24/06/2007

DE VOLTA AO SANGUE DERRAMADO



Foto de Marcelo Bolzan e Monika Jung, baseada no meu “Feriado”.


Madrugada de sábado. Estou bem bonzinho aqui em casa. Ganhei um sofá novo e acho que tenho medo dele estranhar o apartamento e chorar, latir, miar, acordar os vizinhos. Estou tomando conta, tentando ler, tentando escrever.

Meio sem foco para leitura. Aquela coisa, não basta procurar os grandes autores. Você pode ler os clássicos, os obrigatórios, mas são raros aqueles que entram para seu time particular. Para mim, nunca foi Machado, nunca foi Clarice, posso reconhecer a importância de um Guimarães Rosa, mas não levo para dormir comigo.

Para quem ainda quer saber - aquela pergunta respondida exaustivamente por qualquer um que escreve - os que identifico como família e influência: Wilde, Mann, Kafka, Saki, Noll, Caio, Lygia, Moravia, Mishima, Dennis Cooper e talvez poucos mais... talvez mais nenhum. Quero dizer, tem vários outros livros dos quais gostei, mas não de autores com quem eu realmente me identifique, que toquem profundamente. Talvez seja assim mesmo, talvez eu escreva para completar o que falta. Mas quero tanto encontrar tantos outros para minha família...

Tenho lido bastante a família da minha mãe, livros indicados/presenteados por ela. Em geral são contistas norte-americanos dos pequenos detalhes, como Raymond Carver, Flannery O´Connor, Sam Shepard. É bom ter uma mãe que não lê auto-ajuda.

Estou revirando também os “40 Livros” comemorativos dos 40 anos da Nova Fronteira (recebi todos aqui, ano passado). São todos obrigatórios. Alguns estão entre meus favoritos. (tem até um com prefácio meu – O Senhor das Moscas – do William Golding). Quero ver se consigo me enganchar bonito em algum deles.

E estou traduzindo mais um livro delicioso da Rachel Cohn, para a Record. É uma coisa para adolescentes rebeldes reais e descolados, e me dá vontade de comer comida chinesa. Todo livro que eu traduzo me traz alguma grande nóia gastronômica.

Em música, estou pior do que auto-ajuda. Depois de comprar “Bat out of Hell III”, do Meatloaf, dei para revirar o catálogo do balofo e voltei a ouvir o “Bat out of Hell I”, de 77. É péssimo, mas é ótimo. Breguíssima, mas muito bem feito, com aquele tom grandioso de musical/ópera-rock, que ele tentou reproduzir nas continuações, mas não deu certo. Escute “Paradise By the Dashboard Light” e confira o que estou dizendo.

Outro trevoso que voltou (ao cenário e ao meu Ipod) é o... posso dizer? MARILYN MANSON. O álbum novo dele é excelente... Ok, não é tão bom assim, mas é a melhor coisa que ele lança desde Mechanical Animals. E “Heart-shaped Glasses” é o melhor single desde “Beautiful People”. O álbum tem um tom mais pra baixo do que os anteriores, mais deprê, menos furioso. Só a voz miada do Manson que cansa um pouco, e é a mesma do início ao fim.

(Sim, eu já fui mansomaníaco, na época do Antichrist, óbvio. Cheguei até a conhecer o “Reverendo”, quando ele veio ao Brasil.)

Manson says: "Well, well, é só eu sair pra beber água que os emos invadem tudo aqui..."

Terminando com a sangria desatada, recebi esta semana lindas fotos baseadas em “Feriado de Mim Mesmo” (uma delas é aquela lá de cima), feitas para um trabalho de faculdade. Bom saber que o livro continua rendendo (e vendendo). Há uma adaptação para teatro em processo (que eu ainda não vi), o roteiro para cinema (que voltou a ser pensada por mim e pela Lilly Caffé) e estamos negociando a publicação do livro em espanhol. É meu maior hit, embora “Mastigando Humanos” tenha tido mais repercussão na imprensa.

E meu QUINTO romance vai bem, obrigado. Mas antes dele você pode ler os outros que faltam.

Ps - Estou tentando me deprimir nesta noite de sábado, mas não estou conseguindo...

NESTE SÁBADO!