aqui, ano passado). São todos obrigatórios. Alguns estão entre meus favoritos. (tem até um com prefácio meu – O Senhor das Moscas – do William Golding). Quero ver se consigo me enganchar bonito em algum deles.

E estou traduzindo mais um livro delicioso da Rachel Cohn, para a Record. É uma coisa para adolescentes rebeldes reais e descolados, e me dá vontade de comer comida chinesa. Todo livro que eu traduzo me traz alguma grande nóia gastronômica.

Em música, estou pior do que auto-ajuda. Depois de comprar “Bat out of Hell III”, do Meatloaf, dei para revirar o catálogo do balofo e voltei a ouvir o “Bat out of Hell I”, de 77. É péssimo, mas é ótimo. Breguíssima, mas muito bem feito, com aquele tom grandioso de musical/ópera-rock, que ele tentou reproduzir nas continuações, mas não deu certo. Escute “Paradise By the Dashboard Light” e confira o que estou dizendo.

Outro trevoso que voltou (ao cenário e ao meu Ipod) é o... posso dizer? MARILYN MANSON. O álbum novo dele é excelente... Ok, não é tão bom assim, mas é a melhor coisa que ele lança desde Mechanical Animals. E “Heart-shaped Glasses” é o melhor single desde “Beautiful People”. O álbum tem um tom mais pra baixo do que os anteriores, mais deprê, menos furioso. Só a voz miada do Manson que cansa um pouco, e é a mesma do início ao fim.

(Sim, eu já fui mansomaníaco, na época do Antichrist, óbvio. Cheguei até a conhecer o “Reverendo”, quando ele veio ao Brasil.)

Manson says: "Well, well, é só eu sair pra beber água que os emos invadem tudo aqui..."

Terminando com a sangria desatada, recebi esta semana lindas fotos baseadas em “Feriado de Mim Mesmo” (uma delas é aquela lá de cima), feitas para um trabalho de faculdade. Bom saber que o livro continua rendendo (e vendendo). Há uma adaptação para teatro em processo (que eu ainda não vi), o roteiro para cinema (que voltou a ser pensada por mim e pela Lilly Caffé) e estamos negociando a publicação do livro em espanhol. É meu maior hit, embora “Mastigando Humanos” tenha tido mais repercussão na imprensa.

E meu QUINTO romance vai bem, obrigado. Mas antes dele você pode ler os outros que faltam.

Ps - Estou tentando me deprimir nesta noite de sábado, mas não estou conseguindo...

20/06/2007

OS CAMINHOS DE SANTIAGO

Carol e eu. (Na primeira fila é obrigatório fazer biquinho)

Voltei. Acabou o São Paulo Fashion Week.

Semana de maratona intensa. Estive lá todos os dias, vi quase metade dos desfiles, no resto do tempo tinha dar conta da minha coluna (e da minha espinha), das traduções em paralelo, de uma pauta pra Joyce.

Na verdade, minha coluna do SPFW era uma página inteira. Diária. E em alguns dias ainda contribui em outras páginas. Chamava-se “O Caminho de Santiago”, e me foi dada carta branca para eu escrevesse o que quisesse sobre o evento.

A redação.

Por isso ficava zanzando pela Bienal. Entrevistei modelos, celebridades, resenhei desfiles, procurei o periquito perdido. Foi uma experiência... Eu não sou jornalista, nunca corri atrás da notícia, então ter uma coluna diária foi um grande aprendizado, ainda que, na maioria das vezes, eu tenha exercido mais a função de cronista. Pude exercitar vários estilos, fazer textos mais sérios, outros mais desbocados. Não fiquei com um formato fixo.

O convite foi feito pela Erika Palomino, diretora do Journal. Nunca havíamos trabalhado juntos, apenas trocado alguns emails, mas deu tudo certo. Ela foi muito querida. Aliás, todo mundo foi bem querido, ainda que o clima geral do evento seja um pouco pesado. Encontrei muitos amigos, gente da noite, jornalistas. Para quem trabalha sempre em casa, sozinho, como eu, foi uma mudança proveitosa. Vou sentir falta de muita gente com quem trabalhei diariamente lá.


Suzy Camará. Não solto mais. (obs: note o buffezinho modesto da redação, atrás)


Santiago de michê, Erika de vagaba.

