27/06/2008

CONVIVENDO COM UMA OBRA DE ARTE



Esta semana assisti “Elefante” pela segunda vez. A primeira tinha sido no cinema, depois nunca mais. Recentemente comprei o DVD, e agora vou assistir todos os dias, todas as noites, sempre antes de dormir e quando eu ainda não tiver acordado direito...



Eu já tinha adorado o filme. Gostei ainda mais agora. É dos filmes que mais gosto. Um tipo de filme que eu gostaria de fazer. O meu tipo de filme, como os do Tsai Ming-Liang, como “Morte em Veneza”, onde não acontece muita coisa, mas é tudo bonito e você acompanha o movimento realizando os diálogos internamente.


Talvez mais ou menos como eu sonhe que seja o filme de “Feriado de Mim Mesmo”.


Revendo “Elefante”, relembrei um parágrafo do livro do Gus Van Sant que eu traduzi, onde ele fala sobre a temporalidade (ou transitoriedade?) do cinema. Que um filme é feito para ser assistido uma vez, talvez revisto só mais uma vez na vida, e só. Guilherme de Almeida Prado também questionou esse caráter perecível do cinema em seu discurso na pré-estréia de "Onde Andará Dulce Veiga". Mas acho que essa relação mudou bastante com o reposicionamento do DVD. As fitas VHS não eram um produto para se TER como é o DVD hoje. A estratégia de comercialização do DVD mudou o posicionamento das pessoas em relação ao cinema; filmes se tornaram algo para se comprar (ou para se baixar, o que, neste caso, dá na mesma= TER), como os CDS.

Resta saber se essa nova posição do público em relação aos filmes, alterou de certo modo a maneira de se FAZER cinema.

E isso me levou a pensar na relação de convivência (ou repetição) que o público tem com a arte em geral (ou com as diferentes artes). Você sabe, a repetição sistemática faz parte de uma maneira bastante infantil de se relacionar com uma obra. As crianças pedem para ouvir a mesma história, rever o mesmo filme, ouvir o mesmo disco, exaustivamente. Estou longe de ser teórico no assunto (e ainda mais longe em ser especialista em psicologia infantil) mas acho que é uma maneira de incorporar a obra ao repertório pessoal, talvez de afastar o estranhamento ou de conseguir assimilar totalmente o conteúdo.

Nos adultos, a repetição se dá principalmente com música, é claro. Até porque, o caráter não exclusivista da música permite que você possa encaixá-la nos mais diferentes momentos do cotidiano. Mas, independentemente disso (e da duração), por que temos prazer em ouvir uma música repetidamente e não temos o mesmo prazer com um filme?

Assim como os filmes, muitas músicas também se perdem na repetição. E não estou dizendo apenas de músicas que você ouve tanto que não agüenta mais – estou falando do significado da música. Quantas músicas se tornam trilhas de um momento da sua vida, de uma viagem, de um namoro, mas você ouve tantas vezes depois, que ela perde esse significado?

Comigo acontece direto. Uma música se torna importante por um momento da minha vida, por eu escutar direto em algum momento, em alguma viagem, com alguma pessoa; daí eu acabo comprando o cd (ou baixando o arquivo) e escuto tantas outras vezes - diariamente no Ipod, talvez – que eu até esqueço do que a música me lembrava. Talvez ela ainda possa ser apreciada por suas qualidades próprias, mas perde o sentido sentimental particular para mim.

Nesse caso, a convivência esvazia a obra de arte em si? Ou apenas esvazia seu valor subjetivo e mantém o valor artístico?





Pensei nisso hoje também, revendo os clipes do Radiohead. Comprei aquele DVD, “Best of”. Radiohead era uma banda que eu gostava bastante na minha adolescência (well, eu vivi o britpop, you know, hehehe), mas deixei de ouvir há tempos. Revendo agora clipes como “Creep”, “My Iron Lung”, “High and Dry”, fiz uma conexão direta com meu colegial, com a menina que eu namorava, com as primeiras experiências com drogas, sexo, rock and roll...




E SUEDE, por exemplo, é uma banda que era muito mais importante pra mim na época. Uma banda que é muito mais importante hoje, que fez muito mais parte da minha vida. Mas que, ouvindo agora, não me desperta mais essas lembranças como Radiohead, porque eu ouvi tantas e tantas vezes em todos esses anos, que perdeu o sentido específico.

E com a literatura?

Bem, livro é aquela coisa, como cinema no passado, que você lê uma vez e nunca mais. Acho isso um pouco triste. Um pouco cruel. Um pouco... pouco, na verdade. Porque hoje já há tantos livros que eu li, gostei, adorei... mas que nem me lembro exatamente por quê. Não há? Vira e mexe alguém comenta de um livro comigo, e eu posso dizer apenas que li, que adorei, porque lembro da sensação que tive com o livro, mas não posso mais comentar nem mesmo a trama.

Às vezes eu sinto que ler um livro apenas uma vez é como não ler nenhuma.

