29/08/2009

A VIDA É SELVAGEM

Mesmo para os reis...

A vida é difícil. Há o tédio e o tédio e expectativa, depois frustrações, frustrações e amarguras. E quando está tudo calmo, é o tédio de novo. E quando tudo se agita falta tempo, e dinheiro, e surge um vazamento no banheiro. Daí você gasta seu mirrado dinheirinho para trocar a geladeira, você gasta aquilo que iria lhe dar felicidade para fazer obturações. O HD queima. A conta de telefone vem errada. E quando tem dinheiro demais comprar uma casa na praia, contrata caseiro, paga IPTU, os móveis mofam e num final de semana alguém faz a limpa e leva todos os eletrodomésticos embora. Você corre para emagrecer, passa óleo-de-amêndoa-de-fígado-de-bacalhau, mas seus cabelos vão ficando brancos, surgem as rugas embaixo dos olhos - e a cada dia novos meninos chegam aos 18 anos - e você cada vez mais longe, cada vez mais longe... Você casa e tem filhos e eles só te dão desgosto. Seu filho é gay, e não vai ter dar netos. Seu filho é um playboy, e cospe nos seus livros. Seu filho é autista, tem síndrome de down, dirigiu bêbado e atropelou o filho de uma empregada, atacou fogo num índio, acabou deputado em Brasília. Você estudou, fez o que podia, tem hoje o emprego que quis e a certeza que por mais que você continue, por mais que conquiste, por mais corra atrás de uma cheetah por dia, você nunca vai ser ser feliz....


Oh!



Foi mais ou menos isso que eu pensei - ou isso que minha mãe me disse ao telefone, um dia desses, depois de assistir ao Animal Planet.

"Estava vendo um daqueles documentários de leões, de guepardos. Estava pensando em como a vida é difícil para todo mundo. Por mais natural que seja, a vida é essa bataha constante..."

E agora estou aqui em casa, traduzindo uma bela passagem de Van Booy, em que um menino pede para a mãe cortar o cabelo dele como do Morrissey... Só que meus vizinhos escutam pagode no último. E eu tento afogar tudo com "My Insatiable One".

(Pior que nem posso culpar o país, nem posso culpar a Bela Vista. Quando morei em Londres, e trabalhava de barman até as 5 da manhã, acordava as 9h com o pagode dos vizinhos no último. Isso, pagode em Whitechapell. Os zumbis estão por todos os lados...)

Falando em zumbis, saiu hoje uma matéria legal do livro no Jornal do Comério, de Recife - "Nazarian Volta Mais Pop do que Nunca". O tom do repórter (Luís Fernando Moura) era um pouco... amargo - acho que ele não era muito fã das minhas coisas, mas acho isso especialmente bacana, por ainda ter gente que questione e que, ainda que não concorde comigo, me dá espaço (e foi um belo espaço). Coloco os trechos mais interessantes da entrevista, que foi feita por email:


Você já falou que a literatura pode desmistificar verdades como, por exemplo, reforçar e por em evidência as diferenças entre as pessoas. Esta não é uma discussão antiga? Pode explicar?

Em alguns pontos, acho que a literatura pode ser mais transgressora, libertária e contestadora do que nunca. Veja, temos cada vez menos espaço – menos tempo, menos aprofundamento – nos meios de comunicação e nas artes. Na literatura você ainda não tem limitação de páginas. E temos a limitação de orçamento – não podemos fazer tudo o que queremos em televisão, em cinema, em teatro. Na literatura não. E temos a mais cruel limitação da polícia de pensamento – o politicamente correto. Existem os preconceitos, existem as perversões, mas elas não podem ser verbalizadas por indivíduos, porque eles serão processados, muito bem. Mas elas continuam existindo, então não mostrarmos é uma forma de hipocrisia – quase como os alemães que negam o holocausto. Para isso, ainda servem os personagens, você pode criar um personagem cruel, você pode criar um personagem politicamente incorreto. Mas se ele estiver na televisão, vai receber criticas. Se botar uma menina de doze anos se relacionando com um senhor de idade, pode ser acusado de pedofilia. Mas na literatura... pode ser “Lolita”. A literatura ainda serve para isso, para se aprofundar nessas questões, nessas perversões. Até porque, entendendo-as é mais fácil contra-argumentar. Veja, o mané que entende o nazismo apenas por alto pode fundar uma gangue em seu quintal no Jardim Marajoara e pregar o extermínio de nordestinos... um manézinho brasileiro no Jardim Marajoara se achando nazista... Mas as pessoas não sabem o que são essas idéias politicamente incorretas de fato, porque elas não estão mais circulando por aí.


25/08/2009

MARI AND ME

Hoje, aqui em casa.

Acabei de gravar entrevista pra MTV com a queridíssima Mari Moon. Vai ao ar nesta quarta-feira, 19:30, no Scrap MTV.

E tem mais coisas vindo aí. As entrevistas, notas, colunas sociais e etc estão a toda, mas CRÍTICA em si não existe mais neste país?

