27/02/2009

TAMAGOSHI RELOADED



Chega de répteis! Aranhas! Vermes! Chatos! Cansei de só cultivar animais exóticos e resolvi arrumar um cachorro. E como moro em apartamento, não tenho tempo nem disposição, confinei meu filhote na telinha do DS, porque sou geek mesmo e está tudo certo.

Na verdade, queria experimentar o jogo portátil MAIS VENDIDO DE TODOS OS TEMPOS, Nintendogs, uma espécie de versão repaginada e (ainda mais) esquizofrênica do Tamagoshi, aqueles bichinho virtual dos anos 90.

Peguei um pastor e dei a ele o nome de Malcom. Ele já atende pelo nome e fico feliz dos vizinhos pensarem que sou uma pessoa saudável que grita pela madrugada: “Malcom, senta! Deita! Dá a patinha!” (O porteiro me olhou com suspeitas quando soube que eu tinha um iguana, imagina se vê que estou apenas gritando no micro-microfone do Nintendo DS.)

Malcom é muito educado e até agora não fez xixi no carpete (virtual), mas posso considerar isso uma falha de seus criadores. Ele também não foi vacinado e confesso que estou ansioso para vê-lo espumando e atacando as visitas. Aliás, quais seriam as visitas? Será que ele ataca os Mario Bros?

Cá entre nós, ainda não entendi direito a graça do jogo (que não é exatamente um “jogo”). O cachorro é bem feito, aprende e responde bem aos comandos de voz, mas é só isso? Queria vê-lo aloprando... Bem, ele é filhote, ainda vai crescer. Resta saber se terei paciência de ligar o jogo todo dia para dar de comer, beber, passear... Por isso não tenho cachorro de verdade. (Quanto tempo preciso levar sem ligar o jogo para o Malcom morrer? Será que ele ressuscita? Será que vira um zumbi? Será que apodrece e ligo o jogo depois de meses e está só uma carcaça cheia de moscas, vermes, baratas?).

Pois é, pode ser o fim dos tempos. Mas acho mais humano arrumar um cachorro assim do que confinar um de verdade a um apartamento. (Tem aquela frase do Edward Abbey, né? “Quando o melhor amigo do homem é o cão, o cão tem um problema.”) É uma solução de bolso para a carência express da nossa vida....


Ah, ok, não é. É apenas uma bizarrice tecnológica interessante.


Araki continua firme e forte. Ele é mais frio do que o Malcom (em todos os sentidos), mas respeita o meu silêncio.

26/02/2009

CAMAROTE GLAM

Fábio e eu, na piscina do Ca' d'oro.

Enquanto você suava no trio e se engalfinhava num camarote com celebridades de terceira, eu dei um pulinho aqui do lado de casa, num hotel chique e retrô, para comemorar o carnaval em plena Augusta.

Passamos o final de semana na piscina do Ca' d'Oro, ouvindo marchinhas, bebendo champagne e fotografando modelos em trajes diminutos. Uma mistura de pool party com editorial de moda.




A água tava fria pra caralho...

Queimando as teias de aranha.

Fábio dando close.

Bebendo champagne em lata (é, champagne em lata). Chama-se "Glam" (merchandising espontâneo aguardando crédito em conta).


Discutindo com o advogado os direitos autorais que não me pagam. (Aprendi com Walter Hugo Khouri que lugar de discutir com advogado é na piscina).


Maurício "Caqui" Schartz, Cris Lisbôa e eu.



As fotos do editorial em si eu ainda não posso colocar aqui... Mas vocês vêm na próxima revista Simples.

De resto, passei dois dias na minha casa de campo, jogando Nintendo DS, pageando os cachorros; assisti ao Oscar e até fiquei com vontade de ver aqueles filmes horríveis.

19/02/2009

ESCRITORES FAZENDO GÊNERO

Os novatos têm de se concentrar na leitura, em aprender a elaborar uma escrita de qualidade. Sair por aí exibindo-se e achando que assim vai se afirmar não funciona.” E acrescenta que não considera literatura a produção blogueira. “São diários, como os diários de debutantes que havia antigamente” - Milton Hatoum, na Folha de São Paulo.

Peguei isso dia desses no blog da Ivana: http://doidivana.wordpress.com/

Eu tinha lido a entrevista dele na Folha e não tinha achado nada. Depois li no blog da Ivana (Arruda Leite) e achei que tinha de achar... Ela, que é uma senhora escritora, contesta bem o ataque do Sir Hatoum aos blogueiros, aos debutantes, mas para mim parece que não chegou exatamente ao ponto...

