17/07/2011

UM FILME SÉRVIO

Cuidado! Este não é um filme pra você... Na verdade, nem este post.


Madrugada dessas, meu irmãozinho Nicolas me falou sobre "A Serbian Film", um filme sérvio, obviamente, que está sendo considerado "o mais chocante de todos os tempos." "Li uma sinopse com spoilers e não tive coragem de assistir o filme," me disse Nicolas. Foi praticamente um desafio que me obrigou a ver o filme na mesma noite.



E sim, "A Serbian Film" é sem dúvida um dos filmes mais chocantes de todos os tempos.





Um ator pornô aposentado é convidado a fazer um último filme. A grana é boa, mas ele não sabe exatamente do que se trata. "É um filme pornô, para que te interessa o enredo?" pergunta o diretor (que é a cara do Zé do Caixão quando jovem). Contrato assinado, o ator passa por gravações cada vez mais estranhas, que vão se intensificando conforme ele é drogado com um estimulante para touros.





Se você quer mesmo saber, o filme envolve necrofilia, incesto, estupro de um bebê recém-nascido, tortura e assassinato. Coisa leve.





"A Serbian Film", parece querer extrapolar todos os tabus e limites, mas aparentemente com um bom pretexto. É uma alegoria da situação da Sérvia massacrada pela guerra. Isso é colocado textualmente em diversos momentos do filme. É bem dirigido, bem atuado, o que deixa a coisa mais maligna por um lado, mas menos perversa por outro. Uma crítica que li dizia que o filme era "profissional demais", que sua competência técnica afastava o espectador da ideia de que aquilo poderia ser real. Concordo, se o filme fosse um pouco mais tosco, diminuiria a distância entre ele e um suposto snuff real. Fica muito claro toda a mensagem por trás, como uma desculpa para o sadismo. Além disso, o filme não é graficamente explícito não, nem poderia, com todas as cenas com crianças...





Assim, como eu assisti o filme já esperando a coisa mais chocante da minha vida, terminei de ver dizendo para mim mesmo: "Ah, não é tão pesado assim." Mas até que é. O filme tem uma carga muito, muito pesada, o clima de pesadelo surreal que os bons filmes de terror devem ter, e eu mesmo fui dormir e tive pesadelos com o filme.





Não assistiria de novo.





Mas sinceramente, acho importante existir filmes assim. Bem ou mal, é importante que ainda existam filmes que balancem com os tabus e tirem o espectador da zona de conforto.





Depois disso, resolvi rever meu ranking dos "Filmes mais pesados de todos os tempos." Coloco aqui em ordem descrecente. O campião de shock value para mim continua sendo Saló, do Pasolini.





OS DEZ FILMES MAIS PESADOS DE TODOS OS TEMPOS





Saló - Pier Paolo Pasolini: Alegoria da Itália Fascista, o último filme de Pasolini, baseado no livro do Marquê de Sade, retrata um grupo de adolescentes que são sequestrados, levados para uma mansão e torturados de maneira ritualística de todas as formas possíveis, em efeitos gráficos explícitos. Vi uma vez no cinema, e nunca mais.





Irreversível - Gaspar Nóe: Uma história de estupro e vingança contada de trás para frente, de maneira vertiginosa e escabrosa. Me provocou profundo mal estar.





Audition - Takashi Miike: Esse é um que consegui ver várias vezes, cheguei até a legendar numa mostra no CCBB. É um puta filme. Mais incrível por ser uma comédia romântica durante mais de uma hora e depois se transformar totalmente, com várias cenas sendo revistas e reposicionadas. Não vou contar muito aqui, para não estragar, mas é uma obra prima.





Anticristo - Lars Von Trier: Amei esse filme, mas acho que não veria de novo não. O filme de terror do Lars Von Trier é bizarríssimo, tem um clima absurdo e cenas gráficas de fazer você se contorcer na cadeira.





A Serbian Film - Srdjan Spasojevic: Acho que colocaria aqui, em quinto lugar no ranking dos mais pesados.





Cannibal Holocaust - Ruggero Deodato: Esse tem um lado tosco forte, mas é mais pesado (e menos desculpável) por conter cenas reais de tortura e morte de animais. Me arrependi de ter comprado o DVD.





Funny Games (1997) - Michael Haneke: Psicologicamente pesadíssimo, vai num crescendo muito bem estruturado. Chegou a ser refilmado por ele recentemente, com elenco americano, mas meio sem sentido. Essa versão original, austríaca, de 97 é mais chocante por ter um elenco desconhecido, um clima menos profissional, aproximando o espectador do terror da coisa.





Requiem para um Sonho -Darren Aronofsky: Vi no cinema e entrei totalmente naquela viagem das drogas. Me fez muito mal. Mas é um grande filme.





Imprint - Takashi Miike: Telefilme feito para a série de TV "Masters of Horror", em que cada episódio era dirigido por um grande nome do cinema de terror. Takashi Miike pesou a mão e fez um pesadelo passado numa ilha-prostíbulo, com cenas gráficas de tortura arrepiantes. Mas a vontade de chocar é muito escancarada, e o filme não é lá essas coisas.





Hannibal -Ridley Scott: Graficamente é bem, bem mais pesado do que "O Silêncio dos Inocentes." Tem cenas mega tenebrosas, como o policial que frita e come o próprio cérebro, e Gary Oldman cortando o próprio rosto e dando para os cachorros comerem. Fora isso, acho um bom filme de suspense.





MESA

Neste sábado, 15h, na Martins Fontes da Consolação, tenho uma mesa com o querido Ricardo Lisias . Debateremos (e relançaremos) os livros la...