Aproveitando, já aviso que vou estar na Bienal do Livro do Rio de Janeiro dia DEZ DE SETEMBRO, 20h, numa mesa com Michel Melamed, no Café Literário. Aproveito para autografar o livro novo por lá. Marque na agenda.

21/08/2009

A FORÇA DE CLEO


Liz.

Acabei de voltar dos Satyros, na reestréia da peça "Liz", do cubano Reinaldo Montero, que eu ainda não tinha visto. A peça é uma visão bufonesca do reinado da Rainha Elizabeth, no século XVI. Clássica, lúdica e com as pitadas kitsch dos Satyros, LIZ é um ótimo exemplo do teatro que eles vêm fazendo há tempos na praça Roosevelt, que já foi considerado marginal, já foi considerado transgressor, já virou cult e agora permanece como uma das grandes forças do teatro paulistano.

Além disso, ,LIZ é uma demonstração de força de uma diva inconstentável, minha querida Cléo de Páris, que faz a Rainha (e que Rainha).

O texto também é ÓTIMO.

Vai lá: Sextas e sábados, 21h, no Satyros 1 (Praça Roosevelt 214).

20/08/2009

"JOHNNY DEPP ME INCORPORA"

Não, esse é Simon Van Booy, escritor de primeira (e praticamente um dublê de Depp).

Recebi ontem aqui o primeiro livro de Simon Van Booy, A Vida Secreta dos Apaixonados, que traduzi para a Saraiva/Arx. É um livro de contos muito delicados, bem bonito. Reproduzo a orelha, que também é assinada por mim:

Um órfão oriental é criado com devoção por um sensível ex-presidiário; um imigrante russo tenta vencer seu medo do mar; um homem solitário se apaixona por um manequim; e um sapateiro planta macieiras sobre o asfalto de Nova York.

Nestas e nas outras histórias deste livro, visualizamos com o olhar sensível de Simon Van Booy os rituais cotidianos dos apaixonados. São paixões amadurecidas, sofridas, por vezes infrutíferas, mas sempre delicadas. Em Paris, Roma, Nova York, numa pequena vila do País de Gales, flagramos instantes de vidas que correm em paralelo, num conjunto de 18 contos que formam uma saborosa unidade.

“Minha esposa é surda. Uma vez ela me perguntou se a neve faz algum barulho quando cai, e eu menti”, diz um dos personagens, enquanto tenta superar a perda da mulher. E essa é uma boa ilustração do talento de Van Booy, um jovem autor inglês que já surgiu para se tornar um clássico, que dá voz aos esperançosos e faz música com o cair da neve.


"A Vida Secreta dos Apaixonados" já está à venda. E eu já estou traduzindo o segundo livro de Van Booy - "Love Begins in Winter" - também para a Saraiva.

19/08/2009

ME LEMBREI QUE ESQUECI...

...de falar da antologia 90-00 - Cuentos Brasileños Contemporáneos, organizada por Nelson de Oliveira e Maria Alzira Brun Lemos e lançada no Peru. É das antologias mais completas que eu já vi, de autores brasileiros surgidos da década de 90 para cá. São eles: André Sant'anna, Fausto Fawcett, João Filho, Paulo Sandrini, Edyr Augusto, Marcelino Freire, Paulo Scott, Rinaldo de Fernandes, Ronaldo Bressane, Ana Paula Maia, Daniel Galera, Sérgio Fantini, Joca Reiners Terron, Ademir Assunção, Andrea del Fuego, Marcelo Barbon, Luci Collin, Maria Esther Maiel, Michel Melamed, Veronica Stigger e, claro, Santiago Nazarian, em contos relativamente longos (o meu tem 24 páginas).

Pelo que eu saiba, a antologia só foi lançada lá. Mas merecia sair em outros países (e por que não no Brasil?) pela seleção matadora (embora, compreensivelmente, faltem alguns autores).

Eu mesmo, quase não participo mais de antologias. Tenho meus livros por aqui, né? Prefiro que me descubram por eles. Mas lá fora é importante, lá fora é preciso, é uma primeira forma de conquistar espaço. Já tenho contos publicados no Peru, Colômbia, Argentina, Bolivia, México, Espanha, Itália e... que eu me lembre é isso (além de dois romances vendidos para Portugal e Itália).

Tenho orgulho especial desse conto presente na antologia - "Apocalipse Silencioso" ("Apocalipsis Silencioso", em espanhol). É um conto da "nova safra", que eu vou incluir no meu futuro livro de contos.

Foi concebido para ser uma peça de teatro, mas como eu não conseguia escrever em forma de peça, resolvi escrever como conto (que pode ser adaptado futuramente). É basicamente um casal discutindo a relação. Um casal trancado dentro de um apartamento, discutindo aquela relação básica homem-mulher, onde o homem não quer assumir sua parceira como parte de sua vida, construir algo em comum, ter uma vida em conjunto. A pitada nazariana do texto é que eles estão trancados no apartamento... discutindo... sem poder sair... porque... O MUNDO FOI TOMADO POR ZUMBIS, claro.