Primeiro, eu fiquei pensando bem no que eu havia escrito no post anterior aqui, e no que eu tinha a ver com o Sir Hatoum...

O Brasil é um país com um mercado literário tão restrito, que só há espaço para os cânones... e todo o resto. Sério, sou um escritor, trabalho diariamente e vivo disso, mas o que tem meu trabalho a ver com o do Sir Milton Hatoum?

Não é questão de soberba nem de humildade. Ao meu ver, é a mesma coisa de querer comparar Los Hermanos com Ivete Sangalo, Paulinho da Viola com Júpiter Maçã. Todos fazem música, mas estão fazendo a mesma coisa? Milton Hatoum querer dar lição para novatos é a mesma coisa de Chico Buarque dizer ao Cansei de Ser Sexy como se faz rock (ou new rave). Não é o caso. Por isso mesmo eu sempre torço nariz para oficinas, para debates e para qualquer tentativa de criar um método único e um conselho essencial para alguém se tornar escritor.

Não se ensina ninguém a batucar no bandeiro ouvindo Debussy.

Longe de mim também querer ensinar algo ao Sir Hatoum. Sei há muito tempo que escritores têm apenas o compromisso de escrever, quando abrem a boca muitas vezes dizem bobagem... como eu. Não precisam ter compromisso com caráter, com os bons modos, com o bom senso. Não acho que a opinião de um escritor conte muito. O que conta, para quem faz ficção, deve ser a imaginação. Não quero que questionem minha criatividade, o resto todo podem questionar...

Voltando ao Sir Hatoum, é um escritor de respeito. E eu não o invejo. Não gosto do que ele escreve. Não acho ruim, mas não me diz nada. Não quero ser como ele. Não vou seguir seu exemplo. Quer saber de um escritor brasileiro, contemporâneo, da idade dele, que para mim é muito mais o SOL DEUS SUPERIOR? Digo: JOÃO GILBERTO NOLL. Ele é meu Milton Hatoum. Mas eu entendo. E acho que Sir Hatoum merece o que conquistou – está no molde de escritores premiáveis do Brasil. E acho uma pena que o cenário literário brasileiro (e os prêmios) só tenha espaço para um desses. Só há espaço para Chico Buarque, não há espaço para Ivete Sangalo, nem Paulinho da Viola, nem Júpiter Maçã. Não me identifico em nada com Chico Buarque. E se você, como eu, acha que o maior letrista da MPB é Antonio Cícero, nunca vai ver um prêmio entre seus ídolos. (Ai de você se for fã de um ídolo obscuro e esquecido como Peter Murphy...)

Mas há algo de charmoso em ter entre seus ídolos os fracassados, diz?

Quem acha essa uma comparação muito idigna - literatura e musica pop - deve achar que a literatura é algo realmente inalcansável, indigno da juventude, de novos ares e novos leitores.

É um mercado muito restrito. Muito pouco profissional. Mas acho que ajudaria se escritores consagrados não abrissem a boca para aumentar preconceitos, para diminuir o público leitor, e para se auto canonizarem, como se tivessem a fórmula única da consagração.

Para mim, o que mais pega na declaração de Sir Hatoum não é nem o ataque aos blogueiros – eu mesmo resisti muito tempo e tinha preconceito com blogs; publiquei em papel bem antes de ter site – mas contra novatos em geral. Me parece que ele restringe a literatura a uma arte dos “amadurecidos”; e que os mais novos devem ler e apenas ler. Eu acho que não deve e nem pode ser assim. A espontaneidade, a paixão, a criatividade são características típicas de jovens autores, que eu acho que estão em falta. E falo isso porque eu mesmo passei dos trinta e já não sou mais tão espontâneo assim.

Eu me arrisco a pensar se, neste milênio, não levei mais jovens a ler um romance do que o Sir Milton Hatoum...

Recentemente procurei e entrevistei jovens autores gays (mais jovens do que eu, ok?). E embora alguns tivessem discursos tolos, imaturos e que eu não concordasse, acho importante que esses seres surjam na literatura. Pessoal, é punk rock! Alguns vão amadurecer e se tornar Siouxsie and the Banshees. Alguns vão só viver a onda do momento. É preciso dar espaço também à chama do instante, nem tudo precisa ser consistente e amadurecido; nem na literatura... Principalmente na literatura!

Livro também pode ser uma coisa divertida, jovem, dinâmica. E para escrever algo assim também é preciso talento. Talvez mais talento do que para se seguir algo já estabelecido...

Você prefere hoje um novo disco do Sting ou do MGMT?


