28/09/2011

A VIDA SELVAGEM DOS VEADOS




Não tá fácil para ninguém cruzar a pista...





Estou solteiro há quase dois anos. Em parte por mudanças e viagens, em grande parte porque sou chato. Já namorei muito. Já tive namoros longos ; o último durou dois anos, o mais longo quase quatro. E já experimentei um pouco de tudo... ou quase. Então a gente vai ficando mais seletivo, mais exigente, menos paciente, mais chato.


Sempre me atraí pelos meninos mais delicados, e isso não se reflete necessariamente em idade, mas em geral se encontra nos mais novos. Mas hoje meu ritmo de vida, meus interesses estão cada vez mais distantes daqueles de meninos de vinte, vinte e poucos. Não vejo mais graça em boate, prefiro um bom restaurante. Não tenho mais aquela saúde toda para me drogar. E gostaria de poder contar com uma boa companhia numa viagem internacional...




Os trintões e quarentões, para mim, também são complicados. Ou estão caídos ou estão marombados. Homem marombado eu não consigo. Careca tampouco. (Sorry, não controlo minha libido.) E os caras da minha idade também já passaram por muita coisa, já estão mais calejados, não são tão apaixonantes nem tem tanta facilidade para se apaixonar.




Então entreguei meu coração a Jesus.




Se bem que Jesus tem 33... Barbudo... Nah, não é muito o perfil.




Então me entreguei ao diabo... Ou ao Grindr!



Para quem não sabe (héteros, mostly), o Grindr é um aplicativo para IPhone, uma espécie de GPS gay. Você faz um perfil, com sua foto, descrição e interesses, e o programa te mostra no celular perfis de outros gays próximos geograficamente, inclusive dando a distância em metros (“Macho Sarado” a 25m de você. Meeeeeeedo!). Se determinado perfil/usuário te interessar, você pode puxar conversa, ou responder a um convite de bate-papo, mandar outras fotos, etc.




Tenho achado engraçado. Por enquanto só isso, engraçado. É uma nova forma de encontrar gente – que remete um pouco aos antigos chats (sim, eu entrava, lá no final dos anos 90). É prático, para quem não tem mais saco com boate... até porque, meus AMIGOS, que deveriam me apresentar gente bacana, em geral são ciumentos e competitivos e querem guardar todos para eles mesmos.




Mas a verdade é que ainda não tive pique de encontrar ninguém. Ninguém. Nem uma única pessoa. Nem para um cafézinho.




Na prática, é aquilo, o Grindr é um grande centro de caçassão, putaria mesmo, e o povo acessa para ter sexo rápido e casual. Nada contra, quem sabe qualquer dia desses... Mas minha libido anda tranquila. E talvez eu esteja sexualmente mais saudável, me interessando por quem é de fato interessante.




Fiz um perfil com uma boa foto de rosto, recente, minha idade, meu primeiro nome, peso e altura, totalmente sincero, não tenho por que mentir. E não fiz lá grandes amigos. Troquei por outra foto recente, de corpo inteiro, sem camisa, na praia. Choveram mensagens. Só para mim que um rostinho bonito é mais importante que corpão?




As mensagens em sua imensa maioria foram broxantes. Fotos de uns barbudões querendo me arregaçar ou, quando eu dizia que era ativo, dispostos a dar uma reboladinha. É uma vida selvagem, eu te digo.




Besteira essa conversa de que os gays são mais promíscuos. Homens são mais promíscuos (em geral), gays são apenas homens que estão acostumados a flertar com outros homens, não sentem, na maioria das vezes necessidade da delicadeza, cortesia e cavalheirismo com que um homem flerta com uma mulher. Eu gosto de flertar, não me excito com dirty talk, e gosto de tomar para mim o papel cavalheiresco... mesmo que seja um cavalheiro canalha.




Também apareceram no Grindr aquelas pessoas que – ah-há! Busted! – achavam que estavam me pegando no flagra, por eu ter um perfil lá. Qual é a grande surpresa, estou solteiro, sou gay, todo mundo sabe; não tem nada de constrangedor. Eu faço sexo, claro, mas hoje não, estou com dor-de-cabeça...




