Chega de répteis! Aranhas! Vermes! Chatos! Cansei de só cultivar animais exóticos e resolvi arrumar um cachorro. E como moro em apartamento, não tenho tempo nem disposição, confinei meu filhote na telinha do DS, porque sou geek mesmo e está tudo certo.
Na verdade, queria experimentar o jogo portátil MAIS VENDIDO DE TODOS OS TEMPOS, Nintendogs, uma espécie de versão repaginada e (ainda mais) esquizofrênica do Tamagoshi, aqueles bichinho virtual dos anos 90.
Peguei um pastor e dei a ele o nome de Malcom. Ele já atende pelo nome e fico feliz dos vizinhos pensarem que sou uma pessoa saudável que grita pela madrugada: “Malcom, senta! Deita! Dá a patinha!” (O porteiro me olhou com suspeitas quando soube que eu tinha um iguana, imagina se vê que estou apenas gritando no micro-microfone do Nintendo DS.)
Malcom é muito educado e até agora não fez xixi no carpete (virtual), mas posso considerar isso uma falha de seus criadores. Ele também não foi vacinado e confesso que estou ansioso para vê-lo espumando e atacando as visitas. Aliás, quais seriam as visitas? Será que ele ataca os Mario Bros?
Cá entre nós, ainda não entendi direito a graça do jogo (que não é exatamente um “jogo”). O cachorro é bem feito, aprende e responde bem aos comandos de voz, mas é só isso? Queria vê-lo aloprando... Bem, ele é filhote, ainda vai crescer. Resta saber se terei paciência de ligar o jogo todo dia para dar de comer, beber, passear... Por isso não tenho cachorro de verdade. (Quanto tempo preciso levar sem ligar o jogo para o Malcom morrer? Será que ele ressuscita? Será que vira um zumbi? Será que apodrece e ligo o jogo depois de meses e está só uma carcaça cheia de moscas, vermes, baratas?).
Pois é, pode ser o fim dos tempos. Mas acho mais humano arrumar um cachorro assim do que confinar um de verdade a um apartamento. (Tem aquela frase do Edward Abbey, né? “Quando o melhor amigo do homem é o cão, o cão tem um problema.”) É uma solução de bolso para a carência express da nossa vida....
Ah, ok, não é. É apenas uma bizarrice tecnológica interessante.
Araki continua firme e forte. Ele é mais frio do que o Malcom (em todos os sentidos), mas respeita o meu silêncio.