"Por hora, minhas medalhas ficam no lugar do coração."
Faz 30 anos, blablablablá...
Passei a semana inteira trancado, mas com um rapazinho andrógino com franja na cara (é o que poderíamos chamar de emo?), sem conseguir sair do apartamento. Não o meu, não o dele, dela, a (anti) heroína do meu próximo romance. Trancado num capítulo de um rapazinho andrógino trancado num apartamento lendo sobre ele mesmo trancado num apartamento lendo sobre ele. É que meus capítulos são longos. E tenho avançado uma página por dia. Uma página sobre ele. Ele então não sai do lugar. Eu não saio do lugar.Ninguém sai do lugar. Você volta uma semana depois, e eu ainda estou aqui, trinta anos depois...
Falando em capítulos, coloquei capítulos e trechos dos meus quatro romances publicados num link aí do lado. Serve como uma amostra grátis. Para tanto, EXCLUÍ os contos que estavam lá. Não gosto mais deles. Não gosto mais dos meus contos. Não gosto mais de contos. Não escrevi um único conto este ano, e acho que não escreverei. Se surgir uma boa idéia (ou uma boa proposta) posso voltar a tentar, mas no momento, o formato conto não traz nada do que eu preciso. Nem tenho orgulho dos meus contos antigos, acho que não estão no mesmo nível dos romances, então deletei.
Por outro lado, exercitei várias crônicas este ano, publicadas em diversas revistas e jornais. Acho que elas cumprem melhor o papel de satisfazer necessidades imediatas, de fazer uma ponte entre o universo interno e o que está acontecendo lá fora. Só não me peçam para escrever sobre o Pan...
Fora essas olimpíadas internas, o que posso contar? Não muito, meu amor. Está nevando lá fora, estamos todos hibernando. Mandei meu São Bernardo resgatá-lo, amaciá-lo com conhaque e trazê-lo até mim, onde ressuscitarei seus lábios roxos com meu sangue azul.
(Hibernando, azulando meu sangue, para que possa ressuscitá-lo quando estiver devidamente amaciado... pelo conhaque do meu São Bernardo.)
Não, Santiago, este não é São Bernardo!!!
Oh, não, cachorros e conhaques nunca mais!
Para não dizer que não fiz nada, fui ao grande show dos amigos do Ludov, ontem no CCSP. Eles tocaram como quarteto - Vanessa assumindo a guitarra, Mauro e Habacuque revesando no baixo - e mandaram muito bem (bem, isso é o de sempre). O público meiguinho "Harry Potter" saltitou, gritou e cantou junto até as músicas novas. Fico emocionado. Conheço a banda há tanto tempo. Acompanhei toda a trajetória, vi músicas nascendo, fui em gravações. Acabo tomando o sucesso deles como um sucesso da minha geração. Eles merecem e sempre mereceram.
É mais ou menos a mesma sensação que tive quando fiquei sabendo de um amigo meu de infância - daqueles cheios de aviõezinhos pelo quarto, que me enchia o saco mostrando fotos de caças e jatos e toda essa porra - que se tornou piloto de verdade, piloto de avião.
Bem... agora ando meio apreensivo por ele.
E acho que é essa a sensação que meus antigos amigos devem ter quando vêem que me tornei escritor (devem ficar apreensivos, com medo que eu derrape na pista).
Oh, estou me tornando sentimental. Não enferruje, homem-de-lata.
Voltando à família Ludov, estou escutando o novo cd do Pato Fu. É bom. Melhor do que anterior. Tem a boa dosagem entre o pop e o esquisito (com leves pitadinhas alternativas), que os emergeu do indie, há quase uma década. A latinona "Tudo Vai Ficar Bem" dá para ser hit de FM, tocar no Gugu, e é boa. Tem coisas clássicas Pato Fu, como "Quem Não Sou" e "Mamã Papá" - falando em mamá-papá, o disco parece ter sido concebido em parte como uma canção de ninar para o filho da Fernanda com o John. Os vocais são bons para isso. Mas eu senti falta dos vocais do John. Gostava quando ele cantava. E não consegui engolir o cover de "Cities in Dust" (bem, essa música já está TÃO desgastada que nem mesmo com a Siouxsie... Entrou para categoria de músicas "insofríveis", como "Kiss", do Prince, "Groove is in the Heart" do Deelite, e "Bizarre Love Triangle", do New Order. Pelamordedeus, gente, NÃO DÁ MAIS!!!)
Para terminar, recebi em casa o cd de estréia da Cláudia Wonder, trans antológica da noite paulistana. O cd tem ótimas bases eletrônicas (do ex-duo Visavis) e letras hilárias da Cláudia (como o "Ursinho Misterioso", que já é clássico no meu apartamento). Um petiz para quem mostrei disse "isso sim é elektro de categoria". Minha faxineira ouviu a letra e ficou desconfiada: "Deve ser besteira. Com uma voz dessas, falando de 'doce de padaria', deve ser alguma bobagem."
Imagine, poesia pura.