Pós-Flip... (é, FLIP, ainda) pré-Bienal, voltam as
discussões sobre os eventos literários. O Globo deste final de semana colocou
divertidos depoimentos de Joca Terron, Andrea Del Fuego e André Sant’Anna sobre
o tema. É um consenso que as feiras, festas, festivais e bienais literários se
multiplicaram absurdamente na última década. E é comum os escritores discutirem
sua validade para além dos cachês, o público ouvinte que não se configura como público leitor, a atual necessidade do escritor ser uma espécie de popstar.
Discuti um pouco sobre isso num debate na TV
Cultura semana passada (vídeo acima) e tenho participado dessa discussão com
frequência. Como eu disse, esse eventos mais vendem a figura do escritor – como
um stand-up de elite – do que seus livros. Mas contesto essa ideia de que o
escritor seja visto como popstar, até
porque o Brasil não é um país de popstars.
“Exige-se a presença do escritor sim, mas com a
pose de intelectual sério, o professor. Ele tem de fazer parte das panelinhas
acadêmicas e editoriais, tem de aparentar Intelectualidade", comentei recentemente numa entrevista para o Luciano Trigo. O escritor convidado para os
eventos literários é o intelectual desinibido,
o cara sóbrio e sábio que reflete o pensamento de seu tempo, não
necessariamente confronta, traz algo novo ou provocativo, e muito menos se assemelha a um popstar.
Os belos depoimentos de Terron, Del Fuego e Sant’Anna
no Globo expõem uma visão parcial. Provavelmente foram convidados pelo jornal por
participarem muito desses eventos - e isso já comunica outra verdade: há muitos
eventos, mas os convidados são sempre os mesmos.
Ao que parece, todos os autores têm um excesso de
convites, maior do que dão conta, e isso se torna uma espécie de problema. Com
certeza não é a regra. A regra são escritores ESMOLANDO por um convite de
feira, de festival, o que deve contribuir de forma significativa para a baixa
dos cachês. Claro, há autores de diversos calibres, e os iniciantes e amadores
podem aceitar fazer de graça o que deveria ser pago. O escritor participar de
graça de um evento para divulgar seu livro é como um músico tocar de graça para
divulgar seu CD, é o que sempre digo. Assim, achei curioso a agente Valeria
Martins apontar os cachês de eventos literários como “entre 3 e dez mil” (!),
eu diria que é mais entre zero (mais comum) e cinco mil. O inferno é o limite negativo.
A questão é que, antes de tudo, a curadoria é
preguiçosa, chama quem já fez, quem sempre faz, e é difícil furar o ciclo. O escritor
é sempre um artista independente. Podem achar que estar numa editora grande
garante uma equipe trabalhando por você. Besteira. Tirando raras exceções, a
editora trabalha o lançamento do mês, e olhe lá, não trabalha a carreira do autor. Vez ou outra eles podem sugerir seu nome num
grande evento, mas depende das relações pessoais do autor conseguir convites,
viagens, até matérias na imprensa.
O agenciamento literário tem se tornado mais comum no Brasil, mas as agentes entram timidamente nessa equação. Geralmente apenas negociam a venda dos direitos do autor (para editoras, para cinema), não entram na questão dos eventos em si, nem no papel de assessoria de imprensa.
O agenciamento literário tem se tornado mais comum no Brasil, mas as agentes entram timidamente nessa equação. Geralmente apenas negociam a venda dos direitos do autor (para editoras, para cinema), não entram na questão dos eventos em si, nem no papel de assessoria de imprensa.
Nesse meio autofágico, o marketing que funciona melhor não é do escritor popstar é do escritor integrado, aquele que circula no meio acadêmico, que trabalha em editoras, que é amigo dos editores e jornalistas, que senta com ele nas mesas de bar. Pouco tem a ver com o peso obra - muitos dos autores que mais circulam ainda dão os primeiros passos na escrita. Diversos veteranos de peso ficam de fora por não participarem do lobby. O grande Evandro Affonso Ferreira, vencedor do Jabuti de melhor romance ano passado, é um ótimo exemplo.
As festas literárias brasileiras são, antes de tudo, festas de compadres. E se o escritor brasileiro tem de ser um "popstar", então é um popstar fora de forma, fora de moda, mal vestido e bem relacionado. Com a idade, estou chegando lá.
As festas literárias brasileiras são, antes de tudo, festas de compadres. E se o escritor brasileiro tem de ser um "popstar", então é um popstar fora de forma, fora de moda, mal vestido e bem relacionado. Com a idade, estou chegando lá.