Na última edição do jornal (que sai hoje, distribuída em algumas lojas) coloquei os highlights da temporada, os desfiles mais legais, etc. Mas aproveito aqui para reproduzir parte de uma das minhas colunas (acho que foi de segunda), que talvez tenha sido a mais “literária”.

O Olhar Vidrado da Maneca

Más linguas dizem que é de fome, de sono, de tédio ou de lobotomia. Mas se tudo isso já foi dito, já foi ouvido, não é o mesmo que eu diria. Sentado na primeira filha, olhando a moça mais incrível de André Lima, fiquei pensando no que poderia estar atrás daquele olhar vidrado, aquele ar inconsciente, aquele rosto perdido, escondido, tão longe, bem ali...

Ela pensa nele, logo à frente, do outro lado da lente, a fotografá-la. Ela não pode vê-lo, as luzes o escondem, o apagam. Mas por trás da retina, no solo da mente, dentro do peito ela está presente. O fotógrafo. Seu namorado.

E ela pensa no irmão, lá embaixo. Decolando. Começando. Tremendo na prova de roupa, no desfile da Sala 1. Nunca foi irmão modelo (na verdade, sempre foi meio pentelho), mas agora tudo o que ela quer é ajudá-lo, como amado modelo irmão.

Porque ela pensa em Catarina, a Santa, lá no fundo, lá no meio, no interior. Estado de graça. Fronteiras estendidas. Longe da família. De um cenário que deu a luz e o leite e os dentes, para tudo o que ela é hoje em dia.

E não apenas isso, suas raízes, agora florescendo. A goiabeira no fundo de casa. Subindo. Caindo. Esfolando os joelhos. Será que já foi derrubada? Será que ainda dá frutos? Será que seu pai algum dia ficou sabendo que foi lá, sob seus galhos, que ela deu o primeiro beijo? Não parece, mas nem faz tanto tempo...

E ela pensa não apenas no físico, na prova de química, cadeias peptídicas. O efeito da citosina. Hormônios a jorrar. Um dia ela vai ser doutora, duvida? Um dia ela ainda vai te examinar. Vai observar seu sangue em filetes, num microscópio. E vai ver muito mais do que você vê em seu olhar.

Para não dizer que não falei dos alfajores, ela pensa nisso também. E em sabão de coco e cândida. Tudo o que ela precisa comprar no supermercado. Pensa na casa nova que já é o seu lar. O apartamento que divide com as meninas, que já são realmente amigas, que agora são sua mais próxima família, que ela nunca mais vai conseguir largar.

Ela só não pensa que eu também penso em tudo isso, penso nela. Eu entendo. E por tudo o que há por trás de seu olhar, por tudo o que me faz imaginar, por todos os lugares que me leva e me traz, só uma coisa eu posso ver. Beleza. Agora já posso aplaudir de pé.

Ps – Agora quero cobrir a Flip pelo prisma da moda.

Ps2- Os eventos literários têm muuuuuuuuuuito o que aprender sobre coquetéis, festas e canapés.
Ps3 - Espero que eu não tenha sido contaminado. Hoje estava picando as verduras do meu iguana, servi o pratinho e disse pra ele: "Arrasa, Araki."

14/06/2007

MUNDOS PARALELOS

Vanessa "Ludov" Krongold, eu, Giu e amigas , antes de um show...


"Aquele agora-ou-nunca ficou para trás", canta Vanessa na faixa "Sobrenatural" do novo álbum do Ludov. De fato, Ludov está de volta, mas sem o sentimento de urgência ou de ansiedade que caracteriza tantas bandas, que não têm nada além de um belo clipe a oferecer. O Disco Paralelo é um novo caminho, uma nova possibilidade, dentre várias abertas com garra por essa banda, que já provou o que precisava provar e já mostrou que sabe o que faz.

Mas não, não vamos dizer que eles estão mais "maduros", que horror! Estão apenas mais livres. Depois de anos cantando juntos, passando por diversas bandas e diversas encarnações, Vanessa Krongold (vocal), Mauro Motoki (guitarra, teclado), Habacuque Lima (guitarra, baixo) e Paulo Chapolin (bateria), já sabem o que querem, como fazer, e não poderiam deixar de ser autênticos, mesmo que não quisessem.


