(O Andrógino nos corredores... de Alexandre Matos)
Seu amor foi atropelado.
Você está se formando na faculdade. Teve o casamento marcado. Está ficando careca precocemente e sabe que isso é irreversível.
Sua filha foi estuprada e o mundo continua rindo...
Todos nossos dramas – e nossas conquistas – são tão pequenos quando vistos de longe, de fora, aqui da esquina. Ninguém está preocupado com isso. É assim que eu penso quando chega a hora, quando sai do forno mais um livro...
Ninguém tem nada com isso.
Não é importante para ninguém, nem para a Editora, na verdade. Eles lançam dezenas de outros por mês. Só é importante pra mim. Uma conquista (tão) pessoal – tão pequena, tão pequena – e é das maiores que eu posso ter.
Porque eu nunca vou ter um filho, nunca vou me casar na igreja, nunca vou ficar careca precocemente...
Hum, mas ainda posso ter um amor atropelado...
E a gente constata – e sofre, e fica magoado – quando faz lançamento de livro (oh, um evento tão importante! Oh, um dos maiores da minha vida!) e os amigos não vão, estão com preguiça, estão gripados...
Eu não tenho nada com isso...
Sou uma pessoa rancorosa. Sou um ser mesquinho. Se você não for, hoje, no meu lançamento, vou levar pro lado do pessoal, fico magoado, corto relações. Amaldiçoo sua alma e amarro na boca do sapo na esquina.
Hohohoho. É pra te assustar mesmo...