Inclusive foi uma das primeiras coisas que coloquei lá no meu perfil: “Hoje não, estou com dor-de-cabeça”, para já afastar o povo na nóia por sexo imediato. Recebi mensagens como “tenho um bom remédio aqui...” Daí comecei a achar que minha foto na praia estava atraindo mesmo só os bagaceiros marombados, troquei por uma foto de terninho. Ainda não testei o efeito.




Apesar de tudo, ainda tenho achado o Grindr divertido. Testei também em Buenos Aires – só testei – os perfis de lá eram mais marombados e descamisados do que os daqui. Mas tem sido bacana para encontrar amigos, vizinhos, amigos de fora que eu só soube que estavam em São Paulo por terem entrado no meu radar. E talvez o melhor uso seja para identificar como gay aquele carinha com quem a gente sempre cruza por aí, mas ainda não tem certeza.

Aos interessados, dá para baixar o Grindr de graça, não apenas para o IPhone, mas para vários modelos de smartphones. Existe também uma versão paga, com mais funções, mas eu não vejo necessidade (e também acaba denotando um certo desespero, diz aí? Você mostrar que até PAGA para poder usar o máximo de recursos de um Grindr.)



Petra Chaves, Zé Pedro, André Fischer, eu e Carmita Abdo, falando sobre muitas outras viadagens.




Terminando esse papo gay, gravei hoje entrevista no programa do André Fischer com a Petra Chaves, na CBN. Vai ao ar este domingo, 22h. Ouve lá, que foi bem bacana; fui inclusive muito além do papai-mamãe (ou "papai-papai") fazendo minha "defesa da necrofilia."




Amanhã, meu querido amigo Dan Nakagawa lança disco, clipe e tudo mais. No Estúdio M, onde acabei com minha juventude.


26/09/2011

CASEI




Tá, sei que não convence.


Final de semana delicioso, cheio de programinhas e duas notícias incríveis, que ainda não posso dar aqui.


Mas estive no casamento do Mauro Motoki - guitarrista do Ludov - uma puta festa, que me colocou numa situação complicada: eu nunca, nunca havia ido num casamento, e agora vou esperar que todos sejam assim. De primeira.


Esperando a noiva.


Foi num buffet afastado de São Paulo, lugar lindo, mesmo com chuva, e além da família do noivo estava repleto de músicos, amigos de outrora, gente que eu não via há muito tempo.


O cenário.

Chega a noiva, Michele.


Mauro. Casalzinho lindo.

Teve até discurso do Tadeu Schmidt, apresentador do Fantástico, que é muito amigo do Mauro.




Apesar de todos os discursos, o que eu mais gostei foi do Mauro mesmo, simplesmente por ele dizer para a noiva: "Você é a pessoa mais legal que eu conheço." Acho que é a melhor coisa que se pode dizer e achar da pessoa com quem você está casando.




E banda ao vivo, com participação do próprio noivo e da diva under Miranda Kassin.



Gabi era minha amiga querida de escola, e só fui rever no casamento.



Outro casalzinho lindo.








Minha parceira foi minha ex-mulher, Fabbie, que com o frio que fazia roubou meu paletó.





E o final de semana ainda teve dois espetáculos incríveis: "Os Altruistas", com Mariana Ximenes detonando no palco no papel de uma atriz decadente, sob direção do grande Guilherme Weber, e "Tráfego", da companhia Nova Dança, um espetáculo clownesco de dança, lindinho, lindinho.




É. Às vezes São Paulo compensa.

21/09/2011

E OS JOVENS CINEASTAS...

Finalmente ontem consegui ver o longa do querido Charly Braun (é inevitável não cantar: "Eeeeeei, meu amigo Charly, eeeeeeeeeei, meu amigo Charly Braun, Charly Braun...") Além da Estrada é um road movie delicadíssimo, passado no Uruguai, meio sem trama definida, num estilo quase documental delicioso. Parece uma declaração de amor do Charly ao país de sua família. Bem bonito.

Lembro de quando conheci o Charly, há alguns anos, ele estava sondando textos meus para fazer um curta. "Mas não quero nada com morte, nada com sangue, serial killer," ele me disse. "Putz, você chega numa churrascaria e diz que não come carne? Posso ver o que tem no buffet de saladas, mas não é minha especialidade..." foi minha resposta. Acabamos não trabalhando juntos. E foi melhor assim. A delicadeza que ele conseguiu agora em seu longa (que tem argumento de outro querido, Felipe Sholl), não me pertence mesmo.