"Não somos uma família feliz, somos uma família", explica Mauro. E como toda família, criam, contornam e conquistam juntos; sabem que a alternativa mais difí­cil seria a separação. Assim, depois da saí­da do antigo baixista, Eduardo Filomeno, que foi estudar no exterior, a banda aproveitou para tornar seu trabalho mais enxuto, se assumir como um quarteto e trabalhar mais profundamente o potencial de cada um de seus membros.


"Somos uma banda de quatro lí­deres. Não é uma democracia. A coisa não funciona por voto, os quatro precisam concordar com o que se faz", acrescenta Mauro. No Disco Paralelo tudo parece estar de acordo, casadinho, bem-resolvido. Totalmente Ludov, para os fãs de Ludov. Totalmente novo, para quem espera novidade. Uma banda de músicos, para quem entende de música. Uma banda de rock, para quem não precisa entender.

Abrem o disco à toda, com "Ciência", um pop desafiador que mostra ao mesmo tempo entusiasmo e segurança e dá bem o tom do disco. Na música seguinte a letra deixa claro, "essa cidade não conhecerá meu fim", Ludov marca sua presença. Há faixas mais lentas e tensas, como "Conversas em Lata", e mesmo lisérgicas, como "Delírio", em que Mauro assume com propriedade os vocais. Faixas como "A Espera" e "Urbana" reafirmam o estilo Ludov de mudar de andamento durante a música, com energia e inventividade. E não faltam as candidatas a hits, como "Rubi" e "Refúgio". No final, temos um álbum completo, com tudo o que um bom disco precisa.

E para mim, pessoalmente, é com grande alegria que recebo este novo trabalho, como amigo e fã, que há mais de dez anos conheceu um japonês que mandava muito na guitarra. Um outro sujeito que, além da guitarra, mandava ver na poesia. E uma ruiva (ok, ela já foi ruiva) com a voz mais bela da minha geração. Fica claro para mim porque continuei ouvindo, torcendo, gostando. E agora? Agora Vanessa canta: "o meu agora é daqui pra frente." - Texto meu para o release do cd novo do Ludov, Disco Paralelo.
Ludov de disco novo, eu cobrindo a SPFW e as crianças morrendo na África. Tudo em seu devido lugar. Ou não?

10/06/2007

3 MILHÕES E MEIO ME CONTAMINARAM

Lá pelas tantas do feriado...

Ai, ai, por que inventam feriado para nós que trabalhamos em casa, hein? Só nos dispersamos e nos sentimos culpados por estarmos nos largando quando deveríamos labutar, labutar, labutar...

E eu estou tão cheio de coisas, que esse feriado "gay" foi uma incrível manobra de neurônios para conseguir dar conta das obrigações. Sorte que tenho direção hidráulica.

Bem, saiu a matéria incrível que fiz com Marina Lima e Antônio Cícero, na revista Joyce Pascowitch deste mês. Minha carreira paralela de "jornalista" - se é que posso chamar assim - até que está dando certo. Esta semana me enfurnarei no prédio da Bienal pra cobrir o São Paulo Fashion Week. Vou ter uma coluna diária no jornal de lá, com a minha visão oblíqua do evento. Será que isso vai dar certo?

Hoje teve a parada gay. Eu compareci. E não roubaram meu celular. Assim como Regina Volpato, acho bonitinho esse povo todo tendo sua chance, se divertindo, os rapazinhos que pegaram três ônibus, dois metrôs e uma marmita para vir beijar na Paulista. Infelizmente, a imprensa só flagra os mais montados e quem não está lá não descobre que o mundo gay é formado pelo seu dentista, seu ascensorista e seu office-boy.

Aliás, tenho de contar... posso contar? Vocês vão acreditar? Que aquele cara que eu vi comprando lugar na fila do passaporte no Shopping Eldorado ESTAVA na parada, muito louca, vivendo seu momento "sou velha mas sou rica"? É verdade, mas podem tomar como licença poética, porque é poesia pura.

Terminando, eu e Daniel "Montage" Peixoto, com Gustavo Vinagre numa matéria que fizemos para uma revista nova, que sai mês que vem... Aguardem.


06/06/2007

CÁLCULO DO DESESPERO

(Só coloquei esta foto porque achei bonita...)



