27/05/2005

SUBINDO COMO UM FOGUETE, PRESTES A EXPLODIR

Já falei exaustivamente aqui da minha adoração por Suede, que inclusive conheci os caras pessoalmente em Londres, etc, etc. É minha banda favorita, apesar de todos os deslizes. Agora baixei e estou ouvindo exaustivamente o álbum "Here Comes the Tears".

Era para ser um projeto novo. O vocalista, Brett Anderson, acabou com o Suede em 2003 para reatar com seu antigo guitarrista, Bernard Butler e formar uma nova banda, "The Tears". Agora, com o cd sendo lançado, podemos constatar que "The Tears" é mais Suede do que nunca. Com certeza mais do que eles vinham sendo nos últimos tempos...

É bom. Bem bom. Embora não chegue à genialidade dos dois primeiros albuns ("Suede" e "Dog Man Star"). Brett Anderson recuperou um pouco de sua poesia (se bem que nunca dá pra confiar totalmente num cara que já escreveu: "she lives in a house, she’s stupid as a mouse", hahah) e mostra que amadureceu.

O melhor momento do cd certamente é "Apollo 13", uma faixa que tem um pouco de tudo o que fazia do Suede genial (mas com nada a mais). Brett canta com um humor típico inglês: "your skin don’t belong on my designer sheets" haha. A faixa tem lindas aliterações: "in eyeliner you wrote me / a note / that I’ll never / read at all, / estuary girl." E o refrão é ultra suedeano:

If you follow me
I’ll follow you to the unknown
Oh, like Apollo, like Apollo we’ll fly to the moon
If you follow me
I’ll follow you to the unknown
Oh, like Apollo, like Apollo 13 we’ll explode.

"The Ghost of You" é outra faixa bem-humorada, pelo menos ao meu ver. Ele conta da namorada que partiu e diz que doou as roupas dela para o Exército da Salvação, haha. Dá para levar a sério? Outra faixa que não dá para levar a sério é "Imperfection", com letras como: "you taste like orange chocolate / you always put your hands in my pocket". (olha a "house" e o "mouse" de volta, haahha). Mas o refrão é bonitinho:

Your imperfections are so
Beautiful
I can’t control
My animal soul

O principal problema do cd é a produção hiperbólica do Bernard Butler. Pô, o cara costumava mandar bem, não sei o que aconteceu agora. Ele adora orquestras. E resolveu colocar orquestra em TODAS as faixas do cd. Mas não é só isso, quis colocar timbres eletrônicos também, e pianinhos dispersos, e solos de guitarras, e backing vocals, tudo de uma vez só. Imagino em quantos canais foi gravado esse cd...

Nesse domingo da parada (gay) vou discotecar no Grind (d’Aloca). Deve estar lotado, fervido, escaldado, mas para mim será bom. Vou tocar "The Tears" ("Refugees", o single), Bowie, Placebo, Rufus Wainwright, Marilyn Manson, só rock. Quem quer escutar Britney pode ficar esperando. Devo entrar lá pela meia noite, e ficar só até a uma.

Tenho sonhado todas as noites com o Caio (Fernando Abreu). Ontem estava lendo umas cartas dele, que me deram uma estranha vivência do período militar, num estranho paralelo com algumas questões atuais:

"Fico pensando se não seria melhor todo mundo desistir de publicar coisas, guardar seus calhamaçozinhos nas gavetas. Acho que qualquer publicação liberada pela censura será , a priori, considerada como a favor do regime. Horrível, não? Não seria esta a hora exata dos escritores se reunirem e tomarem uma posição rígida e irreversível? O problema é que não existe classe mais calhorda e desunida – desse ponto de vista, o pessoal do teatro é bem melhor, talvez porque o próprio teatro seja coisa de equipe, não sei." – 4/03/70, carta para Hilda Hilst.

Estive na última "reunião de escritores", no teatro de Arena. Uma reunião para se decidir propostas de políticas públicas voltadas à literatura. Acho válido. Louvável até. Mas a reunião em si não tem muito a ver comigo. Questionei isso. Isso mesmo que o Caio coloca. Que os escritores, por sua própria ocupação, tendem a resistir aos grupos, encontros, fazer política. A reunião do teatro de arena, por exemplo, tinha menos de 50 pessoas. Dessas, a maioria engajada. E eu ficava pensando o que eu podia acrescentar ali. Cheguei a questionar se o fato de poucos escritores estarem presentes não significava que os escritores não estavam realmente interessados naquelas propostas. A resposta foi conclusiva: as leis serão formadas pelo poder da iniciativa, não da maioria.

Concordo. Como disse, acho válido. Mas não vou mais participar. Não tenho o que acrescentar. Nem o que condenar. A iniciativa deles é suficiente para me representar, e assino em baixo. Só acho que não dá para comparar, como tem sido feito, os benefícios públicos concedidos ao cinema, ao teatro, com a literatura. Literatura é um questão pontual, que beneficia indivíduos. Teatro, cinema e música beneficia grupos. O enfoque é diferente, por isso deve-se esperar uma resposta e uma ação diferentes do poder público.

Tem reunião de novo lá no teatro de Arena, segunda-feira, no teatro de Arena, 20h.

NESTE SÁBADO!