05/08/2014

FECHANDO A FESTA

Para encerrar o assunto FLIP, coloco a resenha que escrevi semana passada para a Folha sobre o livro da neozelandesa Eleanor Catton, um dos destaques da festa.

Resenha complicada. Um livro de quase 900 páginas, vencedor do Booker Prize, seria fácil colocar piloto automático e só elogiar. Está longe de ser uma obra mediana - e o talento da autora é inegável - mas eu procuro sempre escrever com o olhar do leitor médio, o leitor de jornal, não uma análise literária profunda, até pelo tamanho e espaço que tenho na Folha.

E o resultado foi esse, uma avaliação de como a proposta do livro pode restringir seu alcance, como ele não faz muito sentido fora de uma esfera de experimentação literária um pouco exaustiva.

Taí:

“Improvável” é um eufemismo para um romance de quase novecentas páginas escrito por uma jovem autora quase estreante que arrebata um dos prêmios literários mais importantes do mundo e consequentemente chega a países “improváveis”, como o Brasil.
“Os Luminares” é o segundo romance da neozelandesa Eleanor Catton, aos vinte e oito anos a autora mais jovem a ganhar o Man Booker Prize de 2013. Ela já havia sido finalista de prêmios como o Orange por seu livro de estreia (“O Ensaio”, publicado no Brasil em 2012 pela Record) o que certamente lhe deu munição e confiança para escrever esse épico e, talvez mais importante, lhe garantiu ser publicada e lida.
Pois, apesar de estar longe de ter um texto difícil – baseado em diálogos, o texto é coloquial e fluido – sua extensão intimida e não é possível identificar UMA trama em “Os Luminares”. A história se desdobra em acontecimentos e personagens como um folhetim do século dezenove (época em que é ambientada).
Doze homens se encontram num salão de hotel na Nova Zelândia para discutir sobre questões que vem instigando a região na época da corrida do ouro, segunda metade do século dezenove. Um forasteiro vindo da Inglaterra adentra o recinto e é recebido com desconfiança, compartilhando aos poucos sua biografia e se inteirando das questões discutidas- um bêbado é encontrado morto em sua cabana, que esconde uma pequena fortuna; uma prostituta tem uma overdose e acorda numa cela com um vestido recheado de ouro; um prospector desaparece deixando suas posses abandonadas. É um pano de fundo clássico, e um ótimo pano de fundo, mas é só o começo (embora tome quase quatrocentas páginas). Esses mistérios vão se desdobrando e interligando e o romance avança trazendo muitos outros – um traficante chinês empenhado em uma vingança; um contrato de doação encontrado sem assinatura; uma sessão espírita comandada por uma notória trambiqueira. Como qualquer folhetim, mais importante do que solucionar parece ser criar mistérios.
Catton obviamente tem talento, escreve com humor e leveza, emprestando a esse tom folhetinesco em certos momentos quase uma sátira, o que impede o tomo de ser maçante e se revela um excelente pastiche. Mas não deixa de ser um pastiche, e não soluciona os principais enigmas: o que este livro traz de novo? Por que ler isso no lugar de Dickens? Para quem foi escrito isso? E, principalmente, quem desbravará “Os Luminares” num país como o Brasil?
Avaliação: Regular
   

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