Claro que isso pode ser relativo. De repente, aquela obra lida é incorporada de alguma forma no seu repertório, mesmo quando você deixa de ter consciência sobre ela. Ou melhor, “de repente” não, é assim que acontece, pelo menos comigo. Vira e mexe eu releio um livro que li há tempos e me surpreendo. “Meu Deus, mas isso é muito ‘Mastigando Humanos’”.

Quanto aos meus próprios livros, é claro que é diferente. Porque eu acabo relendo tantas vezes – no processo de escrita e de divulgação – que eles são incorporados de outras formas. As frases ficam flutuando na minha cabeça e fazem parte da minha vida (até porque, foram tiradas dela). Então, quando tiro o lixo de casa, me vêm: “espero que o saco plástico resista ao meu peso”. Quando vejo os passarinhos na rua penso que “se eu tivesse asas, não me prenderia a detalhes”. E por aí vai.

Recentemente, comecei a me incomodar, porque achava que meu livro novo não tinha nenhuma dessas frases - aforismos – circulando por minha mente. Daí reparei que era apenas porque eu ainda estava trabalhando nele, porque não tinha relido o suficiente, ainda não tinha reincorporado.

Voltando...

Sinto que tenho uma posição privilegiada (ou apenas diferenciada?) em relação a várias obras de arte, por causa de meu trabalho. Como os livros que escrevo, que tenho de reler; o mesmo com as traduções que faço, tanto de livros quanto de filmes, peças. Sou obrigado, por exemplo, a ver o mesmo filme vezes e vezes seguidas, em dias consecutivos, por causa de uma tradução e da legendagem. O mesmo quando traduzo uma peça em cartaz, que sou obrigado a assistir (com extrema atenção) diariamente. (“Cimbeline”, por exemplo, assisti 15 vezes, em dez dias, sem contar as vezes que vi em DVD).







Mas considero isso realmente um privilégio. É uma forma de estudo, de aprendizado.

Uma das minhas irmãs é palhaça (digo, no bom sentido... digo, no sentido LITERAL). Já fiz alguns trabalhos pra companhia dela, e acho interessante eles sempre defenderem com tanta veemência a improvisação. Num artigo que traduzi para a revista deles, uma palhaça (literalmente) nova-iorquina dizia que detestaria ser atriz, fazer toda noite a mesma coisa; e uma grande defesa dos palhaços (e improvisadores em geral) é essa, poder fazer cada noite uma coisa diferente. Mas eu acho que, como artista, teria mais prazer na repetição. Eu acho que consigo entender mais o prazer da repetição. E se eu fosse um palhaço que realizasse certa noite uma apresentação excepcional, iria querer repetir (e depurar) aquela apresentação na noite seguinte.

Muito bem – cinema, música, literatura, teatro... ARTES PLÁSTICAS.

Em artes plásticas, a priori, não existe repetição, é uma permanência, não? Eu realmente não conseguiria avaliar se uma obra que você viu uma vez num museu, e despertou certos sentimentos, poderia relembrar aquele momento ao ser avistada novamente; mas isso não importa, porque não acho que seja essa relação que as pessoas (normalmente) têm com a obra de arte. As pessoas não dizem: "vamos ao MASP rever aquele quadro que vi pela primeira vez numa exposição na Suíça". Não sei se há essa repetição...

Há, claro, as obras de arte particulares, mas essas se tornam tão permanentes, que entram para a esfera da decoração conteudista (Haha, gostei desse termo). E não me leve a mal, meu pai é artista plástico, cresci rodeado por quadros, tenho alguns (não apenas dele) aqui em casa. Mas a relação de “repetição” do espectador com a obra de arte plástica simplesmente não existe. Ou é uma experiência única ou é uma onipresença que torna a obra um objeto decorativo – ainda que repleto de significado – tanto quanto um sofá, uma foto, um eletrodoméstico.

Enfim, papo longo, e como as artes plásticas não se restringem a isso, eu sugiro que você vá ver a mostra da Marina Abramovic na galeria Brito Cimino, aqui em SP – embora, para esse tipo de arte, uma mostra não seja das coisas mais representativas.






Ps - E se parece que não concluí nada, é porque meu blog ainda não acabou....

23/06/2008

MINHA CASA CONGELADA

Minha mesinha querida, onde escrevo estas porras.


Acabooooooooooou!

Devo dizer que é uma delícia estar aqui, de volta em casa. Esta noite, depois de uma semana de SPFW, sinto um prazer especial em estar na minha mesa, na minha bagunça, sozinho, ouvindo Sex Gang Children, tomando um drinque e escrevendo.

Eu com André do Val no desfile de Pedro Lourenço.

Mas é daqueles prazeres que só são sublinhados por sua suspensão temporária. Sabe como é, há 6 anos não tenho um trabalho fixo. A maior parte do tempo trabalho aqui em casa. E às vezes é um tédio torturante. Por isso é especialmente gostoso voltar para casa – para ficar – depois de uma semana de intensa atividade social.
Guima e eu.

