07/08/2020

NOTAS SOBRE O APOCALIPSE



- A quarentena acabou...

- Ou deveria... Ou teria de acabar. Quantos dias tem uma quarentena? Podemos (devemos, sempre) culpar Bolsonaro, as autoridades locais, mas a verdade é que ninguém sabe direito o que fazer – não era para usar máscara, depois devia usar máscara; assintomáticos não transmitem, depois transmitem. A ciência ainda está descobrindo sobre a doença e somos todos cobaias.

- A quarentena ACABOU de fato porque é inviável neste país. 

- A questão é que ninguém sabe se haverá mesmo vacina, se a vacina funcionará, quanto tempo funcionará, quando virá, daí fica um jogo de paciência:

- Você aceita ficar mais seis meses enclausurado esperando a possibilidade de uma vacina? Você ficaria mais? Se não houver vacina, você ficaria indefinidamente? Uma vida inteira? É possível sobreviver assim? Desejável?

- A reabertura das escolas acho que também passa por isso. Entendo que muitos pais achem precoce, tenham medo, mas se já há uma ideia forte de que vacina não é possível, as escolas nunca mais vão reabrir?

- Estamos todos esperando. Mas esperando pelo quê?

- (E antes que venham me dizer que há sei lá quantas vacinas promissoras, Oxford, China, etc, há a mesma promessa de que as vacinas não funcionem.)

- De toda forma... acho que quem pode esperar é sempre cauteloso. É tipo aquele filme, "The Mist", né? Em que o pai mata a família pouco antes de o exército chegar... (Ops, spoiler do fim da quarentena.)

- O "novo normal" é um termo odioso, mas que talvez faça sentido. Porque ficar trancado em casa esperando indefinidamente o "velho normal" voltar talvez seja uma utopia. (muito) Provavelmente as coisas não voltarão a ser como era antes, então vamos ter de sair e nos acostumar com os novos tempos... os últimos tempos?

- Adorei um meme que postaram falando: "Ai, não dá para treinar de máscara" com uma foto do Fofão da Carreta Furacão, que saltava e se desdobrava com essa fantasia. Estou pensando em ir malhar vestido de fofão.

- Sim, voltei a malhar em academia, há uma semana. Tá bem esquisito, não deixo de ter receio, passar alquingel em tudo, chegar em casa e me desintoxicar com gin, mas o que posso mais fazer da vida?

- (Entenda, não que eu seja um marombeiro suicida. Mas eu moro sozinho, sem filhos, sem amor. Eu vou passar o resto da minha vida trancado esperando o quê?)

- Ainda vejo defensores ferrenhos da quarentena, mas devíamos fazer uma escala de privilégios nesse cenário: você está fazendo quarentena acompanhado? Faz sexo? Tem uma casa confortável? Com quintal/ uma área ao ar livre? Talvez seja mais fácil pra você defender/manter, não é?

- Acho sim, que surgiu uma nova classe que está em pânico de voltar à velha vida, que se acostumou com o conforto de casa, do marido, que não quer voltar à vida miserável de antes, muito menos uma vida miserável com menos contato físico. 

- Não estou defendendo de forma alguma a balbúrdia, as aglomerações - sexta passada um amigo  meu convidou pra Roosevelt e achei um pouco demais, eu mesmo não tive coragem de frequentar um bar, um restaurante. Mas começo a flexibilizar...

- Eu passei... passo a quarentena sozinho. Só com uma coelha. (E te digo, a coelha segurou uma barra, porque era um ser vivo para eu interagir diariamente;  quem não tem animal de estimação não entende a diferença que faz). Agora comecei a flexibilizar, porque acho mesmo isso, que não tem sentido viver numa quarentena indefinida.

- Minha avó morreu de covid. Estava muito debilitada, poderia ter sido qualquer gripe, mas o problema da covid é que ninguém pôde visitar, não pôde ter velório. Ela morreu sozinha. Minha mãe dizia que queria visitá-la, não conseguiu. Eu não vejo minha mãe desde janeiro.

- Ontem fui visitar minha sobrinha. Não via havia seis meses. Ela tinha sete e agora tem oito e está muito maior. Jogamos videogame. Era um jogo que eu não conhecia, tipo Mario Kart, eu ganhei com muita facilidade (para quem não sabe, também tenho meu lado gaymer), e em meio às partidas achei que deveria dar uma canja. Confesso que deixei ela ganhar (bom, foi 2 a 3 – eu ganhei 3). Sou cavalheiro, mas tenho de sair por cima.


TIREM AS CRIANÇAS DA SALA

(Publicado na Ilustríssima da Folha deste domingo) Do que devemos proteger nossas crianças? Como não ofender quem acredita no pecado? Que ga...