E fico bem feliz que essa geração, minha geração e meus amigos estejam começando com seus longas. Teve o Esmir Filho, com seu lindo (com péssimo título) Os Famosos e os Duendes da Morte; agora o Charly; tem também o Marco Dutra "flertando com o terror" em Trabalhar Cansa, que estreia na próxima semana. Daniel Ribeiro é outro que está com um trabalho lindo...



E Feriado de Mim Mesmo volta a ser cogitado, "cogitado." Depois da peça fodástica que estreou no Rio (e que já saiu de cartaz por lá, mas deve vir a SP no começo do próximo ano), voltamos a falar do filme. Quem assumiu o projeto agora é o Rafael Primot, que há tempos está de olho no livro. Mas por enquanto é só um projeto...

Com o cinema real-nacionalista que se fazia por aqui, seria difícil ver uma obra minha nas telas (quem sabe Olívio?) - felizmente a coisa está mudando. Também acho que há várias coisas adaptáveis em Pornofantasma, a começar pela novelinha-título. Quem sabe com essa nova geração que está aparecendo aí?

19/09/2011

MENINAS SUPERPODEROSAS RELOADED


Nesta quarta, Elisa Nazarian, minha mãe, lança seu terceiro livro - de contos - Bilhete Seco. É na Vila da Fradique. Vá, que eu perdôo por você ter faltado no meu.




E já estava esquecendo de avisar por aqui que já está nas bancas a entrevista que fiz com a Fafá de Belém para a revista Joyce Pascowitch. Foi bem divertida. Fafá falou da campanha pelas diretas, a fama de pé-frio, drogas, homossexualidade; na verdade, foi uma entrevista fácil, porque ela fala bem. Meu trabalho basicamente foi fazer uma boa transcrição.

E hoje é só isso.

Fafá. Fofa.

18/09/2011

PERCA PESOS, PERGUNTE-ME COMO


No Chila, com a Fabbie. Seis pratos e 900 pesos depois...


Acabei de voltar de Buenos Aires, depois de nove dias. Foi bom, mas nem tanto. Além do Festival (FILBA), eu tinha muito trabalho a fazer, não estava no meu melhor ânimo e nem na minha melhor saúde. Mas deu bem para aproveitar...

Desde 2007 que eu não voltava para a cidade. Tinha ouvido vários alertas sobre Buenos Aires, que estava muito perigoso, que estava muito decadente, mas não é bem assim não. Perigo eu não senti nenhum. Decadência talvez. A cidade está muito suja, os preços estão meio malucos. Já não é lá muito barato e o custo benefício não vale tanto a pena. Acho bem desagradável essa coisa portenha de tratar todo mundo com estupidez, os péssimos serviços em restaurantes e hotéis, bem parecido com Caracas, na real...

Mas apesar de tudo, Buenos Aires continua linda, assim como os argentinos. É, eles são lindos mesmo, são estilosos, sabem se vestir, e todos os cabeludos que faltam no Brasil estão lá (no mundo hétero, é claro, porque os gays são os babacas de sempre que acham que têm de se "fantasiar de machinhos"). Acho que a Argentina tem exatamente o que falta no Brasil, e vice-versa.



Com as mulheres da minha vida, Fabbie e Romina.


Mas o que mais vai fazer falta é a Romina, grande amiga de lá que só encontro de anos em anos e foi minha melhor guia pela cidade. Fabbie, minha ex-namorada de séculos atrás, também estava na cidade, e conseguimos sair para jantar em grande estilo.




Em Puerto Madero.



Como você pode ver pelas fotos, foi também a viagem para consagrar meu Iphone. Me rendi recentemente. Não sou muito fã de celular, detesto falar ao telefone, mas claro que um Iphone vai muito além disso. Eu já tive um Motodext, que nunca funcionou perfeitamente; mas tenho de admitir que as funções do Iphone são inesgotáveis, especialmente para uma viagem; desde tirar e postar fotos, checar emails, verificar mapas e trajetos, usar como Ipod, usar o Grindr... (Bem, sobre isso eu falo em breve, em outro post....)

Cheguei a discotecar om o Iphone, no Ultra. Era uma baladinha Indie (e talvez o set do Estudio Emme tivesse funcionado bem por lá) e eu percebi que não ia nem fodendo rolar tocar Cauby Peixoto. Pulei várias das músicas que eu tinha programado, ninguém se importou, me largaram sozinho na cabine de DJ e de repente eu estava discotecando com o Iphone porque não tinha mais nada em CD. Foi bom; provavelmente eu fui o único DJ na Argentina (ou no PLANETA?) a discotecar o single novo do Brett Anderson?