Para você, que está pensando em viver de freelas, abandonar a estabilidade, fazer seus próprios horários, o que tenho a dizer: é difícil. Sei bem como há meses trevooooooosos, em que não aparece nada (ou aparece só gente pedindo texto de graça – caras de pau da porra!!!), mas também há meses em que ganho muito mais do que qualquer trabalho fixo poderia pagar. É preciso saber poupar. E é preciso ter bons contatos, muitos contatos, se diversificar. Eu acho que só consigo sobreviver assim porque exerço as mais diferentes atividades: dublê de jornalista, tradutor, legendista, roteirista, resenhista, fashionista, publicitário e.... nas horas vagas, ganho um troquinho como escritor. (Não é modéstia, não, é sinceridade. É a atividade que me paga pior, de todas essas. Ainda que me dê certo prestigio para realizar as outras.)

É gostoso realizar todas essas atividades, de qualquer modo. Eu gosto. É uma delícia ficar quinze dias em temporada traduzindo uma montagem britânica de Shakespeare, depois fazer roteiros para programetes de TV do Motomix, traduzir um livro aqui em casa, viajar para Brasília para legendar uma mostra de filmes e pra Ribeirão Preto para participar de um debate. Essa diversidade é a maior graça da minha vida.
E, claro, a melhor coisa de viver de freelas é não ter patrão, fazer seus próprios horários, acordar a hora que quer, etc. Mas para isso, você precisa ser seu próprio patrão, tem de ser obsessivo (e quem já trabalhou comigo sabe como sou obsessivamente pontual nos prazos de entrega - pena que as datas de pagamento sejam sempre flutuantes...). Por isso criei aquela máxima: "quem tem a si mesmo como patrão, tem como empregado um escravo."
Enfim...

Muito bem, o que quer saber do Fashion Week?

Minha credencial (é, mandei a foto errada e fiquei babado a temporada toda)

Foi divertido. Confesso que comecei bem sem gás. Estava com preguiça de fazer. A edição passada tinha sido muito tensa pra mim. Mas esta acabou sendo bem legal. Minha proposta ajudou, né? De pegar o povo da última fila, gente simpática, que queria aparecer, que não fazia tipo, que descia do salto. Eu também pude fazer uma paródia de mim mesmo, e ironizar um pouco essa cultura de celebridades; ontem mesmo uma das perguntas que eu fazia aos meus “entrevistados” era “ver a Gisele pra quê? Não é melhor você procurar a sua Gisele exclusiva e pessoal?”

Eu procurei. Não encontrei. Mas o que vale é que nem quis saber da oficial. Haha. (Acho que se eu tivesse de ir atrás dela e de outras celebridades reais eu me mataria.)
Eu com a patroa Erika, na redação.

E todo mundo foi fofo, foi simpático, fiz novos amigos para o sempre desta semana. Tá valendo, vai? Porque por mais que eu não encontre esse povo até a próxima SPFW (até porque, não tenho saído nada de noite), reencontrei muita gente de edições passadas que continuou querida, que foi gostoso reencontrar...

Jana-janessa e eu, no carão.

O pessoal do Journal, da Erika Palomino, também é ótimo de se trabalhar. Gente que respeita meu trabalho, que confia em mim e deixa eu fazer do meu jeito. Nessas três temporada que trabalhei com eles, meus textos só eram cortados quando estavam grandes demais (ainda assim, eles sempre me consultavam). O meio literário pode ser muito mais mascarado e pouco profissional.
Marília, fotógrafa da minha coluna e minha melhor amiga desta temporada.

E agora? Você me pergunta. Bem, esta semana quero voltar a roteiros pessoais, uns projetinhos que estão meio parados... E, como você sabe, está vindo livro novo aí:




(Só não me pergunte a data, porque AINDA não sei.)

19/06/2008

TILT LITERÁRIO




Paranóia! Paranóia! Consegui terminar mais um livro do Dennis Cooper. Ou melhor, não consegui evitar de ler mais um romance dele. E mais uma vez me surpreendeu. Coisa das mais creepies, dessa vez numa direção bem diferente.

Estava acostumado com ele narrando sexo e morte de adolescentes junkies. Achava que era tudo sobre o que ele escreve. E escreve bem. Consegue sempre tornar o leitor cúmplice de sua paranóia, refém de suas obsessões, narrando da forma mais hardcore possível.

Em "God Jr" a história é bem diferente, mas o efeito é o mesmo.

Um pai de família chapado sofre um acidente de carro com o filho adolescente. O filho morre. O pai fica paralítico e obcecado em resgatar a memória do filho. Como faz isso? Jogando um jogo de videogame, nos estágios salvos pelo filho. O filho passava a vida trancado no quarto, jogando. Assim também fica o pai. Sabe quando você chega num ponto estranho de uma fase, onde acha que tem algum segredo escondido, alguma traquitana pra desvendar, e às vezes passa horas naquele ponto, mas na verdade não tem nada lá? Isso é "God Jr". Sim, é isso praticamente o livro TODO. O pai descobre um estranho monumento no jogo, decide construir aquilo no mundo real, em homenagem ao filho, mas passa dias tentando descobrir para que serve aquele monumento naquela fase (ainda que seja, possivelmente, apenas um elemento cênico).