De novo, digo, não é uma questão de comparar. Minha arte está tão longe da de Sir Hatoum quanto da de Daniel Galera, João Paulo Cuenca, Ana Paula Maia, para ficar nos autores da minha idade. Estou seguindo o meu caminho, revolvendo as minhas questões, depurando o meu estilo, e não quero ensinar nem aconselhar ninguém a fazer igual. Só fico incomodado mesmo quando surge um escritor consagrado querendo ensinar como fazer igual a ele. Para mim, ele está tentando me ensinar os passinhos do Tcham.

Sir Hatoum, desça à boquinha da garrafa!

17/02/2009

MATÉRIAS DO MÊS

Pulei de Peter Murphy para... Ivete!

Acabou de sair a nova revista Júnior, onde apresento os perfis de quatro novos escritores gays. Aproveitei para discutir com eles se existe isso de literatura gay, se literatura é literatura e pronto ou o quê. Particularmente, acho bobagem esse medo que os autores têm de rótulos. Seria mais interessante que os próprios autores pensassem numa maneira de simplificar e apresentar o enfoque principal de sua obra. Dizer que "literatura é literatura" não explica nada. Os rótulos são apenas uma maneira de facilitar a identificação.

Eu acho que existe sim literatura gay, embora no Brasil ela seja tímida, exatamente pela falta de um mercado literário forte. Quero dizer, não existem nem leitores suficientes de literatura em geral, então é compreensível que autores não queiram limitar suas obras a um público ainda mais restrito. Mas em países como Estados Unidos, por exemplo, existe um forte mercado (com publicações, premiações e mídia) de literatura voltada especificamente para o público gay.

Enfim... literatura é literatura... hehehe.

Os meninos da matéria deram sua opinião, disseram um pouco a que vieram. Tem coisas bem legais por lá, como por exemplo:

“Para começar, não gosto da palavra gay. Acho sinônimo de retardado, ‘alegre’. Prefiro mesmo a palavra viado" - diz o poeta Hugo Guimarães.

"Se literatura gay precisa tratar obrigatoriamente de sexo entre homens, ela vai ser sempre insuficiente, e eu vou precisar ler outras coisas, porque as pessoas não são só sexo, não são só afetividade. Literatura homoerótica me parece uma literatura que trata, exclusivamente, de sexo e relações afetivas entre pessoas do mesmo sexo. E isso como ser humano completo, é insuficiente, por mais legal que seja" - diz o escritor Gustavo Vinagre.

. Quando tem um casal gay em novela, é totalmente esteriotipado, eles não têm amigos gays, não fazem programas de gays. Isso precisa ser mostrado.” - diz o romancista Kiko Riaze

“Essa discussão já é levada dentro de casa. Na literatura sempre teve, mas agora chega ao grande público, na novela. Tudo bem, não teve o beijo gay ainda, mas já tem o casalzinho. O pessoal percebe que não adianta mais esconder que o tio é viado” - diz o jornalista e escritor Ramon Mello.

E tem bem mais lá. Vale a pena conferir a revista, que ainda tem uns ensaios de moda bem bacanas, matéria com os Satyros, entrevista com Bruce La Bruce e muito chachachá.

Falando em chachachá, também fiz uma crônica para a o ensaio de capa da revista Joyce Pascowitch deste mês. O tema é... IVETE SANGALO, e se você não imagina o que eu poderia escrever sobre ela, dá uma olhada na revista. É, na verdade, um conto de carnaval, inspirado nas letras mais populares dela. Foi divertido de fazer.

Estou me tornando uma espécie de cronista oficial das divas populares dessa revista. Mês passado foi com a Hebe. Aproveito que já passou e coloco na íntegra, aqui:

O SOFÁ FAZ A CASA

“Este sofá pertenceu à Hebe Camargo,” me avisou a vendedora nos fundos da loja de móveis usados.

Não levei muito a serio. Ela já tinha me mostrado um fogão que pertencera à Ofélia, uma bancada do Cid Moreira e a cama da Monique Evans.

“Compramos muita coisa de um cenógrafo aposentado. Os móveis na TV são usados pouco tempo, logo o pessoal muda o cenário e tem de se livrar de peças novinhas. O sofá foi tão pouco usado no programa que nem a Alcione chegou a sentar nele.”

A mim, o móvel parecia bem surrado. Mas era grande, dava pra deitar tranqüilamente na frente da TV. E estava em conta. Naquele meu estágio de endividamento – e com casamento marcado – precisava encontrar maneiras baratas de mobiliar a casa.

“Que sofá mais encardido!” disse minha noiva ao ver o troço na sala.

“É peça histórica. Pertenceu à Hebe.”