Depois, naquelas festas em que você já está bêbado, entra no banheiro, olha no espelho, acha que devia tirar umas fotos, e enquanto isso o povo fica batendo na porta, achando que você está cheirando.


O título do post é "Perca Pesos", basicamente pelo que gastei por lá... ou o que engordei. Alfajores, alfajores. Buenos Aires tem isso muito parecido com Paris, cafés em todas as esquinas (enquanto São Paulo inventa uma bagaceirices tipo "Café Suplicy", em que você paga caro pra caralho para pegar um café no balcão, levar numa bandeja e sentar numa mesa meio MacDonalds).

Enfim, sei lá... Eu na real sou um ser paulistano, hiper-urbano e mal acostumado com os excessos, e estou percebendo que como tal não vou me satisfazer nunca mesmo; o ideal é poder estar sempre viajando, aproveitando o melhor do que tem por aí.

E tem grandes coisas vindo aí...

Daqui a exatamente um mês estou de volta na FINLÂNDIA, depois RÚSSIA, ESTÔNIA e ALEMANHA.

Na festa de sexta, em Buenos Aires. Era pra ser uma fantasia meio Zorro, mas ficou mais Bruxa Má do Leste, diz aí?



16/09/2011

BUENAS


Minha segunda mesa aqui na Filba: Florencia Garramuño, eu, Adriana Lisboa e Vilma Arêas.


Continuo em Buenos Aires, ainda no Festival Literário Internacional.

Minha primeira mesa com o Noll e Moreno Veloso teve ótima cobertura da imprensa. Incluindo isso:


El rol provocador lo cumplió a la perfección Nazarian. “Brasil no existe por escrito y no tiene concordancia verbal”, dijo el escritor durante la lectura de un texto titulado Yo contra Brasil, para calentar el ambiente del auditorio del Malba.






A segunda mesa já foi mais ou menos, no meio da semana, meio vazia, e um tema pouco motivador para mim (Machado e Guimarães). Mas as meninas seguraram a discussão.


Hoje tem a festa de encerramento da Filba. Devo discotecar um setzinho lounge, com o melhor da nova música brasileira... e dos meus amigos.


Mais ou menos isso:

Brazil - Cornélius
Três - Marina Lima
Ascendente em Câncer - Filipe Catto
Pelos Ares - Adriana Calcanhotto
Olhar Brasileiro - Eduardo Dussek
O Último a Saber - Thiago Pethit
Producta, Sonho e Fumaça - Karine Alexandrino
Luzes da Ribalta - Cauby Peixoto
Ovelhinhas - Cidadão Instigado
O Livro e o Beijo - Moreno Veloso
Beatle George - Jupiter Maçã
Faking Faces - Stop Play Moon
O Salto a Queda - Ludov
Te Acho tão Bonito - Malu Magalhães
Invejoso - Arnaldo Antunes
Depois - Pato Fu
Ai, Amor - Tetine
Funk da Frígida - Claudia Wonder
Hits me Like a Rock - CSS

Meus dias aqui tem sido tranquilos. Na verdade, tenho ficado mais trancado no hotel, para correr com as traduções. Mas tenho comido muito bem e fiz algumas comprinhas. Buenos Aires não está tão barata quanto há alguns anos, mas praticamente o mundo inteiro está mais barato do que o Brasil agora...

Hoje, para piorar, estou gripado. Espero que eu consiga aproveitar o final de semana. Estou há uma semana aqui e só saí mesmo na noite sábado passado. Ah, é a idade chegando...


Com Moreno Veloso, perdidos na cidade.

13/09/2011

PAUSA PARA MÚSICA



Ó taí um quarentão para chamar de meu... Brett Anderson continua do caralho. Já é minha música de 2011.

De resto, continuo em Buenos Aires, sem grandes entusiasmos...

12/09/2011

MY DARK STAR


Minha mesa ontem, com Moreno Veloso e João Gilberto Noll, moderados por Gonzalo Aguilar.