E o livro fica nisso, paranóia de um jogador preso num ponto sem sentido de um videogame. Talvez a mim pareça mais creepy porque já estou consciente das bizarrices do autor. Mas ainda assim, acho que não tem como não enxergar a doença toda da coisa. Página e páginas descrevendo apenas um jogo de videogame. Com o protagonista imaginando o que os personagens diriam para ele. Olha só (na minha tradução):

“Primeiro você tem de entender uma coisa”, diz a planta. “O urso é o urso. Seus olhos têm apenas um grau a mais de vida do que a estampa de uma xícara. Você anda, você corre. Você mata, resolve enigmas. Não há muito na sua pessoa. Conhecemos você como um leão amestrado conhece uma cadeira de madeira. Quer dizer, não muito bem. Considerando isso, te digo uma coisa: Tommy passou semanas e semanas aqui sem fazer nada. Digo nada porque pode-se considerar imóvel um urso topiário. O que eu sei é o que o comportamento estranho dele provocou em nós. Por que ainda estamos aqui? Surgiram mil teorias. Pelo menos, nesta fase, nós conhecemos o problema. Nas outras fases... bem, deve ter sido um inferno. Imagina que você é criado para passar de dez a quinze minutos com um estranho e ele nunca chega. A introversão era uma tortura. Para todos os efeitos, nós somos os deficientes físicos. Eu mal posso me mexer. Sou como Stephen Hawkins, se o cosmos fosse um zoológico. Em todo canto deste jogo, criaturinhas tolas e folhagem bizarra se sofisticaram. Foi uma praga. Idéias se espalharam nos mais distantes confins deste jogo sobre esse urso que não fazia nada. Tendo esse dito privilégio de vê-lo, nós mantemos nossa cabeça no lugar. Mas nas outras fases, onde as criaturas tinham de sonhar, as questões se tornaram místicas. Que tipo de urso possui o poder de começar uma evolução tão terrível? Bem, um deus, claro. Então se você quer uma resposta simples, mas não tão simples, o consenso aqui é de que o urso do Tommy era Deus. Veja por si mesmo. Jogue as fases adiante e pergunte por aí.”


E fica nessa psicologia psicodélica páginas e páginas, com o urso matando personagens enquanto filosofa com eles. Bizaaaaaaaarro. Mas ainda assim, existencial. E uma prova de que pode-se falar de qualquer coisa, qualquer coisa, ainda sendo literário.

“Entendo porque todo mundo numa terra de faz-de-conta pensaria que um garoto que não faz nada é Deus”

Para mim, o poder deste livro é o mesmo dos outros do Cooper que eu li: seqüestrar o leitor nas obsessões do personagem. Lendo esse livro tive a mesma paranóia de quando jogava alguns jogos na adolescência, e não se restringe a isso. Dia desses, estava num vôo bem cedo de manhã; sentado na minha poltrona, tentava ler o jornal. Passei por aquela notícia das adolescentes que fugiram de carona para o Rio Grande do Sul, mas eu estava com tanto sono, não tinha acordado (nem dormido) direito, que passei uns dez minutos no mesmo parágrafo. Eu lia as palavras, mas achava que não tinha entendido exatamente o que diziam, ficava indo e voltando nas linhas, para assimilar exatamente o que dizia aquela simples mensagem. Mais ou menos como um urso empacado numa fase, tentando entrar num monumento que não esconde segredo algum, mais ou menos como God Jr.

Outro momento em que sempre tenho essa sensação é quando vou ao supermercado, você não? Ás vezes vou só pra comprar chocolate, ou vodca, e fico meio empacado nos corredores, indo e voltando sem conseguir chegar exatamente onde eu quero, sem direcionar objetivamente para o que eu fui fazer lá. Tem dias que a coisa fica séria e tenho a sensação de que passei HORAS perdido entre as gôndolas. Mas ou menos como Dennis Cooper...

E o pior é que eu acho que o jogo descrito no livro existe. E que eu joguei alguns anos na casa de um amigo no interior. Um amigo que não fazia nada a não ser se chapar e jogar videogame.

Paranóia... Paranóia...

Agora, o livro não foi lançado no Brasil e difícilmente será. Eu continuo na minha campanha para traduzir as obras dele por aqui, mas acho difícil alguma editora se interessar. Mesmos nos EUA ele é um a autor marginal, está longe de ser bestseller e só ganha prêmios de literatura alternativa. Mas, enfim, para mim ele é um pequeno Deus. E é bom a gente ter nossos heróis exclusivos.

Saindo do underground (mas nem tanto) para o glamooooooooour, estou aqui no SPFW. Cobrindo diariamente com minha página "Última Fila", no Journal da Erika Palomino. Tem sido divertido. Digo que é uma "coluna social dos excluídos". É uma delícia entrar nas salas dos desfile, ignorar todas as celebridades, o povo bacanudo sentado na frente e ficar procurando gente interessante sentada mais pra trás. Acho que é essa minha missão na Terra (não cobrir o SPFW, pelo amor de Deus, mas sim trazer uma visão diferenciada da realidade que há por aí. Mostrar o que os outros não mostram...)