É basicamente isso.

A antologia só pode ser encontrada no Peru (e mesmo lá é difícil, eu mesmo só tenho o livro porque procurei BEM na Feira de Lima, e comprei. Até agora não recebi um exemplar em casa), mas aguarde, que estou fermentando vários contos, vários contos no mesmo estilo, que será minha próxima publicação em... 2011?

Por enquanto, fique com O PRÉDIO, O TÉDIO E O MENINO CEGO, que você ainda não leu.

16/08/2009

E POR FALAR EM VAMPIRO...



Fui assistir ontem a "Arraste-me para o Inferno", a volta de Sam Raimi ao cinema de terror.


Raimi hoje é mais conhecido pela trilogia do Homem-aranha, mas seu primeiro filme é um clássico absoluto - "The Evil Dead" (de 1981), trash, insano e com um puta clima. Eu, sinceramente, não esperava muita coisa desse filme novo, principalmente por vir de um grande estúdio (Universal). Os grandes estúdios têm comprometimento com patrocinadores, produtores e, principalmente, BILHETERIA, que acabam deixando os filmes politicamente corretos e baixando o máximo possível a classificação de faixa etária para ter um público amplo.


Mas "Drag me to Hell" é ÓTIMO. Uma sandice de humor negro, na melhor tradição de filmes tongue-in-cheek. A história é simples: uma gerente de banco nega um empréstimo a uma velha cigana, que a amaldiçoa. A gerente passará o filme todo perseguida por demônios que querem, como diz o título, arrastá-la para o inferno. É isso.


O filme é de uma insanidade só, recheado de cenas bizarras, interpretações caricaturais (que parece ser marca de Raimi, por isso acabou dirigindo adaptações de quadrinhos) e reviravoltas inverossímeis. É uma delícia. Acho que teria se tornado meu filme favorito se eu tivesse visto com uns... 14 anos.


O lado ruim? Aqueles efeitos de CGI, né? E falta um pouco de clima no filme. Quero dizer, "The Evil Dead" é trash, até tem seu humor negro, mas tem um clima genuino de terror e suspense. Esse não, é só bizarrice mesmo, e aqueles sustos fáceis de coisas pulando na tela e o volume da música aumentando abruptamente (e brutalmente, eu diria, uma hora achei que eu ia sair surdo).


Mas enfim, "Arraste-me para o Inferno" é uma trasheira das boas. Bom ver que Raimi ainda se permite esse tipo de coisa.


Continuando na bizarrice... Saiu hoje na Folha resenha que fiz do livro (de vampiros) de Guillermo del Toro com Chuck Hogan. Raquel Cozer inclusive entrevistou Hogan para o jornal. Reproduzo minha resenha inteira aqui:

Vampiro não é coisa de mulherzinha. Devolver às criaturas da noite sua carga escabrosa parece ser a premissa básica do romance “Noturno”, escrito numa parceria de fôlego entre Guillermo Del Toro - cineasta de filmografia irregular com filmes como “Labirinto do Fauno” (2006), “Hellboy” (2004) e “A Espinha do Diabo” (2001) - e Chuck Hogan - autor de bestsellers de suspense pouco conhecidos no Brasil.

Começa de forma brilhante. Um Boeing 777 pousa no aeroporto de Nova York e permanece em silêncio, com as luzes apagadas, sem qualquer saída ou movimento de seus passageiros e tripulação. Logo são chamadas equipes de segurança para checar o que se passa: um seqüestro, uma epidemia, uma “pegadinha do Malandro”? (Ok, essa última possibilidade não é cogitada.) A narrativa é lenta, fermentando o suspense e as expectativas pela revelação do que, já sabemos, será uma história de vampiros.

Quando aparecem, os sanguessugas continuam surpreendendo. Passam longe da elegância gótica do gênero, estando mais próximos de uma mistura de invasores de corpos alienígenas com zumbis. Não é uma releitura inédita – é bem próxima, por exemplo, dos vampiros de “Cem dias de Noite” (a HQ e a adaptação para o cinema, dirigida por David Slade, em 2007) – mas é interessante como o romance explica e disseca (literalmente) os dentuços, trazendo descrições anatômicas das criaturas e analisando o processo de contágio.

O texto tem uma estrutura fragmentada – retrata a invasão em diversos lares, embora haja núcleos mais importantes do que outros – o que pode ter facilitado a escrita a quatro mãos. Ainda assim, os autores mesclam de maneira homogênea contos de fadas, catástrofe aérea, thriller epidemiológico, ficção científica, mitologia lovecraftiana e, claro, histórias clássicas de vampiros. (Impossível, por exemplo, não ver a chegada do avião como uma versão atualizada da viagem de navio de Drácula, no romance de Bram Stoker.) Entretanto, a falta de personagens tangíveis esvazia grande parte do carisma do texto. (Note que, nesta resenha, não foi necessário dar o nome de um único personagem.) Não há ninguém para torcer e nem mesmo a personificação do mal num vilão instigante – o Mestre dos vampiros só aparece no terço final do livro e não chega a ter uma personalidade definida. Além disso, após a revelação da epidemia dos vampiros, o livro descamba para descrições gráficas de violência que podem funcionar na tela, mas que têm poder de assombro reduzido em texto.