“Hebe Camargo?” perguntou ela, como se houvesse outra. Depois se sentou no sofá, testando as molas. “É grande... dá pra deitar na frente da TV...” constatou.

O sofá foi aceito. E poucas semanas depois estávamos casados, instalados, com a casa mobiliada. (Cheguei até a comprar uns banquinhos do Programa Raul Gil.) Minha esposa não ficou inteiramente satisfeita em ter móveis de segunda mão, nenhuma mulher ficaria, mas ainda assim, aproveitava o folclore, e convidava as amigas para tomar café no sofá da Hebe.

“Parece que foi nesse sofá que o Chico Xavier previu a queda das Torres Gêmeas,” disse uma amiga espírita.

“Neste sofá é que Leandro e Leonardo cantou ‘Entre Tapas e Beijos’ pela primeira vez,”, colocava outra.

Todas tinham uma lembrança mais estapafúrdia sobre nosso humilde sofá, mas isso não era problema, o problema era SEMPRE ter convidados em casa. Eu chegava do trabalho, havia meia dúzia de comadres fuxicando. Minhas noras e sogra passavam todos finais de semana literalmente tricotando no sofá. Não havia nem espaço para mim. Eu me esforçava para não reclamar; até porque, minha sogra se tornara estranhamente simpática comigo. “Filha, seu marido é mesmo uma gracinha,” dizia ela entre os dentes travados. Mas quando um dia ela tentou se despedir com um selinho, comecei a achar que havia algo de muito errado naquela casa.

“Querida, precisamos conversar. Essa história de sofá da Hebe está indo longe demais...”

“Mas você sempre gostou do sofá. Dizia que é grande, dá pra deitar...”

“Exatamente, e nem tem mais espaço pra mim!”

Minha mulher me interrompeu. “Conversamos sobre isso daqui a pouquinho, porque agora tenho um recadinho pra dar. Você sabia que a água da torneira contém centenas de bactérias, ferrugem, e outros resíduos que saem dos canos?”

“Ah?”

“Por isso é importante ter um bom purificador de água em casa. Olha só esta promoção: Ligando agora...”

Eu não podia acreditar, agora tínhamos merchandising dentro de casa!

Tudo aquilo foi, pouco a pouco, destruindo meu casamento. Eu não tinha mais privacidade com minha mulher, nem espaço para me deitar no sofá e assistir Esporte Espetacular. A gota d’água veio no meu aniversário. Cheguei em casa e havia uma festa surpresa, meus amigos e parentes reunidos, sentados no sofá. E sobre a TV, um aparelho de videokê.

“Olha o que a gente trouxe pra te animar! Você anda tão pra baixo; vem cantar com a gente!”

Logo meus primos e colegas da firma estavam bêbados, cantando “Alma Gêmea”, do Fábio Jr.
Aquilo foi o fim. Aproveitei que todos estavam entretidos e disse adeus àquela casa. Não fiz nem a mala. Apenas peguei meu banquinho e saí de mansinho.

Publicado na revista Joyce Pascowitch de janeiro de 2009

13/02/2009

FINAL DE SEMANA TREVOSO



Jason está de volta... de novo. Depois de 11 filmes da série - na qual ele foi machadado, decapitado, enterrado e até mandado para o espaço – resolveram recomeçar do zero e fazer um remake do primeiro episódio, subtraindo a numeração (afinal, ia ficar um pouco ridículo colocar “Sexta-feira 13 parte 12”). Na prática, é tanto remake como qualquer uma das seis primeiras seqüências da série, que tinham basicamente a mesma “história” (“adolescentes vão a um acampamento e são mortos de maneira criativa por um assassino mascarado”) mas que eram apresentados a cada ano como um filme novo.


Agora a onda em Hollywood é fazer refilmagens de filmes de terror clássicos. E com uma boa campanha de marketing conseguiram trazer um interesse para esse “novo” Sexta-feira 13 muito maior do que se assumissem como uma continuação.

Mas afinal, o que é novo e o que é remake?

Bem, o filme tem referências fortes das partes 1, 2, 3, tem algumas novidades, mas é tão tosco e tão ruim quanto a maioria da série. Imagine, fazem uma nova versão de uma fórmula que foi repetida a exaustão nos anos 80 e... repetem todos os clichês da fórmula, sem nem mesmo incluir certa auto-paródia ou ironia. Uma bobagem. Além disso, inclui clichês mais recentes de refilmagens de terror, como casas aos pedaços com túneis subterrâneos, brinquedos empoeirados e coleção de souvenires das vítimas (como em “Viagem Maldita”, “O Massacre da Serra Elétrica”, “A Casa de Cera”, “Pânico na Floresta” e tantos outros). Esse novo Jason tem uma certa “inteligência”, planeja seus ataques, o que o torna tão idiota quanto todos os novos psicopatas de Hollywood. O diretor é Marcus Nispel, responsável pelo remake do “Massacre da Serra Elétrica”, que é regular.