Eu e Carol no SPFW (mostrando o que os outros não mostram)

16/06/2008

O FILHO BASTARDO DE LOU FERRIGNO


"Papaaaaaai, me leva ao cinemaaaaaaaa!!!"



Agora sim! Como é legal esse filme novo do Hulk. O anterior (de 2003) era tãaaaaaaaao ruim que dava dó. Tinha um Bruce Banner banana (o Erik Bana), um Hulk tosco de CG e um tratamento de comics pra lá de cafona. Agora temos (o ótimo) Edward Norton de protagonista e um clima mais próximo da série de TV dos anos 70/80 , com direito à trilha sonora original, uma abertura parecida, uma ponta do (antigo Hulk) Lou Ferrigno e toda aquela idéia do personagem como fugitivo, pedindo carona na estrada, tendo de viver de biscates, etc.

O filme já começa com nosso herói em plena Favela da Rocinha! (Pois é, não bastasse essa onda dos nossos cineastas focarem a realidade “Cidade de Deus”, agora os monstros de Hollywood também vêm para cá). E a primeira transformação do Hulk é numa fábrica de guaraná! Mas está tudo certo, porque o que falta no cinema nacional é fantasia, então que tragam o incrível Hulk!

Os inimigos e os combates também estão mais bacanas. O Hulk em si está mais soturno. Só repetiram a cagada de fazer o bicho em animação. Puta merda, Hollywood consegue transformar o Eddie Murphy numa mulher gorda, será que é muito difícil maquiar o Edward Norton como um monstro musculoso? Claro que o Hulk continua parecendo uma animação – um Roger Rabbit radioativo, digamos – e esse é o ponto fraco do filme. Acaba sendo mais legal as fugas e a expectativa em ver o monstro.

Eu sou fã do personagem desde que me lembro. Na verdade, minha lembrança mais antiga envolve o Incrível Hulk, sabia? Lá no comecinho dos anos 80 estreou aqui no Brasil o longa metragem baseado na série de TV (que eu assistia sempre). Lembro do meu pai saindo da nossa casa na Rua Turquia, colocando as coisas no carro, provavelmente se separando da minha mãe, e eu perguntando se ele ia me levar ao filme do Hulk.

Ele nunca me levou...

Continuando a psicanálise pop, fui ver Indiana Jones também. Também fez parte da minha infância, mas agora ou eu estou grande demais pra isso, ou é ele que ficou muito velho. O filme é chato. Chato. E o Indiana Jones em si não faz nada, nada. Tudo bem que Harrison Ford está com mais de 60 anos, mas o personagem sempre foi um professor de arqueologia que nas horas vagas se metia em estripulias tentando resgatar tesouros históricos. Podia muito bem ser interpretado por um tiozão. Mas parece que o roteiro faz questão de mostrar que Indiana Jones ficou velho. Então ele deixa toda a ação para um ajudante adolescente (que não tem graça nenhuma), e nem mesmo se arrisca em romances relâmpagos com Indiana-girls. Seu par romântico neste filme é a requentada (literalmente) Karen Allen. Chato.

(Sabia que uma das minhas memórias mais antigas é da minha babá me batendo com o chicote de Indiana Jones do meu irmão? Blábláblá...)

Fui ver também o show da Adriana (a Calcanhotto). Bacana. Bem gostoso. Musicalmente ótimo. Mas talvez falte um algo mais... É um show beeeeeem frio, com o que isso tem de bom e de ruim. Adriana não interage nada com a platéia. Ok, até conta umas histórias, mas sempre naquele tom mecânico, marca registrada dela. Sem problemas. Só acho que poderia ter algum movimento, principalmente pelo show tratar de mar, maré, podia ter um movimento, umas ondas, umas mulheres dançando vestidas de sereia (hahaha). Adriana fica estática. Os músicos ficam estáticos. O cenário fica estático. Para ouvir, foi lindo. Mas eu não compraria o DVD.

Adriana no Mar Báltico.


Hoje terminei aqui a tradução de mais um livro: “The Somnambulist”, romance de estréia do Inglês Jonathan Barnes. Bem divertido, uma coisa pulp meio Sherlock Holmes, sobre um mágico que investiga estranhos crimes numa Londres vitoriana. O livro todo é recheado de personagens freaks – mulher-barbada, homem-mosca, espiões albinos – e referências a clássicos da literatura. Foi legal de traduzir, ainda mais porque a editora (Mercuryo) me garantiu prazo e pagamento razoáveis (coisa rara hoje em dia), para se fazer um trabalho decente. Assim vou me tornando um tradutor e um escritor melhor.
Breve, nas boas casas do ramo.

E amanhã começa mais um SPFW. Vou estar lá o dia todo, todo dia, fazendo minha coluna “Última Fila” pro “Journal” da Erika Palomino. Quem não for lá na Bienal, pode encontrar o Journal encartado no Estadão, em algumas bancas. (Também vou estar com uma segunda coluna diária no Journal, mas essa é segredo, assino com pseudônimo. Você pode tentar adivinhar...).

13/06/2008

EMO FAZ, EMO MOSTRA.

Feliz Sexta-feira 13!!!


