24/07/2011

A BANDA DA MINHA VIDA




Chegaram esta semana as edições especiais dos 5 álbuns do Suede - a melhor banda de todos os tempos - com dois CDs cada, mais um DVD - 15 discos por 50 libras (incluindo o frete), na Amazon.co.uk. Bem razoável, cada CD triplo sai por 30 reais!
O single de "Beautiful Ones," recheados de b-sides fodásticos.



Não tenho ouvido outra coisa. Aliás, não tenho ouvido outra coisa desde 1994, quando fiquei fã mesmo da banda, mas esta semana foi mais intenso.



Brett Anderson e Bernard Butler, vocalista e guitarrista da minha vida.



Para quem chegou no mundo agora (e a Marion bem me lembrou no Facebook, grande parte do povo de lá estava nascendo quando Suede estava no auge), Suede é uma banda inglesa que começou a fazer sucesso em 1992, como a precursora do Britpop. Era a época do grunge (de que eu nunca gostei), um estilo eminentemente americano. O Britpop trouxe às paradas a influência do pop-rock clássico britânico (Beatles, David Bowie, Smiths), sotaque pesado nos vocais e letras que narravam crônicas do cotidiano inglês. As bandas mais bem sucedidas desse estilo foram Blur, Oasis e Radiohead (apesar de na época haver uma explosão de outras: Pulp, Supergrass, Marion, Mansun, Menswear, Salad)


Suede foi a primeira dessas a fazer um enorme sucesso (que ficou praticamente restrito à Inglaterra), mas a saída do guitarrista original, mudanças de estilo e os vícios do vocalista em drogas foi diminuindo a popularidade da banda, até ela terminar em 2003. Ano passado eles voltaram, para uma série de shows de "grandes sucessos", mas ainda não lançaram nada novo. E agora relançam os CDs originais com uma porrada de bônus.






O single favorito. Grande candidata à minha "música favorita de todos os tempos."





Eu conheci Suede no colegial (ok, ensino médio), logo que voltei de uma temporada na Inglaterra (de lá eu trouxe mesmo uma porrada de CDs do Blondie e do Eurythmics, que são bandas de que gosto há mais tempo). O visual andrógino do vocalista Brett Anderson, as letras de sexo ambíguo e drogas e aquelas guitarras rasgadas me causavam certo fascínio e repulsa. Quando comecei a namorar uma menina da escola, fã de Suede, virou de vez a banda da minha adolescência, e depois da minha vida.



E com certeza o homem mais bonito de todos os tempos.



Tenho quase tudo deles, quase todos os singles originais, vários álbuns piratas, camisetas... Cheguei a ver dois shows da banda, em Londres, em 2002. A banda já não era mais a mesma coisa, tanto no som quanto na popularidade, mas foi maravilhoso de qualquer forma. E consegui até conhecer a banda, conversar com Brett Anderson, o baterista Simon Gilbert e, em outro show, com o guitarrista original, Bernard Butler, meu guitarrista favorito.


A formação mais pop e mais bonitinha da banda, em 96.



Então aproveito a febre (pessoal) do momento e coloco aqui os 5 CDs, comentando essas novas edições.





"The Drowners", o primeiro single (de 1992).



SUEDE (1993):


O álbum de estréia, que me fez apaixonar pela banda. A faixa de abertura - "So Young" - é até hoje minha favorita, com Brett gritando "She can... start... to walk out... when she wants" (traduzido por: "ela pode parar quando quiser"; referência às drogas). As letras narram paixões violentas, relações homossexuais, carregadas de tóxicos. Tudo o que um moleque perdido, como eu era, queria na vida. E as guitarras miadas de Bernard Butler são as melhores da história.

As faixas extras: essa nova edição traz todos os B-sides, incluindo os que não estavam na coletânea "Sci-fi lullabies" ("Dolly" e Painted People", que não são grande coisa). A maior parte é absurda de boa - "My Insatiable One", "To the Birds", "He's Dead" (mas eu já tinha todas mesmo). Brett diz na entrevista que eles tinham essa preocupação de colocar b-sides fenomenais (e exclusivos) nos singles, o que era uma maneira afinal dos fãs comprarem, já que o "lado A" eles já teriam nos álbuns. Hoje ele contesta se algumas não deveriam estar nos álbuns (e no encarte de cada um dos 5 cds ele dá novas opções de tracklist).


Além dos b-sides, o disco traz várias demos (de "Metal Mickey", "Drowners", "To the Birds") e duas faixas inéditas. Uma delas é um instrumental que parece uma versão embrionária de "Wild Ones" (misturada com "Pantomime Horse") e outra que não é nada demais. Tem também "Just a Girl" com Justine (do Elastica, integrante da formação embrionária do Suede), música que já tinha sido lançada, mas que não é nada demais. Enfim, o álbum original e os b-sides já são mais do que motivo para comprar o disco.


O DVD:



Além de todos os clipes, o DVD desse disco traz "Love and Poison" um show dessa primeira turnê, que já tinha sido lançado em VHS (e passou na MTV Brasil) e que é um absurdo de bom, com a banda na sua melhor forma eufórica. Tem também o vídeo do Brit Awards que eu postei lá em cima (que musicalmente é meio trash até, mas vale pela performance) e mais um show inteiro captado de forma amadora com uma câmera na mão. Vale para os fãs (e por ter Brett peladinho, hehe). Ainda tem uma entrevista com Brett e Bernard, gravada este ano, falando sobre a gravação do álbum.