Vale lembrar que a série toda, apesar de clássica, é muito, muito, muito ruim, mesmo comparando-se com os padrões de filme de terror. O primeiro filme, inclusive, é uma tosqueira que chupa descaradamente de Psicose e Halloween. Eu diria que o único filme razoável da série e a Parte 6 (sim, a parte SEIS, melhor do que este remake), ao menos é o único que não se leva a sério, tem belas tomadas e sintetiza tudo o que os outros filmes têm de melhor (que não é muita coisa, afinal).

O livro.



Ano passado comprei um livrão, capa dura, chamado “Crystal Lake Memories”, que conta a história de todos os filmes da série com centenas de entrevistas e fotos coloridas. É bem bacana, principalmente porque não exalta a série, é um livro sincero. Os produtores e o diretor assumem que só queriam ganhar dinheiro, e que a concepção dos filmes era quase a de filme pornô. O mais engraçado é que a maioria dos atores entrevistados meio que se desculpa por ter feito um filme desses: “Eu estava começando na carreira, precisava do dinheiro...” Pouquíssimos dos atores da série (protagonistas inclusive) ainda estão na ativa hoje. Talvez o mais (ou único) célebre seja Kevin Bacon, que é um dos coadjuvantes da primeira parte.

Mas afinal, eu gosto. Tenho quase todos os filmes aqui, em DVD e VHS. Faz parte da minha infância. Lembro que ficava na escola, com meu amigo Giuliano, comentando sobre as mortes bizarras de cada um dos filmes. Parecia mais divertido na época. Hoje, os filmes me parecem arrastados, até as mortes demoram a acontecer. Séries bagaceiras como “A Hora do Pesadelo” dão de dez, inclusive na atuação, efeitos especiais e “enredo”.

Veja só, filme por filme:

O segredo de beleza de Jason é um maquiador pitéu.


Parte 1: É aquele filme do Jason sem o Jason. No final você descobre que era a mãe que matava em nome do filho (numa inversão podreira de “Psicose”). É dos que eu menos gosto, afinal, nem Jason tem...

A mãe de Jason é uma boneca inflável!

Parte 2: É o do Jason com máscara de saco de lixo. Sério, ele usa um saco sujo (ou uma fronha) na cabeça, com furo num dos olhos. É um visual bacana. E ele parece sem máscara no final. Mas é meio arrastado, e não entendo porque eles levam uma dúzia de adolescentes para um acampamento, apenas para tirar metade deles mais tarde, numa noitada da cidade, que escapam do Jason e não têm função alguma no filme. Acho que é lavagem de dinheiro.




Marcha soldado, cabeça de papel...

Parte 3: Foi feito originalmente em 3D, e parece que tem uma versão nova em DVD com essa traquitana, óculos inclusos. A minha não tem, e não faz falta (os DVDs em 3D que eu tenho nunca funcionam direito, só provocam dor de cabeça). De qualquer forma, é de se esperar machados, arpões e todo tipo de coisa voando em direção ao espectador. Fora isso, o filme é a coisa de sempre. Ao menos é nesse que Jason ganha sua máscara de hóquei. Ah, e a trilha de abertura procura ir na cola do sucesso de “Thriller”, do Michael Jackson.

Parte 4: Hum, acho que é esse filme que transformou Corey Feldman num drogado. Ele é o protagonista, ainda criança (feio e gordo). É chamado de “Capítulo Final”, mas estava longe, longe, longe do final (caras de pau da porra). Não tem muita diferença do 2 e do 3. Mas o final é bacaninha.

Parte 5: Esse eu assisti nos anos 80 e nunca mais. Fiquei traumatizado. É com certeza o pior da série. Eu nem lembro direito. Lembro que não tem o Jason, o assassino é um imitador. Passa pro próximo.

Parte 6: Aquele em que o Jason é ressuscitado com um relâmpago no caixão. É o melhor da série, disparado. Ainda acho divertido, tem um roteiro amarradinho, atuações razoáveis, bons diálogos, boas mortes, uma direção de arte bonita. O diretor diz que foi feito para ter 13 mortes, mas os produtores pediram mais (acho que tem 17) e ele teve de filmar umas cenas extras, com uns figurantes que não têm nada a ver com a história, só para aumentar a contagem de corpos. Não tem problema. É o melhor. É o melhor. E é ruim.