Eu já comemorei ontem, na virada do Dia dos Namorados. Ganhei o DVD da edição especial de “O Massacre da Serra Elétrica” original (de 74). Era o único que faltava para completar minha coleção dos clássicos básicos de terror. E essa edição (americana) está recheada de extras, cenas deletadas, comentários do diretor. Assisti bebendo champagne.



Feliz dia dos namorados!




E ontem de manhã fui e voltei a jato da Feira do Livro de Ribeirão Preto. Meu debate lá com o Galera foi beeeeeeeeeeeem legal, super cheio, com gente de pé, sentada, deitada, caída. Uma galera (sem trocadilhos) interessada, contestadora, que até levantou algumas polêmicas (teve uma pequena discussão do público com um jovem levemente exaltado que criticou de forma pouco delicada a pergunta de uma das meninas presentes). Amigos queridos também apareceram por lá de surpresa, e ainda gravamos uma entrevista bacana para uma TV local. Assim é que vale, porque a gente acorda 5h da manhã, pega vôo, volta correndo (tive de voltar ontem mesmo, direto do debate) e muitas vezes chega nesses lugares e não tem quase ninguém, parece que não faz diferença nenhuma você estar lá. Dessa vez não. Até porque dava pra ver que muita gente lá nunca tinha lido livro meu, mas queria conhecer mais, queria debater, entender qual era a proposta... Beleza.


Lucas, Nicolas, eu e Galera.


E hoje tem show da Adriana Calcanhotto, vai? Estarei lá, cantando e dançando ao ritmo de calipso.

09/06/2008

LEITE DERRAMADO

(Oh, o que foi feito de antigos leites que derramei? O gato lambeu, a formiga comeu ou foram transformados em queijo, em coalho, congelados em picolés, sorvetes, frozen yogurt?)




Tudo na minha carreira era agora medido em termos econômicos: gigantescos buquês de flores tinham de ser mandados para minhas suítes nos hotéis a fim de acalmar meus “rompantes de insegurança”. Todos os hotéis da turnê mundial de Glamorama deviam fornecer “dez velas votivas, uma caixa de pastilhas de vitamina C, pastilhas Ricola para a garganta, raiz de gengibre fresca, três sacolas grandes de Doritos Cool Ranch, uma garrafa gelada de água Cristal, uma linha telefônica exclusiva que "não constasse da lista” e todas as lâmpadas de leitura deviam ser cor de laranja, porque essa cor destacava meu bronzeado feito em salão de beleza. Se essas exigências contratuais não fossem cumpridas, a multa seria dividida entre mim e a Knopf. Ninguém disse que era fácil ser fã de Bret Easton Ellis.

(Trecho de “Lunar Park” de Bret Easton Ellis).

Acho que essa passagem ilustra um pouco do que eu disse no post anterior, sobre as escolhas críticas, a restrição do universo pessoal. Acho difícil alguém com uma realidade como a do Easton Ellis ter consciência da vida real do escritor. Ele se aproximou tanto de outra coisa – da vida Hollywoodiana – que tanto faz se é escritor, celebridade instantânea ou popstar junkie. Ao mesmo tempo, nós, humildes escritores brasileiros, também não temos consciência de onde uma carreira literária pode chegar (porque não pode chegar – vai dizer que alguém como... Lya Luft, ou mesmo Luis Fernando Veríssimo chega a um décimo de poder e glamur que um escritor hypado como Easton Ellis chega lá fora. Paulo Coelho é outro parâmetro, porque ele de fato tem uma carreira hypada internacionalmente). Então acabamos sempre limitados e alienados pelo nosso meio, nossa realidade, nossas escolhas e caminhos. E escritor no Brasil tem de se acostumar a pedir licença, pedir desculpa...

Um pouco sobre isso também é o texto que escrevi pra Revista da Folha desta semana. Não sobre as limitações do escritor, mas sobre os universos restritos, como temos uma visão limitada de mundo, da cidade em que vivemos, como cada um tem um universo à parte – alheio, alienado, isolado – e muitas vezes não conseguimos nos comunicar, nos encontrar com o outro, viver e entender outros caminhos.

Ok, como não dá mais pra você comprar a revista, mando o texto:

Eu não moro em São Paulo.



Um caminhão de leite capotou na Marginal Pinheiros. O tráfego foi interrompido. O trabalho de resgate foi lento. E um longo congestionamento se espalhou pela pista expressa, pela pista local e cercanias...

Mas eu não passo por essa via. Não tenho carro nem uso o transporte público. Quando saio de casa, é com meus próprios pés. Eu não me preocupo com o trânsito, nem com a greve do metrô. Trabalho em casa. Moro sozinho. E todos os meus principais destinos estão restritos a este bairro, estas ruas, dando a volta no quarteirão...

Acordo tarde e vou dormir de manhã bem cedo. Não faço fila na hora do almoço, nem volto pra casa na hora do jantar. Eu não tenho medo da chuva, ou do alagamento; moro no décimo andar, acima, alienado, alheio.

Essa cidade que você reclama não é a minha. Esse drama que você vive não me foi escrito. Espio tudo de longe, de leve, não me arrisco. E se não enfrento os perigos da cidade, como poderia conhecer suas delícias?

