13/10/2009

A MALDIÇÃO DAS OFICINAS

Semana que vem - terça e quarta, 20 e 21 - estarei no Sesc Campinas em dois projetinhos bem bacanas.

O primeiro foi convite do Marcelino Freire para participar do "Versões," encontro em que um escritor apresenta outro, fala sobre sua obra e faz uma espécie de "entrevista aberta."

Marcelino Freire escolheu a mim, e nosso bate-papo se dará na terça (20), às 20h.

No dia seguinte, no mesmo horário, é vez de eu escolher um autor e fazer um bate-papo com ele. Minha escolhida é Ana Paula Maia, grande escritora carioca que também estará lá. Acabei de ler o terceiro livro dela, Entre Rinhas de Cachorros e Porcos Abatidos, reunião de duas novelas que são muito, muito, muito boas, divertidas e matadoras. Ana Paula explora o universo dos marginais, suburbanos, aqueles que vivem de moer os ossos e recolher o lixo dos outros. Seus diálogos são ótimos, seus personagens são ótimos, ela faz uma ótima apropriação do kitsch e dos clichês no que pode ser chamado de neo-pulp. Se o Brasil de fato tivesse uma indústria cultural, ela já estaria com seu direitos para cinema e TV todos vendidos.

O bate-papo com Ana Paula Maia é quarta, 21/10, 20h.

E no meio disso... como não querem que eu fique batendo perna em Campinas... Tem a OFICINA DA MALDIÇÃO.

Isso, pediram que eu desse uma oficina lá no Sesc Campinas. E como não acredito em oficinas, cogitei recusar o convite, o encontro com Marcelino, com a Ana Paula, botar tudo a perder. Mas daí fiquei pensando no que me incomodava tanto essas oficinas literárias e a conclusão foi que... eu não vejo sentido. Quero dizer, não vejo sentido em ninguém escrever, a não ser que seja inevitável. Então se a pessoa não tem jeito, não consegue escrever e acha que precisa trocar o óleo, é melhor procurar mesmo outra coisa. Para que fazer oficina para algo que deveria ser uma maldição em sua vida?

Então resolvi discutir isso mesmo. Minha "oficina" será isso, uma discussão sobre esses processos de escrita e, principalmente, sobre as questões práticas que todo mundo quer saber: como publicar, como registrar meu livro, quanto ganha um autor, se as editoras lêem os originais, como são feitas as resenhas, distribuição, a importância ou não do agente, concursos literários, publicação no exterior, prêmios literários, etc, etc.

Assim, eu não preciso tentar ensinar ninguém a escrever, apenas dou a realidade do mercado (como autor, tradutor, parecerista e resenhista) para que VOCÊ reflita se quer mesmo atiçar a maldição.

(Falando nisso, é frustrante ver que, quanto mais eu publico, mais lanço livro e divulgo, mais chovem emails na minha caixa postal - e agora Facebook - de gente querendo que eu leia livros, dê minha opinião e indique editoras. Parece que a gente publica livros não para conquistar leitores, e sim atrair outros escritores. E isso porque já tenho de ler pilhas e pilhas de livros como trabalho - sim leitura crítica é um trabalho e as editoras pagam por isso. E ainda tenho de tirar o atraso de tantos clássicos... E ainda tenho de ler os livros de AMIGOS... Não consigo MESMO.)

(Ufa, falei!)

(É uma batalha sangrenta, eu sei.)

Bem, a OFICINA DA MALDIÇÃO (nome bobo...) acontece dia 21/10, às 14h no Sesc Campinas.

E em novembro tem uma porrada de coisas: debate na Satyrianas, mesa minha em Recife na Freeporto (não confundir com Fliporto), uma outra "oficina" de uma semana na Venezuela e a Balada Literária aqui em São Paulo, onde eu estarei mediando um bate-papo com um dos maiores escritores do universo.

Stay tuned.

ENTÂO VOCÊ SE CONSIDERA ESCRITOR?

Então você se considera escritor? (Trago questões, não trago respostas...) Eu sempre vejo com certo cinismo, quando alguém coloca: fulan...