Parte 7: Jason Vs Carrie. Ele enfrenta uma adolescente com poderes telecinéticos. Os atores são ruins de doer. E a “trama” é totalmente absurda. Mas é bem feitinho, tem bons efeitos, e o Jason está um zumbizão apodrecido bem bacana.

Parte 8: Jason vai para Nova York. Ao menos, é o que diz o título. Mas ele só chega lá no finalzinho do filme. A maior parte se passa num navio, e é bem tosco.

Jason Vai Para o Inferno: A série mudou de estúdio e degringolou de vez. Neste, Jason é uma espécie de demônio que possuiu o corpo das pessoas, ou seja, filme de Jason quase sem Jason. Um dos piores.



O exterminador do futuro.

Jason X: É tão ruim que é bom. Jason vai para o espaço (!), no futuro (!), numa nave cheio de adolescentes tarados que só querem trepar (!), e perto do final ele vira uma espécie de Robocop (!). É terrível, mas é tão terrível que é razoável.


Amigos para siempre, lalalalalalalá...


Freddy vs Jason: o filme com que eu sonhei toda minha infância e adolescência. É ruim, mas a produção é caprichadinha, e consegue ser divertido. Não dava para esperar grande coisa mesmo de “Freddy vs Jason”... E o Jason é o bonzinho do filme!

Peter I love-u!

Para completar o final de semana trevoso, teve show do Peter Murphy. Fabu-loso. Sério, fabu-loso. Peter está em excelente forma vocal, e boa forma visual. Parece um draculão. Aliás, quando ele entrou no palco, Fábio falou: "Parece o Drácula do Castlevania". Parece. E para um gótico de meia idade como ele, poderia estar melhor?



O set list do show foi mais ou menos, é verdade. E o som do Via Funchal (como sempre) é uma porra. Mas ele estava incrível, a banda estava incrível, ele foi super simpático e carismático, e cantou as mais esperadas, como "Cuts You Up", "She's in Parties", "All We Ever Wanted", deu até uma palhinha de "Bela Lugosi's Dead". As que eu mais gostei foi "Adrenalin" (do último cd do Bauhaus), "Burning from the Inside" (que abriu o show) e "Lust for Life" (aquela).

Das minhas favoritas, faltou "Subway", "Idle Flow", "I'll Fall with Your Knife" e "Mirror to My Woman's Mind". Mas valeu muito. Só dele abrir com uma do Bauhaus, sei lá... Banda que escuto há quase vinte anos, de repente você vê o cara na sua frente. Emocionante.

Estava vaziozinho, mas não vergonhoso. A platéia era basicamente os ex-góticos da velha guarda (e alguns da nova). Deu para matar saudades de gente querida que se perdeu por aí.


E assim termina o horário de verão.

12/02/2009

ESPINHA DE PEIXE


Recebi hoje aqui "El Futuro No Es Nuestro", antologia organizada pelo escritor peruano Diego Trelles Paz e que está sendo lançada em diversos países de língua hispânica. São contos de autores jovens (até 39 anos) da América Latina. Vários deles eu conheci pessoalmente em Bogotá, em 2007, e também estão na antologia Bogotá 39, da qual participo. É uma delícia ler esses contos, ter pitadas do que se está produzindo aqui nos países vizinhos, e um orgulho fazer parte. Nesta, eu sou o único escritor do Brasil. Participo com meu conto "Espinha de Peixe" (Espinazo de Pez) e já recebi uma crítica bem bacana da Argentina:

"Hay un muchacho brasileño que después del bellísimo cuento Espinazo de pez, un poema en prosa perfecto, dará que hablar. Santiago Nazarian (San Pablo, 1977), traductor y guionista de cine, deja boquiabierto al lector con el relato de un adolescente que ayuda a sus padres empaquetando pescados en un puesto de una feria. “Por lo menos el dolor y el olor no se acumulaban día tras día, desaparecían al final del trabajo sin dejar secuelas. Un día su pasado se borraría para siempre. Y ni siquiera se acordaría cómo era el olor del pescado.”

Diego Trelles também escreveu sobre o conto na apresentação do livro:

"Espinazo de pez, de Santiago Nazarian es un depuradísimo ejercio de estilo, minimalista y altamente simbólico."


O conto em si eu até já postei aqui uma vez, mas deletei, porque talvez essa antologia saia em português. Não tenho participado de antologia nenhuma aqui no Brasil, dou preferência aos meus romances. Mando os contos para fora porque é uma forma de penetrar em novos mercados, em que ainda não lancei livro solo.