Nós freqüentamos a mesma livraria, mas chego quando está vazia. Fazemos compra no mesmo supermercado, mas eu vou tarde, de noite, de madrugada. Nós temos os mesmos gostos e procuramos um pelo outro, mas a gente nunca se cruza na mesma hora, nas mesmas rodas, nessa sua cidade, eu não moro aqui.

Ainda assim, eu conheço você. Imagino seu rosto, ouço sua voz em meus sonhos. Estamos sempre à beira um do outro, e do abismo. Basta um acaso, um esbarro, que a gente se encontra ao mesmo tempo, no mesmo destino.

Preciso de um acidente, de uma armadilha. Prender você aonde eu possa chegar. Minhas palavras como mensagem na garrafa, jogada de uma ilha. Como um bumerangue, uma isca, um cão farejador para te resgatar.

Você mora em outra cidade. Você vive outra vida. Você vive em outros tempos, paralelos. Quero que venha morar comigo.

Eu não moro na sua São Paulo. Eu moro aqui, eu vivo sozinho. Vivo quase à beira, à margem, em outra cidade. Quero que venha morar comigo.

Um caminhão de leite capotou na Marginal Pinheiros. Não houve feridos.


(Reparou que dei o truque, né? Minhas crônicas nunca são exatamente crônicas, têm mais cara de conto em prosa poética. Não consigo me ater a proposta frugal-cotidiana-comentarista de cronista que acorda de manhã, vai comprar pão na padaria e vê algo instigante para colocar no jornal. By the way, que eu saiba nenhum caminhão de leite capotou, mas poderia. Eu gostaria.)

Parece que vou ter mesmo de trabalhar em cima do formato conto. Tem vários meus saindo pela América Latina a fora (em nove países, na verdade, alguns dos quais devo visitar em breve). Tudo reflexo do encontro ano passado, em Bogotá. Mas eu tenho mais reciclado contos antigos do que enviado coisa nova (bem, esse da revista da Folha é novíssimo). Meus contos mais recentes são extensos demais. E meu provável livro de contos (a ser lançado em.... 2011?) vai ter histórias que se cruzam, se relacionam, não poderá ser lido separadamente.

Finalizando, proveito para lembrar que esta semana vou estar na Feira do Livro de Ribeirão Preto, quinta, 11h, em debate com Daniel Galera. Já estive lá uma vez, há uns três anos, num debate com a Soninha Francine. Foi bacana. Desta vez vou e volto rapidinho, porque preciso terminar uma tradução e já começam os trabalhos pro São Paulo Fashion Week. Terei novamente uma página diária no Journal da Erika Palomino. Minha contra-proposta em fazer primeira fila foi fazer ÚLTIMA FILA, pegar o pessoal do fundão, gente divertida, bacana e interessante que geralmente não é focalizada na cobertura. De repente, nos vemos por lá.


Eu e Carol, bicudos numa das edições passadas.

03/06/2008

PODER PARALELO



Estou longe de ser cabeçudo. Você sabe como valorizo a cultura pop, a produção trash, as pequenas imbecilidades geniais. Mas cada vez entendo menos – e me espanto, me embasbaco, me enojo – com a cultura de massa. Isso já não tinha acabado? Já não era pra ter acabado? Desde a faculdade eu ouço que estava acabando – que entrávamos num novo paradigma, fim das verdades absolutas, da cultura massificada, era das escolhas individuais.

Talvez para quem circula pela internet seja. Aqui você pode encontrar seu ídolo particular, ter um fã-clube com milhares de fãs seus, baixar músicas daquela banda que só você conhece e encontrar gente que compartilha de seus gostos difíceis e exclusivos.

Para quem vive na internet, a era das verdades absolutas e da comunicação de massa já acabou há muito tempo. Pena – pena mesmo – que a enorme maioria da população mundial não chegue nem perto de um computador.

Assim, as corporações continuam decidindo quem são os astros. As revistas continuam promovendo celebridades vazias. As rádios continuam tocando o que eu não quero ouvir e os filmes que chegam às telas não são aqueles que contam nossas histórias.

Estava pensando um pouco sobre isso ontem, antes de dormir, depois de ver CQC e de ler Brett Easton Ellis. O que uma coisa tem a ver com a outra? Tanto o programa de TV quanto o autor fazem crítica satírica social. E de forma bem inteligente. Gosto do CQC, acho um dos programas mais inteligentes da TV aberta. E gosto de Brett Easton Ellis, acho um autorzão de respeito. Mas me incomoda um pouco ver a armadilha a que a crítica deles se sujeita. A crítica pode se tornar uma forma de elogio... ou de valorização.

Ao criticar a sociedade de celebridades vazias, o estilo de vida dos ricos e famosos, está se promovendo essa sociedade. Está se assumindo a importância dessas pessoas, o conhecimento desses valores, está se reafirmando essas pessoas como formadoras da cultura atual. A escolha do que se critica também é uma posição crítica.

