Tchick, de Wolfgang Herrndorf, publicado no Brasil pela Tordesilhas.
Quantas vezes mergulhamos em grandes histórias, na companhia de grandes personagens e nos deixamos perder em noites e noites de aventuras, ansiosos pelo desfecho mas, ao mesmo tempo, com pena de que a coisa acabe logo? Bem, isso parece ser cada vez mais comum com seriados de TV, até com videogames, mas menos com romances de ficção. Afinal, quando foi a última vez que você realmente se empolgou por um livro?
Agora você tem em mãos a oportunidade perfeita. Tchick é um romance premiado, que se tornou uma febre na Alemanha. Com uma narrativa ágil, inteligente, divertida e nada babaca, é um livro jovem, no melhor sentido da palavra.
Maik é um adolescente tímido, meio nerd, sem grandes amigos na escola. Tchik é um aluno novo, filho de russos, visto como alcoólatra e marginal pelos colegas. Nas férias de verão, esses dois se aproximam e, dirigindo um Lada roubado, saem pela Alemanha vivendo histórias cabulosas, encontrando seres esquisitíssimos e descobrindo o valor da amizade. Ok, você pode até imaginar o que vai acontecer, mas eles vão muito mais longe do que você espera...
Eu me perdi com eles. Fiquei com pena quando a história acabou e já estou com saudades. Queria encontrar mais livros assim.
Existem incontáveis road books, e infinitos romances de formação. E Tchick talvez seja exatamente isso, um belo exemplo dos dois. Não é preciso nada mais para ser o candidato perfeito ao grande livro da sua adolescência. – Santiago Nazarian
Orelha que escrevi para Tchick, romance juvenil (ou para "jovens adultos") que acaba de sair pela Tordesilhas, selo da Alaúde, traduzido do alemão por Claudia Abeling. Leitura das mais prazerosas, pode confiar que meu texto de orelha é dos mais sinceros, por isso indico por aqui.
Chegou esta semana também A Noiva do Tigre, romance da sérvia radicada nos EUA, Téa Obrecht, de 25 anos, que recentemente recebeu o prestigiado prêmio Orange, para mulheres que escrevem ficção.
Téa, premiada, recheada e consistente.
Esse eu mesmo traduzi, para a Leya, romance muito, muito bem escrito, de uma jovem médica que reve antigas histórias e fábulas do avô, para tentar entender sua morte. Talvez um parente mais denso de Peixe Grande.
Falando em "universo Tim Burton", também traduzi A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça, que também está sendo publicado pela Leya. É o romance original escrito por Washington Irvin, em 1820, que inspirou o (péssimo) filme com Johnny Depp, mas antes disso um belo desenho da Disney, dos anos 50, com narração de Bing Crosby.
O desenho é bem mais fiel à novela de Irving do que o filme. É uma lenda clássica, com rica descrição de cenários e costumes da época, não exatamente indicada a leitores inexperientes (na verdade, preciso dizer que foi dos textos mais complicados de traduzir, pela linguagem arcaica. Tenho me especializado cada vez mais na linguagem coloquial e nos diálogos soltinhos. Mas foi um belo exercício.)
Tem sido bacana pegar esses trabalhos, que têm a ver com meu universo criativo, me inspiram e me ensinam. Tenho traduzido muita coisa nesse campo de literatura fantástica da melhor qualidade, para a Leya (como A Garota dos Pés de Vidro, do Ali Shaw, que saiu ano passado e é dos meus favoritos de todos os tempos.)
Tenho mesmo que me apoiar em obras como essa, já que o universo literário brasileiro ainda é tão realista, tão pretensamente cabeçudo, tão distante do que me empolga e do que eu gosto de fazer.