Não tá fácil para ninguém cruzar a pista...
Sempre me atraí pelos meninos mais delicados, e isso não se reflete necessariamente em idade, mas em geral se encontra nos mais novos. Mas hoje meu ritmo de vida, meus interesses estão cada vez mais distantes daqueles de meninos de vinte, vinte e poucos. Não vejo mais graça em boate, prefiro um bom restaurante. Não tenho mais aquela saúde toda para me drogar. E gostaria de poder contar com uma boa companhia numa viagem internacional...
Os trintões e quarentões, para mim, também são complicados. Ou estão caídos ou estão marombados. Homem marombado eu não consigo. Careca tampouco. (Sorry, não controlo minha libido.) E os caras da minha idade também já passaram por muita coisa, já estão mais calejados, não são tão apaixonantes nem tem tanta facilidade para se apaixonar.
Então entreguei meu coração a Jesus.
Se bem que Jesus tem 33... Barbudo... Nah, não é muito o perfil.
Então me entreguei ao diabo... Ou ao Grindr!
Para quem não sabe (héteros, mostly), o Grindr é um aplicativo para IPhone, uma espécie de GPS gay. Você faz um perfil, com sua foto, descrição e interesses, e o programa te mostra no celular perfis de outros gays próximos geograficamente, inclusive dando a distância em metros (“Macho Sarado” a 25m de você. Meeeeeeedo!). Se determinado perfil/usuário te interessar, você pode puxar conversa, ou responder a um convite de bate-papo, mandar outras fotos, etc.
Tenho achado engraçado. Por enquanto só isso, engraçado. É uma nova forma de encontrar gente – que remete um pouco aos antigos chats (sim, eu entrava, lá no final dos anos 90). É prático, para quem não tem mais saco com boate... até porque, meus AMIGOS, que deveriam me apresentar gente bacana, em geral são ciumentos e competitivos e querem guardar todos para eles mesmos.
Mas a verdade é que ainda não tive pique de encontrar ninguém. Ninguém. Nem uma única pessoa. Nem para um cafézinho.
Na prática, é aquilo, o Grindr é um grande centro de caçassão, putaria mesmo, e o povo acessa para ter sexo rápido e casual. Nada contra, quem sabe qualquer dia desses... Mas minha libido anda tranquila. E talvez eu esteja sexualmente mais saudável, me interessando por quem é de fato interessante.
Fiz um perfil com uma boa foto de rosto, recente, minha idade, meu primeiro nome, peso e altura, totalmente sincero, não tenho por que mentir. E não fiz lá grandes amigos. Troquei por outra foto recente, de corpo inteiro, sem camisa, na praia. Choveram mensagens. Só para mim que um rostinho bonito é mais importante que corpão?
As mensagens em sua imensa maioria foram broxantes. Fotos de uns barbudões querendo me arregaçar ou, quando eu dizia que era ativo, dispostos a dar uma reboladinha. É uma vida selvagem, eu te digo.
Besteira essa conversa de que os gays são mais promíscuos. Homens são mais promíscuos (em geral), gays são apenas homens que estão acostumados a flertar com outros homens, não sentem, na maioria das vezes necessidade da delicadeza, cortesia e cavalheirismo com que um homem flerta com uma mulher. Eu gosto de flertar, não me excito com dirty talk, e gosto de tomar para mim o papel cavalheiresco... mesmo que seja um cavalheiro canalha.
Também apareceram no Grindr aquelas pessoas que – ah-há! Busted! – achavam que estavam me pegando no flagra, por eu ter um perfil lá. Qual é a grande surpresa, estou solteiro, sou gay, todo mundo sabe; não tem nada de constrangedor. Eu faço sexo, claro, mas hoje não, estou com dor-de-cabeça...
Inclusive foi uma das primeiras coisas que coloquei lá no meu perfil: “Hoje não, estou com dor-de-cabeça”, para já afastar o povo na nóia por sexo imediato. Recebi mensagens como “tenho um bom remédio aqui...” Daí comecei a achar que minha foto na praia estava atraindo mesmo só os bagaceiros marombados, troquei por uma foto de terninho. Ainda não testei o efeito.
Apesar de tudo, ainda tenho achado o Grindr divertido. Testei também em Buenos Aires – só testei – os perfis de lá eram mais marombados e descamisados do que os daqui. Mas tem sido bacana para encontrar amigos, vizinhos, amigos de fora que eu só soube que estavam em São Paulo por terem entrado no meu radar. E talvez o melhor uso seja para identificar como gay aquele carinha com quem a gente sempre cruza por aí, mas ainda não tem certeza.
Aos interessados, dá para baixar o Grindr de graça, não apenas para o IPhone, mas para vários modelos de smartphones. Existe também uma versão paga, com mais funções, mas eu não vejo necessidade (e também acaba denotando um certo desespero, diz aí? Você mostrar que até PAGA para poder usar o máximo de recursos de um Grindr.)
Petra Chaves, Zé Pedro, André Fischer, eu e Carmita Abdo, falando sobre muitas outras viadagens.
Terminando esse papo gay, gravei hoje entrevista no programa do André Fischer com a Petra Chaves, na CBN. Vai ao ar este domingo, 22h. Ouve lá, que foi bem bacana; fui inclusive muito além do papai-mamãe (ou "papai-papai") fazendo minha "defesa da necrofilia."