Se o seu trabalho é se dedicar a criticar celebridades está subordinado a elas, são elas que justificam sua ocupação e pagam seu salário. Você está deixando de criticar outras questões mais relevantes. Você reclama da nova musa do funk, e deixa de revelar novos talentos da MPB.

(Hum, neste caso, esta crítica é paradoxal em si?)

Dito isso, me preocupa que o CQC se aproxime do programa Pânico, que se pretendia crítico e se tornou apenas cínico, criando seu próprio hall de celebridades vazias (como a Mulher-samambaia). A vaidade é traiçoeira.

(Aliás, ontem escutei no CQC aquele cabeleireiro das estrelas, que tem uma foto imensa da cara gorda dele na porta do salão, dizer: “Homem não tem que ter vaidade, tem que ter dinheiro.”- Então pega seu dinheirinho, mona, e manda fazer uma fachada decente pro seu salão.)

Quando o CQC critica o que realmente interessa - questões políticas, artísticas, sociais - acho que tem uma personalidade mais própria. Quando corre atrás das celebridades, acaba virando um Pânico alternativo.

Recentemente me pediram isso, pra fazer uma coluna no SPFW focalizando a primeira fila, as celebridades, de forma divertida. Não faço. Me recuso. Principalmente porque eu nem sei quem são essas celebridades, não conheço a cara de um participante do Big Brother. Não quero ter de conhecer, nem pra criticar. Não acho que essas pessoas sejam relevantes. Não acho que devemos promover esse tipo de coisa. Acho que há coisas mais importantes para se discutir - ou simplesmente há OUTRAS coisas a se discutir, importantes ou não, acho que é preciso buscar sempre novos focos.

Veja bem, não sou contra a Maria Paula dizer “quero ter meu filho de cócoras”. Mas sou contra a quantidade de revistas que se vende com uma capa imbecil dessas. Você pode até comprar. Você pode até se interessar. Mas me preocupa que isso interesse DEZENAS DE MILHARES de pessoas.

(Sinceramente, se este blog interessasse dezenas de milhares de pessoas, eu me preocuparia.)

Quanto ao Brett Easton Ellis, vai um pouco pelo mesmo caminho. Ele critica valores que só existem dentro desse contexto, de um contexto em que ele faz parte. Os alvos das críticas dele não deveriam ter essa importância, para um escritor.

Acho que hoje há um novo abismo social. Um abismo entre a sociedade virtual e a sociedade massificada. Talvez isso se aproxime um pouco de uma crise de gerações – as gerações mais novas já incorporando novas estéticas, ídolos paralelos, e aceitação de diferenças – enquanto que as gerações anteriores (e que não cresceram sobre influência da internet) ainda estão mais sujeitas aos valores de massa ou - aqueles de maior nível cultural - aos valores “do bom gosto”.

Mas enfim, não se pode restringir a uma questão geracional, porque a comunicação segmentada (ou virtual) ainda está longe de ser uma realidade para todos os jovens. Não sei se a cultura de massa está longe de acabar ou se já está acabando, o que parece é que as corporações insistem em fingir que nada está mudando. Ou talvez elas não saibam mesmo.

(Afinal, por que não aconteceu ainda um beijo entre homens numa novela da Globo? Aliás, porque às vésperas dos Dias dos Namorados toda a publicidade ainda seja feita considerando que casais são formados apenas entre um homem e uma mulher? E num terreno ainda mais superficial Por que não existe NENHUM galã da Globo que eu ache realmente atraente?)

(hum... nos Mutantes da Record até tem...)

As verdades massificadas não ecoam nas nossas verdades pessoais. E não deveriam ecoar em você. Você não deveria procurar saber o que todo mundo já sabe. Gostar do que todo mundo já gosta. Por que a mídia inventa que o KLB é formado por três rapazes bonitos e milhares de adolescentes acreditam?


Uh-lalá!

(Aconteceu o mesmo com os Menudos nos anos 80 - e hoje aposto que você se arrepende...)

Enfim, é uma sociedade louca. E um escritor pode ganhar mais dinheiro escrevendo um parágrafo publicitário do que com um romance inteiro.

Well, well, para suavizar e terminar, indo aos ídolos paralelos, este final de semana fui ao Inferno ver o show do Vampiros & Piratas, banda do meu amigo Nicolas Graves. Teve abertura da banda Maldita, do Rio de Janeiro, que eu não conhecia. Aprovei. A petizada trevosa de hoje precisa de coisas assim. Vai um trechinho de letra deles:

Eu me fechei na escuridão

Sangrento era o corpo em minhas mãos

Comprei a arma só pra te assustar

Minha intenção não era de te matar

Eu a arrastei até o cemitério

Seus olhos brancos eram cadavéricos

Eu me fechei na escuridão

Eu lavei o sangue seco em minhas mãos

O que eu sinto é algo tão intenso

Eu precisava saber como ela era por dentro

O que eu sinto é algo tão intenso

Eu só queria saber como ela era por dentro



("Anatomia" - da banda Maldita)



No momento, ouvindo Adriana Calcanhotto:



Onde, longe, Londres Lisboa...

Ou na minha cama...

NESTE SÁBADO!