EVERYTHING WILL FLOW
Faz frio ou sou só eu?
Não sei se é frio, não sei se é fome.
Pode ser só gula que me faz comer.
Só frio, que me faz ter fome.
É fome ou sou só eu?
É fome ou estou só?
Pode ser frio, que me faz querer.
Pode ser só que eu queira comer.
Comer para matar o frio.
Ter frio, por estar só.
E dormir para esquecer.
Comer, para melhor dormir.
Dormir, para fugir do frio.
Fugir, para não estar só.
Verdade que em dias como hoje não sei se estou com frio, se estou com fome, se é só gula, carência ou sono. Carência que faz ter frio. Ou frio que faz ter fome. Gula pela carência. Frio que me faz querer...
Ai, estou me repetindo. Prometo que essa é a última mordida. Depois vou dormir.
Continuando com a crise de meia-idade, fiquei pensando que não se pode mesmo confiar em ninguém com mais de 30. Essas pessoas nem sabem se têm frio, se têm fome, se estão só carentes, com sono ou recalcadas.
A verdade, é que depois da "passagem" a gente acredita que tem de ficar mais adulto... ou mais sofisticado. Ou a gente fica com preguiça do esforço, do ímpeto e da transgressão, e acaba se conformando com tanta coisa que a gente nem acredita.
Tenho me pegado tanto analisando meus valores. Acho que estou me tornando uma pessoa pior. Acho que meus valores são discutíveis. Mas então, encontro as pessoas que estudaram comigo, as pessoas da minha idade, as pessoas mais velhas, dos mesmos círculos, e elas estão todas assentindo e reafirmando os maiores absurdos que eu pratico, mas não concordo. Elas estão reafirmando valores em que eu penso, mas não admiro. Elas se permitem indulgências, deslizes, futilidades e as elevam para categoria de qualidade.
Ou isso sempre aconteceu, mas eu estou só mais crítico, mais paranóico ou noiado?
Ai, estou chato. Compro mais um sapatinho que passa.
Por isso eu digo: faça enquanto é tempo. Faça cedo. Busque logo para você os rótulos de revelação, promessa, prodígio. Tudo o que você conquistar depois não terá graça, não terá validade, será apenas sua obrigação. E cada comemoração na sua vida virá acompanhada de uma dor nas costas.
"Esta é praticamente a minha praga do dia!" - diz Zé do Caixão.
Voltando à objetividade, esta semana conferi a estréia do novo curta do Esmir Filho, "Saliva". Esmir é o jovem e talentoso cineasta que dirigiu não apenas o "Tapa na Pantera" como vários outros curtas, clipes e projetos mais elaborados.
Em "Saliva", ele retoma uma temática constante em seu trabalho: "as primeiras experiências da adolescência". No caso, o primeiro beijo de um menina de doze anos, que tem nojo de saliva, mas acompanha toda a expectativa das colegas. "Saliva" é um belo exercício de fotografia, com uma puxada fluida, que já estava presente em seus curtas anteriores e lembra um pouco trabalhos como o do Nick Knight (acima), embora não tão extremo. O tom é meigo, suavemente melancólico, reafirmando a sensibilidade de Esmir. Vale a pena esperar (e torcer) pelo que ele vai fazer em longa, porque com certeza ele tem um olhar que vai fazer diferença no cinema brasileiro.
Cena do curta.
E terminando com juventude, frio, fluidos e paranóia, ontem assisti ao "Dark Water" original do Hideo Nakata (sim, só ontem). Não gosto dele. Prefiro, por exemplo, "O Chamado" americano. Mas com certeza o "Dark Water" dele é melhor. Porque se continua sendo um filme pau-mole (essa coisa de fantasmas terem carência, frio e sensibilidade é o pior do cinema de horror oriental. Fantasma tem de der mau, tinhoso e fodão, tipo o Jason e o Freddy Krueger, hahaha) pelo menos tem um tom creepy dessa cultura esquista. É tudo meio absurdo, tudo mal explicado, tudo com umas mensagens subliminares que fazem o cãozinho da Xuxa levantar dos mortos.
Bem, agora vou jantar.
Ps - Música do dia, já ia me esquecendo, "The Lunatic" do segundo álbum do Elefant. O solo de guitarra vale por toda a letra, e diz: "the party is done". Eu entendo perfeitamente....