08/07/2007

VENENO DE COBRA E LÍNGUA DE GATO

"Não arrasto o R, só estou rrrrronrrrronando."




Oh, me perdoem! Me perdoem! Nunca recebi tantos emails, scraps e reclamações quanto pelo último post da Clarice. E isso porque eu estava falando bem! A comunidade gay não se manifesta tanto assim nem quando eu xingo a Madonna!


Haha.


Ok, ok, mocinhos, mocinhas, queridinhos e queridinhas me escreveram primeiro para falar que Clarice não tinha sotaque de estrangeira - que era um misto de língua presa com sotaque nordestino (mas ainda acho que tem algo de fora aí, um "R" arrastado... sei lá), depois para "justificar" o conto "Aniversário", que coloquei no final do post. Ninguém disse ser uma pérola, claro, mas me disseram que era só um texto para jornal, que ela estava com dor de cabeça no dia, que ela tinha psicografado do exu-caveira, etc e tal. Então muito bem, o pior foi encontrar esse texto no livro "Os Melhores Contos de Clarice Lispector", da Global.


Mas era só para dar uma relativizada, contestar essa noção de "infalível", o que faz com que alguns autores acabem sendo sacralizados, perdendo-se o discernimento para analisar suas obras com a profundidade que merecem.


Então resolvi fazer a liçãozinha de casa, fui até a livraria, comprar os livros de Clarice que eu não tinha (inclusive um de entrevistas)


Não sou especialista nela, é verdade. Tenho de ler muito ainda, e muitos outros autores clássicos. Muitos autores "obrigatórios" eu ainda não li. Por isso você entende se eu não puder ler os contos que você me mandou, nem o link do seu blog, né?


Comprei também Marçal Aquino - "Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios" - que está na minha lista há tempos.

Até agora, o melhor livro que li este ano foi "O Desconhecido" do Lúcio Cardoso. É o que se pode chamar de creepy, estranho e poderoso. Vai trecho (para os fãs de Madonna):

Lá fora a manhã devia estar nascendo, qualquer coisa como uma neblina começava a penetrar docement no quarto. A lamparina agonizante iluminava o rosto adormecido de Paulo. Então, José Roberto aproximou-se da cama, abaixou-se, fitou um minuto a face mergulhada no sono. Que veria ele no rosto sereno do adolescente? Pela janela chegavam os cantos dos primeiro galos - e o homem julgou sentir também o perfume matinal dos campos, o gosto das ervas úmidas e das fontes escondidas no seio obscuro da mata. Aquilo chegava em ondas pela janela estreita, rompendo os limites escuros daquela prisão. Qualquer coisa pesada, qualquer coisa que parecia ter sido acumulada ali por longos anos de silêncio e solidão, cedia, rompia como um bloco de gelo no seu coração. No rosto de Paulo, ele parecia contemplar pela primeira vez a sombra fugitiva e insuspeitada do Amigo.


Agora vou falar mal de Machado...

NESTE SÁBADO!