Saí de casa na madrugada de segunda para terça, às três e meia, 7 graus centígrados. Cheguei na frente do Shopping Eldorado, às quatro horas da manhã e encontrei um pequeno aglomerado. Lá, a pretensa elite econômica brasileira se enfileirava com colchões, colchonetes e cobertores, dormindo na rua.

Esse é o processo atual para se retirar/renovar passaporte aqui em São Paulo.

Todos nós, cerca de oitenta pessoas,esperamos na rua até cerca de cinco horas da manhã, quando os caridosos seguranças do shopping nos deixaram esperar lá dentro, onde estava um pouco mais quente. Às dez horas da manhã, o posto da Polícia Federal abriu e começaram a distribuir senhas. São setenta senhas por dia, setenta pessoas atendidas. Eu – na minha atual sorte de vítima de macumba- fui o número setenta e um. Poderia ficar na lista da espera, para ver se seria atendido ainda hoje, mas não havia garantia... Fiquei.

Ás onze horas da manhã, depois de esperar 7 horas, consegui a senha setenta e um, e a garantia de ser atendido ainda hoje – às duas e meia da tarde. Fui. Assim, consegui renovar meu passaporte.

Já vimos filas como essa de mães para matricular filhos em escola pública, de doentes para ser atendidos em hospitais, mas agora chegou à elite que viaja ao exterior. Nas várias horas de espera, conversei com um dono de empresa de auto-peças, que ia para o México encontrar fornecedores; uma física que ia estudar na França; um mineiro que ia fazer a primeira viagem internacional, e tinha medo de não conseguir o visto americano. Houve ainda alguns (raros) espertalhões que compraram lugar na fila. Um deles, um engravatado com cara de corrupto, que eu interpelei na cara dura: “Olá, sou escritor, colaboro com alguns jornais e revistas, queria escrever sobre esse processo de conseguir passaporte. O senhor não fica um pouco constrangido de furar a fila pagando, sendo que tem gente dormindo aqui desde as seis horas da tarde? Quanto o senhor pagou? Você é, tipo assim, muito importante, um nível acima das pessoas que normalmente viajam ao exterior?” E se o engravatado não estava constrangido antes, ficou com minha indiscrição. Saiu da fila e ficou escondidinho num canto, mas já tinha sua senha em mãos.

Então não há solução. Quem viaja em vôo doméstico sofre com os atrasos. Quem viaja em vôo internacional tem de rastejar pelo passaporte. Se viajar de ônibus corre o risco de ser queimado vivo. E não aconselho viajar na maionese, pela salmonela e o colesterol, hohoho.

Ainda assim, hoje na fila o pessoal mantinha um acolhedor bom-humor. Deve ser porque todos farão belas viagens em breve. À certa hora, ouvimos alguém soltar a máxima: “Eu sou brasileiro, e não desisto nunca.”




Ps1 – Poderia terminar por aqui. Mas tenho de dizer que aproveitei tempo da fila para ler o segundo romance de Simone Campos, “A Feia Noite”. Coisa das mais estranhas, ainda mais para se ler na rua numa madrugada fria. Mas fez um bom efeito e coisas lindas ficaram na minha cabeça:

“Eu não quero ser feliz agora. Eu quero ser verdadeira, e isso um dia vai me levar a algum lugar. E se não levar, eu tenho o direito de desistir.”

(Eu não. Quero ser feliz. Neste exato momento. Ainda que não verdadeiro... )

Ps 2 – Continuando com as mulheres talentosas. Victoria Saramago lança seu romance de estréia, “Renée Esfacelada”, dia 16/06, às 19h, no Espaço Cultural Maurice Valansi (rua Martins Ferreira, 48, Botafogo), no Rio. Esta é a orelha que escrevi pra ela:

Dândi. Glamuroso. Mas com uma leve estranheza. Uma certa doença. Isso é que encontramos no romance de estréia de Victoria Saramago, uma jovem e bela escritora que faz jus a seu sobrenome e o leva a outras dimensões. Escrito com um fôlego impressionantemente raro na literatura atual, “Renée Esfacelada” conta a história de uma ex-estrela de TV, uma cantora mirim, que cresce até a fama e que acaba sendo literalmente cegada por uma vida de alienações. Cega, Renée se tranca em casa na companhia do filho que odeia, da empregada que lhe ampara e do filho adolescente desta, que se torna seu amante. Assim, encontramos uma personagem vagando por seus sentimentos, como um fantasma de si própria, resgatando memórias de uma vida passada que a condenou a esse limbo. Aos poucos, aos fragmentos, vamos montando essa Renée, esfacelada como o texto, mas que se revela rica e densa a cada passagem. É para ler comendo madeleines, bebendo prosecco, admirando-se com todo o requinte que a literatura brasileira ainda pode ter.

