Eu e Marcelino, no mega palco do Sesc Campinas (cenografado por Manu Maltez).
Viagens sempre mexem comigo. Nos aeroportos, na rodoviária, assobiam meu nome e passam a mão na minha bunda.... É sempre sedutora e frágil essa posição de forasteiro. Eu gosto. Acho que fui feito para isso. Acho que cheguei lá. Acho que estou na idade, no físico e na situação financeira ideal para interpretar o típico forasteiro chegando num hotel, sabe? Apesar das tatuagens, um ser-humano-adulto-homem de verdade, que passa essa imagem de "estou fazendo algo muito importante" - o que quer que eu esteja fazendo - estou aqui a trabalho. Há poucos anos eu ainda me sentia desconfortável - como um adolescente que viajou escondido dos pais e não pode pagar a própria estadia, uma síndrome "Macaulay Culkin" (em "Esqueceram de Mim 2), ainda que tardia. Agora estou na idade de homem-adulto-fosteiro-confortável... Apesar das tatuagens.
Eu fui feito pra isso.
Os dois dias de debate-workshop no Sesc Campinas foram bacanas e intensos. Verdade que quase, quase fugi no último minuto, quando vi na rodoviária aquelas placas enormes no guichê de passagem escrito FLORIANÓPOLIS, mas resisti. Fui e voltei de Campinas, como um bom menino.
Leitoras lindas.
De certa forma, foi um evento literário bem diferente de qualquer outro que já fui. Senti que meu papel esperado lá era mais profissional e menos artístico, se é que as duas coisas realmente entram em conflito. Bem, para começar eu nem pude me vestir devidamente dândi, por causa do calor - haha - então ficou meu papel de semi-professor, numa semi-oficina onde conversei com os inscritos sobre a realidade do mercado literário: como publicar, como funciona a divulgação, distribuição, pagamento de direitos, traduções para o exterior, vendas de direitos, áreas de atuação, etc, etc. A conversa rendeu bem, esticamos além do horário... E eu vi que a coisa funcionou, apesar da minha inaptidão...
As duas mesas em que participei de noite também foram bastante "instrutivas", com Marcelino Freire apresentando minha obra e eu apresentando a obra de Ana Paula Maia. Pelo caráter do evento, ficou algo mais distante do "show", que ocorre algumas vezes, ficava claro que quem estava lá estava para ouvir de vida literária, embora não estivesse lá para ouvir sobre determinado escritor especificamente. E embora eu tenha encontrado leitores queridos (e fiéis), a maior parte era de curiosos, gente que se interessava por literatura em geral, e queria saber o que tínhamos a dizer. O que por um lado é bem bacana.
Fora isso... Não deu muito tempo de sair em Campinas. Mas tomei três (ótimas) margaritas na noite de terça, em companhia de muitas (e lindas) meninas. Valeu.
Ana Paula serelepe.
Enfim... valeu bem o convite, sempre uma nova experiência, e não sei quanto ao Marcelino, não sei quanto à Ana Paula Maia , e pode parecer natural, contraditório ou complementar, mas quanto mais eu participo desses eventos, quanto mais viajo e discuto, quanto mais eu me divirto... mais eu sinto que a literatura está longe, aqui, trancada, me esperando em casa.