Primeiro de uma trilogia (os outros dois volumes terão suas publicações originais nos anos seguintes), o romance ainda tem seu desfecho brutalmente postergado, o que é especialmente frustrante após percorrer mais de 460 páginas e ter apenas uma vaga idéia de quem é o vilão e quais são seus planos.

Com tudo isso, “Noturno” se mostra um belo projeto. Pode gerar um ótimo filme ou mesmo uma série de TV, mas despreza as armas mais poderosas da literatura: identificação e aprofundamento. (regular) (Publicado na Folha de S. Paulo de 16/08/09)

12/08/2009

MENINOS FANTÁSTICOS


Território V - Vampiros em Guerra.



Nessa próxima quinta será lançada uma nova antologia de contos de vampiros, Território V, na Martins Fontes da Avenida Paulista, 509, das 18:30, às 21:30, ótimo horário e localização.


É um projeto do querido Kizzy Ysatis, que eu conheci recentemente no Fantasticon, e que traz textos de autores já reconhecidos no gênero por aqui, como Flávia Muniz, Giulia Moon, Octavio Carrielo e o grande Cid Vale Ferreira (que já fazia ótimos fanzines quando eu mostrava a ele meus primeiros textos, na faculdade. Um dos caras que mais entende e trabalha com consistência a cultura gótica que eu conheço).


Na mesma noite, descendo pra Vila Madalena, temos o intrépido Ivan Berger lançando seu Puro Enquanto, livro bem bonito que foi contemplado com o Pac, aqui de SP, que se afasta dos pesadelos dos vampiros e vai para um fluxo inconsciente-onírico. Ele lança no Barco, na Dr. Virgilio de Carvalho Pinto, 426, à partir das 19h,.

Eu passarei nos dois.

09/08/2009

WARNING: CONTAINS SPOILERS


Entrou hoje no ar entrevista que Luciano Trigo fez para sua coluna no portal G1. Prévia:

G1: Seu novo romance mistura um tema sério - a passagem para a adolescência - com elementos um pouco bizarros, como zumbis e assassinatos. Qual é a idéia? Que efeito você quis obter?

SANTIAGO NAZARIAN:É o que eu chamo de “existencialismo bizarro”, se é para colocar rótulos. É o que eu acho que posso – e quero – fazer de novo pela literatura. Sou um escritor, obviamente tenho influência e sinto o peso de uma tradição literária, mas também tenho meu repertório de literatura de horror, de filmes trash, de toda a cultura pop com que cresci, e gosto dessa mescla. Gosto da fusão de gêneros, de utilizar elementos que talvez não sejam classicamente literários de uma maneira mais lírica, de desafiar um pouco o bom gosto. Os zumbis no livro, por exemplo, são apenas uma alegoria de toda a imbecilidade que assola a humanidade. Há um trecho no livro em que um personagem diz “Há algo de podre nesta cidade.” e outro pergunta: “Isso é Shakespeare?” A resposta: “São os zumbis, isso sim.” Isso é o existencialismo bizarro, colocar Shakespeare e zumbis num mesmo parágrafo.

Você pode ler a entrevista inteira no: http://colunas.g1.com.br/maquinadeescrever/

Aproveito e coloco abaixo, na íntegra, a entrevista que a Editora Record fez para o release do livro:


Como surgiu a ideia de O Prédio, O Tédio e o Menino Cego?
Esse livro veio como uma seqüência lógica pessoal de Mastigando Humanos. Eu já havia tratado da passagem da adolescência para a idade adulta, do processo de amadurecimento, e O Prédio continua com isso, voltando um pouco mais, na passagem da adolescência para a infância. Mastigando Humanos foi uma ruptura por permitir um tom mais debochado, fantástico e assumidamente pop. Agora, pude seguir com isso, mas não precisava mais que fosse de maneira tão flagrante, como a alegoria dos animais e todo o absurdo incisivo que há como bandeira em Mastigando Humanos. Eu também comecei a escrever na virada dos meus 29 para 30 anos; quer dizer, entrada definitivamente na vida adulta. Acho que isso me fez ter um distanciamento positivo desses processos adolescentes.

Quanto tempo trabalhou no livro?
Quase três anos. Aproveitei ao máximo o tempo que o livro levou para ser lançado para reescrevê-lo, mais do que o contrário. Se a editora tivesse dito “queremos lançar no início de 2008”, teria sido lançado, escrito em apenas um ano e meio. Escrevo muito rápido, tem uma parte de prosa espontânea, sim, mas teve vários pontos em que tive de parar e pensar um pouco para onde a história iria, antes de escrever, porque não queria seguir numa direção errada. Até porque, não tenho muita prática de descartar.

Descartar personagens, tramas?