Santiago Nazarian

Ps 3 – Indico com vemência o espetáculo “O Abajur Lilás” (texto de Plínio Marcos), em montagem no TUSP, aqui em São Paulo. Poucas vezes vi um elenco inteiro tão afinado e tão afiado.

03/06/2007

DEZEMBRO CHEGOU E EU NEM TE BEIJEI.


Agora que o ano já está no fim (...) já posso entrar com minha lista de “melhores de 2007”.

Este ano está repleto de lançamentos interessantes e retornos triunfais, como do Rufus, Sinéad O’Connor e Björk.

Já tenho os álbuns desses três, e do Rufus já falei exaustivamente aqui. Então vamos aos outros:

Não se assustem com meu cisne. Ainda voltarei fantasiada de maçã.

Björk – Volta. O cd de retorno de Björk à música “eletrônica” - se é que se pode dizer isso– depois das experimentações dela e da loucura do álbum “só de vocais” que ela lançou em 2004, "Medulla". O problema é esse, depois de ter lançado coisas assim, voltar ao que ela fazia parece preguiça. Além disso o álbum é um pouco seco, parece faltar um molhinho, um cuidado maior com as melodias. Tem faixas bonitinhas, umas batidas macumba empolgantes, mas nada incrível. Mesmo a participação do Anthony, na faixa "Dull Flame of Desire" é previsível (TODO mundo já trabalhou com ele).
Pena, porque eu estava numa fase tão Björk... Ela praticamente me perseguiu pela viagem. Comprei o DVD dela. Ligava o rádio tava tocando o álbum novo, ligava a TV e passava "Dancer in the Dark". Bom, fica pra próxima...



Você se lembra da minha voz? Pois é, ela mudou. Mas meus cabelos - que cabelos? - continuam iguais.

Sinéad O’Connor – Theology. Primeiro álbum de composições próprias dela em sete anos. Ela andava meio lesada, lançando álbuns de reggae, de música irlandesa, tudo meia-boca. E agora, apesar de lançar um álbum de temática religiosa – cada música é baseada num salmo – prometia detonar. O primeiro single “If You Had a Vineyard”, lançado no final do ano passado, é das melhores coisas que ela lançou na vida (cheguei a tocar no meu programa de rádio), e eu tinha grandes expectativas em relação a esse álbum. Decepcionou, não muito, mas decepcionou. Há faixas bonitas como “33” e “I Dont Know How to Love Him”, mas nada no nível de “Vineyard”. Além do mais, é um álbum duplo, com as canções em versões acústicas num cd e arranjos mais elaborados no outro, sendo as versões acústicas dispensáveis. A voz de Sinéad também não está na melhor forma, mas ao menos ela mostra novas formas de cantar, aproveitando sua falta de fôlego como um charme.


"Patrick, seu fotolog é fodástico. Posso linkar ao meu?"

Patrick Wolf – Magic Position. Escutei bastante durante a viagem. Ele é bonitinho. As músicas são bonitinhas. Mas realmente é mais pretensioso do que sofisticado. Ele não é grande compositor, então capricha nos arranjos, mete uns violinos e está tudo certo. Há alguns momentos bem camp como em “Augustine”. Ainda assim, eu gosto. É ruim, mas eu gosto.


Estou velho, cansado, não tenho mais ânimo para produzir fotos. Mas ainda sou gatão, vai?

Tem também o álbum solo do Brett Anderson, que eu escuto exaustivamente desde fevereiro. Na verdade não é grande coisa também, é que eu sou fã. Se comparar com artistas como Sinéad ou Rufus, Brett empalidece. Além do mais, tem aquele ranço de “disco adulto”, colocando na prateleira junto a gente como Sting, Phil Collins e (infelizmente) Annie Lennox.