Estou aqui em Buenos Aires, no FILBA, festival literário cheio de atividades e debates, mas menos integrado, talvez do que outros que fui. Quero dizer. os eventos são mais dispersos, não há aquele espírito de festa, de reunir todos os escritores, de almoços e jantares, eu nem sei exatamente quem está aqui, quais brasileiros já chegaram, se estão todos hospedados neste hotel, vi pouca gente além do Noll e do Moreno. Um clima meio parecido com o das bienais...


Mas o debate de ontem foi bem bacana, num auditório enorme, cheio; Noll é evidentemente um gênio e Moreno Veloso é bem talentoso e simpático. Foi bacana.



Moreno, eu e Noll.

Eu basicamente li meu texto "Yo Contra Brasil", em espanhol, e discutimos também um pouco a situação do Brasil atualmente, na literatura e fora dela.


Meu espanhol ainda rateia bem, mas dá para falar com fluência (também já passei por isso no Chile, Colômbia, Peru, Venezuela, Espanha...)



Depois do debate, fui jantar com Noll e Gonzalo.



Tá vendo esse baldão meio KFC? É jacaré! Pedi um balde de jacaré frito. Não, não é um prato típico argentino, mas tinha no cardápio e eu não podia deixar passada. Jacaré é sempre ótimo.


Carmen foi minha editora na Planeta do Brasil. Agora está de volta à Argentina. Foi no debate e foi depois jantar com a gente. Fofa.



Mas o melhor da viagem, sem dúvida, foi reencontrar Romina, estilista argentina, amiga minha desde a adolescência, que posso passar anos sem ver, mas é como se tívesse se passado só uma semana. E ela continua linda-linda.



Também pude rever a querida Samantha Schwebling (ao centro), grande escritora argentina, que conheci ano passado em Madrí, e que em breve terá um de seus livros lançados no Brasil, pela Saraiva. Ofereceu um belo churrasco em sua casa, feito pelo marido.


O festival continua. Eu fico aqui até o próximo domingo. Hoje diversos autores leram trechos curtos de obras que foram importantes para sua formação. Eu li (em inglês) um trecho de "The Ballad of the Reading Gaol", aquele poema do Wilde com os versos:



Yet each man kills the thing he loves
By each let this be heard,

Some do it with a bitter look,

Some with a flattering word,

The coward does it with a kiss,

The brave man with a sword!



Meu próximo compromisso é na quarta. Esse aqui:




Miércoles 14 de septiembre, 16.00 hs – MALBA


PANEL HOMENAJE: MACHADO DE ASSIS Y GUIMARÂES ROSA


VILMA ARÊAS, SANTIAGO NAZARIAN, ADRIANA LISBOA Y FLORENCIA GARRAMUÑO

MODERA: MARIO CÁMARA



Eu bem avisei que não sou especialista em Machado nem em Guimarães; que nem ao menos são autores que me empolgam, mas aparentemente eles queriam uma voz discordante (ou me encaixar em mais mesas) então estarei lá.

E ainda discoteco na festa de encerramento, na sexta. Espero não despencar novamente do palco, como na última vez, porque meu joelho ainda não está 100%...





08/09/2011

EU NÃO SEI SAMBAR



Sábado 10 de septiembre, 18.00 hs – MALBA

PANEL
BRASIL POR BRASIL
JOÂO GILBERTO NOLL, SANTIAGO NAZARIAN, MORENO VELOSO
MODERA: GONZALO AGUILAR

El escritor Joâo Gilberto Noll (Harmada), el poeta y narrador Santiago Nazarian (Pornofantasma) y el músico Moreno Veloso (Máquina de escrever música), tres figuras relevantes de la cultura brasileña contemporánea, abordarán la actualidad cultural de Brasil —los circuitos establecidos, los vasos comunicantes entre distintas disciplinas, los temas de interés y puntos en conflicto que se juegan en cada ambiente—, al tiempo que recomendarán diferentes lecturas para intentar una aproximación a la cultura brasileña.

(reparem no "poeta e narrador"; nesses eventos internacionais, nunca se satisfazem em me chamar apenas de escritor, sempre arrumam uma nova ocupação para mim. Já foi DJ, já foi modelo... Acho que prefiro "modelo" a "poeta")

Estou fazendo as malas para a Argentina - Festival Internacional de Literatura em Buenos Aires, a FILBA, uma espécie de Flip portenha. Além da mesa acima, tenho outra sobre Machado de Assis (? Eu avisei a eles que o Machadão nunca me empolgou, mas parece que eles querem mesmo uma voz discordante), algumas atividades mais soltinhas e ainda vou discotecar na festa de encerramento, na sexta (16). Para ir na contramão, devo tocar artistas brasileiros mais alternativos - CSS, Stop Play Moon, Thiago Pethit, Filipe Catto, Pato Fu...