Quando há algum problema no livro, geralmente eu procuro consertar colocando mais em cima – é como quando uma receita fica salgada demais, e você coloca mais água para diluir o sal, daí fica insossa, daí você coloca mais sal de novo, e assim até acertar o ponto. Mas com esse livro eu cheguei a um ponto que tinha coisas demais, personagens demais. Eu tentei consertar aumentando a participação de personagens que estavam subdesenvolvidos, mas continuava com o problema de ter história demais. No final, tive de fazer a escolha dolorosa de cortar personagens, de cortar páginas e páginas. De 20 à 30 páginas foram cortadas. Sabe como é, a gente se apega ao que escreve... Mas depois de cortado me pareceu muito mais natural. Enfim, esse tempo de três anos – que foi motivado por mudanças de editora também – foi bom para o livro sair o melhor possível.

Adolescência é tédio mesmo?
Eu não sei se poderia generalizar que adolescência é tédio... Mas há esse componente, há essa parcela da adolescência blasé, entediada. O Tédio é mais uma personificação das limitações dessa idade – em que se quer tanto, mas se pode ter tão pouco, em que ainda está muito subordinado às escolhas dos pais, da sociedade, ao papel que se espera de você. O livro é muito fundamentado naquela máxima nietszchiana: “torna-te quem tu és”.

O fim desse tédio vem com a entrada do diferente na vida de um adolescente? No caso do livro, a figura feminina...
A figura feminina é o despertar da sexualidade. Existe essa professora, pela qual todo menino se apaixona algum dia na vida. Não importa qual sexualidade um menino irá desenvolver posteriormente, a fascinação pela figura feminina sempre surge de alguma forma. A Regina do livro foi muito baseada numa professora que tive aos dez anos, todos os meninos da classe eram fascinados por ela. Mas também tem um pouco de uma namorada do colegial, que era uma menina já bem mais madura – e perversa – do eu. E tem um pouco da Regina Volpato, sabe? A apresentadora do programa Casos de Família, do SBT. Sou apaixonado por ela. Ela tem a figura perfeita da Professora. Traz aquele povo pro programa, para discutir seus problemas domésticos e, talvez por serem pessoas mais simples, ela trata todos como crianças, mas de uma maneira extremamente elegante, quase etérea; é um tom bem raro nesse tipo de programa, que costuma apelar para o barraco.

Você traz estereótipos da adolescência, mas que podem ser estendidos para o resto da vida. Em qualquer idade, você é o gordo, o vesgo, o atleta, o junkie e tem sua imagem vinculada a isso. Concorda que isso faz do livro uma abordagem sobre a adolescência, mas que mostra pessoas de qualquer idade?
Não concordo tanto que pode ser visto em qualquer idade. Quando você é gordo aos doze anos, você é o Gordo. Quando você é gordo aos 40... Bem, quase todo mundo é gordo aos quarenta... Acho que o livro trata da adolescência e da juventude. Os meninos não têm exatamente uma idade definida. No começo do livro eles parecem mais crianças, depois são um pouco mais adolescentes, tomam drogas, dirigem um carro. Há por exemplo um erotismo todo lá – que eu não consideraria pedofílico, porque não é baseado numa atração infantil, e sim no aspecto realmente masculino dos meninos. Por isso eu não situo em nenhum ponto do livro que idade exatamente os meninos têm – isso nunca é dito. Eles podem ter diferentes idades, até porque há uma passagem de tempo dentro do livro – que também não é definida exatamente de quanto tempo.

Mas é clara modificação dos meninos durante o livro.
Os estereótipos são um pouco arquétipos irônicos – O Narciso Vesgo, por exemplo. À princípio, os meninos parecem com muitos já visto em outros livros e filmes: O Senhor das Moscas, Capitães da Areia, Goonies. Inclusive, outro dia desses revi o filme It, baseado no livro de Stephen King, e fiquei chocado em ver como tinha sete meninos próximos dos meus; bem, o livro It foi o primeiro livro que li em inglês, quando tinha uns quinze anos, então deve ter algo aí. Para além dos estereótipos, os meninos se modificam um pouco durante o livro. A Professora, a figura feminina, existe para alterá-los, para confrontá-los com suas masculinidades. O Andrógino percebe a barba crescendo sobre o rosto, o Atleta se torna mais frágil, o Gordo boboca se torna um Gordo bullyng...


Por que a opção de identificar os personagens com seus nomes apenas na segunda parte do romance?
Ah, todos meus livros têm essa questão com nomes. Eu não saberia dizer exatamente qual é o fundo psicanalítico nisso, mas em todos meus livros o nome dos protagonistas é uma questão... Neste, existe um duelo entre a Narradora e a Professora. Ficava mais explícito numa versão anterior, em que se mostrava realmente quem era a Narradora. Mas o livro é fundamentado nisso, no que a Narradora (que antes de tudo é uma espécie de “mãe” dos personagens) quer para os personagens e no que o surgimento da outra mulher, Regina, quer para eles. Quando Regina surge, várias coisas mudam no livro, não apenas na personalidade dos meninos, mas nos nomes próprios o Prédio, que volta a ser o prédio, etc. É como se as duas lutassem pelo controle do livro. Identificar os meninos com adjetivos é uma maneira de torná-los mais arquetípicos, sim - um Negro que representa todos os negros. E quando eles ganham nomes – que são dados basicamente pela Professora – são todos nomes plurais: Lucas, Nicolas, Jonas, Carlos... para manter essa idéia, de que representam vários.


