Resenha complicada. Um livro de quase 900 páginas, vencedor do Booker Prize, seria fácil colocar piloto automático e só elogiar. Está longe de ser uma obra mediana - e o talento da autora é inegável - mas eu procuro sempre escrever com o olhar do leitor médio, o leitor de jornal, não uma análise literária profunda, até pelo tamanho e espaço que tenho na Folha.
E o resultado foi esse, uma avaliação de como a proposta do livro pode restringir seu alcance, como ele não faz muito sentido fora de uma esfera de experimentação literária um pouco exaustiva.
Taí:
“Improvável” é um
eufemismo para um romance de quase novecentas páginas escrito por uma jovem
autora quase estreante que arrebata um dos prêmios literários mais importantes
do mundo e consequentemente chega a países “improváveis”, como o Brasil.
“Os Luminares” é o segundo
romance da neozelandesa Eleanor Catton, aos vinte e oito anos a autora mais
jovem a ganhar o Man Booker Prize de 2013. Ela já havia sido finalista de
prêmios como o Orange por seu livro de estreia (“O Ensaio”, publicado no Brasil
em 2012 pela Record) o que certamente lhe deu munição e confiança para escrever
esse épico e, talvez mais importante, lhe garantiu ser publicada e lida.
Pois, apesar de estar
longe de ter um texto difícil – baseado em diálogos, o texto é coloquial e fluido
– sua extensão intimida e não é possível identificar UMA trama em “Os
Luminares”. A história se desdobra em acontecimentos e personagens como um
folhetim do século dezenove (época em que é ambientada).
Doze homens se
encontram num salão de hotel na Nova Zelândia para discutir sobre questões que
vem instigando a região na época da corrida do ouro, segunda metade do século
dezenove. Um forasteiro vindo da Inglaterra adentra o recinto e é recebido com
desconfiança, compartilhando aos poucos sua biografia e se inteirando das
questões discutidas- um bêbado é encontrado morto em sua cabana, que esconde
uma pequena fortuna; uma prostituta tem uma overdose e acorda numa cela com um
vestido recheado de ouro; um prospector desaparece deixando suas posses
abandonadas. É um pano de fundo clássico, e um ótimo pano de fundo, mas é só o
começo (embora tome quase quatrocentas páginas). Esses mistérios vão se
desdobrando e interligando e o romance avança trazendo muitos outros – um
traficante chinês empenhado em uma vingança; um contrato de doação encontrado
sem assinatura; uma sessão espírita comandada por uma notória trambiqueira. Como
qualquer folhetim, mais importante do que solucionar parece ser criar
mistérios.
Catton obviamente tem
talento, escreve com humor e leveza, emprestando a esse tom folhetinesco em
certos momentos quase uma sátira, o que impede o tomo de ser maçante e se
revela um excelente pastiche. Mas não deixa de ser um pastiche, e não soluciona
os principais enigmas: o que este livro traz de novo? Por que ler isso no lugar
de Dickens? Para quem foi escrito isso? E, principalmente, quem desbravará “Os
Luminares” num país como o Brasil?
Avaliação: Regular