Mas já falei aqui, estou preparando um livro de contos longos, provavelmente para 2011 (porque este ano tem romance novo, e ano que vem quero lançar um juvenil). A idéia inicial é que todos os contos sejam inéditos.

11/02/2009

A DITA CUJA DA MODA




Nesta quinta, a querida Nina Lemos lança seu romance de estréia, "A Ditadura da Moda", na Cultura da Paulista. Já teve lançamento no SPFW, mas esse agora é aberto pra você. O livro é uma sátira do mundinho fashion brasileiro, e está sendo considerado "O Diabo Veste Prada" com feijoada.


Outro amigo, o escritor Marcelino Freire, acabou de me passar videozinho divertido que fizeram em cima de conto dele, narrado pelo célebre Péreio. Clica aí:


09/02/2009

COLETANDO CRÂNIOS

Livros de um lado; livros de outro; quadro acima; eu no meio.

No meu cenário mental sempre se travou uma disputa entre a literatura e as artes plásticas...

Minha mãe também é escritora, meu pai artista plástico. E eu cresci com as paredes forradas de quadros, muito além do que o bom senso e o feng shui recomendariam. A cada ano, entretanto, novos quadros vinham abaixo, para dar espaço a novas estantes, com a biblioteca da minha mãe se estendendo como um vazamento pelas paredes.

Alguns desses quadros estão hoje no meu apartamento; principalmente os mais “lúgubres”, que azedam chás e desbotam estofados. Percebi que comecei uma pequena coleção das caveiras do Guilherme de Faria (meu pai), imagem recorrente nas obras dele (embora ele se tenha tornado conhecido pelas mulheres nuas...). Sei que há outras caveiras por aí, mas como meu pai teve várias mulheres, e eu tenho vários irmãos, seria um longo trabalho de assassinato para trazer esses crânios todos até mim...

Te mostro alguns que já estão aqui.


Este é o maior, que está na minha sala.



Quando eu era criança, meu pai me disse que isso era um precursor do He-man. Que o esqueleto dele vinha antes do esqueleto de Eternia. Eu achava que essa coruja era uma visão meio torta da Feiticeira Zoar.


Este eu ganhei dia desses, da mãe de uma das minhas meias-irmãs (meia-irmã ainda têm hífem? E meia-mussarela?)




Este senhorzinho não é caveira, mas quase...



Este é um samurai... Mas eu gosto de dizer que é o Jason. (Gosh, como é difícil fotografar quadros...)

Este está no meu quarto, sobre minha cama. É um barco numa tempestade (se não consegue ver). Dia desses sonhei com esse quadro e acordei com o título para um conto: "Eu Sou a Menina deste Navio". Falta escrever o conto.



Ok, morcegos do Escher é bem previsível, eu sei, e é só uma reprodução. Mas eu gosto, combina com minha aura.



Tenho também esses peixes... (E cansei de procurar bons enquadramentos pra fotografar esses quadros.)

Amo esta escultura. É do Freddy Keller, que era amigo do meu pai e parece que teve uma vida bem conturbada...
Certa vez um ex-namorado me perguntou:
"Bacana, pra que serve?"
"Como assim, pra que serve?"
"É pra abrir garrafa, algo assim?"
O namoro não durou muito.


Eu devia ter dito que tinha poderes especiais, que era um amuleto canibal. Mas apenas mostrei a ele de onde vinha o molde. "É um crânio de veado... Um veado desavisado que caiu nas mãos do artista..."




Esta é do meu pai.


Esta é de um escultor finlandês, Timo Kallonen...
Mentira, eu comprei na Disney. Haha.

No meu campo de batalha mental entre artes plásticas e literatura, obviamente a literatura venceu. E se hoje não me faltam paredes, elas insistem em ejetar meus quadros, cuspindo pregos, quebrando molduras. Estou precisando de uma boa furadeira para aparafusar de vez a arte em minha vida.


Os livros por enquanto estão sob controle.

07/02/2009

CUTS YOU UP



Esse é o maior hit solo do Peter Murphy (ex-vocalista do Bauhaus), só de referência. Vai se animando que sábado que vem (14) tem show dele no Via Funchal. Vou certo. É meu show da Madonna.

