09/05/2010

FREDDY FOREVER
Cruzamento de Elza Soares com Homem-cobra.

No final dos anos 80, Silvio Santos já estava surtado e deixou o SBT numa tela estática com uma imagem de Freddy Krueger e o letreiro: “Daqui a pouco, depois da novela das oito: A Hora do Pesadelo.” O canal ficava com a programação congelada, até a novela terminar na Globo e eles começarem o "Cinema em Casa". Eu ainda era moleque, e esperei ansiosamente pelo filme na casa do meu amigo Frederico, que assistiu de olhos tapados. Assim começou uma paixão que dura até hoje... por Freddy Krueger.


Freddy 2010



Fui ver hoje em Porto Alegre o remake (e arrestei Filipe Catto comigo). Estava preparado para detonar, principalmente porque o remake do Sexta-feira 13 foi uma bomba. Pelo diretor ser um estreante diretor de videoclipes (Samuel Bayer). E acho bem cara de pau essa tendência de se fazer quinze sequências, depois começar tudo de novo. Mas não é que GOSTEI do novo A Hora do Pesadelo? Não bate o primeiro (até por razões sentimentais), mas com certeza é o segundo melhor da série.

Agora Freddy Krueger é um jardineiro pedófilo que abusava de criancinhas de uma escola. Quando as crianças contaram aos pais, ele foi perseguido e queimado vivo. Acaba voltando dos mortos anos depois, nos sonhos das crianças que já adolesceram, para se vingar das caguetas. Essa nova versão do Freddy tem um rosto queimado mais realista, o que o deixa como uma espécie de Elza Soares do além. Eu já tinha visto no trailer e não tinha gostado, mas funciona bem no filme, até porque ele fica a maior parte do tempo nas sombras. E a diferença não é só essa, Freddy está menos pimpão, é um monstro rancoroso e irritado, não fica fazendo piadinhas e dando risinhos. É mais terror. Ele também tem poderes limitados, usando sua luva com facas para cometer os assassinatos (o que havia se perdido na série; num dos filmes ele até já chegou a transformar uma menina numa barata e esmagá-la).

Mas o filme não é uma maravilha, claro. Continua sendo um filme B (como já era o original) e tem um roteiro bastante remendado. O argumento é bacana, o Freddy novo é bacana (Jackie Earle Haley), mas as vítimas são um bando de coiós e o filme não sabe muito bem para onde vai. É pesadelo, despertar, pesadelo, despertar. O original tinha um roteiro mais redondinho, um elenco mais cativante (ninguém se lembra de que JOHNNY DEPP, em seu primeiro papel, era o namorado da protagonista?). O ator que faz o Freddy é bem convincente, mas achei certo desrespeito não reaproveitar Robert Englund (que fez todos os outros filmes). Ouvi dizer que ele estava velho pro papel, mas... alguém pode ficar velho demais pra interpretar Freddy Krueger? E mesmo a intenção sendo dar um novo tom para o personagem, acho que Englund faria bem feito. Aliás, ele já havia feito isso no Pesadelo 7 (que é o terceiro melhor, logo depois desse remake).

O Freddy "romântico" de 1994.


Enfim, longe de ser um grande filme, nem sendo um grande filme de terror, é uma ótima revitalização da franquia.

Eu tenho todos. Comprei há alguns anos a caixa completa (que ainda vêm com um DVD bônus, uma espécie de jogo de labirinto onde você vai descobrindo vários extras, entrevistas, making off.) Então aproveito e te conto filme por filme.



Johnny Depp, quando era um petizinho ingênuo.


A HORA DO PESADELO (1984): O filme que deu origem a tudo, que assisti na casa do Frederico. Ainda é o melhor, claro, é o original. Dia desses revi com os comentários em áudio do diretor Wes Craven com os atores. Eles levam um pouco a sério demais o filme, mas afinal, é um clássico...

Freddy for sissies.

A HORA DO PESADELO 2 (1985) – A VINGANÇA DE FREDDY: É um filme gay! Sério! Um rapaz tem estranhos pesadelos com um “homem maligno que quer possuir o corpo dele” (Freddy). Acorda de madrugada e vai pra uma boate gay. Foge da namorada e vai dormir na casa do amigo gostosão. São tantas referências gays no filme que é impossível ser só minha mente viciada... Ainda assim, o filme é uma bosta.

A HORA DO PESADELO 3 (1987) – GUERREIROS DO SONHO: Esse é bacaninha. Nancy (Heather Langekamp), a protagonista do primeiro volta, já adulta, para ajudar como terapeuta um grupo de jovens que está tendo pesadelos com Freddy. É cheio de efeitos mirabolantes e Freddy aí começa a virar o fanfarrão que nós conhecemos. Mas é divertido.

La cucaracha.

A HORA DO PESADELO 4 (1988) – O MESTRE DOS SONHOS: Não tem história. É basicamente pesadelo atrás de pesadelo e Freddy matando o povo das maneiras mais esdrúxulas (a cena da barata está aí). Provavelmente é o pior de todos.


A HORA DO PESADELO 5 – O MAIOR HORROR DE FREDDY (1989): Esse tem uma história bem bizonha de uma menina grávida com o feto sendo possuído por Freddy (!), mas tem uma direção de arte gótica bem bonita. E foi o primeiro que pude ver no cinema.




A MORTE DE FREDDY: O ÚLTIMO PESADELO (1991). Freddy está em pimpão mode máximo aqui, é praticamente um filme de comédia, mas é divertidinho. E tem aqueles quinze minutos finais no 3D tosco da época. O DVD vem com o óculos e tem o efeito, tão tosco quanto no cinema.

NOVO PESADELO: A VOLTA DE FREDDY KRUEGER (1994). Wes Craven, diretor do original, voltou à franquia e criou essa nova versão, onde Freddy Krueger é uma espécie de demônio assombrando atores e produtores que participaram dos filmes. Foi um exercício em metalinguagem que ele aperfeiçoaria em Pânico (talvez seu melhor filme?) e funciona razoavelmente bem. Freddy aqui é mais creepy, menos brincalhão, e acaba sendo uma grande homenagem ao filme original. Coisa para os fãs.


Não poderia sair coisa boa daí.

FREDDY VERSUS JASON (2003). Traaaaaaaaaash total. O filme que esperei minha adolescência toda para ver. Tem um roteiro tão tosco, tão absurdo, que fica bem divertido.


Englund, o velho e bom Freddy.

Nos anos 90 também havia uma série de TV (Freddy's Nightmares), mas não era muito boa. Era uma espécie de “Além da Imaginação” centrada em sonhos, e Freddy aparecia quase sempre apenas como mestre de cerimônias apresentando as histórias.


Freddy em 8-Bits (o jogo era merda).



Para encerrar, preciso dizer que eu era tão fã de Freddy Krueger que tinha a máscara, a luva, o boneco, o jogo de Nintendo, revistas, livros e as trilhas sonoras. Também cheguei a ir na redação da Fangoria (a maior revista especializada em filmes de terror) em Nova York, aos quinze anos, para comprar mais revistas e merchandising da franquia. Nerd é pouco.

Freddy estará sempre em meu coração.

"Freddy Cookies", minha obra prima.




Observação: Milagres da tecnologia. Escrevi e publiquei este post literalmente na estrada, no ônibus de Porto Alegre pra Florianópolis, conectado no meu laptop com Vivo 3G (merchandising espontâneo esperando crédito em conta).

NESTE SÁBADO!