Nove dias por lá. Vai ser ótimo também para encontrar amigas queridas de quem morro de saudades, a escritora Samanta Schweblin (que conheci ano passado em Madrí) e a estilista Romina Alessi, amiga minha desde a adolescência, e uma das meninas que mais amo no mundo.


É sempre estranho (e gostoso) representar o Brasil nesses eventos... Já escrevi sobre isso inclusive para o Clarín, de lá, ano passado. Aproveito para reproduzir o texto aqui:



Eu contra o Brasil – Santiago Nazarian

Eu não sei sambar. Não jogo futebol. Não mato cobras na porta de casa e sandálias Havaianas provocam bolhas em meus pés.


Sou escritor. Escrevo romances apocalípticos sobre suicidas, jacarés assassinos e cidades infestadas por zumbis. Quando minha carreira alargou fronteiras e eu comecei a ser convidado para eventos literários e publicações fora do Brasil, me vi estranhamente no papel de representante de um país. O país que me gerou, por certo, mas ainda não exatamente o país a que pertenço. Um país que não lê o que escrevo (porque não lê em geral), e que perturba minhas horas de escrita e de leitura com rojões, gritos de torcida, carnaval.

O que há desse país em mim, para eu representar?

Escrever sobre o Brasil... a mim me parece um paradoxo. O Brasil não existe por escrito. Não pode ser capturado nos dedos e não tem concordância verbal. Brasil pontuado e com todos os acentos está muito distante do que vive o povo, do que é feito o povo, do que se vive aqui de fato.
Num encontro com o escritor americano Daniel Mason, em 2003, na Festa Literária Internacional de Parati (FLIP), ele me revelou o desejo de escrever um romance passado no Brasil. “Mas não gostaria que fosse o olhar de um estrangeiro,” me confessou, o que para mim parecia uma missão utópica. Como se pode examinar algo quando se faz parte dele? Aquela velha máxima: só se pode perceber a Terra como redonda olhando-se de fora. O próprio escritor brasileiro deve adotar essa postura, sua porção de estrangeiro, se deseja realmente compreender e interpretar o Brasil. Eu não me atrevo. Como escritor, me interessa sempre criar um universo próprio, impreciso, uma terra onde me sinto mais confortável... mesmo com zumbis. (Por sinal, aparentemente Mason transformou o projeto de Brasil num país fictício, em seu romance, A Far Country, publicado em 2007.)

O olhar do escritor será sempre o de um forasteiro. Escrever - quando estão todos sambando, comemorando gols, matando cobras na porta de casa – já torna você um estrangeiro, excluído, pária.

Bem, talvez eu esteja exagerando...

Talvez minha experiência como brasileiro seja atípica não apenas por ser escritor. Talvez haja a estranheza adicional por minha homossexualidade – veja só, mais uma minoria. Ou talvez seja apenas o trauma de infância por não jogar futebol...

“Para que time você torce,” é a primeira pergunta que todo menino escuta quando entra num novo colégio, quando conhece novos meninos. Sua habilidade para jogar bola na infância determinará se você será uma criança integrada ou não. Você vê os dois meninos mais populares da classe escolhendo os jogadores para seus times e você vai ficando por último, junto aos gordos, os mancos, os amaldiçoados. Eu ainda conseguia conquistar alguns amigos pelo videogame – fui o primeiro a ter o Nintendo de 8-bits do meu colégio (veja só, um geek de raiz). Mas, no final, meus amigos sempre acabavam sendo roubados pelo meu primo, que jogava bola e tinha um campo de futebol em casa. (Eu ficava trancado no quarto, tentando matar o Drácula de Castlevania.)