Essa opção de não identificar os personagens no primeiro momento é uma forma de instigar mais ainda o leitor, que se desafia a identificar cada um?
Eu não queria realmente que fosse difícil de encaixar. Eu me esforcei para que essa mudança fosse tranqüila, que se identificasse facilmente que Nicolas era o Mestiço, por exemplo. Ou ao menos que não precisasse se identificar, porque o que importa é o que acontece com Nicolas de lá pra frente. Mas não sei se consegui. É uma escolha arriscada, dar nomes a sete protagonistas apenas na parte final do livro, eu sei.

Você acha que o livro tem maior identificação para o universo masculino?
Sinceramente, não sei quem pode se identificar. Eu realmente nunca imagino quem pode se identificar com um livro meu. Escrevo um livro narrado por um jacaré de esgoto e depois penso: “mas quem vai se interessar, se identificar com isso?” E, bem, as pessoas me escrevem dizendo que se identificaram. Gente com perfil bem diferente do meu. Aliás, esse é meu maior orgulho, porque escrevo coisas tão pessoais, tão parte do meu universo interno, do que acredito, e me surpreende até hoje que eu consiga publicar por grandes editoras, que tenho ótima aceitação da crítica, que vendo razoavelmente bem.

Por que você não inclui uma menina no grupo? Seria para fortalecer a imagem da “professora” mesmo?
Claro. Eu até debati comigo mesmo se não deveria cortar qualquer outro personagem feminino – há personagens secundários, Maria Alice, a Mulher Urso Polar, a Gorda da Confeitaria. Regina era para ser a personificação do feminino em si. Se eu colocasse uma menina, teria de ter um papel decisivo, seria outro livro.

Você instiga o leitor a criar imagens em sua cabeça. O prédio inclinado, as descrições dos personagens. Qual sua maior preocupação – na hora de narrar – para que essas imagens sejam compreendidas?
Acho que há um universo interno que eu quero que o leitor conheça. Quero dividir com ele um pouco meus ideais, minha estética, meu mundo. É claro que cada leitor fará sua leitura, terá sua visão, até porque não sou muito descritivo, trabalho mais com conceitos do que com apontamentos objetivos. Para mim não interessa que ele saiba que tal menino tem um nariz arrebitado, olhos amendoados e claros, cabelo liso castanho claro caindo abaixo da orelha, boca pequena – quero que ele ache o menino lindo, então ele precisa completar a descrição com sua própria visão de beleza. Acho que por isso, por exemplo, nunca foi feita uma boa adaptação de O Retrato de Dorian Gray, porque você vê o filme, uma peça de teatro e pensa: “Ah, não, esse homem não é perfeito, não é ele o ideal de beleza que vejo em Dorian Gray”; cada um tem o seu. Mas claro que tento guiar um pouco o leitor – eu dou, por exemplo, cheiros característicos a cada um dos meninos.

Existem pontos autobiográficos no livro?
Sempre existem. Talvez não tão objetivamente, mas sempre existem. Por exemplo, a cena da briga entre dois meninos, a ideia veio do livro A Fábrica da Violência, do Jean Guillou, mas tirei muito as sensações de uma briga violenta que tive com um namorado. E durante essa briga, a Professora passa pelos meninos e diz: “Que coisa feia”. Isso foi tirado de uma outra briga que tive na escola. Foi algo bem forte para mim, até porque eu não era de brigar. E voltei para a sala me sentindo péssimo, sentindo como se fosse um momento decisivo na minha vida (e talvez tenha sido, não é? Já que aparece em livro vinte anos depois...) e minha professora favorita virou para mim e falou: “Fiquei sabendo que estava brigando. Que coisa feia”. Era o tom de uma mulher falando com um menino. Aquilo deixou claro para mim como nossos confrontos de moleque eram insignificantes para uma mulher como ela.

Você se identifica com algum dos meninos especificamente?
Eu fui um pouco de cada um dos meninos. Até uns doze, treze anos, eu era muito tímido, gordinho, não tinha amigos. Depois comecei a praticar caratê, emagreci, criei uma turma de amigos na academia – aliás, com dezesseis anos perdi a virgindade com uma mulher de trinta e dois; eu saía com mulheres mais velhas. Logo depois arrumei uma namorada bissexual, me tornei um adolescente gótico, meio junkie, segui assim até os vinte e poucos. Mas os meninos do livro também têm muito de vários amigos, e de ex-namorados. A coisa do Narciso ser sempre o forasteiro, por exemplo, foi tirado de um ex-namorado meu, que acabou indo embora e hoje mora no Japão. O Andrógino foi muito tirado de um grande amigo – que, por incrível que pareça, é heterossexual. Já o email que ele escreve à narradora do livro tem muito do que me escrevia um menino do interior, lindo, daqueles que se tornam uma espécie de celebridade de fotolog, mas que mora numa cidade minúscula onde é chamado de viadinho, e que sonha se mudar para São Paulo.