04/02/2009

COMO AFASTAR CREDORES

(1)

“Alô?”
“Por favor, senhor Santiago Nazarian.”
“Ele.”
“Senhor Santiago, aqui é da central de cartões do Banco Itaú. Informo que para sua segurança esta ligação está sendo gravada. O motivo de nossa ligação é seu cartão Itaucard Mastercard, com vencimento em 25/12, que consta com 40 dias de atraso. Tem previsão para o pagamento?”
“Não.”
“O senhor não gostaria de agendar uma data? Lembrando que os juros correm diariamente e o senhor está sujeito a Serasa e SPC.”
“Eu não tenho dinheiro! O que posso fazer?!! Ou pago o cartão ou almoço... A não ser que você me convide pra jantar fora...”
“Senhor...”
“Ou pra comer na sua casa? Tem local? Você é gay, não é? Voz tem... E orkut, tem orkut? Deixa ver seu perfil? Tem minha foto lá, você pode ver que não sou de jogar fora...”
“Senhor, quanto ao pagamento do cartão...
“Porra! Você fica aí cobrando um cartão e não pode me pagar nem um jantar?”
“Senhor, sou casado e estou trabalhando...”
“Cara, eu tô pouco me fodendo pra sua vida pessoal, te chamei pra uma comidinha, só isso, não vou ficar te ligando no dia seguinte...”
“Quanto ao pagamento...”
“Olha, cansei desse papo. O que não falta no Orkut é gente querendo foder de graça. Se já vai ficar me cobrando, pode desligar.”

(2)

“Alô?”
“Por favor, senhor Santiago... Na-za-rin...”
“Nazarian.”
“Correto. Senhor, aqui é da central de cartões do Banco Itaú. Informo que para sua segurança esta ligação está sendo...
“Como é mesmo meu nome?”
“Perdão?”
“Errado. É Nazarian. Repete: Na-za-ri-an.”
“Senhor Santiago, o motivo de nossa ligação é seu cartão Itaucard Mastercard, com vencimento em 25/12, que consta com 40 dias de atraso. Tem previsão para o pagamento?”
“Se você não sabe nem meu nome, como pode saber que estou em atraso com meu cartão?”
“Senhor, consta aqui em nosso sistema. Essa fatura já foi paga?”
“Fatura de quem?”
“Do senhor.”
“E como é meu nome?”
“Senhor Santiago, pode nos dar uma previsão de pagamento?”
“Como é meu nome inteiro, hein? Não pode falar nem isso e quer que eu te dê uma previsão?!!”
“Ok, senhor. Só lembrando que os juros correm diariamente e o senhor está sujeito a Serasa e SPC.”
“Ah-ha-há! Não sabe nem meu nome e acha que pode me colocar no SPC... Ah-ha-há!”


(3)

“Alô?”
“Por favor, senhor Santiago Nazarian.”
“Quem quer falar?
“É da central de cartões do Banco Itaú.”
“Até parece...”
“Senhor...”
“Conheço sua voz. Você é aquele biscate que está dando em cima do Santiago, não é?”
“Senhor...”
“Não vem com essa de senhor, deixa meu bofe em paz, bicha!”
“Calma, senhor...”
“Não me fala pra ficar calma!!! Não me fala pra ficar calma!!! Olha, bicha, se a senhora ligar aqui de novo eu não sei o que eu faço!!!”

(4)

“Alô?”
“Por favor, senhor Santiago Nazarian.”
“Ele.”
“Senhor Santiago, aqui é da central de cartões do Banco Itaú. Informo que para sua segurança esta ligação está sendo gravada...”
“Jura! Depois manda a gravação pra mim?”
“Senhor, a gravação é apenas uma medida de proteção em caso de disputa judicial.”
“Ah, vai, manda pra mim, só pra eu ver como ficou...”
“Senhor, o motivo da ligação...”
“Escuta só, vou cantar uma música, grava aí...”
“Senhor...”
Me ganhou com esse jeito de menino, tão alegre tão meigo e distraído, eu não sei onde esse amor vai me levaaaar...(Esse amor vai me levar!)”
“Senhor...”
Que você é mais novo, é verdade, mas não quero saber da sua idade, não vou mais fugir eu vou deixar rolaaaaar... (Deixar rolar...)”
“Senhor...”
“(Só paro se você prometer me mandar a gravação). Não quero mais brincar, brincar de adoletá, não quero mais brincar, brincar de adoletá...
“Senhor...”
Quero le-peti-petit-polá, lê-café com chocolá...”

02/02/2009

MAIS UMA DA ANNIE...




Foi só eu ressuscitar Annie Lennox aqui no meu blog que ela resolveu lançar single novo. O clipe estreou este final de semana no Youtube. É bacaninha, bem 70's, e a melhor coisa que ela lançou nos últimos... 15 anos. Ainda assim, nada demais.

É um cover da banda de punk-pop britânica Ash.

E ela está a cara dela mesmo no Tourists, banda que integrava nos anos 70.

NESTE SÁBADO!