Enfim, fodástico.




DOG MAN STAR (1994):



É o álbum mais sombrio e difícil da banda, feito durante a saída do guitarrista e compositor Bernard Butler (que deixou várias faixas inacabadas). É recheado de baladas lindas, mas bem kitsches, com orquestras e vocais em falsete. Uma obra prima.





Os extras: além de todos os b-sides, do single de "Stay Together" e de demos de músicas como "The Power", "Heroine" e "Introducing the band" (que está uma zona), traz algumas músicas inéditas inacabadas e esquecíveis e versões extendidas de "The Asphalt World" e "Wild Ones", que na verdade são inferiores às versões oficiais.





O DVD: estranhamente, não traz os clipes, só os filmes feitos para serem projetados durante a turnê, que não têm a participação da banda, então são meio frustrantes. Tem ainda dois shows, gravados de forma amadora, mas que valem pelo registro do Bernard tocando faixas do "Dog Man Star."




Dog Man Star é possivelmente o melhor álbum do Suede, e essa reedição não tem grandes complementos, mas não faz feio.

COMING UP (1996) :


O álbum mais pop da banda, que teve 5 singles de sucesso. É inteirinho bom, de um jeito pop-chiclete. E esse foi um que já acompanhei ansiosamente o lançamento, comprei antes os singles e tudo mais.

Os extras: Essa reedição tem simplesmente 19 b-sides (aguns editados para caberem no disco, como "Asda Town", "WSD" e "Feel"), a maioria muito, muito boa ("Young Men", "Europe is Our Playground", "Money"). Traz também uma faixa inédita, "Motown", mas numa versão de ensaio, fraquinha, e demos bem mal-gravadas. Vale só para o fãs.






O DVD: Traz os clipes, um show da época em gravação profissional, com a participação de Neil Tenant, do Pet Shop Boys, que canta em duas músicas (inclusive uma excelente versão de "Rent") e um show de Paris, em gravação amadora, mas que foi a primeira apresentação do guitarrista Richard Oakes. E ainda uma entrevista. Puta registro.




Resumindo, o CD é ótimo, mas sem grandes extras além dos b-sides (que eu, obviamente, já tinha). O DVD é bem bacana.




HEAD MUSIC (1999):




É o álbum "eletrônico" da banda, e quando eles começaram a perder público. Brett estava bem chapado na época, faz letras bagaceiras e algumas músicas não precisariam estar no disco. Mas ainda é legal.




Os extras: Tem demos (meio indiferentes) e todos os b-sides. São sem dúvida os piores b-sides de toda a carreira do Suede, uma coisa punk eletrônica tola. Mas há ainda uma música inédita, "Music Like Sex", que é bacaninha.




O DVD: Traz os clipes, um making of e entrevista da gravação do disco e um show (que eu já tinha quase inteiro numa edição especial dupla do "Head Music", para você ver como sou fã).

No geral, vale porque os b-sides só estavam mesmo nos singles originais, mas é certamente a pior reedição dos 5 álbuns.





"Attitude." Adoro a capa desse single.


A NEW MORNING (2002):

É o álbum mais conturbado, menos inspirado e de menor sucesso do Suede, que contribuiu para acabar com a banda. Brett tinha saído das drogas, estava loiro, bronzeado e cantando sobre "Positividade", então compos algumas merdas. Mas eu também esperei ansiosamente, estava morando na Inglaterra na época do lançamento, vi dois shows da turnê (um deles, inclusive, com orquestra, que merecia ter sido registrado) e foi um álbum importante para mim. Reconheço que, como álbum, é o pior de todos, mas ainda tem algumas das minhas faixas favoritas: "Lost in TV" e "Untitled."

Os extras: São os melhores dos 5 discos relançados, sério. Além de versões demos realmente boas (a de "Untitled" talvez seja melhor do que a oficial) tem ótimos b-sides (eles estavam se esforçando para não acabar) como "Golden Gun", "Simon", "Instant Sunshine" e "Cheap". Tem ainda uma música inédita que é ótima, bem gravada e parece um b-side da época "Coming Up" - "Refugees" (nada a ver com o "Refugees" que Brett Anderson gravou com o The Tears).

O DVD: também é ótimo. Tem um show acústico curtinho (09 músicas) gravado profissionalmente, com Brett lindinho, charmoso, simpático; outro show acústico ainda mais curto (05 músicas) também bacana; os clipes todos e uma entrevista.

Eu diria que "A New Morning" é o álbum com os melhores extras desses relançamentos.


Para concluir, por 30 reais cada álbum, valeu MUITO a pena ter comprado as novas edições. É para fãs mesmo, mas quem não é tão fã, pode comprar só pelo material original, que é melhor obviamente do que qualquer extra que eles colocaram lá.


Para os meus leitores, eu teria de dizer que nenhuma banda é mais próxima do que tento fazer em literatura - a violência romântica, a sexualidade ambígua, androginia, a carga kitsch. Afinal, é a influência mais pesada que tive em minha vida.

E quem quiser procurar... Dou então as minhas dez faixas favoritas, que sempre mudam, mas nem tanto, o mais difícil é colocar só dez.

SUEDE TOP 10

So Young


Untitled

The Power
Animal Nitrate

New Generation
The Asphalt World

Lost in TV


Still Life

Another No One

Everything Will Flow


Yes! Este sou eu (no meio, claro) com Bernard Butler e David McAlmont, em 2002, quando eu morava em Londres.






NESTE SÁBADO!