Existe a idealização dos personagens?
É um grande clichê dizer isso, mas é verdade, que os personagens fogem um pouco do controle, ganham vida própria. Eu, na verdade, sempre quero personagens idealizados - o menino que cheira a cravo e canela – mas a história vai se desenvolvendo e ele vai se tornando mais real – o menino ganha uma catinga. Haha. Ninguém é perfeito. Talvez a escrita (para mim) seja isso: a busca do personagem perfeito.

06/08/2009

AMIGOS SUPERPODEROSOS





Os queridíssimos do Ludov acabam de lançar álbum novo, Caligrafia. Trocamos livro por disco no meu lançamento e este já é meu favorito deles - delicioso. O primeiro single/clipe é esse que você vê acima, "Reprise", bem bacana, mas nem é a melhor música do disco. Minha favorita é "Vinte Por Cento", um power-ska animadíssimo, que faz você sair cantando junto: Amanhã... amanhã... amanhã... Tem também a faroéstica "Sob a Neblina da Manhã", a chiclete "Terrorismo Suicida" (dá pra virar hit) e eles encerram com uma balada bonitinha em francês. (Bom que André Tanaka me lembrou que Vanessa - vocalista - Mauro - guitarrista - e eu dividimos a mesma professora de francês, Annick.)

Sou fã e amigo do Ludov há tempos, tempos, desde antes do começo. Fabie, que hoje é empresária deles, já foi minha namorada, e costumávamos tomar altos porres com Vanessa e cantar pela noite paulistana, uma década atrás, quebrando todas na Torre (que na época era "do Dr. Zero".) Bom ver que eles continuam pops, e cada vez mais consistentes.

Além disso, o Habacuque, que também é guitarrista do Ludov, me presenteou no lançamento com o novo do Pullovers, Tudo o que eu Sempre Sonhei. Não conheço muito do Pullovers (embora tenha sido amigo de faculdade do vocalista Luiz Venâncio - você vê, no mundinho paulistano todo mundo se conhece....), mas gostei bem desse cd. Parece uma mistura de Belle & Sebastian com Los Hermanos (ou toda banda hoje que tem essa pegada rock meio MPB acaba parecendo um pouco com Los Hermanos...). Tem umas horas que fica fofinho demais, mas as letras do Luiz Venâncio são ÓTIMAS, e a faixa título/de abertura já é das minhas favoritas do ano.



Para encerrar os lançamentos dos amigos, hoje tem festa da Revista Onze no Mam. A Onze ficou lindíssima, e é mais uma insensatez da fofa Cris Lisbôa, com o suor, entre outros, do meu petiz Fábio Polido.
Estou indo.

05/08/2009

VALEU! OBRIGADO! DESCULPAE!

Eu e Alê, de Batman e Robin.
Ufa, passou!

E agora, o que dizer? Primeiro agradecer os centenas e centenas de queridos que apareceram por lá, no lançamento ontem. Foi bem bacana, não só por sentir a força dos amigos e dos (poucos) familiares, mas também pelos vários leitores desconhecidos que apareceram, gente que viajou para prestigiar o lançamento, petizada bonita e interessante. Nessas horas a gente até acredita que a literatura ainda tem seu espaço...

Fábio (Glamurama)

Lady Chinaski "Pira" e a fila amiga (atrás, Octavio, Luis Fernando e Vinicius)



Com Ana Paula, querida editora.

Falando em espaço.... Sei que o lugar acabou ficando pequeno pro evento - teve aquela fila quilométrica, gente desistindo na metade - mas valeu. Lançamento é sempre aquela coisa, né? A gente encontra gente de todas as fases da nossa vida, gente que não vê há muito tempo, e tem aqueles trinta segundos para conversar, porque a fila pressiona... Sei que não é um evento legal para muita gente, mas espero que o livro valha...

Ah! O livro vale! (Glamurama)


Cristiane Lisbôa e Elisa Nazarian (Glamurama)

Hitomi, me desmanchando.




Para quem não foi... Não posso nem puxar o orelha, porque já estava mais cheio do que devia. Mas no final ficou tranquilo; fiquei até meia noite; você podia ter ido no final....

Amigos bebendo o raspo do tacho.


Vanessa, Fabie, Thadeu e Mauro. Aprendendo com o Ludov sua nova dancinha.


Bianca e Nicolas.