Em meu romance Mastigando Humanos, um jacaré solitário tenta escrever num quarto de hotel, enquanto a cidade toda é sacudida por Godzilla. O jacaré prepara um grande romance sobre sua vida, mas se pergunta quem se interessará por essas picuinhas quando há um réptil tão maior, mais perigoso, sem a mínima delicadeza ou sofisticação destruindo a cidade. Ronaldo Fenômeno é meu Godzilla. Que se torna notícia instantânea em todo país (e além) apenas por uma contusão no joelho (ou por ser pego num motel com travestis), enquanto anos de meu trabalho se tornam um 1/4, quem sabe meia página, numa resenha de jornal (se tivermos sorte).

Seremos sempre minoria.

Mas não é preciso nem pensar apenas em nós escritores (nós leitores), animais sempre tão exóticos, penso nos esportistas menos óbvios, ginastas, tenistas. Gente que passa anos e anos treinando contra todo o país, o país lutando contra, o país investindo apenas em futebol, sem conseguir patrocínio, sem lugar para treinar, as quadras ocupadas por campos. Esportistas que pagam caro para conseguir um ginásio, uma raquete, uma passagem internacional. E quando conseguem uma medalha num grande mundial.... Vitória do Brasil!!! Vitória do Brasil? Eu reclamaria essa vitória só para mim.

Lutar contra também forma o que somos.

E isso tudo é o que nos forma, o que me forma genuinamente brasileiro. Relendo este texto, vejo o que tenho para contar, que minha experiência de vida é intrinsecamente formada por eu morar no Brasil. As Copas do Mundo, os carnavais, o samba e todos os clichês inevitavelmente fazem parte de minha vida. (Aliás, levei chineladas de Havaianas na infância...). Ser excluído dos times talvez tenha tornado o futebol mais importante para minha formação do que para os campeões da minha escola.

Mas estou apenas nos clichês... Será que é só isso de que é feito o Brasil e os brasileiros?

Eu não saberia dizer. Como eu disse, me falta algo do olhar do estrangeiro, por isso não me atrevo a escrever (em livro) sobre o Brasil. O que há no meu país além do clichê é algo que eu, peixe mergulhado na água, não posso perceber. Só posso tentar decifrar e explicar minha experiência como brasileiro com o que existe de estereótipo, com o que se vê comentado pelo estrangeiro, com o que chama a atenção de fora. Há várias outras coisas em mim tipicamente brasileiras, que eu não poderia perceber.

Quando estive na Finlândia, recebi olhares curiosos. Tenho olhos e cabelos castanhos, um tom de pele certamente não-escandinavo, de repente também uma malemolência, algo que visto de fora, de longe, por olhos cristalinos, pode formar a figura precisa de um latino. “Você é brasileiro mesmo? Brasileiro nascido no Brasil?” Veja só, conquistei uma grife. Aproveito toda essa estirpe e chachachá num país que não está acostumado a receber tantos turistas.

Eu não leio Machado, não sou fã de Caetano e não tenho rixas com argentinos. Mas moro na praia, pratico kite-surf, e faço uma caipirinha como ninguém.


06/09/2011

BOOKS ON THE TABLE



Tchick, de Wolfgang Herrndorf, publicado no Brasil pela Tordesilhas.






Quantas vezes mergulhamos em grandes histórias, na companhia de grandes personagens e nos deixamos perder em noites e noites de aventuras, ansiosos pelo desfecho mas, ao mesmo tempo, com pena de que a coisa acabe logo? Bem, isso parece ser cada vez mais comum com seriados de TV, até com videogames, mas menos com romances de ficção. Afinal, quando foi a última vez que você realmente se empolgou por um livro?

Agora você tem em mãos a oportunidade perfeita. Tchick é um romance premiado, que se tornou uma febre na Alemanha. Com uma narrativa ágil, inteligente, divertida e nada babaca, é um livro jovem, no melhor sentido da palavra.

Maik é um adolescente tímido, meio nerd, sem grandes amigos na escola. Tchik é um aluno novo, filho de russos, visto como alcoólatra e marginal pelos colegas. Nas férias de verão, esses dois se aproximam e, dirigindo um Lada roubado, saem pela Alemanha vivendo histórias cabulosas, encontrando seres esquisitíssimos e descobrindo o valor da amizade. Ok, você pode até imaginar o que vai acontecer, mas eles vão muito mais longe do que você espera...




Eu me perdi com eles. Fiquei com pena quando a história acabou e já estou com saudades. Queria encontrar mais livros assim.

