- A quarentena acabou...
- Ou deveria... Ou teria de acabar. Quantos dias tem uma quarentena? Podemos (devemos, sempre) culpar Bolsonaro, as autoridades locais, mas a verdade é que ninguém sabe direito o que fazer – não era para usar máscara, depois devia usar máscara; assintomáticos não transmitem, depois transmitem. A ciência ainda está descobrindo sobre a doença e somos todos cobaias.
- A quarentena ACABOU de fato porque é inviável neste país.
- A questão é que ninguém sabe se haverá mesmo vacina, se a vacina funcionará, quanto tempo funcionará, quando virá, daí fica um jogo de paciência:
- Você aceita ficar mais seis meses enclausurado esperando a possibilidade de uma vacina? Você ficaria mais? Se não houver vacina, você ficaria indefinidamente? Uma vida inteira? É possível sobreviver assim? Desejável?
- A reabertura das escolas acho que também passa por isso. Entendo que muitos pais achem precoce, tenham medo, mas se já há uma ideia forte de que vacina não é possível, as escolas nunca mais vão reabrir?
- Estamos todos esperando. Mas esperando pelo quê?
- (E antes que venham me dizer que há sei lá quantas vacinas promissoras, Oxford, China, etc, há a mesma promessa de que as vacinas não funcionem.)
- De toda forma... acho que quem pode esperar é sempre cauteloso. É tipo aquele filme, "The Mist", né? Em que o pai mata a família pouco antes de o exército chegar... (Ops, spoiler do fim da quarentena.)
- O "novo normal" é um termo odioso, mas que talvez faça sentido. Porque ficar trancado em casa esperando indefinidamente o "velho normal" voltar talvez seja uma utopia. (muito) Provavelmente as coisas não voltarão a ser como era antes, então vamos ter de sair e nos acostumar com os novos tempos... os últimos tempos?
- Adorei um meme que postaram falando: "Ai, não dá para treinar de máscara" com uma foto do Fofão da Carreta Furacão, que saltava e se desdobrava com essa fantasia. Estou pensando em ir malhar vestido de fofão.
- Sim, voltei a malhar em academia, há uma semana. Tá bem esquisito, não deixo de ter receio, passar alquingel em tudo, chegar em casa e me desintoxicar com gin, mas o que posso mais fazer da vida?
- (Entenda, não que eu seja um marombeiro suicida. Mas eu moro sozinho, sem filhos, sem amor. Eu vou passar o resto da minha vida trancado esperando o quê?)
- Ainda vejo defensores ferrenhos da quarentena, mas devíamos fazer uma escala de privilégios nesse cenário: você está fazendo quarentena acompanhado? Faz sexo? Tem uma casa confortável? Com quintal/ uma área ao ar livre? Talvez seja mais fácil pra você defender/manter, não é?
- Acho sim, que surgiu uma nova classe que está em pânico de voltar à velha vida, que se acostumou com o conforto de casa, do marido, que não quer voltar à vida miserável de antes, muito menos uma vida miserável com menos contato físico.
- Não estou defendendo de forma alguma a balbúrdia, as aglomerações - sexta passada um amigo meu convidou pra Roosevelt e achei um pouco demais, eu mesmo não tive coragem de frequentar um bar, um restaurante. Mas começo a flexibilizar...
- Eu passei... passo a quarentena sozinho. Só com uma coelha. (E te digo, a coelha segurou uma barra, porque era um ser vivo para eu interagir diariamente; quem não tem animal de estimação não entende a diferença que faz). Agora comecei a flexibilizar, porque acho mesmo isso, que não tem sentido viver numa quarentena indefinida.
- Minha avó morreu de covid. Estava muito debilitada, poderia ter sido qualquer gripe, mas o problema da covid é que ninguém pôde visitar, não pôde ter velório. Ela morreu sozinha. Minha mãe dizia que queria visitá-la, não conseguiu. Eu não vejo minha mãe desde janeiro.
- Ontem fui visitar minha sobrinha. Não via havia seis meses. Ela tinha sete e agora tem oito e está muito maior. Jogamos videogame. Era um jogo que eu não conhecia, tipo Mario Kart, eu ganhei com muita facilidade (para quem não sabe, também tenho meu lado gaymer), e em meio às partidas achei que deveria dar uma canja. Confesso que deixei ela ganhar (bom, foi 2 a 3 – eu ganhei 3). Sou cavalheiro, mas tenho de sair por cima.