As fotos... Bom, eu não consegui fotografar nada, só no comecinho e no finzinho, porque estava aquela mufuca que só. Felizmente os queridos do GLAMURAMA, com o fotógrafo Fernando Godoy, fotografaram bem o lançamento e postaram no site. Então vou roubar grande parte das fotos de lá. (http://glamurama.uol.com.br/Galeria_santiago-nazarian-28509.aspx#)



Márcia Tiburi (Glamurama)

Gustavo Vinagre e seu Prédio Inclinado, com Juliana Amato (Glamurama)




Adriane e Italo (Glamurama)


Laerte, Cleo e Fábio (Glamurama)

Aninha Fialho (Glamurama)

O grande bailarino Beto Alencar e Zeca Bittencourt (Glamurama)



Danilo Thomas e Flávia Macedo (Glamurama)




Tinha também fotógrafos da Folha, Estadão, Chris Mello, Cesar Giobbi (tentei roubar do site dele também, hehe), que estão publicando entre hoje e amanhã. Agradeço também a eles o prestigio. Espero que eu saia bonito! Aí tem umas da Vogue RG também.

Marcus Preto (Mariana Maltoni/RG Vogue)

André do Val (Mariana Maltoni/RG Vogue)
Nina Lemos (Mariana Maltoni/RG Vogue)

Del Fuego (Glamurama)

Jean e Michel Laub (Glamurama)


Edu Coreli (Glamurama)

Chris Campos (Glamurama)

Vera e Ricardo Ariani (Glamurama)

Diego e Titi chegaram no finalzinho.







Agora é malhar o livro por aí. Estamos pensando em algo no Rio e em Porto Alegre. Assim que tiver novidades, posto por aqui...










04/08/2009

MEU FILHO ETERNO


(O Andrógino nos corredores... de Alexandre Matos)


Seu amor foi atropelado.

Você está se formando na faculdade. Teve o casamento marcado. Está ficando careca precocemente e sabe que isso é irreversível.

Sua filha foi estuprada e o mundo continua rindo...

Todos nossos dramas – e nossas conquistas – são tão pequenos quando vistos de longe, de fora, aqui da esquina. Ninguém está preocupado com isso. É assim que eu penso quando chega a hora, quando sai do forno mais um livro...

Ninguém tem nada com isso.

Não é importante para ninguém, nem para a Editora, na verdade. Eles lançam dezenas de outros por mês. Só é importante pra mim. Uma conquista (tão) pessoal – tão pequena, tão pequena – e é das maiores que eu posso ter.

Porque eu nunca vou ter um filho, nunca vou me casar na igreja, nunca vou ficar careca precocemente...

Hum, mas ainda posso ter um amor atropelado...

E a gente constata – e sofre, e fica magoado – quando faz lançamento de livro (oh, um evento tão importante! Oh, um dos maiores da minha vida!) e os amigos não vão, estão com preguiça, estão gripados...

Eu não tenho nada com isso...

Sou uma pessoa rancorosa. Sou um ser mesquinho. Se você não for, hoje, no meu lançamento, vou levar pro lado do pessoal, fico magoado, corto relações. Amaldiçoo sua alma e amarro na boca do sapo na esquina.

Hohohoho. É pra te assustar mesmo...

01/08/2009

NÃO ESQUEÇA

O lançamento é nesta terça, dia 4, 20h, no Volt (Haddock Lobo, 40). É só aparecer.


Já estão pipocando notinhas e matérias por aí. Glamurama, Erika Palomino e Mix Brasil já falaram do lançamento e postaram o link do video-release.

Hoje, na Revista da Folha, tem um perfil grande comigo. Achei ok, mas meio "missing the point". Abre dizendo "como Nazarian deixou de lado os escândalos e virou um escritor pop", sendo que uma coisa não invalida a outra (pelo contrário, nada mais pop do que o escândalo). E "se eu deixei de lado os escândalos", por que a matéria insiste em focar exatamente esses lados pitorescos da minha biografia que já foram tão e tão discutidos e que hoje, convenhamos, já não chocam mais ninguém?

Mas enfim, era um perfil, então natural que se concentrasse mais na minha biografia do que nos meus livros. Talvez eu apenas deva deixar de fazer perfis. E só responder a perguntas por email (para garantir fidelidade ao que eu digo). De qualquer forma, é um ótimo espaço, tem belas fotos do Roberto Wagner e o texto do Fernando Masini é bacana. Ele me entrevisou há dois meses, então nem tinha mesmo o livro para falar.

Acho que estou é cansado da minha biografia...

Roberto Wagner/Revista da Folha

Falando em Folha, na Ilustrada deste sábado saiu uma bela matéria de capa do Haruki Murakami (escrita pelo Joca Terron), eu assino a crítica ao livro dele, "Após o Anoitecer", que é excelente. Queria ter escrito a matéria toda, mas estava em Lima e não tive tempo. E o Joca é bem mais especialista nessa coisas do que eu. A matéria inclusive abre colocando Murakami como o "maior nome da literatura pop japonesa..." Veja só, no mesmo final de semana eu e Murakami consagrados como autores pop na Folha. E pensar que o Mirisola escreveu uma carta me xingando quando eu disse que ele era "um grande escritor pop", há alguns anos, nesse mesmo jornal...

NESTE SÁBADO!