Fora esses lançados este ano, comprei recentemente coisas um pouco mais antigas: “Martha Wainwright", o disco solo da irmã do Rufus. Ela é boa. Tem músicas lindas. Mas não me apetece muito. Continua sendo irmã do Rufus. “Meat Loaf – Bat Out of Hell III”. Haha. Ok, não dá para levar a sério. Mas eu escutei tanto os “Bat Out of Hell I e II”, na adolescência, que não pude deixar de levar quando vi esse terceiro exposto. É a mesma merda, ópera-rock-metal-melócido. É divertido. Mas não tenho mais idade pra isso.

E tem o EP ao vivo do Royksopp, lançado ano passado. Esse sim, do caralho, como TUDO o que o Royksopp faz. Eletrônica escandinava de ponta. Eu até iria ao Skoll Beats se eles viessem...

Hum, isso era pra ser uma lista de melhores do ano. Agora que vi que meti o pau em tudo... Será que vou ter de falar de novo do Rufus?
Bom, tem várias outras coisas moderninhas e modernosas sendo lançadas, coloco aqui mais pra frente, talvez numa lista real de "melhores de 2007". Posso dar uma dica e dizer que já escutei o novo (ainda não lançado) cd dos queridos amigos do Ludov - Disco Paralelo, eu assino o release deles. Está bem diferente, melancólico e bonito. Deve sair nos próximos quinze dias.

Conclusões:

Melhor Álbum de 2007 (ok, ok, até agora): “Release the Stars” – Rufus Wainwright.

Melhor música de 2007: “If You had a Vineyard” – Sinéad O’Connor.

Vai aí a letra (genial, apesar de “cristã”):
If You Had A Vineyard.
If U had a vineyard
On a fruitful hill
And U fenced it and cleared it
Of all stones until
U planted it
With the choicest of vine
And U even built a tower
And a press to make wine
And U looked that it would bring forth sweet grapes
And it gave only wild grapes
What would U say?
Jerusalem and Judah
U be the judges I pray
Between me and my vineyard
This is what God says
What more could I have done in it
That I did not do in it?
Why when I ask it for sweetness
It brings only bitterness
For the vineyard of the Lord of Hosts
Is the house of Israel
And the men of Judah
His pleasant plant
And he looks for justice but beholds oppression
And he hopes for equality but hears a cry
Jerusalem and Judah
This is God's reply
Sadness will come to those who build house to house
And lay field to field 'til there's room
For none but U to dwell in the land
Oh in the land
And sadness will come to those who call evil good
And good evil
Who present darkness as light and light as darkness
Who present as sweetness only the things which are bitterness
For the vineyard of The Lord of Hosts
Is the house of Israel
And the men of Judah his pleasant plant
Oh that my eyes were a fountain of tears
That I might weep for my poor people
For every boot stamped with fierceness
For every cloak rolled in blood
Jerusalem and JudahI'd cry if I could

PS - Ah! Devo dizer também que COMPREI o último álbum da Madonna – “Confessions on a Dance Floor”(sim, só agora, acha que eu estava ansioso?). Tinha algumas músicas ecoando no meu ouvido, achei o disco baratinho e resolvi conferir. E digo porque é ruim: tem músicas ótimas, graças aos produtores. Fizeram ótimas batidas eletrônicas, chupando uma coisa setenta, uma coisa Kylie Minogue. Mas quem estraga tudo? Madonna. O álbum não pode seguir seu curso natural, se assumir como um álbum de música eletrônica, porque a voz (voz?) dela TEM de estar em primeiro plano, numa mixagem que não faz o menor sentido para o tipo de música que se destina. Além do mais, que letras são aquelas? “I don’t wanna hear, I don’t wanna know, so please don’t say you’re sorry, I heard it all before and I cant take it anymore.” Eu é que já ouvi tudo isso e não posso mais. Existe letra mais óbvia que essa? Ela nunca cantou isso antes? Me surpreende que não tenham aparecido hordas de compositores de terceira linha processando-a, dizendo que eles já haviam escrito letras idênticas.

Mas se você é, tipo, um gay de 14 anos, eu posso entender porque é fã de Madonna.

NESTE SÁBADO!