Existem incontáveis road books, e infinitos romances de formação. E Tchick talvez seja exatamente isso, um belo exemplo dos dois. Não é preciso nada mais para ser o candidato perfeito ao grande livro da sua adolescência. – Santiago Nazarian






Orelha que escrevi para Tchick, romance juvenil (ou para "jovens adultos") que acaba de sair pela Tordesilhas, selo da Alaúde, traduzido do alemão por Claudia Abeling. Leitura das mais prazerosas, pode confiar que meu texto de orelha é dos mais sinceros, por isso indico por aqui.



Chegou esta semana também A Noiva do Tigre, romance da sérvia radicada nos EUA, Téa Obrecht, de 25 anos, que recentemente recebeu o prestigiado prêmio Orange, para mulheres que escrevem ficção.




Téa, premiada, recheada e consistente.



Esse eu mesmo traduzi, para a Leya, romance muito, muito bem escrito, de uma jovem médica que reve antigas histórias e fábulas do avô, para tentar entender sua morte. Talvez um parente mais denso de Peixe Grande.



Falando em "universo Tim Burton", também traduzi A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça, que também está sendo publicado pela Leya. É o romance original escrito por Washington Irvin, em 1820, que inspirou o (péssimo) filme com Johnny Depp, mas antes disso um belo desenho da Disney, dos anos 50, com narração de Bing Crosby.



O desenho é bem mais fiel à novela de Irving do que o filme. É uma lenda clássica, com rica descrição de cenários e costumes da época, não exatamente indicada a leitores inexperientes (na verdade, preciso dizer que foi dos textos mais complicados de traduzir, pela linguagem arcaica. Tenho me especializado cada vez mais na linguagem coloquial e nos diálogos soltinhos. Mas foi um belo exercício.)









Tem sido bacana pegar esses trabalhos, que têm a ver com meu universo criativo, me inspiram e me ensinam. Tenho traduzido muita coisa nesse campo de literatura fantástica da melhor qualidade, para a Leya (como A Garota dos Pés de Vidro, do Ali Shaw, que saiu ano passado e é dos meus favoritos de todos os tempos.)



Tenho mesmo que me apoiar em obras como essa, já que o universo literário brasileiro ainda é tão realista, tão pretensamente cabeçudo, tão distante do que me empolga e do que eu gosto de fazer.

05/09/2011

HANG THE DJ

Fabiano Karvax, eu e Thiago Pethit, no último sábado.

Há um bom tempo que eu não "atacava de DJ." Já não sou tão jovem, não tenho tanta saúde... nem paciência para balada. Mas o querido Fabiano Karvax me convidou especialmente para o aniversário de um ano da sua Squat Party, e lá fui eu.


Jana, que eu não via desde tempos de SPFW.


Valeu por encontrar velhos amigos, Thiago, Jana, e para tocar numa mega pista coisinhas que eu só ouvia em alto volume nos meus fones... Mas não que a seleção tenha dado exatemente certo. Talvez tenha sido indie demais para a pista - absurdamente pop - e foi bem curtinha.... Mais ou menos isso:

Vinheta - Cassetada na Vovó Cantora
Tetine - I Go to the Doctor (CSS remix)
Eurythmics - I Love You Like a Ball and Chain
Blondie - Mother
Delphic - Counterpoint
La Roux - Tigerly
Suede - Beautiful Ones
Hot Chip - Ready for the Floor
Royksopp - Circuit Breaker
Kwan - 10.ooo Light Years


Foi lindo enfiar Suede e Kwan na pista, mas não farei mais isso não. Para mim ficou claro que não tem mais graça tocar para um povo que houve Lady Gaga, Rihanna... (uma das bichas "da casa" sugeriu inclusive que eu tocasse Madonna; um moleque de boné subia insistentemente no palco pedindo para tocar Britney...).

Mas a grande cassetada da noite aconteceu quando fui atravessar a cortina do backstage e caí num vão - agora estou com a perna praticamente imobilizada, trancado em casa.

E é bom que melhore até sexta, quando parto para a Argentina - Festa Literária de Buenos Aires - onde participarei de duas mesas e ainda... discotecarei na festa de encarramento (pffffff). Estou querendo levar coisas brasileiras estranhas - a minha tendência desaconselhável de tentar "instruir a pista" - mas ainda não sei. Pelo menos será uma discotecagem mais lounge, eu não terei o compromisso de fazer ninguém dançar.




Batendo cabelo com Fabiano.




NESTE SÁBADO!